quinta-feira, 12 de abril de 2007

Director da Renascença diz ter sido pressionado por assessor do primeiro-ministro

Responsável adiantou não ter recebido uma "ameaça formal" de processo judicial, mas admitiu que "a hipótese foi referida"

O director da Rádio Renascença admitiu hoje ter sido pressionado pelo gabinete do primeiro-ministro para que não voltasse a transmitir a notícia divulgada pelo jornal Público sobre a licenciatura de José Sócrates na Universidade Independente. Segundo disse Francisco Sarsfield Cabral à saída de uma audição na entidade reguladora dos media, as pressões, dirigidas directamente ao director de Informação, foram feitas através de um telefonema de um assessor do primeiro-ministro. A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) está hoje a ouvir os directores e jornalistas envolvidos no artigo publicado a 31 de Março pelo semanário Expresso sobre tentativas de condicionamento dos media pelo Governo, tendo agendado para a próxima quarta-feira uma audição com o assessor do primeiro-ministro David Damião. O artigo do semanário, intitulado "Impulso Irresistível de Controlar", refere que, após o noticiário das oito da manhã da Renascença do dia 22 de Março, "os assessores do primeiro-ministro despertaram para um frenesi de telefonemas. A rádio dava eco à notícia do jornal Público que levantava dúvidas em torno da licenciatura de José Sócrates na Universidade Independente". "Entendemos que o Público tinha feito uma investigação [sobre a licenciatura de José Sócrates] que merecia respeito", defendeu Sarsfield Cabral, acrescentando que "não se tratava de jornalismo de sarjeta, mas de jornalismo sério, que levantava dúvidas", e que "a Renascença tinha todo o direito e obrigação de fazer eco dessas dúvidas". Os telefonemas do gabinete do primeiro-ministro referiam ter como objectivo fazer "um protesto indignado, considerando que [as dúvidas] se tratava de calúnias", referiu o director da Renascença. As audições que a ERC está a realizar ficam, para Francisco Sarsfield Cabral, aquém do que deviam, já que a entidade reguladora "só chamou os meios de comunicação que deram a notícia". O conselho regulador da ERC devia ouvir, nomeadamente, aqueles que não deram notícia, "para saber se não a deram por existirem pressões", defendeu. Os directores do Público e da SIC Notícias foram também ouvidos hoje pela ERC, tendo José Manuel Fernandes afirmado que os jornalistas daquele jornal foram pressionados pelo gabinete do primeiro-ministro.

Jornal de Notícias, 12-4-07

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