sábado, 31 de julho de 2010
Numa Aldeia da Serra, há 50 anos - Notas finais
Estas postagens não resultaram de pesquisa propriamente dita. Apenas a recordação de vivências do passado que fui procurando organizar com a fidelidade possível.
Se não tivermos consciência do nosso passado, dificilmente entenderemos o presente e poderemos antecipar o futuro.
Algumas pessoas têm-me perguntado pessoalmente a que aldeia do concelho de Tarouca me tenho referido especificamente. A nenhuma. Há 50 anos não conhecia Tarouca, a não ser de nome, pela alusão que se fazia à competência do Dr. Víctor, de Tarouca.
A aldeia que me serviu de base para este trabalho foi Juvandes, onde nasci e vivi até aos dez anos. É também uma homenagens às gentes da minha terra natal.
Cada aldeia serrana tinha e tem as suas especificidades. Mas há - e sobretudo havia naquele tempo - traços comuns advindos de circunstâncias parecidas.
Uma pessoa deixou em comentário este repto: "lanço o desafio de falar nos cinquenta anos seguintes, a evolução dos tempos e das gentes da nossa terra."
Confesso que não tenho o génio de Alexandre Dumas nem o poder de prever do polvo Paul. Não vou pelo caminho da magia, da adivinhação ou da bruxaria. E Deus não me deu o dom de antecipar o futuro.
As mudanças acontecem a um ritmo alucinante e qualquer previsão para daqui a 50 anos pode ficar ultrapassada enquanto "o diabo esfrega um olho."
O importante é estarmos abertos à mudança, dentro daquele pensamento que uma vez ouvi a uma ancião: "Não te deixes arrastar pela enxurrada, mas procura controlar a enxurrada."
Se os amigos leitores quiseram falar nos cinquenta anos seguintes, na evolução dos tempos e das gentes da nossa terra, podem contar com este humilde espaço.
sexta-feira, 30 de julho de 2010
No Hospital pela primeira vez
Pensei o pior, mas felizmente encontrei-o sereno, sabendo aceitar a situação, com enorme vontade de viver, o que agradou muito.
Está ser sujeito - vai continuar a sê-lo - a uma basta bateria de exames médicos. Os clínicos, sem terem os resultados na mão, não avançam com prognósticos. Tanto pode ser uma coisa mais ou menos simples, como complicada.
Claro que para mim e meus irmãos não está a ser fácil, como o não seria para qualquer pessoa. É que vai fazer dois anos que minha mãe partiu e estas coisas, queira-se ao ou não, associam-se...
Vai correr tudo bem, pai! Com a tua vontade de viver, a indispensável ajuda dos agentes da saúde e o amor de Deus que nunca nos abandona, vais sair desta com êxito.
Numa Aldeia da Serra, há 50 anos - V
Viúva, de provecta idade, "Ti Jouquina"morava com uma filha solteira que andava a ganhar o dia - quando havia trabalho, claro.
Morava num casebre de terra batida, com uma única entrada para pessoas e animais, separados por um velho taipal de madeira, esburacado e negro do fumo. Um estreito janelo deixava entrar um fio de luz e possibilitava livre trânsito ao gato que assim ia mantendo o casebre livre de ratos.
Ao fundo da habitação, a lareira. Dois pequenos potes de ferro de cada lado acolhiam os chamiços. Ao lado, uma prateleira negra sustentava um prato, duas tigelas, garfos de ferro e mais alguns utensílios. Do outro lado da lareira, e um pouco mais acima da mesma, uma tábua metida na parede apoiava a candeia de petróleo que lançava sobre a escuridão uns lampejos de claridade. Ao meio, encostada à parede, uma cama de ferro, sem lençóis, com umas mantas de farrapos sobre o colchão de palha. Do lado oposto, uma corda suspensa dos caibros do telhado, segurava o xaile, a saia e outras (poucas) roupitas. Ao fundo, amarrada ao taipal, uma caixa de madeira onde eram guardados alguns alimentos.
"Ti Jouquina" não tinha terras. Por isso, pastoreava a sua cabra pelos caminhos, nos regos de água públicos, nas quelhas. Estou a vê-la. Saia preta a roçar nos pés, avental e lenço na cabeça. Tratava o animal com enorme carinho: abaixava-lhe os ramos, puxava-lhe as silvas e fazia-lhe festas no pelo. Regressava sempre a casa com meia dúzia de ervas seleccionadas no avental para os coelhos e, após as ceifas, procurava na leira uns bagos de centeio para as duas galinhas que possuía.
Havia um época do ano em que "Ti Jouquina" era muito solicitada. Na altura da plantação das batatas. Tinha muito jeito e sabia aproveitar muito bem cada "batata de semente". Mirava os olhitos que tinha, tirava a lasca certa para ir para a terra e deixava "os miolos" para consumo doméstico. Pagamento? As refeições e meia dúzia de "miolos" no avental para levar para casa.
Na sua pobreza, "Ti Jouquina" era uma mulher de uma serenidade contagiante. Não se lhe ouvia uma queixa, uma lamúria, uma revolta. Um sorriso profundo, cativante, envolvente. Dizia-se que ao pé dela se estava sempre bem. Falava sem ser chata e nunca tinha má língua.
quinta-feira, 29 de julho de 2010
Numa Aldeia da Serra, há 50 anos - IV
A miudagem juntava-se sempre que algo diferente aparecia. Ficava ao largo, a observar, alguns com os irmãos ao colo. O tal fidalgote falava com umas pessoas que lhe respondiam a meia voz, submissas.
