quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Uma boa surpresa

A entrevista de António Lobo Antunes ao "Diário de Notícias", no dia 30 de Setembro último, trouxe-me uma boa surpresa. Afinal eu pouco conhecia do escritor que há meses recebeu o prémio Camões, o mais importante galardão literário da língua portuguesa e já foi candidato ao Prémio Nobel da Literatura.

Quando lhe é perguntado qual a sua atitude perante Deus, responde desta maneira:
«Existe um velho provérbio húngaro que diz que na cova do lobo não há ateus, por isso julgo que não existe quem não acredite. O nada não existe na física ou na biologia e quando se lêem os grandes físicos entende-se como eram homens profundamente crentes, que chegaram a Deus através da física e da matemática e que falavam de Deus de uma maneira fascinante. A minha relação é a de um espírito naturalmente religioso, cada vez mais, não no sentido desta ou daquela igreja mas porque me parece que a ideia de Deus é óbvia. Cada vez mais o é para mim. É um bocado como diz Einstein, quando afirma que Deus não joga aos dados».
E o escritor que já foi militante da APU (Aliança Povo Unido – coligação liderada pelo Partido Comunista Português) explica a sua relação com Deus:

«A minha atitude em relação à religião é essa, não estou a falar de igrejas, estou a falar em relação a Deus e não acredito quando as pessoas dizem que são agnósticas ou ateias. Não estou a dizer que a pessoa não esteja a ser sincera, mas dentro dela e em qualquer ponto há algo... Uma vez perguntaram ao Hemingway se acreditava em Deus e a resposta foi às vezes, à noite».
À pergunta do entrevistador, se tem dúvidas, o escritor e médico psiquiatra responde:

«Acredito sempre mas a dúvida e pôr constantemente em questão é próprio da fé. Muitas vezes pergunto-me será que existe? É óbvio que sim».
Dúvidas?

«Todos os teólogos as tiveram, Sto. Ambrósio dizia "não busco compreender para crer, creio para compreender"; Sto. Agostinho esteve cheio de dúvidas toda a vida e o Sto. António... O mesmo se passa em relação aos livros, pergunto-me será que isto está bem feito? Não é esta palavra ainda, será que é possível fazer aquilo que eu quero fazer ou será demasiado ambicioso?»
Não sei se a Fé acompanhou sempre este homem. Mas o cancro a que foi operado há tempos deve-o ter ajudado nesta caminhada de crente. Para alguma coisa há-de servir o sofrimento!...


In O Amigo do Povo

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