segunda-feira, 29 de novembro de 2021

DESILUSÕES NA IGREJA


"A desilusão é proveniente de um conjunto de ilusões:
1- Todos serem Igreja (papa, bispos, padres, leigos). Mas prevalece a distinção entre hierarquia e povo; quem decide e quem obedece; quem promove e quem assiste; quem pratica e quem vive à margem. E dá jeito: permite apontar o dedo e sacudir a água do capote.
2- Viver fundeados em Deus. Logro. A maioria das decisões relativas à vida humana, à justiça, ao casamento, à promoção do outro ou do bem comum são tomadas ao arrepio da moral cristã, tida por retrógrada.
3- Cristãos catequizados e comprometidos. Tão só sacramentados e consumidores diplomados de serviços que a igreja - qual agência – há de prestar, sob o risco de protesto, denúncia, chantagem ou achincalhamento.
Quem desilude quem? A igreja, que não quer ser mera agência de serviços ou os pseudocrentes, cuja fé está fatalmente arredada da vida?"

(P. António Magalhães Sousa)

sábado, 27 de novembro de 2021

Ano Litúrgico, Advento e Rosa dos Ventos

A D V E N T O 

A ROSA DOS VENTOS DO ADVENTO
(Advento significa vinda)

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

“Não se pode confundir o dedo que aponta para a lua com a própria lua”

Confundir o símbolo com o simbolizado


Aquela imagem é que era. Aquela imagem de Nossa Senhora é que era tudo para a senhora Almerinda. Pedia-me para a benzer. Mas sem estragar a pintura. E abraçava-a. Tinha mais amor à sua Nossa Senhora de barro do que à sua filha que morava na casa dos trinta e lhe dava muitos problemas. Devo estar a exagerar. Mas não tanto como ela. E como ela tantos outros cristãos que confundem os símbolos com o simbolizado, confundem o símbolo com a realidade que este quer simbolizar. Não vejo mal que alguém beije uma foto de um ente que ama e partiu ou que está longe há muito tempo. Contudo não é a mesma coisa. Não podemos confundir a foto com a pessoa. Não podemos confundir o dedo apontado com aquilo que o dedo aponta. Grande parte dos fundamentalismos nascem deste modo. Como dizia Tomas Halik, “não se pode confundir o dedo que aponta para a lua com a própria lua”. 
Fonte: aqui

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Temos de nos sentir honrados com aquilo que somos

 "Quanto à Igreja Católica, é fundamental em Portugal e temos de a respeitar, faz parte da história de Portugal, e muitas vezes não tem sido tida em conta como devia ser. Temos de nos sentir honrados com aquilo que somos, nós somos uma país católico, com uma cultura católica, a igreja presta um serviço, e prestou, um serviço ao longo da nossa história, e continua a prestar e nomeadamente ainda prestam os católicos, que é uma coisa que eu admiro muito e nunca me esqueço de frisar, que é aos sem-abrigo. Em frente a minha casa eu tenho isso todos os dias. Quem é que dá apoio? São essas associações de voluntários à volta da Igreja que dão apoio a essas pessoas. Aí o Estado social não funciona e devia funcionar mais."

Álvaro Beleza: médico, dirigente do PS, presidente da SEDES, maçom assumido, aqui

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Uma Igreja mais corresponsável

"Numa diocese da Suíça, a diocese de Lausanne, Genebra e Friburgo (LGF) o bispo Charles Morerod, ao dar conta das igrejas vazias, facto que a pandemia acelerara, decidiu mexer na estrutura em que estava montada a sua diocese, que tem mais de 700.000 pessoas, e encetou o que chamou de um “salto de fé”. A maior novidade das suas decisões foi a entrega de algumas comunidades ao governo de alguns leigos.
Algo parecido tenciona fazer o arcebispo de Lima, no Perú, Carlos Castillo. Afirmou-o publicamente, e já foi a Roma tentar perceber a real possibilidade de que famílias, casais, grupos de esposos ou leigos adultos mais velhos possam assumir a liderança de paróquias. Não ficariam sem eucaristia, porque os padres iriam passando para as celebrar.
Esta última notícia encontrei-a, por acaso, partilhada numa rede social e, imaginem, a maioria dos comentários era contra a ideia do prelado. Até diziam que estava louco.
Nos próximos tempos creio que será difícil dar este tipo de passos, porque o clericalismo ainda está muito presente, e as leis da Igreja também não o facilitam. O Código de Direito Canónico no cânone 515 refere: “a paróquia é uma certa comunidade de fiéis, constituída estavelmente na Igreja particular, cuja cura pastoral, sob a autoridade do Bispo diocesano, está confiada ao pároco, como a seu pastor próprio”. Ainda assim, li e vi estas notícias pelo lado mais positivo. Quem sabe um dia, a verdadeira Igreja de Cristo, apesar de se esvaziar de pessoas, vá crescendo na sua essência, como corresponsabilidade de discípulos de Cristo, como comunhão de irmãos com igual dignidade, como corpo de Cristo do qual a cabeça é somente Cristo."
Fonte: aqui

