A propósito das declarações do Bastonário da Ordem dos Advogados relativamente à corrupção óbvia e evidente em Portugal, escreve o chefe de redacção do Jornal de Notícias de 28 de Janeiro de 2008, o seguinte:
O que é que disse o bastonário dos advogados de tão extraordinário para causar tal estremecimento nacional? Que há negócios chorudos feitos com empresas por ministros que acabam nos respectivos conselhos de administração. Que há verbas a engrossar miraculosamente as contas de partidos, após certos e determinados governantes terem, alegadamente, feito manigâncias com o património do Estado. Que a confusão entre o Estado e os privados é total, sempre em prejuízo do primeiro, ou seja, nós, cidadãos, e a favor dos últimos. Enfim, que "a corrupção do Estado" é o cancro da nossa sociedade.
Não disse, portanto, nada de especial nas entrevistas que deu à Antena 1 e à SIC. Nada que não tenha já sido escrito e reescrito e denunciado vezes sem conta, mas com efeitos práticos quase nulos, como se percebe pelo elevado número de inquéritos por corrupção arquivados.
Sucede que Marinho Pinto é o recém-eleito bastonário da Ordem dos Advogados. E o peso do que diz tem uma preponderância que não teria se fosse apenas mais um advogado, neste caso a pender para o trauliteiro. Tem obrigação de aprofundar o que afirma, sob risco de cair em descrédito. Sucede que Marinho Pinto usou a palavra proibida e que tantos engulhos colhe num país de alegados bons costumes, mas entalado até aos olhos nos esquemas do salve-se quem puder corrupção, e do Estado. O resto é só somar. "Corrupção do Estado" é igual a corrupção de governos e os governos têm estado na mão do Bloco Central. Não vale a pena sacudir a água do capote e dizer do "meu não, do meu não".
Mas não há grandes motivos para preocupação pública. O português passa ao lado, porque o português está habituado ao fartar vilanagem, tendo por certo que todos tiram e que uns tiram mais do que os outros. Não é por acaso que os políticos aparecem, numa sondagem da Gallup para o Fórum Económico e Mundial, como os mais desonestos e os menos sérios para governar. Salvam-se, curiosamente, os professores, como sendo a profissão mais fiável, justamente a classe mais atacada, mais rebaixada e mais empobrecida nos últimos anos pelo poder político. Por que será?
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