O tema que preparava para esta semana não era este. "Mandei-o às urtigas" depois de ver uma reportagem sobre mais um padre que é acusado de assédio sexual e desvio de dinheiro. Não é um sacerdote qualquer porque o conheço. Porque já participei em Eucaristias presididas por ele, bem como outras celebrações, sacramentos ou iniciativas de índole religiosa e cultural. Vi as mudanças que efetuou naquela comunidade paroquial que definhava. Conheço as mudanças que "possibilitou" na vida de tanta gente.
Não venho por este meio defendê-lo ou absolvê-lo. Não me cabe a mim. Mas do percurso que lhe conheço, custa acreditar? Custa!
Quanto à qualidade da noticia, não sendo eu jornalista, considero-a "jornalixo". Ouvir uma pessoa que acusa outra e fazer disso factos, história, notícia, verdade… 24 horas diárias não seriam suficientes para tantas "peças jornalísticas"…
No entanto, o que mais me interessa é, para além que este caso seja resolvido o quanto antes sem mais prejuízos para todos os intervenientes, que padres temos? Que cristãos somos? Que comunidades paroquiais vivemos?
Não posso esquecer que o sacerdócio na vida consagrada foi em tempos um projeto de vida pessoal. Também eu me questionei se Deus me chamava. Ainda hoje é uma vocação que valorizo, respeito e rezo. Tenho tantos amigos padres, bispos, consagrados e consagradas. Não é uma resposta fácil, definitiva. Tal como a vocação ao matrimónio, é uma resposta que se vai dando, vivendo ao longo da peregrinação terrena. Sempre chamados a renovar o sim inicial.
Os padres, muitos padres, continuam sozinhos e muitos dos dramas que vivem são consequência direta dessa solidão. A solidão pode torna-se explosiva se o trabalho pastoral não for satisfatório. Não se vive de desilusões e não se vive em solidão. Porém, são obrigados a apresentarem-se como personagens exemplares, que devem educar, formar, pregar, rezar…
A lacuna entre o cansaço da vida quotidiana "normal" e os deveres "elevados" da missão é muito grande e facilmente se torna perigosa. Já são conhecidas algumas experiências de convivência parcial ou total com outros sacerdotes, partilhando as residências e algumas atividades pastorais. Mas ainda não é a forma habitual de viver a vida sacerdotal. Ainda não existe uma cultura eclesiástica de vida em comum nas nossas dioceses.
Neste sentido, questiono-me até que ponto, de facto, os nossos bispos acompanham com paternal solicitude os seus párocos no seu dia a dia… Ou os superiores das diversas ordens e congregações religiosas os seus consagrados…
E nós, cristãos-leigos, além das festas familiares, das nossas necessidades particulares, até que ponto estamos deveras preocupados com o bem estar afetivo, psicológico, social e comunitário dos nossos pastores…
Vale a pena pensar e agir.
Fonte: aqui