quinta-feira, 6 de março de 2008

Rir-se de si mesmo...

É já uma pessoa entradota. A esposa costumava dizer: "Tem um coração de ouro, mas uns nervos levados do dianho."
Está agora viúvo. Esta situação causou-lhe enorme sofrimento. Como ele amava a sua mulher! Via-se no rosto, nos gestos, no sorriso, nas atitudes. Quando, de longe em longe, bebia um copito a mais, ele que por norma nem era expansivo, tornava-se um poeta romântico e deixava vir à tona todo o encantamento que sentia por ela. Até versos lhe fazia!
Conhecia-o muito bem e sabia perfeitamente como lidar com ele. Ninguém o conseguia acalmar como ela nos momentos de maior nervosismo. Depois, mais sereno, fitava-a com um olhar profundo de onde escorria um caudal de admiração e gratidão.
Está muito mais calmo agora. Pela idade? Talvez. Mas sobretudo porque aprendeu a lidar consigo mesmo. Em tempos, perante um objecto que procurava e não aparecia, ficava em polvorosa. Enerva-se, gritava, amaldiçoava. Agora diz que aprendeu a lidar com a situação. Em vez de se enervar, ri-se dos próprios nervos, de si mesmo. "Ah! Ah! Olha que figura estava a fazer! Enervar-me por causa de uma faca que não aprece! É preciso ser muito maluquinho! Que figuras faço!"
Diz que vive actualmente com mais saúde, menos dores de cabeça e de estômago, se sente melhor. Só se pergunta a si mesmo por que razão não descobriu este método há mais tempo. Teria aproveitado muito mais o tempo em que viveu com a princesa da sua vida.

1 comentário:

  1. Às vezes nem sabemos por que nos irritamos tanto, não é? Se calhar é por não darmos o devido valor ao que temos...

    Beijinho sereno

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