quarta-feira, 19 de março de 2008

Judas ... nos nossos dias

Naquele tempo, um dos doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os príncipes dos sacerdotes e disse-lhes:
«Que estais dispostos a dar-me para vos entregar Jesus?»
Eles garantiram-lhe trinta moedas de prata.E a partir de então, Judas procurava uma oportunidade para O entregar.
(...)
Ainda Jesus estava a falar, quando chegou Judas, um dos Doze, e com ele uma grande multidão, com espadas e varapaus, enviada pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos do povo. O traidor tinha-lhes dado este sinal: «Aquele que eu beijar, é esse mesmo. Prendei-O». Aproximou-se imediatamente de Jesus e disse-Lhe:
«Salve, Mestre!».
E beijou-O. Jesus respondeu-lhe:
«Amigo, a que vieste?».
Então avançaram, deitaram as mãos a Jesus e prenderam-n’O. Um dos que estavam com Jesus levou a mão à espada, desembainhou-a e feriu um servo do sumo sacerdote, cortando-lhe uma orelha. Jesus disse-lhe:
«Mete a tua espada na bainha, pois todos os que puxarem da espada morrerão à espada.
(...)
Ao romper da manhã, todos os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo se reuniram em conselho contra Jesus, para Lhe darem a morte. Depois de Lhe atarem as mãos, levaram-n’O e entregaram-n’O ao governador Pilatos. Então Judas, que entregara Jesus,vendo que Ele tinha sido condenado, tocado pelo remorso, devolveu as trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos, dizendo:
«Pequei, entregando sangue inocente».
Mas eles replicaram:
«Que nos importa? É lá contigo».
Então, arremessou as moedas para o santuário, saiu dali e foi-se enforcar.
Mt 26 – 27)

O dinheiro, sempre o dinheiro!
Ontem como hoje. O dinheiro compra consciências, vende consciências, mente, corrompe, esmaga, deturpa, aliena, mata.
Quando deixamos que o dinheiro seja o "deus" das nossas vidas, tornamo -nos insensíveis, escravos com objectos de luxo, perdemos o coração, despimos os valores, somos seguidos e admirados pelo que temos e não pelo que somos, semeamos vazios abismais que procuramos calar com mais dinheiro... O dinheiro deixa as pessoas por dentro mais negras do que matas após violento incêndio.

A traição é um acto abominável
Um beijo traiu, entregou, condenou. Um gesto de carinho, de intimidade, de familiaridade foi transformado por Judas numa aberração monstruosa.
E hoje? Quantas falinhas mansas com as mais perversas intenções! Quantos lobos com pele de cordeiro! Quanta disponibilidade aparente para ouvir e ajudar empurrada pela pela danada vontade de conhecer para denunciar, condenar, amesquinhar, roubar, subir na vida! Quantos segredos comunicados entre juras de fidelidade e depois comunicados na praça pública! Quantas palmadinhas nas costas movidas pelo mais vil dos intentos!

O remorso sem humildade leva à autodestruição
Judas sentiu remorsos pelo crime cometido. Pedro também. Pedro teve a humildade de olhar para Jesus e desse olhar veio purificado, perdoado, refeito. Judas não teve essa disponibilidade interior. Não aguentando mais as facadas do remorso, terminou com a vida.
Quando nos fechamos no nosso pecado, incapazes de esvoaçar até à graça de Deus, somos como balões que, não aguentando mais a pressão do ar, estoiram. Precisamos de redescobrir a pedagogia do regresso, à imagem do filho pródigo que encetou o regresso à misericórdia do Pai.
Mas o pior mesmo é nem sentir remorso pelo mal que se pratica. Uma consciência de pedra, insensível, que perdeu toda a dignidade... O nosso tempo é muito propício a duas realidades: perda de consciência e relativismo moral. Hoje parece que cada pessoa fabrica e desfabrica os valores conforme interesses, preconceitos, manias, estados de alma. Quando tal acontece, somos como rocha enorme que desanda pela montanha abaixo. Imparável, destruidora, aniquilante.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.