sábado, 28 de agosto de 2021

Uma Igreja sem fé

A generalidade dos baptizados que fazemos são pedidos por e para gente sem fé. Os casamentos igual. A catequese da infância e adolescência está estruturada como se os seus destinatários fossem pessoas com fé. Promovemos acções pastorais e eventos religiosos para pessoas que não têm fé e que apenas vão precisando da Igreja para necessidades pessoais ligadas a sacramentos, festas e funerais como eventos sócio-culturais arreigados. Gastamo-nos numa acção eclesial para gente sem fé, convencidos de que têm fé. Ou pelo menos estruturamos e executamos a nossa acção pastoral e cultual como se fosse para pessoas com fé. E as consequências estão à vista. Os agentes pastorais, a começar pelos sacerdotes, desgastam-se a fazer actividades inconsequentes e que, em muitas ocasiões, fomentam problemas e conflitos que doem a quem se dedica com zelo e que, às vezes, ainda afastam mais do encontro com Cristo. 
Uma Igreja constituída maioritariamente por gente sem fé que se agrega, mais ou menos, a ela como instituição sócio-cultural não tem futuro. E se a nossa Igreja, que queremos mais missionária, não se focar especialmente no primeiro anúncio, essa experiência de encontro com Cristo que leva à conversão, será, dentro em breve, uma Igreja mais vazia ainda. Vazia sobretudo da fé. 
Fonte: aqui

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

 


quarta-feira, 25 de agosto de 2021

terça-feira, 24 de agosto de 2021

CREIO NUM DEUS MACHISTA?

Pelos vistos, a segunda leitura da Eucaristia deste (último) domingo (Ef 5, 21-32) deixou em pulgas as tribos feministas e seus partidários. É estranho que só agora se tenham apercebido de um texto que de três em três anos - ciclo B - é proclamado e, várias vezes, escolhido pelos noivos para a celebração do matrimónio. Confirma o que há muito aviso: a maioria dos católicos não conhece a Sagrada Escritura, seja porque não vai à Missa (a hipocrisia do “não praticante”) ou, quando vai, está a dormir ou a pensar na morte da bezerra.
Quanto ao dito texto espero que, pondo de parte a má-fé, ignorância supina e (pre)conceito (ressabiados?) seja lido com serenidade e inteligência, na sua totalidade (globalidade) e não, como fazem as seitas, literalmente, isto é, frase a frase. Já que o problema está na palavra “cabeça”, sendo também verdade que “pensar incomoda”, porque não dar uso àquilo que a preenche? Caso contrário, estaríamos na presença de gente limitada, enviesada, ao serviço de interesses, ideologias e minudências linguísticas. Leem assim os Lusíadas ou a Mensagem?
Diz São Paulo: «Submetei-vos uns aos outros no temor de Cristo. As mulheres estejam sujeitas aos seus maridos, como ao Senhor, porque o homem é a cabeça da mulher, como Cristo é a cabeça da Igreja e o salvador do Corpo. Como a Igreja está sujeita a Cristo, estejam as mulheres em tudo sujeitas aos seus maridos». (vv. 21-24)
A submissão que aqui é sugerida começa por ser “uns aos outros”. Não será, por certo, um apelo ao colonialismo, exploração ou escravidão… “Como ao Senhor”: porque a submissão a Deus não nos diminui, bem pelo contrário, fazemo-la por amor, em confiança total e incondicional. É assim que as crianças “se submetem” (entregam, confiam, sujeitam) aos pais = por amor. A imagem do “marido como cabeça da mulher” parte da “imagem de Cristo como cabeça da Igreja”. Que fez Cristo pela Igreja? Amou-a dando a vida por ela. Foi o “salvador do Corpo”, diz o texto. Não há qualquer possessão, apenas e só doação, aniquilamento, esvaziamento ( = kenosis).
Se dúvidas houvesse, o segundo parágrafo dissipa-as: «E vós, maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de purificá-la com o banho da água e santificá-la pela Palavra, para apresentar a si mesmo a Igreja, gloriosa, sem mancha nem ruga, ou coisa semelhante, mas santa e irrepreensível». (vv. 25-27) Aos maridos é pedido que amem as esposas como Cristo amou a Igreja. Haverá algum modo melhor para significar o amor esponsal? Não será maravilhoso a mulher saber-se amada pelo marido que modela o seu amor pelo modo de Cristo amar a Igreja?
Como se não bastasse, acrescenta o texto: «Assim também os maridos devem amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo, pois ninguém jamais quis mal à sua própria carne, antes alimenta-a e dela cuida, como também faz Cristo com a Igreja, porque somos membros do seu Corpo». (vv. 28-30)
Sinceramente, não me admiro dos comentários pérfidos, torcidos e ensimesmados que tenho lido e ouvido acerca do texto. Sobretudo, porque a ignorância é atrevida. Se a liberdade de expressão é um direito, também existe o dever de se informar e de procurar a verdade. Se há quem, para ser popular e liderar se sirva de demagogia, meias-verdades e má-fé, eu continuo a preferir a misericórdia: “Ensinar os ignorantes; corrigir os que erram”.
(P. António Magalhães Sousa), aqui