domingo, 14 de novembro de 2021

“Do Complot à Traulitânia, Lamego 1911-1919”

Armando Rica publicou mais um livro a que deu o título “Do Complot à Traulitânia, Lamego 1911-1919”, edição própria.
O lançamento decorreu ontem, dia 13, no salão nobre do Teatro Ribeiro Conceição, cidade de Lamego.
Perante uma assistência interessada que encheu a sala, o acto, agradável e gratificante, teve como ponto alto a sábia dissertação do Dr. Miguel Nunes Ramalho, convidado para a apresentação do livro, para além de momentos musicais e da intervenção do autor.
Os amigos/as interessados em adquirir o livro poderão contactar o autor através do Messenger ou pelo tel. 967 368 493 onde serão tratados pormenores relativos ao modo de entrega e pagamento (10€ unidade, via correio acrescem despesas de portes).
No próximo fim de semana, dias 19, 20 e 21, o autor estará em Lisboa pelo que os amigos/as residentes na capital podê-lo-ão contactar para eventual entrega de livros.

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

O homem que queria dormir durante a homilia

Já lá vão uns anos. Aquela Igreja era  grande e havia colunas de som dispersas pelas paredes do templo, uma das quais ficava rentinha a um altar lateral. No caso, as colunas tinham botão de ligar e desligar, podendo assim organizar o som conforme as necessidades e a presença de pessoas. Entre os altares laterais havia bancos junto à parede.
Num domingo, numa zona da Igreja, as pessoas deixaram de ter som perceptível durante a homilia. Pensaram os presentes que fosse um qualquer problema com a instalação sonora. Veio o domingo seguinte e exatamente o mesmo. No domingo seguinte, perante a repetição do facto, alguns resolveram dirigir-se a um elemento da comissão da Igreja. Este, boquiaberto, foi pesquisar o que se estava a verificar. Muito simples. O botão da coluna estava desligado. Mal lhe carregou, o som ecoou normalmente. Toda a gente ficou convencida que o problema estava ultrapassado. Engano. No domingo a seguir, a mesma situação. Voltaram as queixas. Verificada a situação, o botão estava desligado. O elemento da comissão da Igreja indagou junto das zeladoras do altar se tinham mexido, mesmo que involuntariamente na coluna. Resposta decididamente negativa.
A pessoa da comissão da Igreja decidiu que, no próximo domingo, iria ficar bem perto daquela coluna a ver se descobria o enigma. E descobriu. No fim da proclamação do Evangelho, um homem alto que se sentava no banco mesmo junto à coluna, levantou-se e, num ápice, desligou o botão. O responsável chegou perto dele, falou-lhe baixinho: "O senhor não pode fazer isso. As pessoas ficam sem ouvir devidamente a homilia". Ao que o homem respondeu: "Não gosto do que o padre diz, o que ele diz enerva-me. Por isso desligo a coluna e bato uma soneca." O responsável termina: "Não seria bom que ao menos tivesse em atenção os outros que querem ouvir!?"

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

POR FIM (NÃO) MATARÁS

 Em 2015, o Parlamento da Madeira proibiu o abate de animais de companhia por ser uma “questão ética”. A 5 de Novembro de 2021 – já com a Assembleia da República oficialmente dissolvida – os eminentes e iluminados deputados da nação aprovaram a eutanásia para os humanos. Mais uma estrondosa vitória dos “ismos” e “istas”. Mais uma prevista derrota para a já muito pouco credível (e audível) Santa Madre Igreja.

A cruzada levada a cabo pelos talibãs do Regime vai de vento em popa. O fanatismo ideológico aliado ao revanchismo visceral levou-os a adotar como programa político o extermínio dos valores e sinais cristãos, vertido em programas intitulados educativos e em propostas legislativas cirúrgica e minuciosamente expostas e aprovadas. Não adianta debater ou acenar com alternativas porque acabam sempre por “levar a água ao seu moinho”. Por vezes até se vergam ao incómodo de ouvir o outro lado mesmo que interiormente regurgitem: “os cães ladram, mas a caravana passa”.

