quinta-feira, 24 de abril de 2008

O Guarda-Chuva

Esta Primavera extremamente chuvosa tem-nos proporcionado algumas reflexões com interesse.

Num destes dias invernosos vi vários guarda-chuvas tombados no pavimento das ruas, espatifados pelo vento, abandonados friamente pelos seus donos.

Olhei para aqueles guarda-chuvas desfeitos, desprezados, porque inúteis e reflecti. Quanto bem fizeram aqueles objectos desfeitos. Livraram os seus donos das ardores do sol, evitando incómodos e doenças. Livraram seus donos da chuva desagradável e fria e do vento cruel, livrando de molhadelas importunas e de doenças que entram por aquelas portas.

Olhei para eles, e viu-os desiludidos, desencantados, chorando pela ingratidão daqueles a quem serviram o melhor que puderam.

Ali estavam tristes como o tempo. Se pudessem falar praguejariam contra a fúria do tempo e contra seus donos esquecidos de tanta ajuda solicitamente prestada.

Olhei então para os caminhos da vida e vi tantos “guarda-chuvas” prostrados, abandonados cruelmente pelo seus usuários. Aqueles “guarda-chuvas” simbolizam gente. Gente que serviu generosamente os seus senhores, os seus chefes, os seus patrões a quem abnegadamente ajudaram. Mas numa má hora de fraqueza, de incapacidade, de derrota por tempestuosos acontecimentos, foram atirados ingratamente ao chão, na lama ou pavimento escorregadio, esquecidos da utilização excelente que ofereceram ao longo dos tempos.

Quanta gente que sofre e chora, atirada para o monte do lixo da vida porque, pela idade ou pela doença, já nada conseguiam dar, como expressão de serviço e de amizade àqueles que serviram com dedicação e humildade!
Mário Salgueirinho

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