domingo, 22 de agosto de 2021

Quem vencerá este campeonato?

 Diz o povo que "o primeiro milho é para os pardais". Mas pelo "andar da carruagem", fico com a sensação que o Benfica e o Sporting estão mais fortes, mais consistentes, mais trabalhados, mais confiantes e mais adaptados às dinâmicas do futebol actual. 

O meu Porto parece o "gira o disco e toca o mesmo". A mesma inconstância, o mesmo nervosismo, os mesmos processos, os mesmos sobressaltos para os adeptos, a mesma teimosia. Bem, já nem falo na (des)política desportiva do Clube...

Os factos chamam-me a ter os pés bem assentes na terra. Neste momento, as minhas expectativas não são altas. Benfica e Sporting estão bem mais fortes.

Mas não quero deixar morrer a esperança. 

Por hoje, fico por aqui. É um desabafo que os meus amigos e visitantes farão o favor de compreender.

Gouveia e Melo por graça de Deus


 É a prova de que em Portugal há gente de muita categoria, com competências e valores. Quando as escolhas das pessoas para uma determinada missão for feita segundo critérios de vocação e de competência e não pela cor e por acordo do cartão do partido... então Portugal terá futuro.

O que impressiona é ver gente nomeada para lugares de responsabilidade (Ministros de... secretários de Estado de.... Diretor Geral de...) cuja experiência e competência na área é absolutamente nula.
Quando se justifica a escolha por se tratar de "um cargo político" (leia-se "partidário") está tudo dito! E são tantos e tantos os casos! O caso do Ministro da Educação, que do assunto percebe tanto como eu de Finanças, é apenas um dos mais tristes casos.
Mas há a escolha de Gouveia e Melo, por graça de Deus e por mercê da desastrada escolha amiguista do antecessor. Aqui prevaleceu "o seu a seu dono"... Graças a Deus. A revolução do país pode começar por aqui. Basta dar ao primeiro ministro algumas boas regras da gestão de recursos humanos.
Amato Gonçalo, aqui

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

IGREJAS DE PORTAS ABERTAS?

 

Pode ser uma imagem de em pé

Escreve o Papa Francisco no “Evangelho da Alegria”: «A Igreja «em saída» é uma Igreja com as portas abertas. Sair em direção aos outros para chegar às periferias humanas não significa correr pelo mundo sem direção nem sentido. Muitas vezes é melhor diminuir o ritmo, pôr de parte a ansiedade para olhar nos olhos e escutar, ou renunciar às urgências para acompanhar quem ficou caído à beira do caminho. Às vezes, é como o pai do filho pródigo, que continua com as portas abertas para, quando este voltar, poder entrar sem dificuldade.» (nº 46)

