sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Ano litúrgico é um verdadeiro e eficaz «guia de vida cristã»

O padre Carlos Manuel Pedrosa Cabecinhas, licenciado em Liturgia, da diocese de Coimbra, falou sobre o ANO LITÚRGICO numa entrevista inserta no ecclesia. Dela transcrevemos parte para os nossos amigos e visitantes, na esperança de ajudar a compreender o Ano Litúrgico e o ADVENTO.

Nota: o Ano litúrgico começa com o 1º Domingo do Advento e termina com a Solenidade de Cristo, Rei do Universo.

O Mensageiro - O que é, em termos práticos, o ano litúrgico?
Pe. Carlos Cabecinhas - O ano litúrgico é a celebração, no decurso de um ano, de todo o mistério de Cristo. Toda a celebração cristã é sempre celebração de Jesus Cristo, mas tal celebração estende-se, de forma diferenciada, aos vários momentos do ano. No dizer de um liturgista italiano, “o ano litúrgico não é uma ideia, mas uma pessoa, Jesus Cristo e o seu mistério realizado no tempo” (Bergamini). Em termos práticos, é a forma como a Igreja nos propõe celebrar Jesus Cristo, com momentos de particular intensidade. Tem a duração de um ano solar, ao longo do qual nos vai sendo proposto todo um caminho de celebração e aprofundamento do conteúdo fundamental da fé cristã.

OM - Historicamente, como se chegou à definição do ano litúrgico?
CC - É claro que o ano litúrgico não conheceu sempre a estrutura e organização que hoje apresenta. Num primeiro momento, a única festa cristã foi a Páscoa, celebrada, quer uma vez por semana, no Domingo, quer, de modo mais solene, uma vez por ano. Assim, a mais antiga festa cristã é o Domingo, “Páscoa semanal”. Partindo daí, passa a dar-se particular relevo à celebração, uma vez por ano, da mesma festividade. Esta festa anual da Páscoa, celebrada com uma solene vigília, está testemunhada desde o século II. Esse núcleo festivo, a vigília, dará origem ao Tríduo Pascal e ao Tempo Pascal, os cinquenta dias que se seguem ao Tríduo. Só posteriormente se estabeleceu um período de preparação: a Quaresma. Já estava assim estruturado este ciclo festivo pascal quando, na segunda metade do século IV, surgiu o ciclo natalício. Para criar um certo paralelismo com o ciclo pascal, para a celebração do Natal e da Epifania foi criado um tempo de preparação: o Advento. Quer isto dizer que no século V o ano litúrgico já apresentava a configuração que hoje lhe conhecemos.

OM - Como está estruturado o ano litúrgico?
CC - Como se percebe pela breve apresentação da evolução histórica, o ano litúrgico tem três grandes ciclos: o ciclo pascal (Quaresma, Tríduo Pascal e Tempo Pascal), o ciclo natalício (Advento e Tempo do Natal) e o Tempo Comum, isto é, os restantes momentos do ano litúrgico que não pertencem a nenhum dos ciclos anteriores. É claro que haveria ainda a referir o chamado “Santoral”, o calendário das celebrações da Virgem Maria e dos Santos, que atravessa todo o ano litúrgico.

OM - De todos esses tempos e ciclos, qual o principal momento do ano litúrgico?
CC - O centro do ano litúrgico, o seu momento mais importante, é sem dúvida o Tríduo Pascal da paixão, morte e ressurreição de Jesus. No Tríduo, a celebração fundamental é a Vigília Pascal. Toda a Quaresma orienta para a vivência e celebração deste Tríduo, e o Tempo Pascal mais não é do que o prolongamento festivo dessa celebração. Em segundo lugar, em termos de importância, está a celebração do Natal. Curiosamente, a nível social, o Natal aparece como mais importante do que a Páscoa. Em terceiro lugar, destaco o Domingo, como celebração semanal da Páscoa.

OM - Qual lhe parece ser a sensibilidade dos fiéis para a vivência do ano litúrgico?
CC - O ano litúrgico apresenta uma estrutura complexa, o que dificulta a sua percepção, por parte dos féis, como unidade. Julgo que uma parte significativa dos cristãos não tem consciência clara do “ano litúrgico” como unidade. As celebrações sucedem-se e a sua sequência é conhecida, mas não se vai muito além disso. A consequência desta pouca percepção do ano litúrgico como unidade é a inversão da ordem de importância dos diversos momento. Um exemplo flagrante é o do ciclo pascal: tem mais relevo a Quaresma, período de preparação, do que o Tempo Pascal; no próprio Tríduo Pascal, não é raro ter igrejas cheias para a celebração da morte do Senhor, em Sexta-Feira Santa, mas bem menos gente na Vigília Pascal. Sinal desta insuficiente consciência do ano litúrgico como um todo orgânico é o relevo dado a algumas “devoções”, manifestações de piedade popular, em detrimento dos momentos do ano litúrgico. Contudo, esta insuficiente consciência não impede que muitos cristãos vivam intensamente os momentos mais importantes do ano litúrgico.

OM - Que aspectos litúrgicos e teológicos são enriquecidos pela organização do ano litúrgico?
CC - O ano litúrgico é, antes de mais, um modo de santificação dessa dimensão fundamental da nossa existência, que é o tempo. É um modo de tornar significativo, do ponto de vista cristão, o ciclo do ano. Habituámo-nos a quantificar o tempo com repartições matematicamente iguais (horas, minutos e segundos; dias, semanas, meses, anos). Nessa lógica quantificadora, todas as horas são iguais, todos os dias têm a mesma duração… O ano litúrgico dá “qualidade” a esse tempo, destacando alguns momentos; dá-lhes significado. Contudo, o ano litúrgico tem também uma motivação “pedagógica”: a celebração do mesmo Jesus Cristo num ou noutro momento permite-nos captar o sentido e aprofundar a inesgotável riqueza do Seu mistério, contemplado ora numa perspectiva, ora noutra.

OM - Qual a sua experiência de vivência do ano litúrgico?
CC - A pergunta parece-me vaga. De um modo geral, a minha experiência é a de que o ano litúrgico é um verdadeiro e eficaz “guia de vida cristã”: permite-me aprofundar a minha fé e alimentar a minha vida espiritual; põe-me em contacto com a Palavra de Deus e motiva o confronto da minha vida com ela, bem como uma “leitura cristã” dos acontecimentos da minha vida e do mundo que me rodeia; permite-me a saudável alternância entre momentos de grande intensidade e momentos de maior distensão.

OM - Que conselhos daria a quem pretende viver de forma mais consciente o ritmo do ano litúrgico?
CC - Precisamos de recuperar, antes de mais, a consciência da unidade do ano litúrgico e da relação dos vários momentos entre si. A nível prático: prestar particular atenção à Palavra de Deus, às leituras bíblicas que a liturgia nos apresenta em cada tempo do ano litúrgico, que é sempre um elemento fundamental para uma séria vivência dos vários momentos; deixar-se guiar pelos textos do Missal, que nos introduzem no espírito de cada tempo; valorizar, a nível pessoal e familiar, os diversos momentos festivos… A Liturgia das Horas oferece também uma grande riqueza de elementos que nos põem em sintonia com o momento do ano litúrgico que estamos a viver.


ADVENTO

OM - O Advento é um tempo essencialmente de quê?
CC - O Advento é fundamentalmente um tempo de preparação para o Natal, marcado pela espera, pela expectativa. As Normas Gerais sobre o Ano Litúrgico apresentam o tempo do Advento como preparação para o Natal, no qual se celebra a primeira vinda de Cristo, e como tempo de expectativa da vinda gloriosa de Cristo. Não é um tempo penitencial, como a Quaresma, embora os convites à conversão, nas palavra de João Baptista e do profeta Elias, se façam ouvir insistentemente. Tempo de conversão, por ser tempo de preparação para a vinda do Senhor, é marcado porém pela “piedosa e alegre expectativa”, segundo as referidas Normas. Os modelos dessa expectativa da vinda do Senhor são, precisamente, João Baptista e Maria, a mãe de Jesus. Não há momento mais “mariano” no ano litúrgico do que o Advento e o Tempo do Natal.

OM - Como viver bem o advento?
CC - O Advento e o Natal têm sofrido um desgaste notável. De facto, o Advento cristão começa quando, há já muito tempo, se iniciou o grande “advento” comercial. Um tempo de preparação do coração pela conversão vê-se “afogado” em solicitações consumistas. Para viver bem o Advento será, pois, necessário cultivar a sobriedade em gastos natalícios, consoada e presentes… Viver bem o Advento será concentrar-se no fundamental – a preparação interior – dando ao acessório o seu lugar. A nível litúrgico, a vivência do Advento está marcada pelo convite à preparação para acolher o Senhor que vem, pela conversão, e à disponibilidade para a vontade de Deus, a exemplo de Maria, vontade que conhecemos sobretudo pela sua Palavra, a que importa dar lugar e atenção especial.
Entrevista de Rui Ribeiro

Generosidade dos humildes

É admirável e surpreendente a generosidade da gente humilde. Quando é preciso ajudar, redobram as suas forças, oferecem o seu tempo – a sua vida – para servir gratuitamente os outros: nas creches, nos hospitais, nos lares de idosos, etc..Esta gente humilde, quando é chamada, responde “presente” para participar voluntariamente quanto pode nas iniciativas de bem-fazer.
Há dias, um amigo meu contou-me este facto ocorrido com ele.
Fora encarregado de angariar donativos para as despesas de uma casa de educação de órfãos e abandonados. Percorria o país pedindo ajuda material para matar a fome daqueles rapazes. Numa terra onde falou ao povo, uma mulher simples abeirou-se dele e disse: não tenho mais nada para dar a não ser estes brincos e este cordão de ouro. E tirou um brinco de uma orelha, depois o outro, e em seguida o seu cordão que era recordação de família.
Mas para ela as carências daqueles educandos eram mais fortes que o ouro que era algo de supérfluo.
Esta gente de generosidade excepcional faz-nos lembrar aquela viúva que Jesus viu deitar na caixa das esmolas do Templo as duas moedas pequeninas, todo o dinheiro que possuía.
“Quem dá aos pobres empresta a Deus” – diz um provérbio popular. Quem dá aos pobres vai, mais tarde ou mais cedo, receber de Deus o juro do seu empréstimo. E quantas vezes sentimos que esse juro nos chega através de uma graça muito mais valiosa do que o que demos, em dinheiro ou serviço, aos pobres necessitados.
Mário Salgueirinho

Spe Salvi - Encíclica de Bento XVI sobre a Esperança Cristã

Depois da Encíclica sobre a Caridade, Bento XVI apresenta agora uma nova Encíclica sobre a Esperança Cristã.

