É enorme a quantidade de novos emigrantes dos últimos anos. São gente jovem, preparados, disponíveis, falam línguas e têm como destino a Inglaterra, a Espanha, ou o Luxemburgo...
Em meados dos 80 os decisores económicos do País resolveram enveredar por uma política de salários baixos. Começava um dos maiores erros estratégicos da nossa economia, do qual estamos a pagar a factura.
As “cabeças pensantes” na altura, o então Primeiro-Ministro, e o Governador do BP (o inefável Dr. Constâncio, que veio à televisão recomendar piamente “moderação salarial” numa altura em que o País crescia a ritmos elevados e tinha condições objectivas para tomar outras opções relativas aos salários) decidiram que Portugal - com a bênção do Estado - manteria uma política de mão-de-obra barata, como pilar da sua estratégica económica.
A opção parecia defensável e coerente. Por um lado o País tinha uma indústria de mão-de-obra intensiva que importava proteger (o têxtil à cabeça…) e num cenário de “Europa/12” Portugal era objectivamente o País com melhores condições para acolher Investimento estrangeiro, o que de facto aconteceu durante algum tempo.
Simplesmente a 9 de Novembro de 1989 caiu o Muro de Berlim e a Europa iniciou a abertura a Leste. E em 2001 a China foi aceite na Organização Mundial do Comércio.
Estes factos deviam ter sido suficientes para Portugal mudar de paradigma económico, pois nenhum dos pressupostos-base da política de “salários baixos” continuava a existir: a China matou todas as indústrias de mão-de-obra intensiva na Europa Ocidental (sabemos como fecharam as portas os têxteis do Vale do Ave e as 200.000 mulheres desempregadas que temos na Região Norte) e o Investimento Estrangeiro, mês após mês, revela o que já se sabia: é um investimento “de beduíno” que se deslocaliza à velocidade das areias e vai montar fábricas na Roménia, na Bulgária ou na Polónia desde que com isso consiga poupar 20% da factura de pessoal.
O pior inimigo da competitividade das empresas é a mão-de-obra barata! Pela razão simples de que em Gestão, normalmente não temos hábito de nos preocupar com recursos baratos.
Quem é que se preocupa em poupar água na casa de banho duma empresa? Muito poucos! Pelo facto de que a factura da água não pesa nos Resultados. Ora, em Portugal, a mão-de-obra, tal como a água, é um recurso barato!
A estratégia dos 80 veio provocar que as empresas portuguesas em geral não se preocupem em delinear formas de gestão competitivas, porque têm um recurso que amortece a má gestão: os salários baratos!
No contacto que mantenho diariamente com empresas, verifico frequentemente esta realidade: quando se paga um salário (mínimo nacional) de 408 €uros ter mais um trabalhador numa tarefa é um custo despiciendo! Diria que, por norma em Portugal as empresas ocupam 10 trabalhadores em tarefas que poderiam fazer apenas com 5!
Por outro lado, o trabalhador que leva para casa 450 €uros ao fim do mês tem pouca ou nenhuma motivação para ser produtivo! Os mais válidos, os que têm uma ambição pessoal em progredir e ter uma vida melhor simplesmente saem de Portugal e …emigram! É enorme a quantidade de novos emigrantes dos últimos anos, que revelam novos paradigmas: são gente jovem, preparados, disponíveis, falam línguas e têm como destino a Inglaterra, a Espanha, ou o Luxemburgo. São gente dinâmica, seriam valiosos para o progresso de Portugal. Com a diferença que nem sequer mandam divisas…
Portugal precisa urgentemente de salários altos! Com salários altos, as empresas são obrigadas a ser competitivas, a automatizar-se, a comprar equipamentos para dispensar mão-de-obra.
A olhar para a produtividade de cada trabalhador, a exigir mais e melhor produção. A formar as pessoas para que sejam produtivas! A desenhar processos e organizações que sejam eficientes, que em geral actualmente não fazem! A abandonar tarefas pouco rentáveis e a desenvolver cadeias de valor. A adquirir tecnologias e sistemas de informação. Passar a ter departamentos de Recursos Humanos que se ocupem do trabalhador e promovam formas correctas de satisfação e motivação.
Pelo lado dos trabalhadores, a resposta será também positiva: quando há o incentivo dum salário decente (senão até elevado) está disponível para se empenhar, para se esforçar, para produzir, para fazer horas extras e sábados e domingos se for preciso, tal como faz “lá fora” onde é convenientemente remunerado pelo seu esforço!
Será este o caminho que Portugal tem de trilhar com urgência! Os salários altos serão o melhor empurrão à nossa produtividade e competitividade. Não há nenhuma economia competitiva baseada em salários baixos! É uma lição de que nos estamos a esquecer.
Carlos Lacerda, http://quiosque.aeiou.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ae.stories/9188
"Diria que, por norma em Portugal as empresas ocupam 10 trabalhadores em tarefas que poderiam fazer apenas com 5!" - diz o autor do artigo.
ResponderEliminarConcordo com no geral com o artigo. De facto, a nível de remunerações, estamos mais próximos do 3º mundo do que da média europeia. E somos um país que integra a União Europeia!
Sem absolutizar, parece-me que o mal está mais do lado dos empresários do que do lado dos trabalhadores. Por que razão os nossos trabalhadores emigrantes são tão apreciados pelos países de acolhimento por causa do seu bom rendimento? Não será porque lá fora há empresários com mentalidade diferente? Modernos e humanos? Actualizados e motivadores?
Mais uma vez sem absolutizar. Parece-me que a mentalidade do empresário português - e por arrastamento, dos que aqui se estabelecem - é ganhar o máximo no mínimo de tempo. Sem olhar a meios, a pessoas, a trabalhadores, à modernização da empresa.
No meio disto tudo, só o excerto que copiei do texto do autor me preocupa. Menos trabalhadores = a mais desemprego. E o desemprego já é alarmante no país! Como conjugar melhores salários com menos desemprego?
Alberto Rodrigues