domingo, 27 de abril de 2008

Uma mulher fantástica!

Era a "menina bonita" da terra. Muitos candidatos andaram por ali a rondar, mas o seu coração só tinha olhos para o filho do padeiro da terra. E foi com ele que casou, apesar de ter vencido resistências familiares, pois achavam que ela merecia "outra coisa".
O rapaz foi-lhe sincero. Disse-lhe que, embora ela fosse criada com uma "menina-bem", que nunca trabalhou, se fosse com ele teria que se aplicar. Não tinha possibilidades de lhe manter os "luxos" a que estava habituada. Mas esta frontalidade e esta verdade nunca encoberta, seduziam-na ainda mais.
Apesar do "bandinho de filhos" muito seguidinho que foi surgindo, ela ali estava junto ao marido na padaria que, entretanto, o pai lhes passara. Aprendeu depressa não só os segredos da fabricação do pão como a arte de estar neste negócio. A pequena empresa familiar expande-se e caminha de vento em popa.
Aos 34 anos fica viúva. Um mal galopante roubara-lhe o marido. Sofrendo terrivelmente, não se demitiu da luta, agora sozinha. Sabe que tem que trabalhar por dois e que vai ter que ser pai e mãe. "Pobre fidalga! - comentava o povo. - O mimo com que foi criada e as dificuldades em que se vê agora..."
Foi então que se revelou toda a têmpera, coragem e vontade férrea da senhora. Apoiada no trabalhito dos filhos mais velhos, na sua entrega sem limites e no gosto refinado pelo negócio, a pequena empresa não só não soçobrou como crescia a olhos vistos. Mais, os seus filhos estudaram todos e concluiram cursos superiores, coisa completamente inédita naquele tempo e naquela terra.
Conquistou a pulso a admiração e o respeito profundo de conterrâneos e fregueses. A freguesia revia-se nela como sua heroína.
Não dizia não a quem lhe pedia serviços, conselhos, orientações. Um vaga de fundo levou-a a aceitar ser presidente da junta. E as pessoas comentavam que nunca se trabalhara tanto pelo bem comum como nos seus mandatos. Sabia mandar sem impor, mobilizar sem chantagem, orientar sem calar.
Os filhos partiram, a padaria foi passada, ficou sozinha. Gasta, cansada, mas feliz. Pese embora as várias tentativas dos filhos para deixar a casa e os acompanhar, nunca aceitou. Gostava todo o seu tempo a ajudar o próximo, visitando doentes, cuidando da Igreja, mobilizando para iniciativas sócio-culturais. E quando lhe diziam que estava na hora de parar para descansar, ela respondia a rir que sentia a obrigação de suprir o tempo de solteira em que não fizera nada.
Já velhinha, faleceu repentinamente quando, em casa de uma doente, lhe preparava um chá.
Esta senhora serviu para viver porque viveu para servir.

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