Pode lê-la aqui:

http://www.agencia.ecclesia.pt/noticia_all.asp?noticiaid=53598&seccaoid=9&tipoid=217

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Também apoio a greve

"Não me perguntem pelas motivações nem pelas ideologias que, eventualmente, lhe subjazem. Mas não posso deixar de estar solidário com a população trabalhadora que, na próxima sexta-feira, vai fazer greve.
Como é óbvio, também estou solidário com quem nem greve consegue fazer e que vive igualmente em condições de suma dificuldade.
Não é uma greve contra ninguém. Trata-se de um alerta (mais que) justificado. As pessoas estão com problemas no seu dia-a-dia. Como não estar em comunhão com elas?
Apesar do clima de indignação, espero que a greve decorra com ordem e serenidade. Que os governantes escutem, humildemente, o clamor e que retirem as devidas ilações.
E que, no fim do dia, não se discutam os números da adesão. Que se debata, sim, a forma de vencer a crise. Que é real. Eu vejo-a todos os dias. No rosto das pessoas!"
http://padrejoaoantonio.blogs.sapo.pt/

Nota: Estou completamente de acordo com o Doutor João António. Ele disse muito e disse bem. Como sempre.

Com o Conselho Económico

Acabou agora mais uma reunião do Conselho Económico.
Falou-se das obras de restauro que se vão realizar na Igreja Matriz, da substituição do telhado na capela de São Pedro, de melhoramento a efectuar em Santa Helena, entre outros assuntos.
Gente boa, disponível, recta, trabalhadeira esta da Conselho Económico. As pessoas dão o seu contributo, debatem ideias e depois tomam-se decisões. Tudo em paz.

Porque não pode comungar este casal?

Bateram à porta. Perguntaram quando tinha um tempinho para os atender. Combinámos uma hora que agradou a todos.
Apareceram pontualmente. As palavras eram de inibição. A custo, ela foi falando. Disse que ambos haviam sido convidados para padrinhos de baptismo de uma sobrinha por parte dele. Gostariam muito, mas que tinham a certeza que não podiam, sabiam disso. Não estavam casados catolicamente, pois ambos eram divorciados. Fora a cunhada que insistira para eles virem ter comigo, dizendo-lhes que talvez, com um bocadinho de jeito, conseguissem. Mas eles sabiam que não era possível.
Procurei acolhê-los o melhor que pude, sentir a sua mágoa, colocar-me no seu lugar. Foram-se soltando e, pouco a pouco, foi rolando o filme das suas vidas. Impressionou-me. Não pressenti nunca um sentimento, uma atitude de revolta, de mal querer, de contestação.
Disseram que agora eram felizes. No seu lar, não havia lugar para a agressão, para o azedume, para o egoísmo emproado. Compreendiam-se muito bem, ajudavam-se imenso e cada um procurava fazer o que podia para que o outro fosse feliz. Os olhares mútuos que iam trocando deixavam entender que aquelas palavras escorriam mesmo do fundo de suas vidas.
Nenhum deles tinha filhos do anterior casamento e do actual havia um casalinho, encanto e enlevo de ambos. Procuravam educar os filhitos o melhor que podiam e sabiam, confessando, contudo, que gostariam de saber mais para poderem ser mais pais. Também testemunharam a sua preocupação pela educação cristã dos rebentos. Rezavam com eles em casa, acompanhavam-nos à catequese, levavam-nos à Missa.
- Sabe, eu acho que não procedemos bem, já que nem eu nem ele vamos à Missa. Levamos os filhos, mas esperamos por eles cá fora – dizia ela compungidamente, acrescentando – como não podemos comungar, temos a impressão que estamos lá a mais. Que nos diz?
Disse-lhes que Deus os amava profundamente, os compreendia e estava presente nas suas vidas. Que procurassem descobrir e saborear essa presença de Deus no carinho, encantamento, e doação existentes no seu lar. Que esta era uma bela forma de comunhão, porque onde há caridade e amor, aí está Deus. Falei-lhes que era bom para toda a comunidade que levassem à Eucaristia esta experiência e testemunho de casal unido, altruísta, carinhoso. Assim tínhamos todos mais um belo motivo para louvar o Senhor e eles viram de lá ainda mais casal, pois é dando que se recebe. Celebrando o Amor entregue por nós, sentimo-nos mais fortes e inclinados para vivermos a entrega aos outros no amor.
Disse-lhes que podiam fazer parte do grupo de leitores, dar catequese, integrar comissões, irmandades, outros grupos… Poderiam prestar um serviço tão importante aos outros!...
Responderam que não sabiam, pensavam que tudo lhes estava vedado. Sentiam-se mais leves, mais sorridentes, mais confiantes.
- Então o senhor Padre acha que, embora não podendo receber o Corpo de Cristo, podemos comungar o Amor de Cristo e reparti-lo pelos irmãos?
Fantástico! Gente boa mesmo! Quão longe pode chegar um coração humilde e uma mente aberta!
- Pronto, agora percebemos. Só não podemos comungar e ser padrinhos. De resto, podemos participar em tudo – afirmou ele com um tom de voz convicto.
Procurei explicar-lhes as razões pelas quais a Igreja lhes diz que não podem comungar nem ser padrinhos. Penso que não conseguiram convencer-se a sério. Mas a palavra última da senhora foi maravilhosa:
- Se a Igreja diz que não podemos, não podemos. Queremos aceitar e caminhar em frente. Olhe que no dia em que nós compreendêssemos tudo, pareceríamos uns pavões… Até Deus correríamos do Céu.

Que noite! Quantas voltas dei na cama! Não me saía do coração aquele encantador encontro! Quem me dera aquela humildade, aquela disponibilidade, aquela serenidade, aquela vontade de acertar e caminhar.

Mas porquê, Senhor, porquê? Tenho tanta dificuldade em compreender por que motivo gente desta beleza interior não se pode abeirar da Sagrada Comunhão… Confesso que não me cheira nada a Evangelho.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

O nosso futebolzinho...

Nas últimas partidas europeias, não ficámos lá muito bem no cartaz. O Sporting perde fora, o Benfica empata em casa e o Porto é goleado fora.
Somos assim. Tanto surpreendemos, como caímos no descalabro. Persistência, segurança, firmeza não são connosco. Parece que vivemos de impulsos.
No caso conctreto do FCP, foi mesmo um descalabro. Como portista sinto-me envergonhado, que não derrotado. Nada aliás que não esperasse. Como neste blog já assinalei, Jesualdo Ferreira nunca me transmitiu tranquilidade. E um fraco rei faz fraca a forte gente. Más opções individuais, deficiente colocação da equipa, menos feliz opção táctica, falta de força anímica. Então o Kazmierczak não tem sido opção e é lançado num jogo destes? Mesmo que não tenha jogado mal, não está sincronizado com a dinâmica de grupo. Como se explica a opção por Mariano Gonzaléz, com Tarik em grande forma? E Stepanov? O homem parece um aliado dos adversários. E Jesualdo insiste...
Enfim, senhor Jesualdo, consigo, as suas prudências e a sua teimosia, qualquer jogo difícil para nós portistas é um verdadeiro cabo das tormentas.
Quero pensar que, no jogo com o Benfica, o Porto me faça engolir tudo o que agora aqui disse. Mas, desculpem-me os meus correlegionários, não acredito.
Oxalá esteja enganado.

Tigela de Madeira

Um senhor de idade foi morar com o filho, a nora e o neto de quatro anos. As mãos do ancião eram trémulas, a visão embaciada e os passos vacilantes. A família comia reunida à mesa. Mas, as mãos trémulas e a visão fraca do avô atrapalhavam-no na hora de comer. As ervilhas rolavam da colher e caíam no chão. O leite derramava-se na toalha da mesa…Por isso, o filho e a nora irritavam-se com tanta sujidade.
- Temos de tomar providências com respeito ao meu pai – disse o filho à mulher.
E decidiram colocar uma pequena mesa num canto da cozinha, onde o «velho» comeria sozinho.
Desde que o avô quebrara dois pratos, a comida era-lhe servida numa tigela de madeira. E, quando a família olhava para o avô sentado ali sozinho, às vezes ele tinha lágrimas nos olhos. Mesmo assim, as únicas palavras que lhe diziam eram admoestações ásperas sempre que ele deixava cair um talher ou comida. O menino assistia a tudo em silêncio.
Uma noite, antes do jantar, o pai percebeu que o filho estava no chão, manuseando pedaços de madeira com as suas mãos pequenas. Perguntou delicadamente à criança:
- O que estás a fazer?
O menino respondeu docemente:
- Oh, estou a fazer uma tigela para o papá e a mamã comerem, quando eu crescer.
O garoto de quatro anos sorriu e voltou ao trabalho. Aquelas palavras tiveram um impacto tão grande nos pais, que eles ficaram mudos. Então as lágrimas começaram a correr nos olhos deles. Embora ninguém tivesse dito nada, ambos sabiam o que deviam fazer. Naquela noite, o pai tomou o avô pelas mãos e, gentilmente, conduziu-o à mesa da família. Desde então, e até ao final dos seus dias, ele comeu todas as refeições com a família. E por alguma razão, o filho e a nora já não se importavam quando deixava cair um garfo, derramava o leite, ou sujava a toalha da mesa.

Asas da Montanha: Obrigado, João Pedro, pelo envio deste pequeno-grande texto. Fantástico!

terça-feira, 27 de novembro de 2007

As duas sondagens sobre futebol

1. Quando coloquei a primeira sondagem, a pergunta ficou assim formulada: Concorda que, na mesma freguesia, existam dois clubes filiados na Associação de Futebol de Viseu?
O SIM obteve 56%
O NÃO obteve 40%
É-me indiferente obteve 4%

2. Um visitante alertou-me para a imprecisão da pergunta, facto que agradeço. Então coloquei a segunda sondagem, precisando a pergunta:
Concorda que existam 2 equipas séniores de futebol na Freguesia de Tarouca, ambas inscritas na Associação de Futebol de Viseu?
O SIM obteve 8%
O NÃO obteve 87%
É-me indiferente obteve 4%

Verifico que o visitante que me alertou para a imprecisão da pergunta tinha toda a razão. Realmente, após a reformulação da questão, os resultados mudaram como do dia para a noite. O NÃO, na segunda sondagem obteve uma vitória esmagadora. O que não tinha acontecido na primeira sondagem, onde quem vencera fora o SIM.
É claro que esta é uma sondagem muito, muito limitada. Limitadíssima, para se tirarem grandes conclusões. Agora parece-se que será oportuno que quem de direito faça um estudo sério e abrangente sobre a questão. E que depois haja a coragem de agir em conformidade. Sem sentimentalismos balofos, sem bairrismos doentios, mas com serenidade. Na paz. Para bem de todos.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Polémico, frontal, decidido, claro!

