Não lhe basta ser um prisioneiro desde o nascimento, quanto mais o nome que recebeu: Bibi! Ele que é casto, se não por vocação, pelo menos por exigência de vida.
Deram-mo há 10 anos, com esta indicação: "Entre todos os que tenho, este é o mais cantador."
Realmente, enquanto jovem, cantava deliciosa e interminavelmente. Só que agora, talvez pelo peso dos anos, não canta. E mais, tornou-se agressivo. Mal alguém se aproxima do seu "solar" abre o bico, bate as asas, saltarica freneticamente, pula para as grades... Sempre na intenção de picar. Se por acaso a mão se aproxima, e na impossibilidade de a agarrar, bica repitidamente as grades. Está uma verdadeira ferinha! Nem quem lhe dá de comer e lhe limpa o palácio reconhece.
De uma coisa tem medo: do fumo do cigarro. Pode estar todo encarniçado, mas se me vê a fumar, amaina e tenta fugir. Não quer brincadeiras poluidoras. O meu canário é um ecologista militante! Por isso, adora alface.
Bom, em abono da verdade, deve dizer-se que lá de bom bico é ele. Tudo o que se lhe dá ele debica. Claro, umas coisas mais do que outras.
Gosto de colocar o seu "palácio" ao pé de mim quando estou a almoçar ou a jantar. Ele empoleira-se todo, com uns olhos que parecem dois radares. Mal me mexo, ele mexe as asas. Se faço qualquer gesto de me aproximar, abre o bico, abana as asas e salta para a grade. Depois, se não lhe ligo, fica um bocado a piar. Será para descarregar a cólera?
Mas é uma companhia e uma companhia limpa. Volta e meia, mete-se na piazita da água e lava-se até onde pode. Sacude-se então, deixando aspersão de água em redor.
Brevemente terá a companhia de um jovem papagaio. Quero ver depois a sua valentia!
Enfim, histórias de dois solteirões impertinentes. O Padre, que o é por opção, e o canário que o é por obrigação. Dizem que todos os solteirões têm as suas neuras. A dele está à vista. É agressivo. E a minha? Oxalá não tivesse. Mas na fragilidade que sou, entrego-me à Misericórdia bonita do Pai, confiando no Seu perdão que me salva e me refaz.
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