Não me parece tal afirmação dizer - como tantos querem fazer crer - que tudo deve ser permitido e facilitado na Igreja. O que afiança, de modo muito claro, é que a Igreja não pode rejeitar (e deve estar atenta) aos mais frágeis, desprotegidos, feridos e vítimas de atropelos humanos e conjunturas sociais. Nunca pode fechar as portas a quem dela se aproxima na esperança de consolo, ajuda e conforto.
Nos tempos da minha infância saíamos de casa e deixávamos as “portas abertas”. Porque as pessoas eram sérias. Aliás, entravamos na casa dos vizinhos como se fosse nas nossas, sem sequer pedir licença. As pessoas tinham crédito, seriedade, honestidade. Hoje não é assim. Trancam-se as portas. Constroem-se muros vedados. Colocam-se grades de ferro ou sebes de cedro. Instalam-se alarmes e portões automáticos… Porque temos medo. Há muitas pessoas que não são sérias. O perigo espreita a qualquer hora e em qualquer lugar.
(1) Vão-me dizer que as pessoas que procuram a Igreja apenas nos momentos de fazer a festa dum batizado ou duma “primeira comunhão” são sérias? Claro que não. São oportunistas = servem-se dum sacramento (sinal da graça de Deus) como pretexto para a promoção de festas e convívios humanas.
(2) Vão-me dizer que pessoas a viver juntas ou apenas casadas civilmente, que se abeiram da Sagrada Comunhão, são sérias? Ou aquelas que não participam habitualmente na missa dominical e quando calha lá ir comungam como se nada fosse são sérias? Claro que não. Estão a profanar sacrilegamente o Corpo do Senhor e até destilam antipatia e impropérios se alguém ousa chamar-lhes a atenção!
(3) Vão-me dizer que aqueles emigrantes que só aparecem nas igrejas para fazer batizados, primeiras comunhões ou casamentos são sérios? Ou aqueles que nas terras onde vivem não têm qualquer ligação com a comunidade religiosa local e chegam cá querem ser servidos cheios de salamaleques são sérias? Claro que não. Acham-se uns sabichões que, com duas de paleio e uns tostões, podem fazer tudo o que lhes apetece e nós temos de os servir caladinhos!
(4) Vão-me dizer que aqueles cristãos que correm para Fátima (e até anunciam isso com pompa e circunstância) e passam o resto do ano arredados das igrejas e da vida das comunidades são sérios? Claro que não. Até podem passar por lá tomar a “vacina da fé” e tranquilizar uma “forma estranha de consciência”, mas sem o reforço semanal (Domingo – Dia do Senhor) não tem qualquer efeito, antes pelo contrário…
Igreja de portas abertas? «De boas intenções está o inferno cheio».
(P. António Magalhães Sousa), aqui

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

A Igreja tem a ver com a grande política?


A origem da política remonta à participação na comunidade, à vida coletiva, ao bem comum.Esta é a grande política.
Depois há os partidos e organizações políticas ao serviço da grande política. Esta é a pequena política, não no sentido de menorização, nada disso, mas enquanto ao serviço da grande política.

1. A Igreja tem a ver com a grande política? TUDO. E com a pequena política? Enquanto instituição, não. Por isso a Igreja não quer os padres a militar em partidos políticos. Mas os leigos devem participar ativamente na vida política partidária onde são chamados a viver, propor e  atuar conforme os valores do Evangelho.

2. Quanto à grande política, a Igreja tem, mormente a partir do Papa Leão XIII, uma belíssima doutrina social - DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA cujos princípios fundamentais são estes: a dignidade da pessoa humana, a primazia do bem comum, o destino universal dos bens, a primazia do trabalho sobre o capital, a subsidiariedade e a solidariedade.

3. Cristo fala aberta e claramente: "Vós sois o sal da terra..."; "Vós sois a luz do mundo..."; "Vós sois fermento..."
O Papa João Paulo II afirma: "O homem é o caminho da Igreja."

4. A grande política: a dignidade da pessoa humana, imagem e semelhança de Deus; o cuidado com a Natureza, nosso casa comum; a justiça social; a família enquanto base da sociedade; a busca do bem comum, acima de todos os egoísmos; a liberdade como filhos de Deus; a preocupação com os mais pobres, débeis e marginalizados; acesso de todos à mesa comum da criação; a defesa da vida nos seus vários desenvolvimentos; a iniciativa individual ao serviço do bem comum e nunca acima dele; a função de subsidiariedade e a solidariedade por parte do Estado e da sociedade; o respeito pelo outro...

5. Há muita gente que quer uma Igreja fechada em si mesma, às voltas e revoltas  consigo mesma, "uma Igreja de sacristia", confinada às paredes dos templos. Mas esta nunca seria a Igreja de Jesus Cristo, que afirma como mandato: "Ide por todo o mundo."

6. A Igreja é chamada a desempenhar o ministério profético que recebeu de Cristo, anunciando, denunciando, comprometendo-se.
Sobressai claramente o ministério do Papa Francisco em todas estas áreas como é público. Ele afirma: “A política é a forma mais alta, maior, da caridade. O amor é político, isto é, social, para todos”

7.  Os leigos cristãos são chamados ao nobre serviço da vida política, também partidária. A escolha partidária é, logicamente, de cada um. Aos leigos desafia o Papa Francisco: "Um bom católico deve empenhar-se na política, oferecendo o melhor de si..."