Numa entrevista à rádio Antena Um, e reproduzida no Jornal de Notícias , D. Januário Torgal Ferreira reconheceu que a Igreja em Portugal "é totalmente conservadora", reafirmando a sua concordância com o Papa de "que isto tem de dar uma volta".

Frontal, como é seu apanágio, o prelado questionou essa "mentalidade": "Por que é que não se fala do desemprego, da violência contra as mulheres, das purgas contra as crianças, da pouca vergonha instalada na Justiça?".
D. Januário Torgal Ferreira acha que a "democracia portuguesa está doente" e lamenta que a Igreja não diga "isto". "Não diz! Está a ver a mentalidade triste, num apagado e triste país"", comentou.
Todavia, o bispo das Forças Armadas defende que "em muitas coisas" também "o Papa deve dar uma volta", a começar por "escutar mais" os bispos portugueses. "Não deveria haver o centralismo. Deveria haver muito mais uma comunhão. Devia mudar a apresentação", sustentou.
No início deste mês, em Roma, o Papa Bento XVI apelou a um maior diálogo da Igreja portuguesa com a sociedade, recomendou aos bispos um novo estilo de organização da Igreja em Portugal e defendeu a necessidade de mudar a maneira como ela fala de Deus.
Questionado se o dinheiro gasto na construção da nova Basílica de Fátima podia ter sido empregue noutra coisa, o prelado afirma que há obras "mais necessárias" que privilegiariam crianças ou idosos e acrescentou: "Aquilo que eu acho que faz falta em Portugal, a partir da Igreja, é humanidade".
Na entrevista, o bispo das Forças Armadas não se eximiu a abordar o recurso a métodos artificiais para controlar a reprodução, incluindo o preservativo, defendidos no Concílio Vaticano II, lamentando que eles não tenham sido aceites pelo Papa Paulo VI.
Para o bispo que decidiu ser padre aos 7 anos e viveu o Maio de 68 em França quando estudava Filosofia com Paul Ricoeur, o recurso a esses métodos não é pecado, antes um "instrumento de defesa", um "elemento promotor da vida", uma "forma civilizada e inteligente de proceder".
No final de entrevista, o bispo das Forças Armadas reconheceu que a Igreja em Portugal "foi conivente" com o regime de Salazar mas também acredita com entusiasmo e humildade que a Igreja pode dar "a volta" que o Papa pediu: "Temos pernas para andar".
http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/RjBy1h9Y9fxz9%2FkZLwvKyQ.html

Nota de Asas da Montanha: Ai D. Januário, D. Januário! Por onde o senhor se andou a meter! Olhe que fariseus, escrivas e doutores da lei continuam a andar por aí! Prepare-se.
Da minha parte, um aleluia sentido, agradecido. Já tinha saudades desta linguagem fresca, serena, com sabor a boa nova. De Deus. Sobre o homem.
Diga aos leigos, padres e bispos que é preciso falar claro. Sem medos. "É preciso mudar!", disse o Papa. Deitemos fora a veste bolorenta do "politicamente correcto" e vistamos a veste da frontalidade.

Combate às desigualdades sociais e à pobreza

Numa entrevista publicada pelo Diário de Notícias, Soares diz que gostaria que o PS "se voltasse um bocadinho mais para a esquerda", no combate às desigualdades sociais e à pobreza.
Para Mário Soares, o primeiro-ministro deve ter grandes preocupações, a partir de agora, com o mundo do trabalho. "Deve dialogar com o mundo do trabalho (...) é chocante ver como as desigualdades sociais se agravaram nos últimos tempos. Tem de se lutar contra isso", destaca.
No plano internacional, Mário Soares antevê grandes problemas de natureza social na China, afirmando que este país o preocupa mais do que a Rússia. "Não é possível manter Xangai com aquele esplendor de riqueza - o maior número de ferraris por metro quadrado está em Xangai - e ao mesmo tempo ter a pobreza absoluta que existe na China", adverte.
Soares defende ainda que nada justifica um ataque ao Irão: "Seria uma tragédia. Acho que não corremos esse risco, porque Bush já não tem força". Sobre a Venezuela, o ex-Presidente da República lembra que há 500 mil portugueses naquele país, pelo que é necessário defender aquela população e fazer os possíveis para ter boas relações com o Estado venezuelano.

domingo, 25 de novembro de 2007

FECHA OS OLHOS

Se não puderes fazer mais nada, se estiveres abatido e perturbado, fecha os olhos.
Não penses em dizer nada. Não penses no tempo, não penses nas actividades. Fica. Serena. Deixa fluir o silêncio. Os olhos do rosto estão fechados, os olhos do coração mantêm-se abertos.
Então, verás que alguém te habita. Que alguém povoa o teu pranto, a tua dor, a tua mágoa, o teu medo.
Deus nunca te abandona. Não Lhe digas nada. Nada. Ele sabe tudo. Chora nos Seus ombros. Ele sorri na tua alma. Ele ama-te como és. Como és.
Theosfera
Neste tempo frio, deixe que a sua paz aqueça quem de si se aproximar.
Uma boa semana... com Ele!

RESTAURADA A IMAGEM DE CRISTO REI

Hoje, Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo, foi celebrada a Eucaristia na Capela de Cristo Rei da parte da tarde.
Notava-se a satisfação. As pessoas estavam contentes por verem a imponente Imagem restaurada.
A Comissão da Capela foi inexcedível. Trabalhou apaixonadamente, sabendo vencer obstáculos e porfiando sempre. O povo colaborou gratuitamente com a casa responsável pelo restauro da cabeça da Imagem que uma faísca havia feito tombar. Por isso, todos estão de parabéns.
Está ainda por restaurar a electrificação da Capela, também ela atingida em cheio pela trovoada.
Gostaria de ter estado no Dia da Igreja Diocesana. Aliás, um grupinho de cristãos desta comunidade marcou presença. Mas este ano, por motivos que certamente todos compreenderão, não poderia deixar de estar presente na Capela de Cristo Rei.
Estou contente. Também a mim me custava imenso ver a Imagem naquele estado. Felizmente está composta. A cabeça fora recolocada, toda a estrutura foi firmada e consolidada.

Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo


Com a Festa de Cristo Rei,
encerramos o actual ano litúrgico.

No próximo domingo,
começará o novo ano,
que será o Ano A.


Neste último domingo do ano litúrgico, somos convidados a tomar consciência da realeza de Jesus. Essa realeza não pode ser entendida à maneira dos reis deste mundo: é uma realeza que se exerce no amor, no serviço, no perdão, no dom da vida.


• Celebrar a Festa de Cristo Rei do Universo não é celebrar um Deus forte, dominador que se impõe aos homens do alto da sua omnipotência e que os assusta com gestos espectaculares; mas é celebrar um Deus que serve, que acolhe e que reina nos corações com a força desarmada do amor. A cruz – ponto de chegada de uma vida gasta a construir o “Reino de Deus” – é o trono de um Deus que recusa qualquer poder e escolhe reinar no coração dos homens através do amor e do dom da vida.
• A Festa de Cristo Rei convida-nos a repensar a nossa existência e os nossos valores. Diante deste “rei” despojado de tudo e pregado numa cruz, não nos parecem completamente ridículas as nossas pretensões de honras, de glórias, de títulos, de aplausos, de reconhecimentos? Diante deste “rei” que dá a vida por amor, não nos parecem completamente sem sentido as nossas manias de grandeza, as lutas para conseguirmos mais poder, as invejas mesquinhas, as rivalidades que nos magoam e separam dos irmãos? Diante deste “rei” que se dá sem guardar nada para si, não nos sentimos convidados a fazer da vida um dom?

sábado, 24 de novembro de 2007

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

E os jovens?

Muitas vezes tenho sublinhado a importância do trabalho que se faz entre nós em prol dos mais idosos. Hospital, Centro de Dia, Apoio Domiciliário, projecto "Rejuvenescer Tarouca", prestação de cuidados de saúde pelas terras, entre outros...

Penso que igual interesse devem merecer os jovens. De todos. Eu sei que não é fácil. Eles vivem hoje muito em concha: o seu grupinho de amigos, o seu telemóvel, o seu computador, as suas músicas, os seus namoricos, as suas disco, as suas modas. A juventude vive demasiadamente fechada dentre de si mesma e do seu grupinho, como se fossem o centro do mundo.
Vai havendo actividades para eles: futsal, futebol, andebol, ginástica, bombeiros, desporto escolar, feira das profissões, etc. É óptimo, que se cultivem física, mental e socialmente.
Mas também temos muitos casos problemáticos, gente nova apanhada nas malhas do vício, escrava de dependências e de indiferenças.

Penso ser importante ter em conta:
1. Não se podem usar hoje os mesmo métodos que se usavam há 20/30 anos. A sociedade e as mentalidades evoluem rapidamente.
2. Precisamos de um projecto englobante para a juventude do concelho. Todos tão perto, todos muito afastados.
3. É indispensável levar Tarouca aos tarouquenses jovens. A malta nova sabe pouquíssimo do seu concelho, da idiossincrasia local e nem mostra curiosidade. Os grandes valores desta gente e desta terra ou são assimilados pelos jovens ou se diluem e não têm futuro.
4. Há que ir ao encontro das necessidades dos jovens: no emprego, no estudo, no divertimento (mais atenção às músicas que eles apreciam nas festas...), nas actividades a desenvolver.
5. Penso que seria interessante que a autarquia desenvolvesse para os mais novos actividades paralelas às que proporciona aos idosos. Claro, dentro de uma dinâmica juvenil.
6. Um trabalho com jovens exige imaginação e muita perseverança para se poderem dar respostas novas a novos desafios.
7. Os jovens demoram a "arrancar", mas quando pegam são uma maravilha. Há que evitar o tom impositivo, passando a um propositivo. Eles, para se empenharem, têm que se sentir voz activa.

Algo deve ser feito. Por todos. No comboio de Tarouca, os jovens não deverão ocupar os lugares da frente?

