quinta-feira, 23 de abril de 2009

A História numa historieta

Era uma família numerosa, dispersa por vários locais deste país. Os pais, ainda bastante novos e com espírito empreendedor, continuavam a gerir o património comum.
Tinha esta família o salutar hábito de se juntar algumas vezes no ano para conviver, partilhar, saborear o prazer de estar junta. Aproveitava então a presença para analisar um problema, uma situação ou um projecto que lhe dissesse respeito. Normalmente, a reflexão era proposta com muita antecedência para que pudesse haver análise individual.
De repente, surge um grave problema que afecta tremendamente os negócios que os pais gerem. Aparecem dívidas sobre dívidas, começa a cobrança de penhoras, a angústia toma posse do coração daqueles pais, o pão já vai faltando à mesa, os trabalhadores haviam sido despedidos.
Indiferentes à situação, os filhos reúnem-se como habitualmente. Pois, pese embora a dramática situação dos pais e dos negócios familiares, resolvem manter a agenda prevista, com três pontos na ordem de trabalhos:
- Discutir a ementa para a ceia de Natal da família.
- Elaborar um estudo sobre a situação dos pais quando forem velhinhos.
- Abordar o casamento da sobrinha mais velha.
Um velho tio que passou por essa reunião de família, bem advertiu que era preciso prestar atenção ao estado ruinoso em que se encontravam os negócios familiares, advertindo com veemência para a situação dos pais, aflitiva, angustiante, à boca da fome.
A advertência do tio não mereceu aos participantes mais do que um brevíssimo aflorar .
O importante era a agenda há muito marcada. Isso sim. Discutiram, analisaram, fizeram uma síntese que um deles resumiu e entregou depois a todos os sobrinhos, noras e genros, servindo-se até das novas tecnologias.
Claro que a situação que os pais vivem não os deixará chegar à velhice e, provavelmente não haverá condições para a tal ceia natalícia e o casamente terá que ser adiado em virtude do falecimento precoce dos avós.

Quanta História há nesta historieta! E não pensem que é só na política...

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