terça-feira, 4 de novembro de 2008

Em Novembro de 2007, os bispos portugueses foram ao Vaticano. 12 meses depois, o que mudou?

Bento XVI falou da necessidade de abrir caminhos de comunhão que permitam ver a imagem e o rosto inequívocos de uma Igreja que caminha ao ritmo do Vaticano II, na qual todos os seus membros, conscientes da sua dignidade e do seu lugar na comunidade, se sintam protagonistas integrados e participantes na vida eclesial. Insistiu, neste sentido, na necessidade de “mudar o estilo de organização da comunidade eclesial portuguesa e a mentalidade dos seus membros”. Isto exige que se veja, com verdade e coragem, se a Igreja em Portugal já assumiu ou está assumindo as características de uma Igreja Povo de Deus, por isso mesmo Igreja Comunhão, plural nos dons, nos carismas e nos ministérios, mas uma só na dignidade comum de todos os seus membros, na lei que os anima e compromete, na finalidade concreta da sua missão de anúncio de Jesus Cristo e de diálogo com o mundo.

Não é fácil poder dizer-se que este caminho, que é, certamente, desejo e propósito de todos, está andado ou a ser andado com resultados visíveis.

Enquanto houver algum predomínio do clericalismo, aos diversos níveis, e do individualismo pastoral, que parece satisfazer cada um na autonomia do seu território, não será possível abrir caminhos novos para uma Igreja Comunhão, suporte de uma Missão que a identifica com o projecto de Jesus Cristo.

Ao longo deste ano não se viram muitas iniciativas nesse sentido e poderá dizer-se que, lamentavelmente, o processo de renovação, a nível nacional, continua mais ou menos parado, fazendo-se aqui e ali o que parece bem ou possível a cada um, sem qualquer exigência comum, como se, de Norte a Sul os grandes problemas não fossem iguais e os territórios geográficos não confinassem.

Bento XVI disse ainda, que o processo de renovação tem um ponto de partida essencial: o “encontro pessoal com Jesus Cristo que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, um rumo decisivo”. Acrescenta que “a evangelização da pessoa e das comunidades humanas depende, absolutamente, da existência ou não deste encontro com Jesus Cristo”, no qual é importante, se não mesmo fundamental, o caminho da “iniciação cristã” nas comunidades paroquiais, que devem, agir como comunidades educativas da fé. Assim se poderá lograr uma vivência cristã, pessoal e comunitária, que seja garantia de fidelidade e de dinamismo apostólico, frente a uma sociedade laica, na qual Deus parece ter cada vez menos lugar.

Os bons propósitos de uma iniciação cristã programada de que se foi falando em diversas instâncias, não foram longe e não se viu reflexão nesse sentido, nem a nível de CEP e seus serviços, nem a nível da quase maioria das dioceses, tanto quanto se sabe. O que se fez numa ou noutra foi constando tanto em dioceses como em movimentos laicais de cariz evangelizador.

Passado mais um ano, é minha opinião, que, apesar da sua generosa entrega a actividades pastorais tradicionais, ainda que com alguma cosmética exterior de novidade, a Igreja em Portugal parece padecer de dois males do tempo, que paralisam, em grande parte, a sua acção e não permitem projectos pastorais inovadores. Trata-se de um activismo pouco centrado no essencial e para este orientado, e uma dificuldade concreta de paragem para ler a realidade, discernir com critérios válidos os apelos profundos das pessoas em geral e muito especialmente dos mais jovens. Assim aparece o empenho em rumos, traduzidos em propostas e respostas a uma sociedade que já não age na linha da fé, nem procura inspiração na mensagem evangélica e cristã.

Muita gente generosa continua a esgotar-se em actividades sem futuro consistente; muitos planos pastorais aparecem mais voltados para os problemas internos da Igreja, por importantes que estes sejam, que para o seu dever como servidora do mundo que tem e ouvir para melhor dialogar; a muitos leigos bem preparados pede-se-lhes o que muitos outros podem fazer e não um contributo de reflexão e planificação para que têm saber e competência.
D. António Marcelino

Leia aqui na totalidade esta interessante reflexão do Bispo Emérito de Aveiro:
http://www.agencia.ecclesia.pt/noticia_all.asp?noticiaid=65920&seccaoid=3&tipoid=228

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