Eis que aparece um homem vergado ao molho de erva medonho que trazia às costas.Só inclinando a cabeça é que descobria quem estava. Cumprimentou o cavalheiro bem-vestido que era da sua idade, tratando-o por senhor.
- Sempre a trabalhar que nem um galego- comentou o visitante.
- Tem razão. E saiba o senhor que nem assim tenho o suficiente para matar a fome aos meus filhos! - respondeu acabrunhado o do molho.
- Então, rouba, homem! Rouba! Quem trabuca como tu e não consegue dar pão aos filhos, só tem que roubar...
Grandes e pequenos coraram com a blasfémia. Roubar!? Credo! Era o cúmulo da indignidade segundo o código moral daquela gente.
- Maldito Salazar! Ele é que é o responsável pela vossa miséria! - sentenciou o bem-vestido.
Foi a primeira vez que ouvi falar em tal nome. Achei-lhe imensa piada e retive-o. As pessoas chamavam-se Zé, António, Maria, Ana... Salazar?! Que raio de nome!
O homem foi à sua vida. Os aldeões comentaram em surdina:
- Deus nos livre! Credo! Este é contra o governo!
Política era tema afastado das conversas diárias das pessoas. Pura e simplesmente não se falava.
A religião era omnipresente. As pessoas interrompiam o trabalho no campo para rezar o "Angelus", quando o Sol indicasse o meio-dia. À noite, a labuta terminava quando o dono do terreno, tirando o chapéu, dizia: "Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo". Os trabalhadores, erguendo-se, tiravam igualmente o chapéu e respondiam: "Para sempre seja louvado." E nem mais uma cavadela.
Quem passasse pelos caminhos da aldeia após a ceia, ouvia um murmúrio cadenciado, monótono, prolongado, que saía de cada casa. As famílias rezavam o terço.
Ao domingo, só duas pessoas ficavam sem Eucaristia, sendo que uma delas mais tarde veio a frequentar. Capela cheia como um ovo, alguns homens e bastantes rapazes no adro. Como a Missa era em Latim, as pessoas mais velhas iam bichanando o terço, enquanto um ou outro cântico interrompia o silêncio. Os rapazes, abriam a boca e, à socapa, lá faziam uma ou outra maroteira não barulhenta, aguardando ansiosamente pelo fim da cerimónia.
No sentir, no falar, nos actos, havia um profundo respeito por Deus. Corria o ditado que cada família transmitia aos mais novos: "Graças a Deus, muitas; graças com Deus, nenhumas."
Os pais, especialmente as mães, educavam para a abertura ao transcendente desde o berço. E a primeira palavra que os filhos pronunciavam era Jesus. Frequentemente a mãe perguntava à criança que trazia ao colo: "Onde está Jesus?" E o pequeno, erguia o dedito para o Céu...
- Era uma religião muito marcado pelo medo do Inferno? Sim.
- Era uma religião mais assente no medo de Deus do que na confiança n'Ele? Sim. Era normal dizer-se a alguém que fizera uma asneira e depois tivesse um percalço: "Deus castiga sem pau nem pedra." E para amansar as crianças, lá vinha o aviso: "Deus ralha". E a trovoada era "Deus a ralhar".
- Era uma religião individualista, estilo ping-pong, eu e Deus, Deus e eu? Sim. Ouvia-se frequentemente: "Eu quero é salvar a minha alminha."
- Era uma religião mais marcada pelo pressão social do que pela convicção, a quem faltavam razões de acreditar? Sim.
Mas a religião era marcante e unificante. Dava esperança (nem que fosse o Céu) e coragem para enfrentar as agruras da vida. Impelia muitos para a caridade e para a ajuda. Não era em vão que os pobres batiam à porta e pediam: "Dê-me alguma coisinha, pelo amor de Deus!" Esbatia ódios e teimosias, impedia desmandos e tropelias.
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Numa Aldeia da Serra, há 50 anos - III
Isolamento, deficiente condição económica, custo da medicina e ausência de uma cultura para a saúde.
Consultas e remédios tudo se pagava e na totalidade. Meios auxiliares de diagnóstico, como hoje os conhecemos, ou não existiam, ou eram muito rudimentares. E eram caros. O diagnóstico e consequente tratamento viviam quase só da competência, experiência e carisma do médico.
Por isso, não admira a resistência das pessoas em procurar a medicina. Insistiam nos "remédios caseiros" até à exaustão. Chá preto e de ervas para as dores de barriga; café para as dores de cabeça. Se apareciam problemas com ossos e músculos, as pessoas recorriam ao "entendido", havendo mesmo a convicção entre as gentes de que "os médicos, de ossos, não entendem nada." Para as feridas, o mesmo tratamento: álcool e mercúrio em cima e um farrapo a embrulhar o "dói-dói".
Se a doença não passava com remédios caseiros, então recorria-se ao médico que era avaliado conforme acertava ou não no tratamento. Não se repetiam muitas vezes as consultas ao mesmo médico. Se não resultava, mudava-se de clínico. Em situações-limite, então recorria-se aos "papas" da medicina, que moravam longe: o Dr Víctor, de Tarouca, e o Dr Manecas, de Castro Daire. E foi através das doenças que eu ouvi falar pela primeira vez no nome "Tarouca"!