Criticar os juízes?

Os intocáveis, aqueles que são postos em pedestais e ornados de todas as qualidades, possíveis e imaginárias, esses só nas ditaduras. Em democracia, aceita-se a crítica. Mais, ela é necessária, quando bem fundamentada, para melhorar a vida da comunidade.
Criticam-se os titulares do poder legislativo, bem sabemos como não funciona a nossa Assembleia da República; criticam-se os titulares do poder executivo, bem sabemos como Presidente e Governo precisam de ser chamados à atenção; mas raramente se criticam os titulares do poder judicial. Como se estes fossem intocáveis, nunca errassem, quais iluminados num mundo de limitação.
Este semana ouvi numa rádio críticas pertinentes a decisões dos tribunais. Achei positivo. Parece que finalmente estão a acabar os intocáveis.
Para uma sociedade funcionar em democracia, é preciso que a justiça seja célere e justa, acatando os cidadãos as decisões judiciais.
Mas quem exerce o poder judicial são seres humanos, que, como tal, tantas vezes erram. Logo saber reconhecer os seus erros, responsabilizar-se por eles só dignifica os juízes. A crítica da sociedade pode e dever ajudar os magistrados a a melhorar. Só que é importante que eles saibam ouvir e tenham poder de encaixe.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Estive em Fátima

Integrada nas actividades do projecto "Rejuvenescer Tarouca", realizou-se hoje um passeio a Nossa Senhora de Fátima. Eram nove autocarros com gente de todo o concelho.
No autocarro onde fui, maioritariamente preenchido por gente desta comunidade, fizemos a oração da manhã, saudámos Nossa Senhora ao chegarmos a Fátima e rezámos o terço ao deixarmos o Santuário.
A Eucaristia foi na Capelinha das Aparições, presidida por um sacerdote de origem italiana e concelebrada por dois simpáticos padres polacos, por mim e por um jovem sacerdote português (Ó colega, olhe que a simpatia ainda não custa dinheiro! Ou será que ficou atravessada no cabeção!?).
Houve tempo para a oração individual, para a visita à Igreja da Santíssima Trindade, à Basílica e para as compras. No almoço, as pessoas riparam do seu farnel maioritariamente, mas alguns foram ao restaurante. A Junta de Freguesia da Granja Nova conseguiu que as pessoas daquela terra, as autoridades, professores e intervenientes no projecto, convidados almoçassem todos num só restaurante. Obrigado, da minha parte.
No meu autocarro, não faltou música, bem alto como o povo gosta. Confesso que venho "doutorado" em Kim Barreiros, ahahahah! As pessoas alinharam à brava! Cantaram, dançaram e foi um tocar que te avias de pandeiretas. Enfim, foi bom ver a gente feliz e contente num mundo salamurdo e tristonho. Ainda mais tratando-se maioritariamente de idosos, tantas vezes semi-abandonados.

Foi a primeira vez que estive na Igreja da Santíssima Trindade. Pelo que tinha lido e pelas fotos que me haviam chegado, não me surpreendeu. Era assim que a imaginava.
Estive ali a tentar "ler" o edifício, procurando compreendê-lo nas partes e no todo. Um imóvel deste género tem uma linguagem que transporta um mensagem. Confesso que ainda não foi desta que o consegui fazer. Outra ocasião virá.

Sempre apoio toda a iniciativa que vise dar qualidade de vida aos idosos, nem que sejam uns instantes apenas. Esta gente que deu coiro e cabelo à sociedade, trabalhou de sol a sol, poupou o que pôde e o que não pôde, recebe como recompensa reformas de miséria e, tantas vezes, o abandono.
Por isso, felicito a Câmara por iniciativas que visem dar-lhes qualidade de vida.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Dai-lhes vós de comer

Chegou-me às mãos esta composição “em jeito de oração” de Alberto Andrade.
Tem um conteúdo tão actual e tão belo que não posso deixar de a oferecer aos meus queridos leitores:
Senhor:
Tal como há dois mil anos
As multidões procuram-Te, famintas.
Também hoje as queremos despedir –Não pertencem ao nosso grupo,
Não têm a nossa cor,
Não pensam como nós.
Chamamos-lhe nomes:
São homossexuais,
São recasados,
Não alinham pela ortodoxia,
Não se revêem
Na frieza desta Igreja...
Também, hoje,
Nos convocas:“Dai-lhes vós de comer.”
Mas nós, Que já perdemos
O sabor do maná,
Dizemo-nos de mãos vazias,
E vamos arranjando desculpas
Para não Te acolhermos
Em tantos irmãos famintos.

Começa o autor a comparar as multidões famintas que procuravam Jesus às multidões do nosso tempo famintas de tudo: – pão, alegria, saúde, trabalho, felicidade...
E quanta gente – quantos cristãos católicos – despedem de mãos vazias, de estômago vazio, alguns abandonados, alguns rejeitados, porque não pertencem ao grupo da sua fé ou porque destoam da sua comunidade.
Outra gente sofre e chora porque encontra muita frieza em muitos membros da Igreja.
Foi também para nós aquela palavra de Jesus, perante aquela multidão que se abeirava Dele com esperança: “Dai-lhes vós de comer.”

Mário Salgueirinho

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Mudarmo-nos ou mudar?

"É preciso mudar!" - disse o Papa aos Bispos Portugueses e a toda a Igreja que está em Portugal.

Mas será mesmo que nós queremos mudar? Leigos, diáconos, religiosos, padres, bispos querem mesmo mudar? Ou melhor, querem mudar-se?
Entendo que é pela"conversão do coração" que mudamos a vida. Ou então a mudança ficará pela moda...

Alguns tópicos que, no meu modestíssimo entender, será bom ter em conta se queremos a tal propalada mudança:

1. A absoluta centralidade de Cristo na vida de cada cristão e de toda a Igreja.
2. Uma Igreja que foge da tentação de se auto-anunciar, porque se sente enviada, mensageira d'Aquele que actua no mundo e o quer salvar.
3. A vitalidade da oração na vida de cada pessoa e da comunidade. Aprender a rezar é preciso. Sem oração somos como canos desligados do depósito.
4. Na comunhão da Igreja, há que dar lugar aos leigos. O que lhe pertence! Mas é preciso também que o padre descubra o âmbito da sua missão e o abrace. Nem leigos "a fazer de padres", nem padres a ocupar o espaço dos leigos.
Vejamos: por que razão hão-de os padres dirigir jornais, tipografias, a economia da diocese, a burocracia das chancelarias eclesiásticas, escolas, centros de dia, obras paroquiais ou diocesanas, etc? Não será esse um campo em que é preciso mesmo mudar? Esse é, claramente, um espaço de trabalho laical.
5. Os cristãos portugueses estão mal preparados, vivem agarrados a uma religiosidade popular mal fundamentada e pouco esclarecida. Uma religiosidade de santos, procissões, velas, peregrinações, baptismos, casamentos e funerais... Onde fica Cristo no meio de tanta cera e da tanto paganismo religioso?
6. "Em Portugal baptiza-se quase tudo à nascença, aos oito anos faz-se a primeira comunhão e aos 15 despacha-se o crisma - como se fosse possível aos sete alguém compreender a profundidade da eucaristia e aos 15 estar em condições de afirmar a maturidade da sua fé. Esta juvenília religiosa é boa para se chegar aos noventa e tal por cento de católicos em Portugal, mas leva a que aos 15 esteja feita a licenciatura cristã e que aos 18 já só haja jovens no coro."
7. Baptizar em criança hoje? Para quê? Para termos os livros de baptismos cheios, alimentarmos "feiras de vaidades sociais" de pais e padrinhos, continuarmos a alimentar a neblina do medo de Deus (se morre não vai para o Céu...)e a sombra dos preconceitos ... Colocar o pároco a gerir situações complicadas em que implicam a realidade social hodierna e as leis e leizinhas da Igreja...
Crismar aos 14-16 anos parece-me ser um disparate pegado. Então é na adolescência, quando a pessoa está mais fechada sobre si mesma, que queremos que ela assume um compromisso com a Igreja??? Como é possível?
8. A fundamentalidade da caridade. Em muitas paróquias, vai havendo a missa ao domingo, algumas devoções populares, catequese, outras actividades juvenis, mas a marca da caridade, pelo menos organizadamente, está ausente.
Falta a "fantasia da caridade", profecia, serviço e alegria.
9. Penso que um dos traços da religiosidade dos portugueses é um arreigado individualismo, que os leva a procurar na fé mais um "consolo de alma" ou satisfação de necessidades individuais do que um compromisso comunitário e social. Daí o escândalo de se dizerem católicos e desprezarem a Eucaristia.( Muitas vezes, peço a Deus: "Senhor, ajuda-me a compreender como é possível alguém poder dizer em verdade que é católico e não sentir necessidade da Eucaristia!")
10. Urge que "esse gigante adormecido", que é o laicado, desperte. Estou convencido que, no dia em que os leigos - que são a maioria esmagadora na Igreja- despertarem, esta Igreja terá outro rosto, outra vida, outra juventude.
Chegou a vossa hora, senhores leigos! Finalmente. Então não fiquem aí parados, nem escondam "o talento no lenço"! Assumam-se!

