Crianças que têm fome, mas que aparecem com roupas de marca.
O fenómeno não é novo. Conheci em tempos uma freguesia onde as coisas se passavam de maneira parecida. Não sei o que acontece actualmente.
Essa freguesia, formada por várias povoações, bastante distantes entre si, era uma "onu" de concepções de vida. Num povo, as pessoas andavam rotas, mas de barriga cheia. Noutro, embora não passassem mal, gostavam de se apresentar bem quando saíam. Num outro, vivia-se só para a aparência, o que importava era o aspecto físico, o vestir bem, o parecer importante.
Já sabemos que as crianças são óptima caixa de ressonância dos ambientes de onde provêm. Por isso, quando os pequenos se juntavam para alguma actividade de âmbito paroquial, não tinham problema nenhum em verbalizar o que cada povo sentia pelos outros, chegando, muitas vezes, a vias de facto...
Embora com a água a crescer-lhes na boca quando viam os coleguitas mais mal vestidos com um valente naco de presunto nas unhas, os meninos bem vestidos, quando em grupo, faziam questão de desprezar e gozar com a refeição dos outros. Recorrendo à imaginação, fantasiavam um mundo de guloseimas lá em casa. Mas quando se dispersavam, era ver cada um deles a arraposar-se junto dos coleguitas do naco de presunto. Era cá um tirar a barriga de misérias!
A crise actual obriga a escolhas. E há famílias que preferem que os filhos não tenham uma alimentação satisfatória a aparecerem exteriormente inferiorizados junto dos colegas.
É a mentalidade portuguesa. Muito virada para o parecer, pouco preocupada com o ser.
É uma realidade dura, mas cada vez mais perene! Tenho uma amiga que pergunta se as pessoas são realmente contempladas pelo interior e responde com letras grandes que não!!!É verdade, as aparências continuam a prevelescer sobre as essências!!!A crise afecta muito mais o essencial do que o supérfluo!!!
ResponderEliminarBeijinho sereno