A higiene, avaliada em termos actuais, era uma calamidade. Já dissemos que não havia água canalizada nem quartos-de-banho nas casas. Os WCs eram os milheirais, os giestais, os penicos... Nas casas, no rés-do-chão ficavam as coortes dos animais e as dependências para as alfaias e produtos agrícolas. No primeiro andar, habitavam as pessoas. Animais e pessoas estavam assim separadas por um soalho de madeira em tábuas largas e, normalmente, com frinchas. Por isso, os "perfumes" vindas das lojas inundavam a habitação. Agora pensemos no cheirete que invadia a casa quando, por exemplo, era arrancado o estrume das lojas dos animais!
Em casa, havia uma bacia de alumínio onde a família lavava as mãos e a cara todas as manhãs. Banho? Para os mais pequenitos, de longe em longe no Verão. As mães faziam-lhe uma barrela numas grande bacias de latão. Nem os rapazes aproveitavam as poças e os ribeiros para se banharem. Era inconcebível vestir uns calções e aparecer com eles em público.
Agora imaginem o que era comerem várias pessoas do mesmo prato ou beberam do mesmo pipo ou cabaça durante os trabalhos agrícolas.
As mulheres iam "olhar as galinhas" em cada manhã. As que traziam ovo ficavam no galinheiro até porem; as que não traziam ovo, seguiam para a liberdade. Pois a mesma mão cujo dedo mendinho entrara na cloaca da galinha, logo a seguir pegava num bocado de pão para meter à boca, sem qualquer lavagem pelo meio. O lenço de assoar? Era o avental. Viravam-no do avesso e toca a fungar para aí.
Se os trabalhos agrícolas por si já sujam muito, acrescente-se a falta de higiene e veremos as pessoas sujas, exalando odores desagradáveis. As mudas de roupa aconteciam de semana a semana ou quando tinha que se ir à cidade. Então substituíam-se as calças de cotim, tantas vezes cobertas de remendos, por uma roupinha de fazenda.
O isolamento, a pobreza e o abandono criavam entre as pessoas um forte espírito solidário. Incêndios nas matas? Rarissimamente. Estavam sempre mais do que limpas. A lenha era o combustível que havia para aquecimento e confecção das refeições. Como tal era disputado cisco a cisco.
Quando acontecia um incêndio nas casas - não me recordo se na altura já havia bombeiros, pelo menos nunca os vi por lá e, mesmo que os houvesse, não existia estrada para os veículos - as pessoas acorriam em força, abandonando tudo para socorrer. Enxadas, foices, sachos, regadores, baldes, tudo!
Solidários nos trabalhos agrícolas, onde existiam as chamadas "trocas" entre familiares e amigos. Hoje vamos todos arrancar as batatas de fulano e amanhã arrancaremos as de beltrano. Como se compreende, as "trocas" era uma forma de embaratecer a produção. Claro que havia as pessoas que viviam do "ganhar o dia". Mas uma agricultura braçal, exigia muita mão-de-obra e a quanta menos gente tivesse que se pagar...
A propósito, sabem quanto ganhava um mulher naquele tempo a trabalhar de Sol a Sol? Seis escudos! Se não erro nas contas, três cêntimos em dinheiro actual!
Solidários na doença. Frequentes visitas aos doentes, partilha de experiências com remédios caseiros, opiniões sobre médico a consultar, apoio no transporte do doente...
Solidários na pobreza. Perante os casos extremos de miséria, as pessoas iam dando conforme podiam. Claro que havia sempre gente mais generosa do que outra. Mas a ajuda era sempre discreta, pela calada, como quem não quer expor o sofrimento alheio.
Solidários perante catástrofes e desgraças. Se um animal se magoava e era preciso abatê-lo, as pessoas ofereciam-se para comprar um bocado de carne e assim diminuir os prejuízos do dono.
Solidários nos momentos importantes do ano e da vida. No nascimento de uma criança, grande parte das mulheres da aldeia ia visitar a parturiente e levar uma prendinha - um quilo de açúcar, uma galinha... Nas matança do porco, toda a família se juntava...
terça-feira, 27 de julho de 2010
Numa Aldeia da Serra, há 50 anos - II
Os colocados na hierarquia familiar inferior, em cada dia que encontrassem o correspondente hierarca, pediam-lhe a bênção. "Sua bênção, meu pai"; "sua bênção, minha mãe"; "sua bênção, meu avô"; "sua bênção meu tio"; "sua bênção, minha sogra"... E então ouvia-se a resposta: "Deus te abençoe". Ah! E em algumas famílias, o tratamento era ainda mais reforçado. O filho, quando se dirigia ao pai ou à mãe, dizia: "Senhor meu pai ... Senhora minha mãe..." Mas esta forma estava claramente em desuso já naquele tempo.
Era tida por má educação qualquer forma de tratamento que não obedecesse a estes códigos. E tratar os pais por tu era coisa completamente impensável na altura.
Os jovens eram muitos e marcados por forte espírito de obediência e reverência para com os pais. Mesmo quando refilavam, sabiam bem as marcas para além das quais não podiam ir, caso contrário chovia-lhes no corpo. Os grandes momentos de encontro eram as tardes de domingo e os tempos de serviço agrícola que envolviam mais gente. As avessadas e as ceifas traziam enorme animação. Cantavam enquanto ceifavam, dançavam quando passavam de uma leira para outra e à noite, na eira, surgia um breve bailarico enquanto esperavam pela ceia. Entretanto, as piadas, as brincadeiras e maroteiras sucediam-se. Claro, sem abusos.