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

A criança que fui

Lembro-me muito bem. Era o dia da profissão de fé. Naquele tempo, mesmo as freguesias mais pequenas, tinham muitas crianças. Por isso bastante criançada fazia naquele ano a sua profissão de fé - então mais conhecida por comunhão solene ou segunda comunhão.
Depois de durante várias semanas ter caminhado lá da minha aldeia para a residência paroquial onde o senhor abade, paciente e bondosamente, tentava a todo o custo empanturrar-nos de fórmulas que não entendíamos, chegou a grande festa. Para os pequenos da minha aldeia penso que o dia ainda era maior porque significava o fim do pesadelo de caminhadas diárias por caminhos de cabras. Eram bem duas horas!
Treinados militarmente para sabermos estar na Igreja e para desempenharmos convenientemente a nossa função, apercebo-me que nesse dia era meu parceiro de fila um rapaz pobrezinho que vestia umas calcitas de cotim, enquanto eu - sabe Deus os sacrifícios dos meus pais - aparecia todo engalanadito.
Ao almoço, graças à gentileza do dono de uma quinta vizinha da Igreja, os de longe comíamos à sombra da ramada a merenda que os pais levavam. Almoçávamos assim juntos, tentando aproveitar ao máximo a sombra das videiras. Eis que reparo então que os pais do meu colega de calças de cotim nada mais haviam posto sobre a mesa do que três ovos cozidos, um para cada um.
Esse miúdo pobre agarrou aquele ovo com vontade de o engolir de uma vez. Eu olhava para ele, enquanto minha mãe ia colocando sobre a mesa o nosso almocito melhorado. Então o coleguita corre na minha direcção, estende a mão e pergunta:
- Queres?
Confesso que quase nada comi, dizendo aos meus pais que não tinha fome. A pobreza do meu colega chocara demais a criança que eu era. E o gesto do meu meu amigo pobrezito, que da sua fome ainda me queria oferecer parte do seu ovo, desarmou-me. Sei que larguei pelo vinhedo fora porque queria chorar a mágoa que sentia perante a injustiça.
Felizmente que, ontem como hoje, a injustiça social continua a magoar-me.
Porquê? Porquê? Porquê? Tanta gente com demasiado e imensas pessoas famintas... Fortunas deixadas a animais de estimação e milhões de crianças
a morrer de fome..
Porque é que só os pobres hão-de ajudar os pobres!?

domingo, 18 de novembro de 2007

A caixinha de beijos

Há algum tempo atrás, um homem castigou a sua filhinha de três anos por desperdiçar um rolo de papel de presente dourado.
O dinheiro era pouco naqueles dias, razão pela qual o homem ficou furioso ao ver a menina a embrulhar uma caixinha com aquele papel dourado e a colocá-la debaixo da árvore de Natal.
Apesar de tudo, na manhã seguinte, a menina levou o presente ao seu pai e disse: "Isto é para ti, Papá!"
Ele sentiu-se envergonhado da sua reacção furiosa, mas voltou a "explodir" quando viu que a caixa estava vazia.
Gritou e disse: "Tu não sabes que, quando se dá um presente a alguém, se coloca alguma coisa dentro da caixa?"
A menina olhou para cima, com lágrimas nos olhos, e disse: "Oh, Papá, não está vazia. Eu soprei beijos para dentro da caixa. Todos para ti, Papá."
O pai quase morreu de vergonha, abraçou a menina e suplicou-lhe que lhe perdoasse.
Dizem que o homem guardou a caixa dourada ao lado da sua cama por anos e, sempre que se sentia triste, mal-humorado, deprimido, pegava na caixa e tirava um beijo imaginário, recordando o amor que a sua filha ali tinha colocado.
De uma forma simples, mas sensível, cada um de nós tem recebido uma caixinha dourada, cheia de amor incondicional e de beijos dos nossos pais, filhos, irmãos e amigos…
Ninguém possui uma coisa mais bonita do que esta.
O Clube de Contadores de Histórias
Biblioteca da Escola Secundária com 3º Ciclo Daniel Faria - Baltar
Uma boa semana para todos. Muita paz! Muita paz activa.

Seminário de Lamego em Tarouca


Hoje, alguns seminaristas do Seminário Maior de Lamego, acompanhados pelo senhor Reitor, Cónego Doutror João António Teixeira, estiveram na nossa comunidade paroquial, na Eucaristia de Teixelo e na Eucaristia das 11 horas, na Igreja Matriz. O senhor Reitor presidiu.
Gostei da palavra do senhor Reitor. Num tom sereno, interpelante e sábio, ajudou-nos a compreender o ministério sacerdotal, situando-o numa Igreja, comunidade de baptizados, sempre enviada em missão. Onde Cristo é o único SENHOR!
Gostei do testemunho claro, alegre e crente dos nossos seminaristas, jovens e menos jovens.
É sempre maravilhoso estar, conviver e aprender com os padres de hoje e dos que o serão amanhã.
Obrigado, amigos seminaristas, pelo vosso testemunho. Oxalá que, por vós, muitos de nós se deixem interpelar pelo Deus que chama.
Obrigado, senhor Reitor! Já não sei que lhe hei-de dizer mais. Peço que aceite o meu pobre silêncio como a eloquência da gratidão, da amizade e da admiração. Obrigado pelo silêncio mensageiro de sua bondosa mãe que esteve connosco como Maria junto dos discípulos.
Que a semente lançada à terra frutifique nesta Terra!

sábado, 17 de novembro de 2007

ASSEMBLEIA DO CLERO DA DIOCESE DE LAMEGO

Decorreu hoje no Seminário a Assembleia do Clero.
Estiveram presentes setenta e tal sacerdotes. Foi a primeira vez que tal se realizou na nossa Diocese.

GOSTEI:

- Daquele momento de oração que nos abriu Àquele que nos envia e nos concentrou no essencial.

- De encontrar colegas, alguns que não via há imenso tempo, partilhar com eles, recordar o passado, vislumbrar futuros, construirmos juntos momentos de boa disposição.

- Da presença de tão grande número de sacerdotes, apesar de ser sábado, alguns vindos dos confins da diocese.

- De sentir que o nosso Bispo estava feliz com a presença dos seus padres.

- Do contributo válido e plural dos diferentes grupos.


NÃO ME PARECEU TÃO BEM:

- Aquele ponto da agenda de trabalhos "Apresentação do Centro de Estudos sócio-pastorais". Pese embora o apreço que manifesto pelo trabalho desenvolvido pelo grupo responsável, pareceu-me uma actividade mal conseguida, que ocupou um tempo precioso que deveria ser melhor aproveitado.

- A falta de alguém que nos apresentasse claramente a chave de leitura do discurso que o Papa fez aos Bispos na visita ad Sacra Limina. É um discurso demasiado importante para ser tratado pela rama.

- O tempo para trabalho de grupo ficou aquém do desejável e alguns grupos eram grandes demais. Por exemplo, o grupo que me calhou tinha mais de metade dos participantes, penso eu.

- O plenário, de tarde, teve pouca gente. É compreensível que os sacerdotes, tendo em vista o serviço pastoral, regressassem às suas comunidades.

- Acções deste jaez, como se viu no plenário, solicitadas por todos os grupos, devem ser muito bem preparadas, centradas e enfocadas, para afastar dispersões na abordagem dos temas.

A gratidão é a memória do coração

Nesta Semana dos Seminários, deixo a minha gratidão a todos os sacerdotes que me ajudaram a caminhar humana, cristã e vocacionalmente.
Se com todos aprendi, alguns marcaram-me de forma indelével pela sabedoria, pela bondade, pelo acolhimento, pela forma como souberam estar em períodos mais conturbados.
Monsenhor Carlos Resende. Meu Reitor e professor. Ressoava bondade por todos os poros. A sua pessoa era um belo poema à bondade. Monsenhor certamente sorrirá no Céu ao recordar tantos momentos bonitos que o P.e Armindo e eu vivemos com ele. Qual avozito bondoso para com os netitos reguilas que o admiravam e estimavam profundamente. Obrigado, senhor Reitor.
Monsenhor Simão Botelho. Este portista confessso foi meu vice-reitor e professor. Com ele vivenciei que viver é servir. Num tempo em que a casa estava cheia, o cónego Simão estava de serviço 24 horas por dia para cada seminarista. Foi fundamental na minha caminhada vocacional. Muito obrigado.
P.e João Mendes. Durante mais de 50 anos, pároco da minha terra natal. Foi quem me mandou para o Seminário. A sua casa era a minha casa. Sempre me entusiasmou e confiou em mim. Obrigado, senhor abade.
Monsenhor Arnaldo Cardoso. Meu professor. Foi quem me inculcou um verdadeiro interesse pela Sagrada Escritura. Com ele muitos seminaristas se abriram pastoralmente ao mundo, através dos cursos bíblicos e de iniciativas com jovens. Obrigado.
D. Jacinto Botelho. O actual Bispo de Lamego foi meu professor, vice-reitor e vigário-geral. Nele vi sempre a pessoa de uma fé profunda e de uma humanidade extrema. Obrigado.
Cónegos Zé Cardoso e Duarte Júnior. Cada um à sua maneira, souberam oferecer-me ajuda oportuna em momentos menos tranquilos da minha caminhada. Obrigado.
D. António Francisco dos Santos. Sem me estar “a armar”, penso que fui dos sacerdotes que mais sentiu a sua saída da diocese. Com ele mantive longas conversas. Era um coração atento, que sabia escutar e perscrutar. Dele recebi sempre uma palavra clara, admoestadora, serena e orientadora. Muito obrigado.
Monsenhor José Guedes e P.e Adriano Monteiro. Personalidades muito diversas que me ensinaram imenso em campos diferentes. Sem o conseguir, tentei que eles fossem uma referência da minha vida sacerdotal. Obrigado.
Drs. Mário e Alfeu. Foram meus professores no Seminário de Resende. Actualmente fora do exercício sacerdotal, mas tal não invalida que lhes esteja grato pelo muito que me deram. O Dr. Alfeu, porque era uma pessoa próxima dos miúdos, jogava com eles, falava com eles e sempre me aceitou e respeitou na minha maneira de ser. O Dr. Mário, então vice-reitor, foi que me meteu na alma a ideia de ser portista, que nunca mais larguei.
Os sacerdotes deste arciprestado de Tarouca. Trabalhamos juntos há vários anos neste Vale Encantado. São formidáveis. Obrigado.
Cónego Joaquim Rebelo. Trabalhamos juntos na mesma escola durante alguns anos. Daí nasceu uma boa amizade. Com ele aprendi e por ele e seus bondosos pais sempre me senti bem acolhido em sua casa. Obrigado.
P.e Dr. Borges. Este sacerdote de Vila Real foi meu professor, director espiritual e, mais tarde, colega de escola. Num corpo de gigante uma alma gigantesca. Nele sabedoria e humanidade brilhavam a grande altura. Muito obrigado.
O meu condiscípulo Adriano Alberto. O arcipreste de Cinfães é daquelas pessoas de quem se é “obrigado a gostar”. É um amigo, um colega e um condiscípulo fantástico. Aquele abraço, Adriano!
Cónego Doutor João António Pinheiro. O actual Reitor do Seminário, que faz o favor de ser meu amigo, é um mestre. Na sabedoria, na profundidade, na simplicidade, no acolhimento. Na fé. Obrigado, amigão!
Não posso esquecer o meu antecessor nesta comunidade, P.e Duarte Santos. Por tudo o que fez e ensinou.
Monsenhor Afonso. O velho Reitor de Almacave era um homem à antiga. Frontal, convicto, terra-a-terra, amigo dos colegas, de um profundo amor à Igreja.
Monsenhor Bouça Pires. O amigo que tantas vezes em seminarista me recebeu em sua casa; o sacerdote de iniciativa, convicção e entusiasmo. Onde esteve deu sempre o “corpo ao manifesto” e soube movimentar. Obrigado.
Muitos e muitos mais me passam neste momento pelo filme da gratidão que vai rolando na minha alma. Guardo a sua memória e louvo ao Senhor por ter tido a dita de se entrecruzarem com a minha vida.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Mãos que não dais, o que é que esperais?

