Conhecio-o há muitos anos, nos alvores da minha vida docente. Ele e a esposa, leccionavam na mesma escola onde eu estava.
Era o "rei" da sala dos professores. Sempre bem disposto, com a piada fina na ponta da língua, nunca perdia a oportunidade para uma anedota oportuna ou uma provocaçãozinha de ocasião. Toda a gente o estimava.
Era uma pessoa de enorme dedicação à escola a quem oferecia horas e horas de trabalho em múltiplas actividades extra-curriculares. Actividade em que se metesse, era certo e sabido que tinha uma legião de alunos a aderir, tal a empatia gerada.
"Como vida de professor é uma vida de cigano", no fim do ano lectivo cada um de nós partiu para outra escola.
Encontrei-os há dias. Parece que os anos não passaram por eles, tal a juventude física e psíquica que revelam.
Só que agora o desencanto é mais que muito. Ele explica-se:
" Nos últimos três anos, tiraram-me toda a vontade de ser professor. Sei que continuo a ser um empregado cumpridor, porque assim mo pede a minha consciência, mas professor não. Arrasto-me, cumprindo, até que chegue a hora da reforma.
A política educativa do actual governo é lastimosa, desmotivante, injusta, arbitrária, inconsequente, monetarista. Muda as regras a meio do jogo, não respeita direitos adquiridos, só sabe impor e sobrecarrega com o vexame os professores - vejam-se as aulas de substituição.
É discriminatória. Então só uns tantos é que chegam ao topo da carreira!? Os outros, por melhores que sejam, são "carne para canhão"!
Colocou a autoridade dos professores pela rua da amargura, embora venha agora com uns remendos legislativos..."
Ouvi-o com atenção. Era a alma dorida de um excelente docente a quem a política governativa havia tirado o gosto, o empenho e a sedução pelo ensino. Agora é apenas um empregado que cumpre.
E quantos milhares se não revêem neste colega???
E quantos sentem o mesmo colega...
ResponderEliminarCoragem e união! É nestas alturas que precisamos delas!!!
Um abraço
Fá