As raparigas, então, eram fortemente controladas. Desonrava a família moça que não casasse virgem. Os namoros aconteciam em lugares públicos ou à porta de casa dos pais da rapariga. E quando os namorados tinham que se ausentar, para ir à Igreja, ao moinho ou a outro lado, nunca iam os dois sozinhos. Um irmão mais novo, um sobrinho, a mãe... acompanhavam-nos. Depois nem os pais nem os namorados usavam palavras como namorar, namoro. Diziam "Eu falo com fulano(a)".
Os namorados nunca estavam muito juntinhos e nada de toques, beijos outras formas de expressão que envolvessem mais intimidade. É que qualquer atitude menos própria punha em causa a reputação da rapariga. E isso era o pior que lhe podia acontecer.
Numa terra onde havia poucas notícias e com a tendência de falar dos outros, os namoricos eram tema recorrente de conversa e examinava-se à lupa cada casalinho. E expressões como "estão bem um para o outro"; "coitada rapariga, não sabe com que raça se vai meter"; "pobre rapaz, merecia bem melhor"... sintetizavam conversas onde eram dissecados os vários namoricos.
As moças casavam cedo, fosse para se livrarem do controle paterno, fosse pelo receio de ficar para tia. Rapariga com mais de 25 anos, solteira, na boca do povo iria ficar para tia, porque nenhum rapaz lhe pegaria...Muitas delas vinham a ter saudades muito rapidamente do tempo de solteiras. Num contexto social fortemente machista, a vida de esposa era tudo menos fácil...
Claro que apareciam "escândalos", tanto maiores quanto maior era o estrato social da envolvida. E quando aparecia uma gravidez, a pressão familiar e social em prol do imediato casamente exercia-se de modo galopante. Nem sempre a vigilância era suficiente, porque a imaginação se lhe superiorizava. Daí o ditado: "Ninguém nos guarda se nós não nos guardarmos a nós próprios."
Havia raros casos de raparigas muito pobres que tinham tido uma queda. Depois, com um filho nos braços, devoradas pela miséria e pelo abandono, iam dando o corpo a troco de uma fatia de pão. E os abutres apareciam sempre, abrigados por uma maior condescendência em relação ao homem e pelo silêncio que empunham à vítima.
Eu, pecadora, me confesso
Numa Aldeia da Serra, há 50 anos - I
Neste ambiente, as pessoas harmonizavam-se com os ritmos da natureza, aproveitando o que esta ia oferecendo. Na alimentação, então, isto era claro.
E o "caldo de leite" era cozinhado de diversas maneiras como acontece hoje com os vários tipos de sopa. O mais comum era o "caldo de leite com batatas". Pote com água, deitavam-se-lhe as batatas até cozerem, eram depois esmigalhadas com a colher-de-pau e depois misturava-se-lhe o leite. Depois de nova fervura, estava pronto o "petisco" que era servido em malgas, grandes para os grandes; pequenas para os pequenos.
Também havia "caldo de leite com farinha", o caldo de leite com arroz e massa (aos domingos e dias mais importantes), o leite misturado na água e fervido que, tirado para as malgas, era migado com um naco de pau de milho.
Depois surgiam as moiras. Cozidas na sopa que adubavam, eram retiradas e partidas aos bocadinhos, um para cada pessoa, que o comia com um pedacito de broa. Vinha depois uma tigela de sopa.
O salpicão e a chouriça eram guardados para o domingo, dias de festa e grandes trabalhos agrícolas como avessadas e ceifas. Os presuntos? Bem, os mais pobres vendiam-nos. Os menos pobres vendiam um e ficavam com o outro. Os mais abastaditos lá guardavam os dois. Os presuntos eram o que de mais nobre tinham os agricultores para servirem a uma visita importante. O lavrador das terras, trabalho muito prestigiado ao tempo, também era contemplado com um naco de presunto. Acrescente-se que havia na terra alguns homens que tinham uma parelha de vacas amarelas ou de bois e que ganhavam o dia lavrando as terras dos outros.
segunda-feira, 26 de julho de 2010
AOS MEUS AVÓS
Tanto do lado paterno como do materno, eu era o neto mais velho. Por isso, não é de estranhar uma ligação especial aos meus avós.
O avô Agostinho e o avô Justino partiram deste mundo quando eu tinha apenas sete anitos, ambos no mesmo mês de Setembro.
A avó Elisa e a avó Gracinda faleceram já bem perto da casa dos noventa anos.
Tinha uma particular ligação ao meu avô Agostinho, um pessoa excepcional em todos os aspectos. Se na vida há referências - elas existem realmente - meu avô tem sido uma delas. Forte. Bonita. Estimulante.
O avô Agostinho era fumador e caçador (diria melhor, passeador de arma). Fazia da caça acima de tudo um momento de convívio com os seus amigos. Nos últimos anos de vida, em virtude de alguns problemas de saúde, não trabalhava por aí além, mas dirigia os trabalhos com a mestria com que sempre o fez. Por isso, tinha mais tempo para mim que era seu companheirito permanente. A sua afabilidade, o bom humor, o gosto com que me ensinava os ninhos e me falava dos pássaros, a sua postura justa e pacífica marcaram-me. Acima de tudo, num tempo de imensa pobreza, meu avô revelava-se um uma pessoa com imensa sensibilidade para, no contexto do tempo, socorrer quem precisava. Sempre com uma regra: discrição.
Como recordo a quinta-feira, dia de feira em Lamego! Ele ia sempre à feira. Fazia parte dos seus rituais. Montado na sua égua, que praticamente nada mais fazia do que transportá-lo à cidade em cada dia de feira, era esperado por mim com enorme alegria, pois trazia-me sempre um "trigo"e como me sabia a manjar aquela carcaça! Broa de milho havia, mas trigo!... Só quando o avô mo trazia...