Da minha parte, há “verdades” (perspetivas? intolerâncias?) de que não abdicarei. A liberdade sem limites é libertinagem. A ideologia sem princípios é despotismo. Hoje, em vez de encarar e atenuar as causas, é mais prático eliminar o problema. Se o contexto esconjura o sofrimento e deifica a imagem faz sentido arrumar(-se) de vez: deixar de sofrer, não ser empecilho para os mais próximos e até contribuir para aumentar o erário pelas despesas e reformas poupadas. E nem sequer será perversidade designar “morte digna” o que manifesta tão-só egoísmo cómodo: pôr termo ao sofrimento, físico ou psicológico, seu ou de outros.

Etimologicamente, eutanásia significa “boa morte” e abrange três realidades: pessoal (vontade de viver), relacional (afetos, humanismo) e terapêutica (eliminação do sofrimento). A falta de carinho (tempo e atenção), o abandono em lares e hospitais, a poupança na medicação ou os maus-tratos (físicos e psicológicos) levam ao pedido: “quero morrer”. A morte física é o corolário da morte afetiva.

Diz o povo: “Até para morrer é preciso ter sorte”; “não tenho medo de morrer, mas de sofrer”; “teve uma morte santa” (durante o sono); “coitadinho, sofreu tanto”; “bem que Deus o podia levar”. A procura/desejo de uma “boa morte” parece ser resposta razoável para tais inquietudes. As péssimas condições de auxílio (omissão de socorro, negligência, escassez de camas, médicos e fármacos) associadas à morte precoce dos afetos (abandono, solidão, exclusão) e de autonomia (cama, cadeira de rodas, higiene) atiçam o amor-próprio: “não estou a fazer nada; só dou trabalho; não quero passar/causar vergonhas; antes morrer com dignidade”.

Gabriel Marcel escreveu: “amar alguém é dizer-lhe: tu não morrerás”. Para a maioria dos nossos deputados, paladinos de humanidade, o slogan será certamente outro: “não é bom que sofras, nem te arrastes ou estejas dependente (fere o amor-próprio!): põe fim à vida”. Apesar da distância temporal, a semelhança de razões e resultados em vista até traz à memória alguns “ismos” sombrios de antanho. Entretanto, a quem “escolhe morrer”, provemos que vale a pena continuar a viver, não reféns de teorias abstratas, demagogas e acintosas de políticos ideologicamente colonizados, mas pela compaixão, presença e ternura acopladas às boas práticas de Cristo.

(P. António Magalhães Sousa), aqui

Semana dos Seminários: alerta vermelho!


