quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Pio XII, 50 anos depois

Assinalam-se nesta Quinta-feira, 9 de Outubro de 2008, os 50 anos da morte de Pio XII, o Papa que guiou a Igreja Católica durante o período dramático da II Guerra Mundial. Eugénio Pacelli, nascido a 2 de Março de 1876, é ainda hoje uma figura rodeada por polémicas, mitos e preconceitos que tendem a obscurecer a análise do seu pontificado.
Bento XVI preside esta manhã, na Basílica de São Pedro, a uma Missa em sufrágio do falecido Papa. Participam os delegados presentes no Sínodo dos Bispos.

Eleito como Papa a 2 de Março de 1939, após um percurso diplomático que o levara a ser Núncio na Alemanha e Secretário de Estado do Vaticano, Eugenio Pacelli assumiu desde o início a sua preocupação com os tempos que se viviam no Velho Continente, que viriam a desembocar – apesar dos vários esforços em sentido contrário – numa segunda Grande Guerra.
Neste período atribulado e difícil – que lhe chegou a valer o título de “Papa da humanidade sofredora” – Pio XII dedicou-se a várias tarefas pastorais, tendo publicado inúmeras encíclicas e vários outros documentos pontifícios.
Num gesto simbólico, pouco depois do final da II Guerra Mundial, criou 32 Cardeais de várias partes do mundo, incluindo a China.
Particularmente devoto de Nossa Senhora, durante o Ano Santo de 1950 definiu como dogma de fé a Assunção da Virgem Maria ao céu, em corpo e alma, com a constituição apostólica “Munificentissimus Deus”, de 1 de Novembro.
Em resposta aos pedidos de Nossa Senhora em Fátima, este Papa consagrou o mundo e a Igreja ao Imaculado Coração de Maria, em Outubro de 1942, e renovou a consagração em 8 de Outubro desse ano. Consagrou a Rússia em 1952.

Pio XII e os judeus
A ideia negativa sobre o Papa Pio XII começou a consolidar-se desde a obra teatral “O Vigário” escrita em 1963 por Ralf Hoch Hunt, que lançou as bases para uma visão particular de Eugénio Pacelli. Em 1999, John Cornwell publicou “O Papa de Hitler” e Daniel Goldhagen, em 2002, apresentou o livro “A Moral Reckoning”, ambos com visões negativas sobre o papel desempenhado por este Papa na II Guerra Mundial – supostamente por ser apoiante de Hitler e não ter mostrado compaixão perante o sofrimento do povo judaico.
Na altura da sua morte, contudo, Pio XII era muito admirado. O escritor Graham Greene disse sobre Pio XII que foi “um Papa que muitos de nós acreditam será classificado entre os maiores de sempre”.
O diplomata israelita Pinchas Lapide escreveu em 1967 que Pio XII foi providencial para salvar “pelo menos 700 mil Judeus, provavelmente até 860 mil, das mãos dos nazis”.
Recentemente, Bento XVI saiu em defesa de Pio XII, considerando que o mesmo “não poupou esforços” para ajudar “directamente” os judeus e pedindo que sejam superados os "preconceitos" em relação a esta figura.
O actual Papa lembrou a acção desenvolvida através de católicos, a título individual, e das instituições da Igreja, para salvar os judeus da perseguição nazi.
“Sabemos que o Servo de Deus não poupou esforços, sempre que possível, para intervir em defesa dos judeus. De facto, as suas intervenções, muitas vezes secretas e silenciosas, foram inúmeras”, indicou.
Bento XVI falou das “não poucas intervenções” realizadas secretamente por Pio XII, dada a situação concreta num “complexo momento histórico”, de forma a evitar o pior e “salvar o maior número possível de judeus”.

Portugal
Documentação reunida pela Fundação «Pave the Way», dos EUA, mostra que o Papa Pacelli interveio tanto pública quanto secretamente para salvar judeus, além de pedir a entidades católicas de todo o mundo que os protegessem. Entre os documentos, há telegramas e testemunhos de pessoas que agradecem a mediação papal.
Uma dos testemunhos é do Arcebispo Giovanni Ferrofino (96 anos), secretário do então núncio no Haiti, D. Maurílio Silvani, de 1939 a 1946. D. Ferrofino fala sobre os telegramas que recebia do Papa Pio XII duas vezes por ano, para conseguir os vistos necessários aos judeus que escapavam da Europa ocupada pelos nazis.
Cada vez que recebia o telegrama, D. Giovanni Ferrofino visitava o presidente da República Dominicana, General Trujillo, para pedir, em nome do Papa, 800 vistos. Este procedimento acontecia duas vezes por ano, entre 1939 até 1945. Isso significa que, graças a Pio XII, cerca de 11 mil judeus terão embarcado em Portugal e ficado a salvo na República Dominicana.
http://www.agencia.ecclesia.pt/noticia_all.asp?noticiaid=64910&seccaoid=4&tipoid=32

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