A Avó Elisa era diferente. Sem grande sensibilidade para a pobreza, era escrupulosamente zeladora do que era seu, sem nunca se apoderar de algo que a outros pertencesse, nem que fosse uma castanha!
Era uma mulher, como então se dizia, para a vida. Inteligente, de larga visão, persistente, trabalhadora, perspicaz. Nunca andou na escola, entretanto lia maravilhosamente desde que o escrito estivesse em letra de máquina. Por isso, conhecia a Bíblia praticamente de cor, tantas as vezes que a lera.
Meu avô Justino era um coração de ouro, embora um bocado berrelas, facto que a uma criança não caía no goto. Mas avaliando agora, com a distância do tempo, os seus gestos e atitudes, concluo que era um homem fantástico. É que as aparências enganam tanta vez!
Como era uma figura franzina e gostava de conviver - aliás a sua condição de feirante exigia estar perto das pessoas - bastava um copito para ficar mais animado. Bêbado nunca. Dava-se às mil maravilhas com minha avô, mas ela, quando o via assim, passava-se.
Como já referi, a miséria era imensa nesses tempos. Não havia nem reformas nem abonos de família. Os pobres estavam entregues à sua sorte e à caridade alheia. Ainda me recordo ele dizer para minha avó: "Faz aí um pote de boa sopa e à noite vamos levá-la àqueles miseráveis que também são filhos de Deus."
Á noite... Quem ajudava fazia-o sem dar nas vistas, para não expor ainda mais a miséria de quem precisava.
A avô Gracinda era uma maravilha! Nada tinha de seu, porque gostava de partilhar com outros. Muito determinada e corajosa, era muito meiga, carinhosa e divertida.
Por motivos de saúde, veio morar connosco e connosco esteve cerca de 30 anos. Logo que melhorou, assumiu-se como a dona de casa, até porque minha mãe sempre se sentiu melhor nas tarefas do campo.
Recordo com imensa saudade os momentos felizes e de sã e boa disposição que com ela passámos.
Nos dias cálidos de Verão, muitas vezes à noite, após o trabalho, eu, meus dois irmãos e o empregado vestíamos uns calções e íamos até ao tanque da quinta para nos refrescarmos. Minha avó ficava em pulgas: "Ai meu Deus! Ainda se afogam estes malandros!"
Como tínhamos outros terrenos longe da quinta, acontecia que uma vez ou outra íamos para lá trabalhar e minha avó ficava sozinha. Ora aconteceu que numa dessas vezes, também ela atormentada pela canícula, meteu a cabeça no tanque para se refrescar.
O que lhe havia de acontecer! À noite, encontrámo-la muito murcha, com o lenço muito atado à cabeça. Porque estava meu pai, ela não deu explicações. "Dói-me a cabeça, pronto!"
Mas no dia seguinte, estando apenas os netos, lá explicou: " Como vos via ir tanto para o tanque e chegáveis sempre bem-dispostos a casa, pensei: 'Afinal meter-se na água do tanque é capaz de fazer bem!' E meti lá a cabeça. Oh! Trabalhos da minha vida! A minha cabeça parece os "zé-pereiras! tum-tum-tum,tum! Credo! Parece uma trovoada pegada! Não dormi nadinha durante a noite... E o pior é que não se me passa!"
Na ausência de meu pai, este episódio deu pano para mangas durante muito tempo. As gargalhadas que soltámos e a festa que fizemos com a cena!
Muitas vezes, também durante o Verão, meu pai lhe dizia: "Mãe, sente-se à sombra, não ande ao calor. Sente-se e reze o terço!"
- Olha, reza-o tu! Se rezo muito, seca-se-me a boca! - respondia ela com o ar mais convicto do mundo.
Espanto ou talvez não
domingo, 25 de julho de 2010
sábado, 24 de julho de 2010
sexta-feira, 23 de julho de 2010
Quando fiquei fechado na Capela
Nesta quinta-feira, passei pela Juvandes para celebrar Missa pela mãe de uma cunhada minha, já que afazeres paroquiais inadiáveis me haviam impossibilitado de ter estado no funeral.
Pouquíssimas vezes tenho oportunidade de regressar às origens, mas sempre que por lá passo desbobina-se o filme da infância com traços muito vivos. Por que razão a maioria das pessoas conserva com maior acuidade o filme da sua infância do que o do resto da vida?
Recordo aquele povo há perto de 50 anos. Não havia estrada alcatroada nem luz eléctrica. Lembro perfeitamente a chegada do primeiro rádio e do telefone público. As famílias eram numerosas e as pessoas começavam a trabalhar ainda o Sol dormia e regressava a casa já o Sol dormia profundamente. Aplicava-se ali o provérbio: "O trabalho de menino é pouco, mas quem o despreza é louco". Assim, as crianças também trabalhavam.
Só duas pessoas não participavam na Missa dominical que era alternadamente celebrada em Juvandes e Póvoa ao nascer do Sol.
De facto o Sol era o relógio do povo. Raríssimas famílias tinham relógio de sala e de pulso penso que ninguém.
Neste contexto, compreende-se que a devoção do Mês de Maio fosse feita na Capela muito tarde. E eu ia como a maioria dos demais miúdos. Todos à frente, bem juntinhos que o espaço era pouca para tanta gente.
Acontece que uma das vezes fiquei nas escadas que davam acesso ao púlpito por falta de outro lugar. Cansadito, adormeci.