Há muitos anos, em determinada diocese, um grupo de cristãos, representativo de certa paróquia, dirigiu-se ao Bispo para lhe pedir um pároco próprio. Invocaram todas as razões que relevaram de conclusivas para o Prelado lhes dar um sacerdote. O Bispo ouviu, ouviu e, por fim, perguntou-lhes:
- Quantos sacerdotes deu a vossa paróquia à diocese?
Uma vaga de silencia percorreu aquelas pessoas que se entreolharam surpresas. Então o Bispo insistiu:
- Estão aqui casais. Já falastes da vocação sacerdotal aos vossos filhos? Que tendes feito nesse sentido?
Uma mãe então levanta a voz e responde:
- Senhor Bispo, só tenho um filho. O senhor queria que ele fosse padre? Não acha que tenho direito a ter amanhã os meus netinhos?
É esta ilógica que nos comanda. Pedimos tudo aos outros, mas não nos sentimos na obrigação de dar nada à comunidade. A quem assim pensa e age responde o velho ditado popular: “Mãos que não dais, o que é que esperais?”
Sempre, mas particularmente nesta semana, procuremos rezar pelas vocações sacerdotais. Que as famílias sejam escolas de discernimento vocacional e acolham na alegria o dom da vocação. Que as paróquias e a diocese promovam uma séria, persistente e estruturada pastoral vocacional. Que os seminários formem os padres que o presente e o futuro reclamam. Padres apaixonados por Deus e dedicados ao homem. Que os jovens vocacionados respondam à mensagem que Deus deixou no telemóvel do seu coração. Fazer delete é deitar fora a oportunidade de ser feliz, pois cada um só é feliz quando segue a vocação que Deus lhe deu.
Depois, acolhamos, apoiemos, acarinhemos as vocações. Também através da partilha de bens, sem os quais a diocese não pode formar os padres que as comunidades precisam.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

De volta ao Seminário

Estamos na Semana dos Seminários.
Hoje estive no Seminário de Lamego, a convite do senhor Reitor, pessoa por quem sinto grande admiração e que faz o favor de ser meu amigo.
Presidi à Eucaristia, jantei com superiores e alunos e tomei um cafezinho com alguns deles.
Procurei falar-lhes com toda a sinceridade, sem o "eclesiasticamente correcto", deixando que o testemunho escorresse. Sei que mereciam mais, mas reparti com eles da minha pobreza. Que Cristo, Aquele que nos faz correr na vida, supra as minhas lacunas.
Gostei de ter voltado àquela casa. Afinal os sacerdotes são seus filhos. Prendem-nos a ela laços vitais e afectivos.
Gostei de sentir a juventude, alegria, delicadeza e espontaneidade dos seminaristas.
Gostei da amizade, franqueza, partilha e acolhimento do senhor Reitor e do senhor P.e João Carlos.
Gostei de rever o P.e Víctor "Cujó" que se cruzou connosco durante o café.
Obrigado a todos. Rezo por todos.

Que padre para o nosso tempo?

1. A vocação sacerdotal é um chamamento divino que se realiza na Igreja e pela Igreja.
2. O padre é um enviado. Por isso, não se anuncia a si mesmo, mas anuncia Aquele que o enviou.
3. Desta maneira, o padre, ou é homem de Deus ou não é padre. A oração é a alma da sua vida. Ele é o homem orante.
4. O padre deve ser o evangelizador, o formador de cristãos, o mistagogo.
5. NÃO é missão do padre: ser gestor de centros sociais; ser administrador dos bens de uma paróquia ou diocese; ser o burocrata de serviço da paróquia. Este trabalho pertence aos irmãos leigos. A César o que é de César...
6. O padre é chamado a ser o ponto de união, o incansável fomentador da paz entre todos na comunidade.
7. Não lhe compete fazer tudo, muito menos substituir as funções dos leigos. Mas, à maneira de fermento, deve inquietar pacificamente, desinstalar, ajudar a caminhar. Na liturgia, na evangelização, no serviço sócio-caritativo.
8. Mais do que fazer, o padre deve saber estar. Estar para Deus, estar para os irmãos.
9. Exactamente como qualquer ser humano, o padre está sujeito às fraquezas, limitações e pecados. Por isso, precisa da oração e da caridade dos irmãos na fé para caminhar.
10. Tal como qualquer cristão, o padre sabe que de "joelhos, só diante de Deus; de pé, diante das coisas, das instituições e das pessoas."

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

"QUERO COMUNICAR-LHES QUE VOU PARA O SEMINÁRIO"

Dois irmãos. O mais velho concluiu o 9º e não não quis estudar mais, embora fosse um aluno razoável. Durante algum tempo, trabalhou nas obras com o pai. O mais novo concluiu o seu curso universitário e seguiu o seu rumo no mundo do trabalho.
Eram jovens normais. Como os da sua idade, gostavam das saídas à noite, namoravam, tinham o seu grupo de amigos, gostavam das suas borguitas...

Um dia, para estranheza e incómodo dos pais, o mais novo disse à mãe: "Quero ser padre." Um abalo sísmico abatera-se sobre aquela família. Os pais, embora se dissessem cristãos, não ligavam grande coisa à religião. Ambos sonhavam já com os netinhos que haveriam de encher de encanto a sua reforma.
Mas o que é que acontecera? No trabalho, um amigo cristão convidara-o para participar num convívio fraterno. Aceitara, mais para agradar ao amigo do que por convicção. Fora para ver... Ficou marcado. Este encontro com Cristo seduziu-o completamente. De tal maneira que começou a colocar o problema da vocação sacerdotal. E surgiram as longas conversas com um dos sacerdotes que estivera nesse convívio. A luzinha foi brilhando cada vez com mais intensidade e encheu-lhe toda a alma. Sabia agora o que queria. Pediu a sua entrada no Seminário, tendo feito seguidamente uma experiência de pré-seminário. Estava completamente feliz e decidido. Entregaria a sua vida a Cristo para um serviço de Igreja aos irmãos.
Nem tudo fora fácil. Custara imenso dizer à namorada, deixar aquele grande amor de alguns anos. Fora difícil comunicar aos pais e arcar com a trovoada paterna. Foi custoso desenraizar-se de hábitos sociais e mergulhar noutra dinâmica. Mas subia a custo ao encontro d'Aquele que o seduzia, experimentando uma paz e alegria imensas. Está agora a acabar o seu curso de Teologia.

O irmão mais velho voltara à escola para fazer como trabalhador/estudante o secundário nocturno. Os pais admiraram-se com esta decisão, mas apoiaram-na claramente. Também ele queria entrar no Seminário. As conversas com o irmão, o testemunho deste, a sua alegria de viver mexeram com ele. Não diria nada em casa para não provocar hecatombes. Mais tarde falaria.
Não fora nada fácil aquele regresso aos estudos. Trabalhar e estudar, privar-se de borgas, menos tempo para a namorada... foi bem difícil. A tentação de desistir foi fortíssima. Mas aguentou, apoiada na amizade do seu irmão mais novo seminarista. Acabara o 12º ano. Estava pronto para entrar no Seminário. E comunicar aos pais? Estudou todas as maneiras possíveis, mas parecia que nada dava certo. Um dia, à refeição, dispara: "- Os pais não querem que eu seja feliz?" Boquiabertos com a imprevista pergunta, responderam que sim, que era o que mais queriam. "Então quero comunicar-lhes que vou para o Seminário." A mãe desmaiou e o pai irrompeu num ralho colérico de fazer parar um comboio. Podia lá ser! Logo os dois!? Se já um era um tormento... E os netos? Para que trabalharam eles uma vida!?
Aguentou a tempestade. Outra não menos forte viria. Ouviu coisas que jamais esperaria ouvir da namorada. Mas estava decidido. Ferido mas não vencido, seguiria Cristo com total disponibilidade. Sabia claramente que o Senhor o chamava. Está agora em Teologia. Feliz como nunca.

A Missa do Domingo é importante na sua vida de cristão?

Na última sondagem perguntava-se: "A Missa do Domingo é importante na sua vida de cristão?"

A maioria respondeu que era muito importante. Mas houve muita gente a afirmar que tem alguma importância.
Houve ainda quem dissesse que ia à missa por uma questão de tradição e quem afirmasse que o interesse pela missa dependia do padre que presidia à celebração.

Agradeço mais uma vez a participação das pessoas.

Fico a pensar que há muito, muito mesmo, caminho a percorrer. Por TODOS nós.
Enquanto a Eucaristia não ocupar a absoluta centralidade na nossa vida de cristãos, não estamos de perfeita saúde na fé.
Há que rever e nos revermos.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

"Os telemóveis de Deus"

"Ninguém é feliz se não seguir a sua vocação", diz o povo.
Deus chama. Sempre. A alguns chama-os ao sacerdócio.
Deus criou-nos diferentes e respeita sempre a nossa maneira de ser. Por isso, não usa um "telemóvel" único.
Muitos descobriram o chamamento através dos pais; alguns, através dos avós, do catequista, do pároco, do testemunho ou palavra de um seminarista; outros, por meio de uma experiência marcante de Deus: retiro, convívio fraterno, encontro de jovens...; ainda outros, através de um episódio especial da sua vida, da vida da comunidade ou outro...

Num mundo marcado por enorme sonolência espiritual, é preciso que o telefone toque, desperte, alerte.
Actualmente, os adolescentes e jovens estão tão marcados por uma turbulência exterior tão aguda que experimentam enorme dificuldade em entrar dentro de si mesmos para verificarem se na caixa de email do seu coração têm alguma mensagem de Deus. Ou então para a lerem e se deixarem interpelar por ela. Muitas vezes, fazem delete, deixando em branco o projecto que o Amigo lhes propõe.
Sentem-se embriagados pelo superficial deste tempo, que os põe " de rastos" perante:
- o telemóvel - qualquer dia temos que pegar numa cana para tentar pescar alguns polegares que se despregaram da mão por tanta mensagem escrevinharem;
- as musiquinhas e cantores da moda;
- os namoricos e paixonetas;
- as noitadas e as disco;
- as borgas, as bebedeiras e as distracções;
- as novas tecnologias - muitas vezes no que estas têm de mais despersonalizante;
- as roupas, pircings e outras modas;
- o cultivo do "cabedal físico";
- ...
No fundo de tudo isto, de toda esta aparência de superficialidade e de evasão, existem tantos e tantos corações belíssimos, autênticos tesouros a descobrir!

