quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Francisco dançará connosco o seu último tango

1.
tudo ou quase tudo se disse.
Francisco tem 88 anos e uma saúde frágil.
Está internado e o mundo que dele gosta e o admira reza por ele, mesmo os que não sabem rezar.
Tem sido um privilégio ser seu contemporâneo.
E temos de aproveitar Francisco enquanto aqui está.
De lhe agradecer a chispa de luz que continua a sair do seu corpo, do seu olhar terno, das suas desarmantes palavras.
Recordo-me de o ter visto a lavar os pés a um preso transsexual na Quinta Feira-Santa, noite em que se celebra a Última Ceia.
Lembro-me de o ter observado na visita que fez a um albergue de prostitutas. A maneira como as ouviu, como com elas trocou correspondência.
Lembro-me daquele homem deformado que nos obrigava a virar a cara, o modo como Francisco se aproximou e o abraçou e lhe beijou as feridas durante uns segundos que me pareceram a eternidade.
Lembro-me de Francisco celebrar a missa para uma Praça de São Pedro deserta pela força de uma pandemia que nos ameaçava com o holocausto.
Lembro-me de como convocou as vítimas de pedofilia para o palácio, de como incentivou os bispos em todo o mundo a abrirem as suas caixas de Pandora.
Lembro-me de o ver com crianças, a responder-lhes a todas as perguntas ou a pedir aos artistas para não se esquecerem dos pobres.
Lembro-me quando nos disse que era humano, que gostava de futebol e que adoraria poder voltar a passear incógnito nas ruas de Buenos Aires e a dançar um tango de Piazolla com uma mulher bonita.
2.
Sabes o que Francisco disse a Tolentino Mendonça quando o conheceu fora dos cumprimentos de circunstância?
“Senhor padre, acha que me pode conceder cinco minutos do seu tempo?”
Tolentino ficou atrapalhado, sem saber onde meter as mãos e o sorriso.
“Sua Santidade, o senhor é que me tem de conceder um bocadinho do seu tempo”.
E eles foram e encontraram-se no pequeno quarto de Tolentino, divisão que lhe fora destinada num retiro em Roma que, à última da hora, soube que teria a presença de Francisco.
Falaram quase uma hora.
E sabes do que falaram?
De Fernando Pessoa e de Jorge Luís Borges.
E no final da conversa, Francisco fez silêncio e perguntou a Tolentino se queria rezar com ele.
3.
Francisco convoca-nos para a ideia de pertença, para o martírio da esperança, para a urgência de questionamento, para a responsabilidade de estar à altura, para a vontade de combater por um mundo mais largo, para a constatação de que um ateu ou um agnóstico é também filho de Deus – mesmo que para ateus e agnósticos Deus continue a não existir.
E nele não há ponta de medo, já repararam? É como se levitasse por entre contrariedades, obstáculos, inimigos – que os tem e não tão poucos quanto isso.
4.
Impressionante como não se deixou corromper no olhar, a sua mais poderosa das armas. Um olhar capaz de devolver a dignidade aos que estão na cave do mundo,
Um homem que tendo feito tanto, que tendo aberto tantas portas, continua a precisar do abraço do mundo para que a revolução não morra com ele.
Sobretudo por estas horas.

Luís Osório, aqui

 

domingo, 16 de fevereiro de 2025

Morreu Pinto da Costa, o dirigente com maior longevidade mundial, maior currículo europeu e maior história nacional

Morreu Pinto da Costa, o dirigente com maior longevidade mundial, maior currículo europeu e maior história nacional


O FC Porto está de luto pelo falecimento de um nome histórico não só para o clube, mas para todo o mundo do futebol. De 23 de abril de 1982 a 7 de maio de 2024, contaram-se 42 anos e 16 mandatos. Percurso recordista e inigualável do presidente mais titulado de sempre, que aos dragões, termo que cunhou, dedicou quase toda a vida, entre seccionista, diretor para o futebol e presidente. Foram 69 títulos no futebol e mais de 2500 entre todas as modalidades. Transformou totalmente o clube, que de conformado, tímido e receoso se fez marca mundial, com expressão evidente no palmarés internacional, o mais rico do futebol português, com sete conquistas, incluindo duas Ligas dos Campeões. As alegrias que proporcionou aos portistas foram, por si mesmas, também uma das maiores felicidades de Pinto da Costa, que tantas evocava o impacto desses momentos na vida de quem tinha pouco mais por onde sorrir.