Só me lembro acordar, baralhado pelo silêncio e pelo tremelicar da luzinha da lamparina que adensava ainda mais o meu medo. Portas fechadas à chave por fora. E agora? Reparei entretanto que a porta principal não tinha chave, mas uma forte tranca por dentro. Como chego à tranca? Onde é que tenho forças para a levantar? A necessidade espicaça o engenho. Tanto saltei, com tanta força bati na tranca que consegui que ela caísse.
Dei a corda toda aos sapatos (Sapatos? No Verão eram a sola dos pés!). E nem viva alma na rua que se apresentava escura como breu onde só o ladrar dos cães quebrava o silêncio. Cheio de medo, preocupado com a reacções de meus pais, cheguei a casa deitando os bofes de fora.
- Só agora? - perguntou minha mãe que finalizava a ceia (Sim, naquele tempo chamava-se lá ceia ao jantar).
- Pois, a oração demorou muito...
E ficou por aí.
Comi a sopa mais para para enganar a ansiedade do que para matar a fome. Mil perguntas me assaltavam aflitivamente: "Deixei a porta da Capela aberta. Se a roubam, que vai ser de mim? E se os meus colegas descobrem, amanhã na escola gozam-me até eu arranjar um buraquinho para me enterrar..."
Felizmente, e contra as minhas expectativas, nenhum comentário se ouviu. Penso que o sacristão, quando de madrugada foi tocar às "Avé-Marias", vendo a porta aberta, se convenceu que foi ele que se esqueceu de a ter fechado na noite anterior. Talvez por isso, se tenha calado.
Sorte a minha.
quinta-feira, 22 de julho de 2010
Igreja alerta para «desigualdades gritantes» na sociedade portuguesa
"... é preciso ultrapassar o capitalismo neoliberal e encontrar estruturas concretas capazes de perfurar o futuro."
O presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social apelou à comunicação social para fazer uma «aposta obsessiva na justiça social.»
Leia e ouça aqui.
D. Carlos Azevedo defendeu esta Quinta-feira que eventuais abusos na utilização do Rendimento Social de Inserção não justificam cortes nesta prestação social, pois é uma “ajuda fundamental” para quem é particularmente afectado pela pobreza, mas deve servir “para que as pessoas possam sair dessa situação de dependência”.
O Bispo auxiliar de Lisboa lamentou que haja mais atenção a eventuais transgressões nestas matérias do que a gestores que ganhavam "ordenados fabulosos" e cometeram actos lesivos sem qualquer castigo.
Veja aqui mais sobre as declarações do presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social.
Nomeados por seis anos
Transcrevo para aqui a introdução:
"Tendo em conta o bem da Igreja, nesta Diocese de Viseu e agradecendo toda a disponibilidade e comunhão eclesial de todos os agentes da pastoral, de forma especial dos Sacerdotes do nosso Presbitério, havemos por bem fazer as seguintes nomeações para os próximos 5, 6 anos para os párocos..."
Deixo o registo.
quarta-feira, 21 de julho de 2010
terça-feira, 20 de julho de 2010
As mudanças de Párocos
O que sei é pela comunicação social. Não estou por dentro do assunto nem nada tenho que me meter. Contudo esta situação sugere-me algumas reflexões breves de ordem eclesial e pastoral.
1. Nenhum padre se ordena para determinada paróquia, mas para o serviço da Igreja.
2. Todo o padre, no acto da sua ordenação, promete obediência ao seu Bispo.
3. Em muitas paróquias portugueses vive-se um certo "quintalismo". Só que a Paróquia é uma célula viva do corpo que é a Igreja Local (Diocese) a que preside o Bispo.
4. O Bispo tem muitas vezes motivos para a mudança de um pároco que não pode dar a conhecer por caridade e até por confidencialidade.
5. Porque responsável por toda a Igreja Local, o Bispo tem uma visão abrangente das necessidades pastorais que os paroquianos certamente não possuem.
6. Nenhum Bispo, penso eu, nas actuais circunstâncias, age por mania ou despotismo. Cada situação é pormonorizadamente analisada, conversada, rezada.O Bispo houve muita gente, a começar, naturalmente, pelos seus conselheiros mais próximos.
7. Claro que os leigos têm o direito de manifestar o que pensam. São Igreja. Só que muitas vezes perdem a razão pelo modo como se manifestam. Quando há o insulto suez, quando a manifestação cheira a sindicalismo, quando há violência de palavras e actos, os paroquianos perdem toda a razão.
8. Dá a impressão que o "deus" de muitos é aquele padre. Não são cristãos por causa de Cristo, há até quem diga que "vou à Missa por causa daquele sacerdote". E isto é o pior testemunho da passagem de um pároco por uma paróquia, uma vez que, em vez de ajudar as pessoas a caminhar para Cristo, as fixou nele mesmo...
É fantasticamente cristão quando as pessoas sentem saudades de quem parte, até vertem uma lágrima, manifestam sentimentos de amizade e gratidão, mas sabem abrir portas de esperança a quem parte e a quem chega. "Seja bem-vindo" quem vem em nome do Senhor."
9. Alguns párocos também não ajudam nada. Agarrados ao lugar, tem palavras e atitudes que espicaçam as paixões de momento. É preciso saber entrar, mas é igualmente precisa a disponibilidade para partir. Em Igreja, ninguém se anuncia a si mesmo, todos anunciamos Cristo.
10. Ao Bispo cabe naturalmente saber ouvir, estar atento ao modo de proceder, ser capaz de vir até às comunidades, auscultar seus anseios, sentimentos e razões, explicar-se. As decisões tomadas só nas paredes do gabinete, por mais pensadas que sejam, não são o caminho actual. Também aqui é preciso tornar a Igreja "Casa de Comunhão". Os leigos também são Igreja.
