A Ana tem oito anos. Ontem não foi à escola, porque estava com gripe. Ficar em casa é para ela um martírio, porque gosta mesmo da escola, de aprender, da professora, dos colegas e leva muito a sério o seu posto de subdelegada de turma. à tarde, moeu a cabeça à mãe pois queria ir à aula de Inglês. "Porque já me sinto melhor... porque depois fico atrasada em relação aos colegas... e porque ... e porque..."
Mas não perdeu o tempo. Fez duas redacções no computador (não o Magalhães) e preencheu uma série de fichas gramaticais, já que havia pedido à mãe que lhe comprasse uma gramática que sendo aconselhada, não é obrigatória. Mostrou-me as redacções. Gostei. É mesmo ela, original, ordenada, criativa. Ajudei-a a fazer uma ou outra correcção, mormente quanto à construção frásica. Mostrou-me as fichas gramaticais. Eu percebi o que queria, ajuda. Emperrara numa. Compreensível: não dera ainda aquele conteúdo. Tem o bom hábito de ler a apresentação e explicação dos conteúdos antes de responder às perguntas. Mas não conseguia compreender aquilo de palavras graves, agudas e esdrúxulas. Disse-lhe para esperar, que iria aprender nas aulas... Mas deu para notar que a minha ideia não lhe agradava. Bom, não é fácil explicar rapidamente este conteúdo a uma criança de 8 anos. Fantástico! Após dez minutos de explicação, era vê-la a responder correctamente à ficha. "Que bommmm! Já aprendi uma coisa que os meus amigos não sabem! Assim vou poder ajudá-los..."
A Ana é uma miúda eléctrica. Não pára um instante. Quer estar sempre ocupada, mas distingue muito bem os tempos. Se é para brincar, brinca; se é para conversar, é vê-las a esgrimir argumentos; se é para pensar, mete sexta à fundo; se é para colaborar nas tarefas de casa, é imbatível.
Cheguei a casa sem avisar. Depois de conversar com todos e de ter visto os trabalhos dela, saí com o meu pai com o qual conversei longamente. Pelas oito horas, regressámos a casa para o jantar, pois é a altura em que meu irmão vem do trabalho. Mal entrei, vi a mesa posta, impecável. Ela chama-me e manda-me fechar os olhos. Pega na minha mão e coloca-a sobre um guardanapo quente e diz-me para carregar só um bocadinho. Percebi logo que era um bolo. E acrescenta: "Espero que gostes".
Pois, neste espaço, a Ana pusera a mesa, ajudara a mãe a fazer o jantar e ainda confeccionou sozinha o bolo. Era um pão-de-ló delicioso, que nada tinha a ver com aqueles que se compram.
Acreditem que há muitas jovens que não têm a destreza, o gosto e a habilidade desta criança. Oxalá não se estrague. Ah! Não pensem que ela é obrigada. Não, nada disso. Gosta de colaborar, de ser útil, de ajudar.
A Ana é a mais nova dos meus nove sobrinhos. Tenho muito orgulho nela. Como nos outros.
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