Disruptivo e obstinado, de sentido de humor sempre apurado, ironia refinada e orador natural – discursava 20 minutos sem olhar sequer para uma cábula – Pinto da Costa despertava paixões e ódios bem acesos. Foi venerado pela nação azul e branca em nome de um trajeto de sucesso que trilhou fazendo frente a tudo e todos. Rivalidades e disputas que bateram no máximo, à medida que o FC Porto se fazia cada vez maior: de várias formas, crescia na hostilidade, contra tudo e contra todos virou lema. Rodeado, nos primeiros tempos, por nomes de confiança extrema, como José Maria Pedroto, Luís Teles Roxo e Reinaldo Teles, o líder fazia da guerra ao centralismo uma bandeira paralela à azul e branca. Se nunca é só futebol, nos dragões ainda menos e Pinto da Costa nunca se incomodou ou hesitou em ser polémico. Animosidade será dizer pouco sobre as sensações que despertava nos rivais, mas indiferente a ele é que ninguém era.

Escutava várias opiniões, mas a decisão para o homem do leme cabia sempre a Pinto da Costa, que tinha um olho clínico para os escolher. Desde o “mestre” Pedroto a Sérgio Conceição, o mais longevo e titulado em 42 anos, foram poucos os treinadores que saíram do clube sem lhe acrescentar troféus, mesmo aqueles que chegaram às Antas e ao Dragão sem saber o que isso era. Como Artur Jorge, campeão europeu em Viena, em 1987. Bobby Robson, António Oliveira, José Mourinho, Jesualdo Ferreira, André Villas-Boas, que mais tarde haveria de reentrar no clube com estrondo, foram outros exemplos de apostas arrojadas e bem sucedidas, potenciando grandes equipas e jogadores para a história. Todos se rendiam à visão e palavra do presidente, astuto nos momentos mais delicados. Podia ser uma presença (sempre forte) num treino depois de um mau jogo, podia ser sair ao lado de Fernando Santos depois do Torreense deixar as Antas em choque – meses mais tarde, em 1999, celebrar-se-ia o único pentacampeonato que Portugal testemunhou.

O futebol mudou, vieram as sociedades anónimas desportivas e transferências por valores sempre crescentes. Veio uma Champions, a última ganha fora das grandes ligas, pouco antes de rebentar o processo Apito Dourado. Abanou o clube, mas Pinto da Costa foi absolvido de todas as acusações de corrupção desportiva e os seis pontos no campeonato que tinham sido retirados em 2007/08 acabaram por ser repostos.

Além de um novo estádio e um centro de treinos, chegou um pavilhão e um museu vanguardista. Os títulos continuavam a ser um hábito. O FC Porto potenciava talento, lucrava e repetia o processo, com Pinto da Costa reconhecido por ser negociador exigente.

No entanto, com a lei do tempo, veio também o desgaste. Traços marcantes da gestão viam-se menos e chegou o período mais duro: quatro épocas sem ganhar o campeonato (2014-2017) foram uma eternidade. Uma última investida, à boleia de Sérgio Conceição, repôs a normalidade em campo, mas a massa adepta que com Pinto da Costa se fez exigente e que durante décadas em nele tudo confiou, vaticinou outro rumo. Depois de alguns avisos, nas eleições de 2016 e 2020, o ato eleitoral mais participado de sempre deu a presidência a André Villas-Boas com 80% dos votos e Jorge Nuno, quase uma vida depois, recuperou o nome próprio e voltou a ser só adepto do FC Porto.

Um último livro, “Azul até ao fim”, impactou pela fotografia de Pinto da Costa ao lado do caixão que escolheu para o funeral que pagou do próprio bolso e de forma antecipada. Ao mesmo tempo que abraçou a inevitabilidade da morte com uma naturalidade desconcertante, assumiu mágoas e listou quem não queria presente nas cerimónias fúnebres.
Fonte: aqui

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Para reconhecer uma pessoa INGRATA


Geralmente, a ingratidão comportamental esconde-se atrás da incapacidade de reconhecer o valor das coisas. São corações desprovidos de apreço e muito hábeis quando se trata de aproveitar a bondade dos outros.

Ingratidão: seu impacto no nível interpessoal é enorme e exaustivo. Uma pessoa ingrata é alguém sem habilidades de inteligência emocional e incapaz de se conectar profundamente com os outros. Porque a gratidão é alimentada pela apreciação.

1. A personalidade ingrata apresenta grande cegueira ao investimento emocional dos outros. São figuras que não sabem o que é a valorização dos outros e que nunca exercem essa palavra chamada “reciprocidade”.

2. Os ingratos normalizam e assumem que são sua prioridade e que você terá deferência com eles.

3. É comum que pessoas ingratas enganem primeiro com sua falsa bondade. Esses comportamentos, dominados a princípio pela referida deferência, nada mais são do que um engodo. Eventualmente, tirarão a máscara e agirão de acordo com sua essência: com egoísmo e ingratidão. Mas primeiro eles vão fazer você acreditar que são pessoas de confiança e essa mudança repentina, claro, é vivenciada de forma dolorosa. Perceber que você caiu nessa armadilha é frustrante.