11. Claro que uma decisão, uma vez tomada, é para manter, mesmo que isso acarrete para quem a toma desertos de sofrimento. Recuar por causa da cruz é indigno de cristãos. Há assim que decidir bem, ver aquilo que "o Espírito diz às Igrejas".
12. É minha opinião que nenhum sacerdote se deveria fixar na mesma paróquia ou serviço diocesano por tempos indeterminados. Pode haver razões válidas para um prolongar do exercício sacerdotal num determinado serviço, mas eternizá-lo não me parece sadio. O povo tem razão quando afirma: "Quem se muda, Deus ajuda."
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Dr Passos Coelho, essa não entendi!
E as primeiras atitudes que tomou agradaram a muitos, como aliás confirmaram as sondagens. Mormente o sentido de Estado quando, ultrapassando questões partidárias, foi capaz de dar uma ajudinha ao governo em matérias que têm a ver com todos nós como é o caso da nossa asfixiante dívida pública e a necessidade de credibilidade juntos dos mercados financeiros internacionais.
Mas vir agora com a questão da revisão da Constituição, essa como muita gente, não entendi.
Já conseguiu pôr a falar contra si alguns barões do seu partido, sempre prontos para umas facadinhas no líder. Já conseguiu dar trunfos a Sócrates, sempre perito em desviar as atenções dos portugueses para longe da sua governação mais que miserável.
Então, Dr Passos Coelho, alguém acredita que os graves momentos de crise pelos quais Portugal passa, têm como origem a Constituição?
Então, Dr Passos Coelho, não esperariam os portugueses ideias suas e do seu partido para combater o desemprego, aumentar a produtividade nacional, incentivar as empresas, combater a criminalidade, pôr a Justiça a funcionar, estancar a desertificação do interior??? Mas destes e de outros assuntos vitais, quem o ouve? Que traz de novo? Que esperança oferece?
Vir com a revisão da Constituição a estas horas, penso que ninguém entende. Não está aí o mal de Portugal.
Interrogo-me seriamente sobre as razões que levaram o Presidente do PSD a despoletar nesta altura o assunto da revisão constitucional... Confesso que não encontro uma resposta que me satisfaça. Vou-me perguntando:
- Será para trazer para a comunicação social a sua pessoa e o seu partido?
- Será para disfarçar a falta de ideias e de projectos que não tem para o país?
- Será uma ratoeira para atrapalhar a candidatura de Cavaco? Embora oficialmente Passos Coelho tenha declarado todo o apoio a Cavaco caso este se candidate, sabe-se que politicamente não vai lá muito com Cavaco à bola...
- Será para tomar a iniciativa política, obrigando o PS e Sócrates a andar a reboque?
- Será uma necessidade de afirmação interna, dizendo aos barões do seu partido que quem tem as rédeas é ele?
Perguntas de um simples cidadão, bem longe dos intrincados meandros políticos e partidários.
O governo está um caos, com figuras importantes do PS a criticar já o seu funcionamento. Ministros que dizem e se desdizem, ministros que dizem uma coisa e outros que dizem outra, ausência de projectos mobilizadores, a ideia de que o governo não vive na mesma terra dos portugueses, a insistência em obras faraónicas que mais arrastam o país para o caos, enfim, é descredibilidade instaurada.
A oposição é o que é. Os partidos de esquerda, como cassete, repetem sempre o mesmo discurso. Perante as enormes dificuldades do país, as mesmas ideias estereotipadas de sempre, sem capacidade de aterrar, de buscar novas respostas, se procurar consensos. Para estes o problema está nos muitos ricos por isto ou por aquilo. O PC ou o Bloco já questionaram o modo como está a ser gerido o "ordenado mínimo"? Só este caso...
O CDS vem agora com um governo de coligação a três. Por que razão agora? Ainda nem fez um ano que o governo entrou em funções... Por que razão não lançou esta ideia na altura própria?
O PSD, para espanto dos eleitores, sai-se com a revisão da Constituição. Penso que é uma ideia completamente despropositada no actual contexto nacional.
Depois o que é que acontece? Os portugueses cada vez menos confiantes nos políticos e de costas voltadas para eles... E quando levarmos esta linha de proceder até ao limite, veremos o que vai ser.
Fica-se com a ideia que neste momento de crise grave, o povo está sozinho. Os nossos políticos andam entretidos com Faits divers ...
Mourinho vai processar bruxo queniano
A revelação foi feita hoje, segunda-feira, à Agência Lusa pelo assessor de José Mourinho, Eládio Paramés, um dia depois de a agência noticiosa francesa AFP ter divulgado as declarações do bruxo, que depois foram reproduzidas por vários jornais, inclusive portugueses.
"Já accionámos todos os meios legais ao nosso alcance para levar a tribunal os autores e os mensageiros desta estúpida notícia", disse Eládio Paramés, adiantando: "Seguramente, o bruxo que proferiu tais declarações, pondo em causa a dignidade profissional e a fé católica de Mourinho, não adivinhou o caro que isso lhe vai custar".
Mzee Makthub afirmou que, durante as suas férias no Quénia, no início do mês, o novo treinador do Real Madrid o teria contactado e a mais três bruxos para que estes o ajudassem "a triunfar no seu novo trabalho".
"É das notícias mais estúpidas que tenho lido nos últimos anos a propósito de José Mourinho", referiu Eládio Paramés, sublinhando que o treinador português "é profundamente católico e para conquistar vitórias acredita essencialmente no seu trabalho".
