quinta-feira, 10 de abril de 2008

"Onde está o respeito pela Casa de Deus?"

Recebi há pouco um email de uma pessoa amiga que me autorizava a partilhá-los com os visitantes deste blog.

"Caro e bom amigo,
Permita-me que partilhe consigo alguma insatisfação face ao que observo em várias Igrejas da minha zona. Não sei se aí se passa o mesmo. Por mim, desejo que não.
Meus pais sempre me educaram na prática cristã, dando-me o seu exemplo. Passei por um período difícil. As companhias, alguma crise de fé, um namorado completamente indiferente ao religioso... Mas um dia, a convite de uma grande amiga - mais até para não a desgostar - aceitei fazer um retiro para jovens. Abençoada amiga! Reencontrei uma paz, uma alegria de viver que já não sabia o que eram há muito tempo.
A partir dessa experiência marcante, ainda que nem sempre como devia, procuro cultivar e viver a fé com alegria. Embora esposa e mãe de filhos, com um emprego exigente e um pai velhinho em minha casa que está numa cadeira de rodas , não deixo de me dirigir bastas vezes ao silêncio de uma Igreja, pois é lá que melhor consigo rezar e sentir aquele Jesus que dá sentido à minha vida.
É aqui que surgem as dificuldades.
Encontrar hoje em dia uma Igreja aberta é bem difícil. Eu até compreendo. Os malfeitores são mais que muitos. Mas... com tanta gente reformada, seria assim tão difícil as pessoas revezarem-se para que a Casa de Deus estivesse aberta para quem quer entrar? Não seria uma óptima forma de voluntariado?
Outra coisa que me entristece é o falatório na Igreja. Conversam as pessoas que adornam os altares e limpam o templo; conversam descaradamente os turistas quando aparecem; conversam as pessoas dos grupos corais; cochicham as pessoas na Missa; há telemóveis a tocar em plena cerimónia e pessoas a correr pela Igreja para atender cá fora; falam as pessoas antes da Missa começar como se estivessem na rua; até às vezes os sacerdotes não dão grande exemplo neste aspecto... E eu preciso de silêncio. E sofro porque as pessoas já nem respeitam os lugares sagrados. E às vezes, valha-me Deus, até pecarei, porque não evito juízos de valor perante tais comportamentos... E já nem refiro a confusão de tantos casamentos e baptizados, a cheirar a paganismo duro...
Ao domingo, faço questão de ir à Missa à minha paróquia, não só porque a catequese dos meus filhos é antes da celebração, como para viver a pertença à minha família paroquial. Eu e meu marido fazemos instantes recomendações e damos claras explicações aos filhos sobre o comportamento a ter na Igreja e na catequese. Há dias, o miúdo mais velho saiu-se com esta:
- Ó mãe, estás sempre a dizer que devemos estar calados na Missa, mas muitos adultos falam muito!
Felizmente têm um avô maravilhoso. Quando chega a hora da transmissão dominical pela televisão, pede-nos sempre por favor que não haja barulho em casa. Admirável a fé simples e profunda do meu pai! Canta e responde como se estivesse na Igreja de onde é transmitida a Missa. Na consagração, como não pode ajoelhar, ergue as mãos. Que testemunho! Penso que também meus filhos o não esquecerão.
Recordo que sempre que nós partimos para a Missa do domingo, ele diz sorrindo:
- Ide! Eu vou convosco como o fiz enquanto pude. Só que agora vou de outra maneira, em espírito.
Acho que a azáfama e a vida superficial do nosso tempo estão a encostar Deus à prateleira. Depois quem fica na prateleira são a dignidade e a verdade do homem.

Tinha muito para lhe dizer, mas não quero abusar demais. Obrigado pela atenção que dispensar a este pobre testemunho. E se entender que o deve publicar no seu blog, esteja avontade."
Ana Carriço

1 comentário:

  1. "Eu e meu marido fazemos instantes recomendações e damos claras explicações aos filhos sobre o comportamento a ter na Igreja e na catequese. Há dias, o miúdo mais velho saiu-se com esta:
    - Ó mãe, estás sempre a dizer que devemos estar calados na Missa, mas muitos adultos falam muito!"

    como a compreendeo!

    Não raras vezes ouço dizer que não vão à Missa X, mas à Y porque aquela é uma seca e esta é mais divertida!

    por vezes fico com a ideia que se vais à Santa Missa para mais um número de diversão e menos para um momento de vivência com Deus!
    por vezes questiono-me, num mundo tão agitado, como é possível estar com Deus em celebrações tão "divertidas", tão "animadas"!

    por vezes questiono-me como é possível em celebrações tão "rockeiras" ou "folclóricas" o enlace com Cristo!
    por mais que queira, não consigo esquecer-me de uma homilia de D. António Xavier Monteiro, de que me recordo apenas: comungaste tantas vezes e quantas vezes te transformaste em Cristo?

    não será tempo de ... mudar?

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