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Há "a grande política e a pequena política"

"A Igreja não deve meter-se na política partidária. A política, a grande política, é uma das formas mais elevadas de amor. Porquê? Porque está orientada para o bem comum de todos". "Há sempre uma relação com a política. Porque a pastoral não pode não ser política", para indicar caminhos e valores do Evangelho."
Papa Francisco, aqui

“A política é a forma mais alta, maior, da caridade. O amor é político, isto é, social, para todos”, referiu, durante o encontro que decorreu ao longo de mais de duas horas, com ligações a vários países.
Papa Francisco, aqui

"Um bom católico deve empenhar-se na política, oferecendo o melhor de si..."
Papa Francisco,  aqui

terça-feira, 17 de agosto de 2021

Restrições previstas num despacho hoje publicado em Diário da República que limita a “venda de produtos prejudiciais à saúde” nos bufetes escolares e nas máquinas automáticas.

Sandes de chouriço, croissants, empadas ou batatas fritas são alguns dos alimentos que passam a ser proibidos nos bares das escolas públicas, onde também deixará de haver hambúrgueres, cachorros-quentes e sumos com açúcar adicionado.

 O Governo pretende que as escolas públicas comecem a oferecer refeições "nutricionalmente equilibradas, saudáveis e seguras".

Quando as aulas começarem, as escolas já não deverão ter “bolos ou pastéis com massa folhada e/ou com creme e/ou cobertura, como palmiers, jesuítas, mil-folhas, bolas de Berlim, donuts, folhados doces, croissants ou bolos tipo queque”, lê-se no despacho.

As refeições rápidas, designadamente hambúrgueres, cachorros-quentes, pizzas ou lasanhas, assim como os gelados também têm os dias contados.

Ainda no que toca a salgados, vão desaparecem os rissóis, croquetes, empadas, chamuças, pastéis de massa tenra, pastéis de bacalhau ou folhados salgados.

As sandes ou outros produtos com chouriço, salsicha, chourição, mortadela, presunto ou bacon também passam a estar interditos, assim como as sandes ou outros produtos que contenham ketchup, maionese ou mostarda.

As alternativas poderão passar por pão com queijo meio-gordo ou magro, ovo, fiambre pouco gordo, atum ou outros peixes de conserva com baixo teor de sal ou pão com pasta de produtos de origem vegetal à base de leguminosas ou frutos oleaginosos, uma vez que todos estes são alimentos autorizados.

Estas sandes devem ser acompanhadas com produtos hortícolas, tais como alface, tomate, cenoura ralada e couve roxa ripada, sugere o ministério da Educação no despacho.

O diploma estabelece ainda o fim das bolachas e biscoitos, nomeadamente as “bolachas tipo belgas, biscoitos de manteiga, bolachas com pepitas de chocolate, bolachas de chocolate, bolachas recheadas com creme e bolachas com cobertura”.

A lista de proibições chega também às bebidas, passando a ser proibido vender nas escolas públicas refrigerantes de fruta, com cola ou extrato de chá, assim como águas aromatizadas, refrescos em pó, bebidas energéticas e preparados de refrigerantes.

Em alternativa, os bares serão obrigados a ter água potável gratuita, assim como garrafas de água, leite e iogurtes, ambos meio-gordo e magro.

Também haverá “tisanas e infusões de ervas” e “bebidas vegetais, em doses individuais”, ambas sem adição de açúcar, assim como sumos de fruta e ou vegetais naturais, que contenham pelo menos metade de fruta e ou hortícolas e monodoses de fruta.

É também o fim dos rebuçados, caramelos, pastilhas elásticas com açúcar, chupas ou gomas, assim como dos snacks doces ou salgados, designadamente tiras de milho, batatas fritas, aperitivos, pipocas doces ou salgadas.

As sobremesas doces - mousse de chocolate, leite-creme ou arroz-doce – devem dar lugar à fruta, e os chocolates e barritas de cereais podem ser substituídos por snacks de fruta desidratada sem açúcar ou snacks à base de leguminosas, que contenham pelo menos metade de leguminosas e um teor de sal inferior a um grama.

Pão, fruta fresca e saladas são alguns dos alimentos obrigatórios, segundo o diploma que define ainda a obrigatoriedade de disponibilizar sopa de hortícolas e leguminosas nas escolas com ensino noturno.