Estamos na Semana dos Seminários.
Pede-se oração pelas vocações sacerdotais,
pede-se ajuda económica para o seu funcionamento,
pede-se a estima do Povo de Deus pela vida sacerdotal,
pede-se o empenho de todos no anúncio
e na proposta da beleza e da riqueza
de uma vocação sacerdotal.
Pede-se às famílias que criem um ambiente favorável
ao germinar da vocação sacerdotal.
Pede-se aos padres que o seu testemunho seja "atraente"
e não desmotivador ou desmobilizador
dos potenciais chamados.
No entanto e apesar de vigílias e orações,
apesar de termos tantos acólitos,
tantos crisma(n)dos, tantos jovens... ,
apesar de termos ainda tantas crianças e jovens
a frequentar as nossas comunidades paroquiais,
apesar de tantos e bons padres,
não há meio de surgirem mais vocações sacerdotais.
Porquê?
Porque não trabalhamos por elas?
Porque o escândalo da pedofilia ensombra
e mancha de suspeita a figura do padre?
Porque hoje a realização pessoal e profissional
conta mais do que o bem comum e a vida dos demais?
Porquê? ...
Eu sei lá.
Nem sei se alguém sabe.
A minha balança não acerta nos pesos.
E eu fico sempre a pensar que quem me vê
não deve achar muita graça a esta "correria de vida"...
Eu pecador me confesso.
Creio que a opção pelo sacerdócio ministerial
se torna hoje mais rara
por causa do medo da obediência ("quero posso e mando")
e da pobreza ("afinal tempo é dinheiro"),
do que por causa do celibato
(até porque as vocações matrimoniais
também estão em queda).
Mas não sei. Não sei mesmo. Tantas interrogações.
Sinceramente não sei se o próprio Espírito Santo
nos quer depauperar de padres
para fazer crescer os leigos,
se não quer outro perfil para o ministério presbiteral,
se não quer outro percurso de preparação...
e se não Se estará a rir com o puxão de orelhas
que leva esta semana por tantos protestos orantes
por "muitas e santas vocações sacerdotais".
A verdade é que os números de seminaristas e de padres
não "descolam" desta maré-vazia,
sem terra ou sem fim à vista.
Os números não devem ser ocultados,
por medo de desmobilizar perante o cenário
de uma espécie de "aves raras", em risco de extinção...
a viver em áreas protegidas.
Os números são de arrepiar... caminho
e não vale a pena esconder.
Vemos, ouvimos e lemos,
não podemos ignorar.
Aqui vai:
Alunos dos Seminários Diocesanos | Diocese de Lamego:
I. Seminário de Lamego: 4 alunos -10.º e 11.º
II. Seminário Interdiocesano (S. José):
Ano propedêutico: 2
2.º ano: 1
3.º ano: 2
4.º ano: 2
5.º ano: 0
6.º ano: 0
Agora pensemos nas 223 paróquias da Diocese,
nos secretariados e serviços pastorais e está visto:
não podemos pensar a Igreja sem padres
mas temos de a edificar com menos padres.
Nenhum milagre provocará uma maré-cheia.
Se há assim falta de padres, imaginem
por que será tão difícil escolher os bispos...
Dá tudo muito que pensar e rezar.
Mas, neste momento, talvez faça mais falta pensar,
falar com coragem, escutar com humildade,
para discernir com sabedoria o que o Espírito diz à Igreja.
Por muito que custe, os número também falam.
Amaro Gonçalo (adaptado)

"Cuidado com a ditadura do eu. Nos tempos que cor­rem, dá a impressão de que só o eu decide"


"Acontece que, por vezes, em lugar de vivermos à imagem de Cristo, ficcionamos um Cristo à nossa imagem.
E é assim que vamos idealizando uma espécie de «self cristianism», um Cristianismo à medida de cada um."

"Evitemos conjugar unica­mente o verbo impor. Habituemo-nos a conjugar mais o verbo abrir e também o verbo acolher. Urge compreen­der que a vida não começa em mim nem termina agora.
Já cansa a fereza devoradora de tanto eu, tanto eu, tanto eu. Um dia, veremos que aquilo que nos chega dos outros também é válido."

"Cuidado com a ditadura do eu. Nos tempos que cor­rem, dá a impressão de que só o eu decide. Afinal, onde está a abertura? Afinal, onde está a diferença?"

"Cuidado com um certo populismo eclesial, que insi­nua que se pode ser cristão à medida de cada um.
Importa porta perceber que, no Evangelho, não há autar­quia, mas cristarquia. O Cristianismo não se constrói à imagem de cada um, mas só - e sempre - à imagem de Cristo.

"É cristão quem quer, mas não da forma que quer. Só se é cristão vivendo como Cristo quer (cf. Mt 6,10)."
In "A alegria de não ser (apenas) eu"
          
***
Li o livro "A alegria de não ser (apenas) eu", que recebi amavelmente do seu autor, João António Pinheiro Teixeira. Gratidão pelo gesto amigo.
É um pequeno-grande livro. Pequeno no tamanho, grande nas ideias, desafios, interrogações, inquietações saudáveis que lança.
Pensei lê-lo de uma só vez. Mas desisti logo ao fim dos primeiros parágrafos. É livro para ler, saborear, refletir, voltar a ler, questionar e questionar-nos. Foi o que fiz e ainda bem. Muitos dias durou a leitura. Penso reler, do mesmo modo, no próximo Advento.
Contextuado no ambiente pandémico donde ainda não saímos completamente, o autor levamo-nos da ditadura do EU até à liberdade do NÓS com, em, por CRISTO.
No campo dos crentes, refere um «self cristianism», cuja medida é cada um. Um cristianismo a gosto pessoal, onde Cristo é apenas ocasião e não razão, motivo, força, modelo. "Só se é cristão vivendo como Cristo quer."
Numa linguagem quase coloquial, agradável, acessível, dinâmica, desempoeirada, o autor consegue colocar os leitores no livro como sua casa.
Vale a pena ler. Faz bem. Refresca.
Parabéns, P.e João António, por mais esta partilha com que a todos enriquece.

segunda-feira, 1 de novembro de 2021