terça-feira, 21 de abril de 2009

Crise - ocasião para o país olhar a sério para o interior?

"Terminada a Reconquista, o País passou a viver longos períodos em paz. Os reis deram terras aos monges para que as desbravassem e cultivassem, mandaram secar pântanos e plantar pinhais junto ao litoral para que as areias do mar não invadissem os terrenos agrícolas. Concederam, ainda, cartas de foral para atrair camponeses a zonas menos desenvolvidas. Verificou-se, assim, um aumento quer da produção agrícola, quer do comércio."
In "História e Geografia de Portugal, Volume 2 "

E hoje? Que está a ser feito pelo interior? Que medidas sérias e efectivas têm sido tomadas para acabar com a sangria do interior deste país? Que incentivos, que propostas, que meios oferece o poder para chamar as pessoas para o interior? Que projecto nacional existe para não reduzir Portugal a uma estreitíssima faixa ao pé do mar? Será que queremos reduzir Portugal a uma faixa de 30 kl junto ao mar e o resto é paisagem?
Não descobrimos ainda a carga imensa de malefícios que é concentrar a população no litoral?

- Sem vias de comunicação que permitam a circulação de pessoas e bens em tempo razoável - muito se tem feito neste aspecto, felizmente. Mas há zonas mal servidas. Falo, por exemplo, em concelhos como Moimenta da Beira, Tabuaço, Pesqueira, Sernancelhe. Um IC que ligue a A24 à A25 é urgente para este pedaço do território pátrio.
- Incentivos à agricultura e à sua modernização. Os organismos internacionais vêm dizer-nos que o mundo precisa de aumentar rápida e drasticamente a produção de alimentos.
- Melhorar as condições de acesso à prática e educação desportiva por parte das populações.
- Incentivar por todas as formas a fixação de indústrias e serviços no interior (benefícios fiscais e outros).
- Desenvolver as potencialidades locais, mormente a nível das riquezas turísticas que encerram. Por exemplo, Tarouca é um museu natural e edificado. Cito só e apenas: Serra de Santa Helena, Mosteiros de Salzedas e de São João, Torre de Ucanha, Igreja de Tarouca... Agora, que interessa tanta riqueza se não se investe nela? Se se não capitaliza a favor do desenvolvimento? Como dizia um amigo meu, as pessoas compra os cigarros em Lamego, deixam aqui as piriscas e ... regressam.
Não peçam a um pequeno concelho de 9 mil habitantes - e ainda por cima pobre - que desenvolva tantas possibilidades. Esta será uma tarefa do Estado e dos empresários dentro de uma dinâmica de coesão nacional. É que, se já somos poucos, a emigração continuará a levar muitos dos mais válidos...
Perdoem-me o optimismo. Mas penso que se bem aproveitadas as possibilidades aqui existentes, não só não teríamos os imensos fluxos migratórios que temos, como ainda daríamos trabalho a muitas pessoas das redondezas.
- Melhores condições de saúde. Muito melhores. Sobretudo uma saúde rápida, humana, perto e eficaz. Quem está faz o que pode, mas não pode ir além daquilo que as condições permitem.
- Uma aposta nos serviços de proximidade e na simplificação de processos. Precisamos de um SIMPLX que desburocratize o simplex deste governo.
- A educação para uma nova mentalidade que acabe de vez com a veteromania de quem vive no litoral é que é fidalgo, chique e moderno. Os do interior são pacóvios e atrasados. Este racismo luso, como todos os racismos, é uma prova do nosso atraso ancestral.
Reparem que até a nível de Igreja isto parece verificar-se. Diz-se que há bispos que preferem ser auxiliares nas grandes cidades do que titulares nas dioceses do interior. Se é verdade, só revelam pobreza de espírito.
A doença do "chiquismo" só tem contribuído para o nosso atraso. Um estrangeiro que, no tempo dos descobrimentos, passou por Lisboa quando à "capital do império" chegavam as especiarias do oriente, dizia que em Portugal se tinha por grande desprestígio exercer qualquer ofício e que, se não fossem os escravos e os cativos, não haveria quem exercesse qualquer ofício...
Ainda hoje, ao contrário do que se passa lá fora, parecemos mais preocupados com o título e com a gravata do que com o trabalho...

1 comentário:

  1. Muito obrigado por esta verdade pena é que quem tem poderes de decisão seja cego surdo e mudo só pesando no vencimento que ofere no fim de cada mês e nada mais!...

    VOZ DO GOULINHO
    António Assunção

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