quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Filhos da Nação

“Aos enteados (reformados, funcionários públicos) pede-se sacrifício. Aos filhos dos banqueiros dá-se prémios” .

Do que venho hoje falar é de justiça social e de igualdade, é de justiça de um Pai, que distribui de forma desigual e inadequada a sua bênção aos filhos.

De um Pai, que se chama Estado, que, na ordenação do bem comum, adoptou a profecia que reza na parábola dos Talentos retirada do Evangelho de S. Mateus: 'Pois, a todo aquele que tem mais se há-de dar e terá de sobra, mas àquele que não tem até o pouco lhe será retirado.' Este bom pai de família que chamou ao seu convívio e que acolheu no seu regaço os seus mais recentes filhos, de nome BPN (Banco Português de Negócios) e BPP (Banco Privado Português), foi crucificado na praça pública, de forma injusta, só por querer o bem dos seus filhos. Então não é normal um Pai amar os seus filhos, não os deixando cair na desgraça, apesar de estes terem caído na tentação do dinheiro sujo, oferecendo-lhes garantias para que possam continuar a gerir os seus interesses e encherem os bolsos à custa do erário público e dos contribuintes?

Pode ou não este Pai ter preferências pelos seus filhos, tratando uns como filhos e outros como enteados? Pode ou não este Estado--Pai tratar de forma desigual os seus filhos, ajudando uns com garantias, que, se correrem mal, são pagas por todos os enteados e não pelo consórcio bancário? Ou seja por todos os cidadãos que morrem lentamente asfixiados com a carga brutal de impostos que pagam e por empresas que este Pai não ajudou e que estão em situação de falência.

Aos enteados (reformados, pensionistas e funcionários públicos) pede-se sacrifício e que apertem o cinto. Aos filhos banqueiros dá-se prémios pela gestão danosa.

Embora a situação destes filhos endiabrados seja diferente, o caso do BPP, banco privado, sem expressão na economia real do País, que se limitava a especular e a gerir fortunas, é escandaloso.
Se querem ajudar ajudem mas falem a verdade e não inventem a desculpa do risco sistémico. Qualquer pessoa de bem e com a Instrução Primária sabe que a falência do BPP não comporta risco sistémico de contaminação do restante sector financeiro.

O que fica contaminado é a honra, a ética e a honestidade dos homens.

Então os gestores e accionistas do BPP não têm direito a fugir com os seus dividendos e a continuar a morar na quinta do patinho ‘feio’?

Claro que sim, esta gente merece que o Estado proteja as suas fortunas privadas.
O povo 'invejoso e ingrato' é que assim não pensa. Só com escárnio se entende este golpe de mestre.
Rui Rangel, in Correio da Manhã

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