sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Querida filha

Nestes dias, a televisão tem apresentado casos de pessoas idosos hospitalizadas cujos familiares as deixam nos hospitais durante a quadra festiva do Natal. Embora avisados por quem de direito para as irem buscar, fazem-se esquecidos e só voltam após a época natalícia.
E ficamos escandalizados com tanta insensibilidade, tamanha ingrantidão, desmesurada desumanidade.

Encontrei esta carta no jornal "O Amigo do Povo", que, com a devida vénia, aqui deixo aos meus amigos visitantes.

«Querida filha:
Nas vésperas de Natal estou um pouco mais comovida, por me lembrar de ti quando nasceste. Eras pequenina! E linda como o Menino do presépio.
Então eu era uma jovem cheia de vida e de sonhos. E tu ajudaste-me a realizá-los.
Porém, agora começo a sentir-me cansada e velha. Peço-te, pois, que tenhas paciência comigo.
Se eu durar mais uns anos, é provável que me torne para ti um peso. No dia em que eu não for mais a mesma, tem paciência e compreende-me.
Quando deixar cair comida na toalha ou na minha roupa, desculpa-me. Também tu fazias isso quando eras pequenina.
Se eu repetir as mesmas coisas que já me ouviste vezes sem conta, lembra-te das histórias que eu tive de repetir para adormeceres ou para sossegares.
Se eu alguma vez sujar a minha roupa, por não conseguir controlar as minhas necessidades fisiológicas, não te chateis nem ralhes comigo. Quantas vezes eu tive de te mudar as fraldas e a roupa para andares sempre bem cheirosa e asseada.
Não me reproves se eu não quiser tomar banho. Os velhos são como as crianças. Insiste comigo que foi o que eu fiz contigo.
Quando achares que eu não sei nada do mundo de hoje, não faças pouco de mim. Compreende-me! Lembra-te que quando eras pequena também te tive de ensinar a andar, a falar, a comer ... e tantas outras coisas.
Se alguma vez eu não quiser comer, insiste comigo mas não te aborreças. Também tu me deste muito trabalho na hora de te alimentar.
Se eu começar a ter dificuldade em andar, não me deixes para aí a um canto. Não te peço que me leves ao colo, mas apoia-me e ajuda-me como eu há anos tive de fazer contigo até conseguires andar sem qualquer dificuldade.
Por último, não leves a mal se alguma vez te disser que preferia morrer. Não é para te acusar de falta de carinho ou por já não gostar de viver contigo. Tu és o que mais amo e mesmo depois de partir continuarei a agradecer a Deus a querida filha que Ele me deu. Só espero que tu sejas tão feliz com os teus filhos como eu sou contigo. Mas sabes, a vida de dependência que tenho de levar é muito difícil. E às vezes desanimo.
Que Deus me ajude!
Tua mãe que nunca te esquece. Ana»

3 comentários:

  1. Linda lição de vida e amor que esta lição entre no coração de todos nós obrigado nesta época de natal e não só meditemos nesta lição todos os dias do ano.
    OBRIGADO
    Antonio Assunção

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  2. Não tenho palavras...não existem. Esta mãe diz tudo. Filhos (e eu tambem sou filha) não se esqueçam que todos nós seremos velhinhos um dia(ou menos jovens)e vamos passar por esta etapa, mas mais importante que isto, não nos podemos esqueçer de tudo que os nossos pais fizeram, abdicaram.
    "Quando deixar cair comida na toalha ou na minha roupa, desculpa-me. Também tu fazias isso quando eras pequenina."E que paciênçia e que com Amor as nossas mães nos mudavam, tiravam a toalha...
    Foi com tristeza que ontem houvi esta noticia, aliás vem vindo a aumentar nos ultimos anos o abandono dos nossos menos jovens e todos os anos nesta altura aumenta. Sei que infelizmente a vida não nos permite ter os nossos pais connosco, mas não se esqueçam deles e pelo menos nesta data, por favor vão buscá-los aos lares, onde eles estiverem e mimem-nos, mimem-nos MUITO.
    Bom Natal
    A.R.

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  3. já depois de ler esta carta um amigo ofereceu-me um CD de um artista Portugues que não vou dizer o nome para não pençarem que é publicidade tem uma letra que acreditem me fez chorar no final a letra acaba assim UM PAI TRATA DE DEZ FILHOS UM FILHO NÃO TRATA DE UM PAI é muito triste mas inflismente e contra a vontade de Deus é o que está acontecer pais que derão tudo e pouco ou nada recebem em troca.
    Antonio Assunção

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