quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Só na multidão

Dois irmãos. Ela constituiu família e é já avó de vários netos. Ele ficou solteiro por opção de vida.
Desde novo se habituara a cuidar de si, a ser independente, até nas tarefas domésticas. E olhem que no seu tempo de jovem não era nada fácil, muito menos no interior. Um homem solteirão era olhado de soslaio, com desconfiança, atirado para o fim da escala da graduação social. Um homem a lavar os pratos, a varrer a casa!?? Isso eram tarefas para mulheres e se ele as fazia era porque...
Mas as pessoas habituaram-se, nada de nada lhe havia a apontar. Homem sério, não de muitas conversas, atencioso, disponível e, na hora da brincadeira, bastante divertido. Sobretudo transmitia a ideia de ser uma pessoa de bem consigo mesma. Solitário, mas solidário; sozinho, mas em paz com tudo e com todos.
A irmã tinha marido, filhos, netos. Até "estava bem de vida", conforme sói dizer-se por estes lados. À primeira vista, dava a ideia de uma família ideal, onde todos gostavam de todos e todos se interessavam por todos.
Mas quem a conhecia bem apercebia-se facilmente de uma nuvem no fundo do olhar que parecia esconder alguma tempestade interior. A um acolhimento franco a que um largo e belo sorriso emprestava afabilidade, seguiam-se momentos de ausência, de distância, como que afastando intrusos.
A pessoas mais íntimas, costumava dizer que se sentia muitas vezes só no meio daqueles que mais amava. Sentia-se amada, querida, mas experimentava concomitantemente uma necessidade irreprimível de estar só, de solidão. E então experimentava-se mais solidária do que nunca.
O ser humano ... Quem o entende??

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