4. É comum observar o seguinte nos ingratos:
- Baixa empatia.
- Regulam mal suas emoções.
- Não sabem como resolver conflitos.
- Sua comunicação não é muito hábil.
- Ficam com raiva com mais facilidade.
- Tendem a agir impulsivamente.
- Não percebem suas necessidades

5. Ao reconhecer uma pessoa ingrata, observe suas reações. Geralmente, são homens e mulheres que foram criados sem valores e sem estabelecer limites. 

6. Ingratos = A CERTO TIPO DE NARCISISTAS.

7. Pessoas ingratas são incapazes de agir com ética e maturidade porque não sabem exercer a responsabilidade pessoal. Elas não estão cientes de que suas ações têm consequências.

8. Exigem e acham-se os mais autónomos. "Ninguém manda em mim". "Eu é que sei". "Não   admito que ninguém se meta na minha vida".  Atitudes adolescentes que conservam pela vida fora...

9. Há outra nuance característica nos ingratos, e é o fato de serem indivíduos que nunca se sentem satisfeitos. Normalmente, você verá isso através dos seguintes comportamentos:
- Eles  vitimizam-se persistentemente.
- São pessoas que tendem a reclamar constantemente.
- Tentar agradá-los é frustrante e exaustivo.
- Não importa o quanto você tente, você nunca os verá felizes.
- Sempre menorizam  o que você faz por eles.
- Passam do oito ao oitenta e vice.versa, enquanto o Diabo esfrega um olho...
- Julgam-se e comunicam-se como se fossem o centro do mundo, os melhores...

10. Ao reconhecer uma pessoa ingrata, observe suas mudanças. Como mencionamos, essas pessoas carecem de inteligência emocional. Isso faz com que não saibam regular suas emoções negativas e se deixem levar por elas. Haverá dias em que mostrarão alegria e positividade e, depois de um tempo, se tornarão hostisEles saltam de um estado emocional para outro e você é sempre a vítima que sofre seus efeitos.

11. Uma característica distintiva da pessoa ingrata é o  egoísmo persistente. Só as necessidades deles importam, as suas não existem nem serão levadas em consideração se você as expressar.

12. Geralmente, se a pessoa ingrata é descoberta e é solicitada uma mudança, ela quase sempre responde de maneira hostil e ameaçadora.
Tirado: Daqui

"Os infelizes são ingratos; isso faz parte da infelicidade deles." (Victor Hugo)

"A Ingratidão é privilégio dos fracos e dos covardes." (Izzo Rocha)

Ao INGRATO, de que servem palavras de ocasião que parecem traduzir gratidão e desculpas, SE AS OBRAS CONTRADIZEM TUDO O QUE EXPRESSA POR PALAVRAS?
Que o ingrato mostre por obras que rejeita a ingratidão!!!




"Não somos só as asneiras que cometemos na vida"; somos, muito mais, as ações que demonstram arrependimento e que estamos a mudar. Para o ingrato, se houve um passado, também pode haver um futuro. Basta querer...

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

não se perde aquilo que já está perdido nem se afasta aquilo que já está afastado

 A nossa sociedade fomenta clientelismos e compadrios ao ponto de que qualquer cidadão se habituou a conseguir atingir os seus objectivos, contornando esquemas com base em cunhas, jeitos e compras. Quando não consegue por estes meios, usa-se o sistema pressing ou o sistema comparison. O primeiro usa-se sobretudo com ameaças de que se não for assim, acontece assado, se não for deste modo, eu vou dizer. O segundo usa-se para tentar rebaixar o alvo em comparação com aqueles que são permissivos e que, como tal, são os designadamente bondosos. O senhor não faz, mas eu sei quem faz. O senhor é que não quer, porque outros fazem. O problema é que aqueles que estão habituados a estes sistemas para satisfazerem os seus desejos e necessidades são os mesmo que vão à Igreja pedir coisas com o mesmo tipo de vontade e hábitos. Cansa. Cansa mesmo. Mas a gente vai amadurecendo. E quando me dizem que vão fazer, tal como querem, a outro lado, porque o padre tal é que é bom porque faz as vontades, eu sou o primeiro a dizer-lhes que vão e que aproveitem. Ou quando me dizem que assim é que a Igreja perde as pessoas ou que assim é que as pessoas se afastam, eu recordo-lhes que não se perde aquilo que já está perdido nem se afasta aquilo que já está afastado.

Fonte: aqui