segunda-feira, 21 de abril de 2008

Viagem de seis dias ajudou a «conquistar» a América

Viagem de risco transformada em êxito

Bento XVI assumiu, nesta sua oitava viagem apostólica, uma série de riscos: o país está numa corrida eleitoral, a Igreja Católica estava profundamente abalado pelo escândalo dos abusos sexuais, a comunidade católica sente de forma mais próxima os dramas ligados à imigração clandestina.

Nenhum destes assuntos ficou à margem da agenda do Papa, que logo no avião que o transportava desde Roma dava conta da sua vontade de levar uma mensagem de reconciliação à Igreja nos EUA, cujo envolvimento em casos de pedofilia classificaria, por várias vezes, como uma vergonha ou um escândalo. O seu encontro (não programado) com as vítimas foi, simbolicamente, o fim de um ciclo, uma promessa de «Nunca mais», permitindo que os católicos possam agora olhar para o futuro e para novos desafios, nos quais é preciso uma unidade cada vez maior entre todos – qualquer que seja a sua proveniência.

«Nunca mais» foi também o que Bento XVI, salvo do nazismo pelos norte-americanos, disse aos jovens do país a respeito desse “monstro” ideológico. Liberdade na verdade foi, em suma, o caminho apontado a todos os fiéis que o ouviram ao longo destes dias.

Politicamente, o Papa conseguiu passar à margem da corrida às próximas presidenciais, sem referências ao Iraque ou ao terrorismo (mesmo no local dos atentados do 11 de Setembro), apresentando uma série de desafios morais de forma clara, mas não conflituosa, em temas como a imigração, o aborto ou a pobreza.

Neste campo, o Papa destacou por várias vezes a importância que a religião tem no debate público norte-americano – ao contrário do que aconteceu na Europa, onde as convicções religiosas são remetidas para uma esfera cada vez mais privada -, mas mostrou-se preocupado com uma vaga de novo secularismo.

A ida às Nações Unidas, por seu lado, não foi uma espécie de radiografia do mundo, mas um apelo a valores comuns, sem os quais os esforços da diplomacia internacional e da defesa dos direitos humanos estão condenados ao fracasso.

Na retina permanecerão também dois momentos altamente simbólicos, a visita à Sinagoga de Park East e a oração no Ground Zero, onde Bento XVI não se preocupou tanto em falar, mas em marcar, com a sua presença, uma posição firme em favor do diálogo e da reconciliação.

1 comentário:

  1. Fica também “na retina” a forma hábil e inteligente como, por via de uma conferência de imprensa em pleno voo, o Papa se conseguiu antecipar à feroz imprensa americana que o esperava, pedindo desculpa.
    Mas fica uma questão: porque razão já visitou o Papa Bento XVI por duas vezes uma sinagoga em 3 anos, quando, o Papa João Paulo II o fez por uma única vez em todo o seu longo Pontificado?!
    NPL

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