O caso já tens uns bons aninhos, mas creio que não perdeu actualidade.
Veio falar comigo. Notava-se que estava nervosa. Olhava para todos os lados a ver se topava alguém que pudesse ouvir e sussurou-me que queria uma estola velha. Não importava que fosse rota, mas tinha que ser velha. Pagaria o que fosse preciso ou então, em troca, que eu comprasse uma nova à minha escolha que ela me daria o dinheiro.
Tentei acalmá-la. Procurei para que queria a estola velha. Bem sabia, mas era para meter conversa que conduzisse ao diálogo. Respondeu-me quase em monossílabos, que precisava... que era a sua vida... assunto seu...
Sorrindo, disparei: "Foi a minha "comadre" que lha receitou!" E tentei explicar, ajudar a perceber, também compreender. Olhar fugidio, mexendo o corpo, via-se que não estava interessada. E inerrompeu: " Posso contar com a estola velha?"
"Não", respondi-lhe.
Resmungando, afastou-se, quase dando com "os calcanhares no rabo".
Sei que procurou arranjar a tal estola, através da "porta da cozinha". Não o conseguiu. Gabou-se depois que obtivera a estola velha noutro lado.
Bem diz o Bispo D. Carlos Azevedo que a santa com mais devotos em Portugal é a santa ignorância. Muita gente vive assim: um pé na religião e outro no bruxedo. Ou como uma vez ouvi a certa pessoa: "Deus não é mau, mas a bruxa pode dar jeito!"
Sabemos que um aflito se vira para qualquer tábua de salvação que lhe apareça. O problema é que algumas tábuas não salvam, antes afundam e sugam.
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