Seria fantástico que cada pessoa e as comunidades se sentissem empolgadas por ser esse telemóvel pelo qual Deus chama alguns. Sem desânimos, persistentemente.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Eu, Padre???

Era eu um jovem padre. Leccionava numa escola secundária. Numa das turmas do 11º ano, havia um rapaz muito alegre e bem disposto, que me parecia poder dar num bom padre. Era um jovem de valores que transpiravam nas mais pequenas coisas.
A determinada altura, disse-lhe que queria falar com ele no fim da aula. Falámos, falámos, até que lhe perguntei:
- Olha lá, não queres ser padre?
Olhou para mim com o ar mais espantado do mundo, virou o dedo na sua própria direcção e retorquiu:
- EUUUUUUUUUUU!!!???
A conversa prolongou-se. Da surpresa, passou à empatia. Quando eu já pensava num "vou pensar", eis que repentinamente dispara:
- Nem pense! Padre, nunca! Para um dia me fazerem aquilo que os da minha terra têm feito ao padre que lá está...

Nesta Semana dos Seminários, dá que pensar.

domingo, 11 de novembro de 2007

«É preciso mudar»!

Ponto alto de uma visita «Ad Limina» é o encontro de todos os bispos com o Papa. Aí, o sucessor de Pedro faz um discurso onde aponta as virtualidades e os caminhos a percorrer pela Igreja.
Quando recebeu os bispos portugueses (10 de Novembro), Bento XVI pediu-lhes para que mudassem “o estilo de organização da comunidade eclesial portuguesa e a mentalidade dos seus membros para se ter uma Igreja ao ritmo do Concílio Vaticano II”.

Nos bispos, toda a Igreja que está em Portugal foi interpelada, desafiada, desintalada.
Todos os que acreditam em Jesus Cristo e n'Ele são baptizados são a Sua Igreja, povo e espaço da comunhão.
Centrados em Cristo, descentrados para o mundo, acolhamos o desafio papal e integremo-lo no nosso viver eclesial.

Boa semana, com Cristo no coração.
Muita paz.

NO SEMINÁRIO CRESCE O FUTURO

MENSAGEM DO SENHOR BISPO PARA A SEMANA DOS SEMINÁRIOS
Mais uma vez a Semana dos Seminários, de 11 a 18 de Novembro, vem centrar a atenção dos cristãos na Instituição fundamental da Diocese e convergir o nosso olhar para a Casa que pertence a todos e por isso devemos considerar como nossa, onde, à imitação do grupo dos apóstolos com Jesus, se preparam os futuros sacerdotes.A Equipa Formadora e os seminaristas bem desejam que assim o penseis, e apreciam as vossas visitas, tanto dos sacerdotes como dos leigos, muito especialmente das crianças e dos jovens, como expressão duma comunhão responsável e solidária.O tema que nos é proposto para meditarmos, está carregado de esperança: No Seminário cresce o futuro; mas simultaneamente é desafio ao nosso compromisso. Não há crescimento sem nascimento, o que supõe um prévio semear. Aqui está a nossa responsabilidade.A palavra semear tem uma relação etimológica com Seminário.Semear é trabalhar para que se torne sadio o ambiente cristão das nossas comunidades paroquiais, de modo a que nelas se perceba o chamamento do Senhor e desperte nos chamados o desejo de segui-lo; semear é contribuir para que o clima espiritual das famílias as faça crescer na consciência de que o seu seio é o berço natural das vocações; semear é pedir com empenho e perseverança ao Senhor da messe que mande operários para a Sua seara; semear é compreender que as dificuldades materiais dos seminários são apelo e estímulo à partilha da riqueza que a benemerência do Senhor colocou nas nossas mãos.A vivência consciente desta Semana exprime-se no amor e solicitude para com todos quantos nela residem, formadores e seminaristas, concretizados na oração mais atenta, se possível em família, ajudando os filhos a sentir e a viver esta realidade, e no sacrifício mais alegre e generoso, pelas intenções que nos são propostas; e pelo desprendimento na oferta material que a reflexão nos sugerir.Esta é uma forma de semear.Que Jesus, Maria, Ana e S. José, padroeiros do Seminário de Lamego, o abençoem, e que Nossa Senhora de Lourdes, aparecida há 150 anos e venerada no Seminário de Resende na primeira imagem que em Portugal lhe foi dedicada, desperte em todos o apreço pelo sacerdócio.
Em Roma, na Visita Ad Limina, rezo por todos.Lamego, 1 de Novembro,

Solenidade de Todos os Santos, de 2007
+ Jacinto, Bispo de Lamego

sábado, 10 de novembro de 2007

DISCURSO DO SANTO PADRE AOS BISPOS PORTUGUESES

É preciso mudar o estilo de organização da comunidade eclesial portuguesa e a mentalidade dos seus membros para se ter uma Igreja ao ritmo do Concílio Vaticano II, na qual esteja bem estabelecida a função do clero e do laicado, tendo em conta que todos somos um, desde quando fomos baptizados e integrados na família dos filhos de Deus, e todos somos corresponsáveis pelo crescimento da Igreja” – pediu esta manhã (10 de Novembro) Bento XVI aos bispos portugueses.
Neste encontro integrado na visita «Ad Limina» que os prelados estão a realizar até 12 de Novembro, o Papa também apontou caminhos novos para a Igreja Portuguesa: “eclesiologia da comunhão na senda do Concílio, à qual a Igreja portuguesa se sente particularmente interpelada na sequência do Grande Jubileu é a rota certa a seguir, sem perder de vista eventuais escolhos tais como o horizontalismo na sua fonte, a democratização na atribuição dos ministérios sacramentais, a equiparação entre a Ordem conferida e serviços emergentes, a discussão sobre qual dos membros da comunidade seja o primeiro”.
Depois de analisados os relatórios das dioceses portuguesas e verificar “a maré crescente de cristãos não praticantes”, Bento XVI alertou os pastores portugueses para que estudassem “a eficácia dos percursos de iniciação actuais, para que o cristão seja ajudado, pela acção educativa das nossas comunidades, a maturar cada vez mais até chegar a assumir na sua vida uma orientação autenticamente eucarística, de tal modo que seja capaz de dar razão da própria esperança de maneira adequada ao nosso tempo”.
No seu discurso ao bispos portugueses, Bento XVI também elogia a caminhada que a Igreja Portuguesa tem feito em diversos sectores: “o recenseamento geral da prática dominical, o retomar a caminhada sinodal feita ou a fazer, a convocação em mais do que uma diocese da statio eucarística ou da missão geral segundo modalidades novas e antigas, a realização nacional do encontro de movimentos e novas comunidades eclesiais e do congresso da família, a vontade de servir o homem consignada pela Igreja e o Estado numa nova Concordata, a aclamação da santidade exemplar na pessoa de novos Beatos…”
In ecclesia

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Bodas de Prata Sacerdotais

O P.e Doutor Víctor, natural de Várzea da Serra e actual Pároco de Granja Nova, Paçô e Vila Chã da Beira, celebra este ano as suas Bodas de Prata Sacerdotais.
Hoje os sacerdotes que trabalham no Arciprestado de Tarouca, conjuntamente com o Reitor de Almacave, associaram-se à feliz efeméride. Na Capela da Senhora da Serra, concelebraram, dando graças ao pai pelo dom do sacerdócio e louvando-O pela vida, amizade e sacerdócio do P.e Víctor. No fim, ofereceram ao aniversariante uma recordação, que vale mais pelo que significa do que pelo valor material.
Depois, também em clima de comunhão sacerdotal, partilharam juntos uma refeição.
A Igreja tem em grande apreço, estimula e fomenta as experiências de comunhão no presbitério. Elas são importântíssimas na vivência do sacerdócio.
Parabéns, amigo Padre Víctor! Por muitos e muitos anos.

Cada tiro, cada melro

Não deixe de ler este artigo.
Esteja por dentro das coisas que lhe dizem respeito. E a escola, de uma forma ou de outra, diz respeito a cada um de nós!

Leia então. Encontrará "verdades como punhos!".
Obrigado por aceitar o meu convite.

http://aeiou.visao.pt/Opiniao/pedronorton/Pages/Cadatiro,cadamelro.aspx

Liga Operária Católica critica proposta do governo

A Liga Operária Católica/Movimento Trabalhadores Cristãos sustenta que o Orçamento de Estado de 2008 não promove o apoio social, segundo declarações da coordenadora nacional da organização, divulgadas ontem pela agência Ecclesia.

Maria de Fátima Almeida considera que o Orçamento de Estado deve ser um instrumento «que tem como princípio fundamental o desenvolvimento económico baseado na equidade social, na solidariedade e na sustentabilidade».
Para a dirigente, o Governo devia preocupar-se com o desemprego, o trabalho precário, os salários e as pensões de reformas muito baixas, assim como o sistema de saúde deficitário.
«Não se preocupa em apoiar os mais carenciados, parece que caminhamos para uma sociedade menos equitativa socialmente», acrescentou.
Maria de Fátima Almeida destacou ainda a dificuldade de inúmeros trabalhadores em se adaptarem a novos conceitos de trabalho e à nova organização laboral e sustentou que devem ser apoiados através do subsídio de desemprego «pois dificilmente conseguirão ter um novo emprego».
Contudo, a Liga Operária Católica aprecia o programa Novas Oportunidades, lançado pelo Governo, embora não seja uma «solução para todas as situações».
A coordenadora nacional denuncia também que a actual situação social e o endividamento das famílias é «geradora do quadro de pobreza que o País atravessa» e que os cidadãos têm de se envolver «em organizações e desencadear iniciativas».
O Estado, por sua vez, «poderia dar maior atenção às estruturas já existentes».
In Sol

Vem aí o dia de São Martinho: 11 de Novembro

São Martinho nasceu no ano de 316, na Sabária da Panónia (Hungria). Seu pai era oficial do Exército Romano. Aos 12 anos, contrariando a vontade dos pais, tornou-se cristão. Entretanto, o pai contrapôs-se terminantemente a essa decisão do filho, alistando-o no Exército Romano. Aconteceu, nessa época, o famoso episódio da manta de guarda imperial: ao ver um mendigo tiritando de frio, corta ao meio a sua manta e oferece-lhe uma parte. À noite sonhou e viu Jesus envolto naquele pedaço de manta, dizendo: "Martinho, ainda não baptizado, deu-me este vestuário".Abandonou, então, o Exército e fez-se baptizar por Santo Hilário de Poitiers. Entregou-se à vida de eremíta, fundando um mosteiro em Ligugé, França, onde vivia sob a orientação de Santo Hilário. Ordenado sacerdote, foi mais tarde aclamado bispo de Tours (371). Tornou-se um grande evangelizador da França, verdadeiramente pastor, fundando mosteiros, instruindo o clero, defendendo a causa dos oprimidos e deserdados deste mundo. Morreu no ano de 397.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

É mais fácil construir um menino do que consertar um homem.