Pão com queijo fresco, com requeijão ou um queijo pouco gordo são alternativas que as escolas passam a ter.

Cabe aos diretores das escolas definir o horário de funcionamento do bufete, mas o Governo recomenda que abra 20 minutos antes do início da primeira aula da manhã e que esteja fechado à hora do almoço, “exceto nas escolas que apenas disponham de ensino secundário, em que o bufete pode permanecer aberto sempre que se justifique”.

Sobre as máquinas de venda automática, o Governo sublinha que só devem ser equacionadas quando o serviço de bufete é insuficiente e que só poderão vender o que é permitido nos bares.

Além disso, estas máquinas “não podem disponibilizar chocolate quente nem adicionar mais de cinco gramas de açúcar por cada bebida”, acrescenta o diploma, que define que devem ser instaladas longe do bufete e com acesso bloqueado quando o refeitório está a funcionar.

Já sobre as refeições escolares, devem obedecer às orientações da Direção-Geral da Educação (DGE) e as ementas devem ser elaboradas, sempre que possível, sob orientação de nutricionistas.

As ementas e a composição das refeições devem contemplar os princípios da dieta mediterrânica, assim como refeições vegetarianas, dietas justificadas por prescrição médica (como as alergias ou intolerâncias alimentares) e dietas justificadas por motivos religiosos.

Fonte: aqui

domingo, 15 de agosto de 2021

42 anos depois

 

15 de Agosto de 1979. Sé Catedral de Lamego, 11 horas.
Com mais dois colegas, fui ordenado sacerdote.
Já lá vão 42 anos e parece que foi ontem!...
Destes 42 anis de padre, 30 deles ao serviço da Comunidade Paroquial  Tarouquense.
Evoco a alegria, o contentamento, a paixão, a convicção, o sonho - e porque não - as ilusões dessa primeira hora.
Evoco a simpatia e a alegria contagiante de familiares, conterrâneos, amigos e pessoas das paróquias onde havia estagiado.
Experimento a gratidão para com todos os que me ajudaram na caminhada para o sacerdócio: pais, familiares, seminário (mestres e companheiros), paróquias (de nascimento e onde estagiei), amigos e tanta outra gente...
E sobretudo louvo o Senhor que se lembrou da minha limitação e me chamou.

42 anos depois, a mesma paixão pelo sacerdócio, agora mais temperada por anos de experiência.
42 anos depois, e côncio dos meus limites, imperfeições e fraquezas, quero dizer do fundo da alma: "Aqui estou, Senhor! Para louvar e agradecer, bendizer e proclamar Deus trino de Amor."
Peço-Te, Deus de bondade, que renoves continuamente em mim a alegria e a disponibilidade da primeira hora. Não me deixes cair na rotina nem no instalamento. Perdoa as minhas faltas e fraquezas e aceita a vontade de te amar e, por Ti, servir meus irmãos até ao fim.
Obrigado, Senhor, por tudo. Por tanto!

Mãe do Céu, que feliz coincidência! Nasci num dia 13 e fui ordenado na Solenidade da tua Assunção. Tens sido na minha vida  porto seguro,  ajuda sentida,  carinho e  alento. Quanto tenho para te agradecer, louvar e bendizer!
Por Ti  consagro-me a Deus, a Ele me entrego.
Obrigado, Santa Mãe!

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Obrigado! Ainda mais neste dia...

Obrigado, Senhor, por me teres chamado à vida. 
Obrigado pelo dom maravilhoso da Fé. 
Obrigado pelos infindo carinho com que me envolves. 
Obrigado, Senhor! Mil vezes te agradeço. 
 Obrigado, pais (sim, mãe! Eu sei que me ouves agora melhor do que nunca, porque em Deus), pela vida que me destes e que acolhestes com amor, com dedicação ilimitada, com doação total. 
Obrigado, irmãos e cunhados, pela vossa amizade, pela vossa deferência, pela empatia que temos sabido contruir entre nós. 
Obrigado, sobrinhos, pela vossa alegria e carinho. 
Obrigado, familiares, pela vossa amizade. 
Obrigado à Igreja, minha mãe e minha Casa, por tanto que me deu e dá nos Bispos, nos Seminários, nos mestres, nos irmãos. 
Obrigado aos meus irmãos sacerdotes, a começar pelos do meu arciprestado. 
Obrigado a todas as paróquias por onde passei, com todas aprendi e amadureci. 
Obrigado aos meus alunos e a todos os colegas professores. 
Obrigado à querida paróquia de São Pedro de Tarouca. Amo-te! E porque te amo, quero-te mais comunidade de fé, esperança e caridade. Mais centrada em Cristo. Mais dinâmica e empenhada apostolicamente. Mais solidária e fraterna. Mais! 
Obrigado a todas as amigas e amigos. Sois o perfume da minha existência. Bem-hajam por existirem. 
É assim que me quero sentir. Agradecido. Sempre. Mas particularmente neste dia.

