O senhor Vieira era o telefonista no tempo em que andei no Seminário Maior. Homem crente e humilde, servia o Seminário "com o coração".
Sempre agarrado ao cigarrito, gostava de falar com os moços no intervalo.
Se havia uma personagem de que ele não gostava era de Salazar. Recordo-me bem dos motivos que apresentava: a pobreza. "Não fez nada pelos pobres", comentava.
Entretanto, nas se coibia de lhe apresentar alguns méritos. "Levantou o país do lamaçal económico em que se encontrava, livrou Portugal da II Guerra Mundial, não enriqueceu à custa do posto que ocupava."
Lembrei-me deste velho amigo, a quem presto a minha homenagem, por causa da confusão que muitas vezes se apodera de muita gente. Confunde razão com coração.
Podemos não sentir empatia por uma pessoa, mas devemos ser probos e clarividentes na análise que fazemos da sua acção. Saber reconhecer o mérito a quem o tem, mesmo que esse não seja das nossas simpatias, só nos dignifica como pessoas inteligentes e justas.
Há dias, encontrei um velho conhecido. Falámos da sua terra, do progresso verificado, de nomes que contribuíram com a sua acção e empenho para o desenvolvimento. Ali há uma pessoa que toda a gente reconhece como fundamental no processo. Mesmo que poucos nutram por ela grande simpatia, dada a sua arrogância.
Pois este velho conhecido nada soube dizer excepto mal, não lhe descobria qualquer mérito. Mesmo quando o confrontei com factos, rodeava a questão e arranjava explicações. A explicação pareceu-me simples. Não gostava e pronto. A isto chama-se cegueira perversão intelectual.
Que nunca o calor - ou frio - do coração obscureçam a luz da razão!
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