"É mais fácil construir um menino do que consertar um homem." - assim o disse Charles Chick Govin.

Toda a gente sabe que a adolescência é uma fase difícil para todos os educadores. Mas também é difícil para o próprio adolescente, que tantas vezes não se sente compreendido nem auto-compreendido.

Mas isso tira alguma coisa à obrigação de educar??? Pelo contrário, aumenta-a.
Que adolescência hoje?
- Desconcentrada e desmotivada;
- Irreverente e atrevida;
- Sem as noções básicas de respeito;
- Que iguala tudo por baixo, sem diferenciar mais velhos e superiores;
- Adversária incondicional do esforço;
- Estudante? Não. Passeadora de livros;
- Mimada, egoísta e orgulhosa;
- Cultivadora indomável de dependências: telemóvel, jogos, chiclets, marcas de roupa, certos estilos de música ...;
- Acrítica e superficial;
- Pavoneadora da sua própria ignorância e má-criação;
- Imensamente dada a superficialismos e infimamente dada à reflexão e aos valores;
- Alérgica ao silêncio, à leitura e à meditação;
- Mal alimentada. Apesar de toda a informação que lhe chega, teima em alimentar-se mal e desprestigia toda a alimentação correcta;

Todos assim?
Não. Felizmente ainda há muitos adolescentes que são maravilhosos. Onde é fácil distinguir alguma rebeldia própria da idade dos aspectos acima mencionados.

Culpa deles? Penso que não, esmagadoramente. Então de quem é?
Sem, de modo algum quer ser exaustivo e abrangente, deixo algumas pistas que me têm particularmente chamado a atenção.

- Da família, em 1º lugar. Penso e sinto que na educação muitos pais de hoje falham como cestos rotos. Não dão o verdadeiro exemplo da vivência dos valores, deixam correr, dão coisas mas não dão tempo nem atenção, não são persistentes, ficam-se pelo "papá e pela mamã", mas não são pais e pais verdadeiros. Não assumem toda a autoridade paterna e mimam - no mau sentido- exageradamente os seus filhos, tornando-os uns "vidrinhos" e elevando-os a reizinhos lá de casa.

- Dos governantes. Com medo de perder os votinhos, tentam aumentar a todo o custo a simpatia dos mais novos. Já ouviram algum político dizer aos adolescentes que, sem trabalho e esforço, nada conseguem? Que estudar não é exploração da mão de obra infantil?
Na perspectiva dos governantes, a culpa do insucesso é sempre de todos, a começar pelos professores, mas nunca do aluno. Querem maior desfaçatez?

- Da sociedade e respectivas estruturas sociais. Uma sociedade consumista e materialista cria necessidades artificiais, seduz para o supérfluo, cria ilusões de facilitismo, semeia dependências, elege a superficialidade como ídolo...

O nosso Bispo com o Papa

A visita ad limina, oficialmente, compõe-se de três momentos especiais:
- Peregrinação ao sepulcro de Pedro e Paulo para testemunhar a nossa efectiva ligação a Cristo de que deram testemunho pelo seu martírio.
- Encontro com o Sucessor de S. Pedro para uma afirmação da nossa colegialidade afectiva e efectiva com a Igreja de Roma que preside à comunhão universal da caridade. Na verdade, vivemos e queremos viver, no específico das nossas comunidades, uma comunhão cum Petro e sub Petro.
- Encontro com os responsáveis de alguns Dicastérios da Cúria Romana para manifestarmos a nossa solicitude pastoral comum e, através dum conhecimento das orientações e propostas pastorais, crescermos no compromisso evangelizador como resposta aos diferentes desafios que caracterizam o quotidiano das nossas comunidades.

D. Jorge Ortiga, Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa


A audiência privada do nosso Bispo com o Papa realiza-se hoje, dia 8.
Toda a Diocese vai estar diante do Santo Padre:
Ubi Episcopus ibi Ecclesia! (onde está o Bispo aí está a Igreja).

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

REFLEXÃO SERENA SOBRE UMA TRAGÉDIA

A tragédia da A-23 é um acontecimento e é um retrato. Infelizmente, podia lá estar qualquer um de nós.
Vale a pena atender ao desenrolar do acontecimento, agora que vai sendo conhecido.
Tudo terá começado com a tentativa de ultrapassagem de um carro. Esse carro era conduzido por uma professora, esposa e mãe.
Além da actividade docente, tinha participado em reuniões. Sucede que às oito da noite (hora a que regressava) é hora de estar com a família, a jantar.
Percebe-se que o atraso gere ansiedade e desencadeie algum desequilíbrio. Pelo menos, pensemos no sistema que estamos a implantar, pouco humano, às vezes inumano.
Eu sei que há coisas que se tornam inevitáveis. Mas se nos pudermos acautelar a montante, não seria bem melhor?
Não vamos condenar ninguém. Mas quem tem responsabilidades neste (desumano) sistema não pode fazer algo?
Theosfera

Tomada de posição da ACEGE sobre o Orçamento de Estado 2008

O Orçamento de Estado (OE) é um instrumento que reflecte as políticas públicas e, como tal, deve reflectir, como primeira prioridade, o combate ao sofrimento social.
Os dois principais problemas da sociedade portuguesa são o desemprego e a pobreza, factores causadores de profunda indignidade humana.
Nos termos do OE 2008, as políticas públicas de combate ao sofrimento social são insuficientes.
O OE 2008 não contém a resposta necessária aos flagelos do desemprego e da pobreza, antes privilegia outras prioridades.
O drama do desemprego combate-se com criação de riqueza e desenvolvimento económico, o que exige redução da despesa pública e libertação de recursos para os agentes criadores de riqueza.
O drama da pobreza combate-se com políticas sociais avançadas, o que exige uma priorização diferente dos gastos públicos daquela que o OE 2008 prevê.
O Governo fez nos dois anos anteriores um esforço apreciável para controlo do défice orçamental, o que é positivo. Todavia, a redução da despesa pública ficou aquém do necessário e o OE 2008 dá nota de abrandamento do esforço efectuado nos dois anos anteriores.
Sendo assim, o OE 2008 mantém e reflecte uma injustiça de fundo na afectação de recursos em Portugal: o Estado continuará a consumir, abusivamente, recursos da sociedade, o que é, de si, injusto, e reafectará esses recursos de modo também injusto.
Esgotada a capacidade de aplicação de mais impostos às empresas e às pessoas, só a reforma do Estado permitirá libertar meios para combater o sofrimento social, nomeadamente o desemprego e a pobreza.
OE 2008 traduz a incapacidade política de reforma do Estado e, nomeadamente, a incapacidade do governo em aplicar critérios efectivos de eficiência à Administração Pública, ajustando o seu custo ao benefício social que produz.
A reforma do Estado impõe um programa social para o efeito, espaçado no tempo e com recurso a um conjunto integrado de soluções - de modo a que a transição de paradigma de eficiência e de relação custo benefício do Estado seja efectuada com paz social e com respeito por cada pessoa abrangida.
Sem a reforma do Estado, os recursos nacionais, já de si escassos, continuarão, de modo estrutural, a ser desperdiçados e a ser reafectados injustamente.
A reforma do Estado é, assim, não só um imperativo político, mas também um imperativo de consciência.
A não aplicação de critérios de eficiência na Administração Pública coloca em contraste os portugueses do sector privado, sujeitos às consequências desses critérios, e os portugueses que trabalham para o Estado, constituindo esta dicotomia uma injustiça social em si.
Por outro lado, a incapacidade de reformar o Estado significa a afectação não justa de recursos, ou seja, para uns receberem, outros não chegam a receber o que lhes é devido ou, mesmo, o que dramaticamente lhes falta.
Finalmente, como há muitos anos sucede, o OE 2008, também ele, privilegia os grupos sociais com maior poder reivindicativo, como o funcionalismo público, em detrimento dos grupos sociais em maior sofrimento, como os pobres e os desempregados, sendo também, nesta medida, um instrumento político injusto.
Os números são eloquentes.
A redução do défice público, em 2008, tal como nos anos anteriores, será obtida bem mais pelo lado da receita do que pelo lado da redução da despesa.
Assim, enquanto em 2007 se estima que a despesa aumente 2,4% em relação a 2006, o OE 2008 prevê que a despesa aumente 4,4 % em relação a 2007, quando é certo que a inflação estimada é de 2,1%.
Também o peso do funcionalismo público na despesa pública, ainda que em rota positiva, corresponderá a 12,8%, peso este ainda superior à média europeia e revelador de inaceitável ineficiência, sobretudo tendo em conta a escassez de recursos e o sofrimento social existente.
O OE 2008 revela que se impõe um largo consenso político sobre o principal factor social bloqueador, a reforma do Estado.
Não são apenas critérios de ordem política, financeira ou económica que relevam. São, sobretudo, razões de natureza social e humanitária que se impõem.
Enquanto o Estado gastar o que gasta e como gasta a margem de sofrimento social aumentará.
Reformar o Estado é, assim, também uma questão de amor ao próximo.

ACEGE (Associação Cristã de Empresários e Gestores )
In ecclesia

Mas...
- Se os empresários e gestores cristãos disseram da sua justiça, falta saber o que pensam os trabalhadores cristãos sobre o mesmo Orçamento de Estado.
- Se os empresários e gestores cristãos disseram da sua justiça, falta saber o que pensam os pobres e desempregados sobre o mesmo Orçamento de Estado.
- Se os empresários e gestores cristãos disseram da sua justiça, falta saber o que pensam os funcionários públicos cristãos sobre o mesmo Orçamento de Estado.
Não sou bruxo, mas aposto que diriam muito pior sobre o referido OE.