segunda-feira, 24 de março de 2025

«Uma Igreja que não fala dos problemas das pessoas não pode esperar que os jovens se aproximem» – Filipe Moisés Francisco


 Filipe Moisés Francisco, doutorando em Engenharia do Ambiente pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUCP), que se assume como católico praticante,  considera que a Igreja deve ser mais interveniente face às questões sociais e políticas do país.

“Acho mesmo fundamental que se fale dos problemas que as pessoas têm hoje, porque uma Igreja que não fala dos problemas das pessoas, voltada, única e exclusivamente para as questões da moral, e que se esquece que o dia-a-dia das pessoas vai muito além disso, as dificuldades das pessoas vão muito além disso, não pode esperar que os jovens se aproximem”, refere o convidado da entrevista semanal Ecclesia/Renascença, publicada e emitida aos domingos."

“Espero que os nossos padres e os nossos bispos façam o seu trabalho e, sobretudo, que se pronunciem mais sobre os problemas dos jovens. Eu não ouço os bispos a falarem dos problemas da habitação, dos problemas da precariedade”, adverte.

O entrevistado lamenta os problemas que os estudantes enfrentam, para encontrar habitação, e considera preocupante a precariedade laboral entre os trabalhadores mais jovens.

Eu acho que nós ainda não estamos a aproveitar suficientemente bem este período em que temos a graça, porque é mesmo uma graça, de termos o Papa Francisco”.

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sábado, 15 de março de 2025

sexta-feira, 7 de março de 2025

NEM NA MORTE SOMOS LIVRES!


Um dos fenómenos que mais me inquieta, em quase trinta anos de padre, é o modo como são tratadas (ou destratadas) as pessoas aquando da sua morte. Sobretudo no que diz respeito ao funeral católico. Até porque creio piamente que a sua salvação/condenação não depende de as levar ou não à igreja, ter ou não “missa de corpo presente”… Duas dúvidas existenciais (e provocatórias):
(1) Se o defunto, ao longo da sua vida, nunca quis nada com a igreja, não participava na Eucaristia e da comunidade, vivia como ateu (agnóstico ou pagão), por que é obrigado pela família a ter funeral religioso? Não será uma falta de respeito para com o próprio defunto? Se no exercício da sua liberdade, optou por viver afastado, agora que não fala, não anda, não vê e não ouve (nada pode decidir) outros decidem por ele, contra aquilo que foram as suas escolhas terrenas e os seus critérios de vida? Se fosse comigo, antes de morrer, deixaria bem claro que não permitiria tamanho destrato; ou, se fosse minha responsabilidade organizar o funeral desse defunto, jamais aprovaria essa hipótese. Sempre por respeito ao defunto e consciente de que Deus não faz depender a sua salvação/condenação deste “evento social”.
(2) A segunda dúvida prende-se com a sempre rápida canonização dos defuntos: “era boa pessoa”. Nessora, acontece uma milagrosa amnésia coletiva que leva a esquecer as condutas pouco recomendáveis de alguns defuntos (violento, corrupto, adúltero/infiel, vigarista, mentiroso, viciado, má língua, avarento, preguiçoso, etc.) e vão debitando um rosário de elogios e virtudes que, em alguns casos, me obriga a confirmar se, no caixão, está mesmo o defunto que consta do funeral. Por haver o risco de “errar no alvo” recomenda o Ritual das Exéquias: «Depois do Evangelho deve haver uma breve homilia, evitando, porém, a forma e o estilo de um elogio fúnebre» (nº 79).
É um facto: há muitos a viver longe de Deus, agarrados às suas verdades, paixões, caprichos e prazeres. Vidas mundanas. Não querem saber de Deus, nem da Igreja nem da Missa ao Domingo. Escolhas. Decisões. Quando morrem, mesmo que raramente tenham posto os pés na igreja (e até se rirem e criticarem quem o faz), a família obriga-os a ir. Como se, passar por lá num caixão carregado aos ombros, fosse livre trânsito para o Céu!
(P. António Magalhães Sousa), aqu

sábado, 1 de março de 2025

A Humilhação que Não Foi

 Fiquei sem ar, confesso. Mas no final, fiquei orgulhoso do Presidente Zelenski. Num mundo, cada vez mais, sem líderes, hoje senti-me representado.

Há cenas que entram para a História não pelo que se disse mas pelo que ficou por dizer. O espetáculo que se desenrolou na Sala Oval foi um desses momentos em que o mundo piscou os olhos, desconfortável, horrorizado, estupefacto, enquanto um Presidente de um país devastado pela guerra era transformado em objeto de escárnio pelo Presidente do mais poderoso país do mundo, e pelo seu fiel escudeiro, um lambedor de botas com nome de detergente.
O que se passou ali foi uma humilhação, sim, foi, mas não para Zelensky.
O Presidente da Ucrânia entrou num covil de hienas, quais marionetas, orquestradas pelo ditador russo, sabendo bem onde estava. Era uma armadilha montada com a precisão cirúrgica dos cobardes, desenhada para transformá-lo num pedinte, num cão maltratado que, na ótica dos anfitriões, deveria mendigar com as patas estendidas. Mas eis o problema dos ditadores e dos seus bajuladores: confundem dignidade com fraqueza, confundem coragem com desespero.
Zelensky ficou ali, sentado, ouvindo palavras agressivas, palavras mentirosas de gente pequena que se acha grande. Não ripostou com raiva, nem se dobrou em subserviência. Limitou-se a exteriorizar o que lhe ia no peito, com humildade mas sem ceder. A sua postura, naquele momento, foi suficiente para que a farsa se revelasse.
Trump, o eterno fanfarrão, e J.D. Vance, o seu ajudante de palco, atacaram como pugilistas furiosos cheios de coisas dopantes. Julgavam eles que, como crianças inocentes, estavam a derrubar um castelo de areia. Mas o problema, para eles, claro, é que o castelo se manteve de pé.
A guerra não terminou, a Ucrânia não caiu, eles não ficaram com os biliões do minério e o homem diante deles era a prova viva de que, afinal, nem sempre os maus vencem. Eles queriam ver um derrotado, mas o que encontraram foi alguém que, mesmo esmagado pelo peso dos que se julgam donos do mundo, se recusa a ser pequeno.
A História tem destas coisas. Quem ri hoje pode estar a chorar amanhã. E os ditadores, por mais que se armem de tanques e de asseclas servis, nunca entendem isto: quando a hora chega, os povos lembram-se de quem lutou, não de quem gritou mais alto.
Zelensky não precisou de vencer aquela batalha verbal. O embaraço ficou para os outros. A diferença entre um líder e um palhaço é que o primeiro não precisa de plateia.
E os que hoje gargalham sobre o que se passou na Sala Oval? Que aproveitem o espetáculo enquanto podem. Porque no fim, e a História nunca falha nisto, quem humilha será sempre o humilhado.
Obrigado Presidente Zelensky!

Paulo Costa, aqui