domingo, 8 de agosto de 2021

 

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

8 a 15 de agosto - Semana Nacional de Migrações: "Caminhemos juntos rumo a um nós cada vez maior"

Neste início da 49.ª Semana Nacional das Migrações, o Papa Francisco deixa-nos o desafio a caminhar. Mas define um modo e um rumo. Caminhemos juntos rumo a um nós cada vez maior. 

Juntos,porque os caminhos de distração individualista são fatais. 

Juntos, porque os caminhos de fuga ou isolamento não têm saída. 

Juntos, porque sozinhos podemos ter miragens, vendo o que não existe (FT 8). Até o lema olímpico foi ampliado com este advérbio de modo: “mais rápido, mais alto, mais forte – juntos”. 

Os católicos, que, por definição, devem ter um coração fraterno e universal, e todos os homens e mulheres de boa vontade, são desafiados a trabalhar juntos para recompor a família humana, para construir em conjunto o nosso futuro de justiça e paz, tendo o cuidado para que ninguém fique excluído. Para isso, empenhemo-nos em derrubar os muros que nos separam e em construir pontes de escuta e de diálogo, que favoreçam uma cultura do encontro, conscientes da profunda interligação que existe entre todos nós.

 Isto podemo-lo fazer, desde já, com os nossos emigrantes, que regressam a Portugal. Saibamos acolhê-los entre nós, para que se sintam em sua própria casa. Isto podemo-lo fazer com os que procuram o nosso país para viver em paz, para estudar, para trabalhar e melhorar a sua vida. Estes imigrantes são uma bênção, a começar pelos dons que nos oferecem da sua diversidade cultural e religiosa e do seu admirável testemunho de resiliência. São eles que nos prestam os serviços mais humildes. Deles precisaremos cada vez mais, até pela crise demográfica que vivemos. Acolhendo-os, protegendo-os, promovendo-os, integrando-os, florescerá o milagre de um nós cada vez maior.
Amaro Gonçalo

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

As ovelhas obedecem ao cão, mas só seguem o Pastor

Um testemunho no dia do padroeiro dos Párocos

Há muito quem pregue sobre as dificuldades da vida sacerdotal, fazendo crer que a missão é quase sobre-humana e que o padre é um “desgraçado”, um solitário e celibatário, a carregar uma cruz mais pesada que a dos demais.

