As escolas reabriram hoje para iniciar o último período escolar.
Foi bom voltar a encontrar os colegas, funcionários e os meus queridos alunos do 2º ciclo.
Gosto de ensinar e de aprender com os meus alunos com quem tenho uma boa relação pedagógica, empática, próxima, no respeito pela especificidade de cada um. Gosto de trabalhar e de conviver com os colegas com quem sempre aprendo. Gosto da minha escola e das funções que me têm atribuído, mormente o jornal escolar.
Não gosto das aulas de substituição. Acho-as deprimentes. E sei que os professores com quem contacto, maioritariamente pensam assim. Mesmo que a Senhora Ministra dê o facto como pacífico. Mas ela sabe que não é. Por baixo da paz da cinza, o lume continua vivo.
Uma escola não é uma fábrica, nem os alunos peças da máquina. Uma fábrica não pode parar. Perante a ausência de um funcionário, alguém tem que o substituir. Só que, quando se trata de pessoas, a coisa soa mais fino…Que diria a Senhora Ministra ou o Senhor Primeiro-Ministro se tivessem que ser operados ao coração e, na hora, aparecesse, não uma equipa de cardiologistas, mas de oftalmologistas? Uma turma é um grupo específico de crianças, adolescentes ou de jovens, com a sua idiossincrasia, dentro da qual e com a qual se estabelecem formas de estar muitos próprias. Quando um estranho entra, é como se um cisco entrasse na vista. É uma invasão, com todas as consequências que de tal se inferem. Um professor desconhecido, que nem caras nem nomes conhece…
Depois, que sentido têm um professor que se profissionalizou no 2º ciclo ter de ir fazer uma substituição numa turma do 12º ano, ou vice-versa? Que plausibilidade há no facto de um professor de Matemática ter de dar uma aula de substituição de Português ou de Educação Física?
Estamos a falar de crianças e de jovens que precisam de brincar, de aprender através da socialização. Uma criança começa as aulas às 9 horas – a maior parte delas de 90m -, tem ao meio da manhã um recreio maior, mas que precisa de usar para ir ao wc, tirar a senha, ir ao bufete e outras coisas próprias da vida escolar. Que tempo lhe sobra para brincar? Vem depois o almoço e precisa de esperar na fila para entrar para o refeitório para depois poder comer… Que tempo sobra? E de tarde, repete-se a mesma cena até às 17.30 horas.
Se o estudante não teve tempo para espairecer, diluir tenções, esvaziar emoções, relaxar, então vai fazê-lo na aula, diminuindo a capacidade de concentração, a predisposição para a aprendizagem e aumentando a indisciplina. Por isso os resultados não melhoram, pelo contrário.
Quem foi estudante, sabe compreender a importância do “furo”. Quantos o aproveitavam para pôr a conversa em dia, ir até à biblioteca, realizar tarefas de casa, tirar dúvidas com colegas, estudar com amigos, libertar energias com o desporto. Mas se querem ocupar os “furos”, haverá certamente outras formas mais sensatas e mais humanas de tratar alunos e docentes. Exemplo, seria a existência de salas de estudo, com a presença de 2 ou 3 docentes de áreas diversas, onde os alunos pudessem estudar, sozinhos ou em grupo, tirar dúvidas, consultar a biblioteca ou as novas tecnologias…
Aliás muitos pais, que de início bateram palmas às medidas ministeriais, estão a “cair na real” e a aperceber-se da perversidade destas e outras medidas. Se o estudante acompanha este ritmo intenso, chega a casa, não tem paciência para a família e carrega ainda mais o ambiente familiar; se não tem estofo para acompanhar este ritmo, fica revoltado, desinteressado e as consequências a nível comportamental e familiar são previsíveis. Já diz o sábio bíblico: “Há tempo para tudo…” Demos tempo para os alunos brincarem para eles se darem tempo para aprenderem. A escola não pode ser um espaço de “entreter os meninos”, tem que ser espaço de exigência no crescimento. Para isto, os alunos precisam de disponibilidade interior, de se sentir desempoeirados e serenos.
Quanto ao facto do trabalho dos professores, só um dado: são dos grupos mais consumidores de consultas psiquiátricas. Porque será?
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