Não tenho nada essa ideia nem essa experiência, conhecendo bem as exigências da vida familiar, social e profissional dos meus irmãos e irmãs de sangue. E bastaria olhar para estes como termo de comparação, para desistir de qualquer “queixume” sobre as agruras e amarguras da vida de um padre. “Casassem-no”, diz uma certa anedota a respeito de uma pregação que exaltava tanto os sofrimentos de Jesus, que só lhe faltava mesmo conhecer a Cruz do amor matrimonial. Uma historieta a mostrar que o caminho do matrimónio, tão menorizado em relação ao do sacerdócio ministerial, não é de menor exigência, bem pelo contrário.
Aliás, essa narrativa, que pretende exaltar tanto o Padre, imolado no altar do seu sacrifício diário, não ajuda nada na promoção vocacional do ministério presbiteral. O que é difícil mesmo não é ser padre; é ser fiel ao Evangelho, viver como cristão, corresponder à vontade de Deus, crescer na santidade, vencer-se a si mesmo e ao pecado, amar os outros, tais como são, até ao fim. E isso é um programa comum a todos os fiéis batizados.
E, mesmo aí, vem em minha ajuda a minha querida mãe que criou 12 filhos e sempre se refere ao seu passado de trabalhos e sacrifícios com a expressão evangélica “o meu jugo foi suave e a minha carga foi leve”. Ela viveu com paixão o seu casamento, a sua maternidade, a sua fé, a sua vida. E, por isso, as coisas não lhe “pesaram” tanto como isso, mesmo quando nos parecia precisamente o contrário.
Aqui está o segredo de uma qualquer vida dada e dedicada: amar, amar as pessoas, amar as suas contradições, as suas exigências, as suas manias, as suas imperfeições, as suas injustiças. Amar. Amar as pessoas, amar o Povo, tal qual ele é. Recordava o reitor do Seminário, hoje Dom António Taipa: “Que mal diz de si mesmo um padre que fala mal do seu povo”! Não que o povo não cometa erros, não faça sofrer o seu pároco, não nos peça o que esperávamos, não corresponda ao que desejávamos…Certamente, que tudo isso faz parte do caminho que fazemos juntos, fiéis batizados e pároco.
Mas é preciso também colocar-se do lado do Povo e perceber quão sábio e santo ele é, aturando-nos, suportando as nossas manias, os nossos maus humores, as nossas arrelias, mas mesmo assim “amando-nos”, servindo de graça a sua comunidade. Como não ficar espantado haver ainda tantos leigos e leigas, com tempo disponível e gratuito, para além da sua missão no mundo, para a missão no interior da sua comunidade cristã. Depois, na vida pastoral, com os seus altos e baixos, há sempre um momento “redentor”, em que o amor prevalece, sobrevém, sai vencedor, manifesta-se superior à ofensa, à intriga, ao desentendimento.
A sabia Eulália Macedo, a Lalinha, a minha amiga poetisa amarantina, dizia-me muitas vezes, no início do meu ministério paroquial: «o seu ofício de pastor não é “pôr-nos na linha”; é amar-nos». Na verdade, pude compreender como as ovelhas obedecem ao cão, mas só seguem o Pastor! E aprendi com ela que antes de qualquer coisa, era preciso amar aqueles a quem servíamos, a quem curávamos, corrigíamos, ensinávamos… E que, antes de tudo isso, era preciso aprender a escutá-los, a conhecer as suas histórias de vida, histórias de muitas ou de poucas palavras, para decifrar a escrita de Deus, na tábua de carne dos seus corações, tantas vezes trespassados.
Quantos desentendimentos, quantas picardias, quantos desencontros, teríamos evitado, na nossa vida paroquial, se primeiro ouvíssemos, com paciência e tempo, as histórias de vida, de quem nos pede um documento, de quem reclama um sacramento, de quem – dizemos nós – nem sabe bem o que nos está a pedir. O discernimento dos muitos “casos” na vida pastoral não cairia na casuística fria, se aprendêssemos a descalçar as botas de ferro, perante a “terra sagrada” do outro, desse outro que não fala o nosso eclesialês, que não sabe sequer dar o nome certo ao que nos está a pedir. Mas traz no seu coração uma centelha de fé, uma secreta raiz implantada no campo da Igreja, uma esperança oculta de salvação, que não merece a nossa desconsideração, o nosso desprezo e, pior ainda, o cinismo da nossa superioridade clerical, que esmaga e apouca os fiéis. Todos já teremos resvalado por aí. E como me arrependo disso. Tenho de voltar a ouvir a minha amiga Lalinha: “Padre Gonçalo, seja mais pronto a consolar do que a corrigir”.
Ser pároco hoje, perante a multiplicidade de situações – não há casos iguais – exige uma grande disponibilidade para a escuta das pessoas, para a leitura dos sinais vitais da presença oculta de Deus na vida das pessoas e comunidades. O vício administrativo, que impõe regras, como crivo, impede-nos de olhar cada pessoa, no seu todo, nas suas circunstâncias. Fazemo-lo, tantas vezes, na busca de uma aparente justiça, de sermos iguais para todos. Eu diria, feliz do Padre que não trata de modo igual pessoas diferentes. Mesmo, se visto do lado de fora, pareça ser injusto, quando apenas se tratou de uma discriminação positiva, de uma atenção e de uma resposta personalizada. O rebanho não pode ser arrebanhado.
Sou pároco há 29 anos. É verdade que tive a sorte de nunca me sentir espartilhado por muitas paróquias. Mas, mesmo com duas, ao iniciar, olhava para elas, como porção da minha herança, povo de Deus, sem linhas de fronteira territoriais. Porque o nosso coração de pastor não pode ser cartografado com fronteiras.
Dou graças a Deus, porque ser pároco é entrar no coração de cada pessoa e no seu álbum familiar, na história de vida de cada pessoa e até de uma freguesia; é poder ser pastor de pobres ricos e de ricos pobres, de pessoas de todas as idades e condições, simpatizantes, crentes, religiosas, cristãs e católicas, indiferentes ou buscadores. Ser pároco é viver a graça de conjugar o verbo amar, no mesmo dia, com o riso e o pranto, o nascimento e a morte, o amor e a dor, a escuta e a Palavra, a oração e ação.
Digo-vos que não trocaria nenhuma outra forma de ser padre por esta de ser pároco. Certamente, a figura do cura da aldeia dará lugar à figura do padre, como o «tipo da comunhão»; em que ele deixa de ser o faz-tudo, para ser o que faz fazer. Muitos párocos terão hoje territórios e número de fiéis, de dimensão quase diocesana, o que exigirá mais tempo para rezar, escutar, discernir juntos os caminhos da missão, ponderar prioridades, fazer o essencial sem absorver o que deve ser feito pelos outros. É todo um caminho de aprendizagem missionária, de sofrimento, de avanços e recuos, de tentativas falhadas ou bem-sucedidas. Não importa. Tudo se perdoa, quando se ama o povo. Porque o Padre – e já agora o Bispo – só tem de ser especializado numa arte: a arte do pastoreio, à imagem de Cristo, o Pastor belo, que ama, conhece e dá a vida pelas ovelhas, sem a pretensão de ser o seu dono, antes o seu servidor. O retorno da graça, para um pastor que ama – posso garantir - é bem mais do que cem por um.
Um abraço fraterno a todos os irmãos padres, especialmente aos que são párocos, neste dia do nosso padroeiro, São João Maria Vianney, o Santo Cura d’Ars.
P. Amaro Gonçalo, Facebook

terça-feira, 3 de agosto de 2021

O melhor túmulo dos mortos é o coração dos vivos

No domingo passado, aos 85 anos, partiu para os braços do Pai D. Alzira dos Santos, esposa do sr. Zeca Castro que, nos seus 102 anos de vida, é o homem mais velho desta comunidade.
Diz a canção: "Ter um amigo é bom, vê-lo partir faz sofrer". D. Alzira, uma grande amiga. Desde a primeira hora da minha presença nesta comunidade, há 30 anos. Ainda recordo a sua palavra sentida e autêntica quando há 13 anos minha mãe faleceu: "A partir de agora, serei também sua mãe". Todos, antes da pandemia, no Dia da Mãe, ia entregar-lhe uma flor.
De uma fé simples, mas enraizada, cristalina e assumida, D. Alzira era uma presença assídua nas celebrações que ocorriam na Igreja Paroquial onde ela era zeladora do altar de Nossa Senhora do Rosário.
Quando a doença a reteve em casa, alguns anos a esta parte, esperava com ansiosa alegria que semanalmente lhe levassem a Sagrada Comunhão. Cristo era sua força e seu companheiro. Como entendia bem e melhor vivia a palavra de Jesus: "Eu sou o Pão vivo descido do Céu. Quem comer deste Pão viverão eternamente."
Quando surgiu a pandemia e deixou de ser possível levar Nosso Senhor aos doentes, ela nunca aceitou o facto e queixava-se com amargura.
Na altura das obras de restauro e conservação realizadas na Igreja Matriz, manifestou tanta vez a tristeza de não poder ir ver a "nossa Igreja" que amava profundamente.
Pessoa de trabalho - até para além das suas forças -, mantinha com o marido a sua pequena quinta num brinquinho. Aquele pequeno espaço fazia lembrar o paraíso blíblico. Ali gostava de receber os amigos com quem partilhava o que havia.
Muitos familiares encontram em sua casa acolhimento e dedicação sem resgatear esforços para que se sentissem bem.
Uma pessoa de oração, não só pela sua família, mas também pela paróquia e por todas as intenções que ela achava. Muitas vezes me disse: "Rezo todos os dias por si."
Era uma bela cozinheira. Então o bazulaque e a marrã cozinhados por ela, tornavam-se um "manjar dos deuses".
Porque é o único filho que ficou por cá, já que os outros partiram para governar a vida, o Eng. José Américo, tem sido de uma delicadeza, presença, dedicação e empenho notáveis. Os outros também fizeram o que puderam, mas este era o que estava por cá...

Até sempre, grande amiga!
Descansa na alegria dos braços do Pai.
Sei que continuas a amar-nos com o mesmo amor com que nos amaste em vida!

domingo, 1 de agosto de 2021