O assessor de Mourinho considerou ainda "lamentável" que a informação tenha sido veiculada na comunicação social "sem uma única tentativa de confirmação".
In Jornal de Notícias
Nota da redacção
José Mourinho "é profundamente católico".
Confesso que desconhecia as opções religiosas do treinador do Real Madrid.
Naturalmente fico contente por ser católico. E um católico de imenso sucesso desportivo.
Até que ponto a sua fé o tem ajudado a ter sucesso?
Certamente só ele poderá responder.
Parece-me correcto que se demarque publicamente da bruxaria, exactamente evocando a sua condição de católico. É que bruxaria e fé católica repelem-se, por mais que a ignorância ou o oportunismo os juntem por vezes.
"Não saiba o tua esquerda o que faz a tua direita", aconselha Jesus. E neste âmbito, não sabemos o impacto que a sua fé tem tido na caridade e solidariedade. Mas como "profundamente católico", Mourinho sabe que sem caridade nada somos. Ele que pode tanto, não deixará de apoiar os que precisam tanto!
Por fim, cai então em Mourinho um certo preconceito em relação aos católicos. No consciente e subconciente de muita gente, associa-se sucesso ao ateísmo ou certas confissões religiosas. Católico tem alguma ligação a insosso. Ora está visto que não é verdade.
domingo, 18 de julho de 2010
sábado, 17 de julho de 2010
DOMINGO OU FERIADO!?
sexta-feira, 16 de julho de 2010
Sabor agridoce na alma
Depois entrou no Seminário Maior do Porto, terminando este ano a licenciatura em Teologia com alta classificação.
Já recebeu o Leiturado e fará o seu estágio pastoral no próximo ano lectivo, após o qual será ordenado sacerdote, se Deus, a Igreja e ele assim quiserem.
Rapaz humilde, inteligente, organizado, trabalhador, realizou uma bela caminhada vocacional e mostra-se hoje feliz pelo caminho que Deus lhe indicou e que ele acolheu com generosidade.
Dados os seus compromissos com o Seminário e a pastoral, raramente tem aparecido nos últimos anos. Mas de longe em longe lá vem para uma visita-relâmpago. Deixa sempre a mesma impressão: felicidade pelo caminho que está a percorrer.
Acompanhei-o no despertar vocacional e ofereci a minha simples e modestíssima ajuda nessa aurora da caminhada. Ainda recordo aquilo que lhe dizia repetidamente e a que ele reagia: "Lá vem o refrão". Pois o refrão era este: 'Cristo, sempre Cristo, totalmente Cristo. Agarra-te a Cristo
que nunca desilude e sempre salva'.
Hoje ao ajudar a D. Isabel a arrumar aquele quarto onde ele ficou quando cá esteve, preparando-o para outro que precisa de o utilizar, senti na alma um sabor agridoce. A saudade do amigo e a felicidade pela sua felicidade.
Os amigos são assim, partem ficando e ficam partindo.
Aquele abraço, Zé! Que Cristo seja o TUDO da tua vida. Sempre!
quinta-feira, 15 de julho de 2010
E quando o homem é lobo do homem?
Ficamos muito chocados - e ainda bem que ficamos - com a escravatura quando se estuda História. Contudo, apesar da abolição da escravatura, ela continua em nossos dias sob as mais diversas formas.
- Não faltam desgraçadamente relatos de portugueses aliciados para trabalhar no estrangeiro, sempre com a promessa de bons salários e boas condições de alojamento e de alimentação. Depois o falso angariador, criminosamente, retira os documentos de identificação e obriga as pessoas, mediante coação e com recurso a ofensas à integridade física, a trabalharem de sol a sol sem que depois lhes entregue qualquer retribuição pelo seu trabalho, impedindo-as, ainda, de regressarem a Portugal.
- Não faltam igualmente relatos de mulheres, quase sempre oriundas de países mais pobres, aliciadas com propostas de trabalho e de normais regalias sociais e que depois, nas mãos desses criminosos angariadores, foram forçadas a entrar no mundo da prostituição. Mais, muitas destas pessoas, para a alimentar o sonho de um futuro mais digno, entregaram aos aliciadores o que tinham e o que não tinham. E o sonho virou pesadelo: escravatura sexual.
- E aqueles que são forçados a entrar como correios da droga, tráfego de armas e outros?
- E aqueles que, levados pela necessidade de ganhar a vida, vão trabalhar para países onde lhes são negados direitos fundamentais como celebrar a sua fé? Que o digam os que têm que ir trabalhar para a Arábia Saudita e outros países semelhantes...
- Que dizer ainda dos empregadores que exploram ilegalmente a mão-de-obra estrangeira? Servindo-se da situação precária desses imigrados, pagam-lhes - quando pagam - ordenados de miséria, privam-nos das normais regalias sociais e forçam-nos a trabalhar para além do permitido...
Realmente, o homem continua a ser o lobo do homem. A fome do dinheiro, de enriquecer a qualquer custo, não liga a meios. Nada carboniza tanto o coração humano como o dinheiro quando alguém o transforma em deus.
Penso que a justiça deveria ser duríssima para com estes "bandalhos" que exploram a miséria e o sonho dos pobres.
Penso que temos uma opinião pública que faz um escabeche medonho quando um cão é abandonado, mas passa indiferente a situações reais e actuais de escravatura do seu semelhante.
Se o homem não defende o homem, que autoridade lhe resta para defender a restante criação???
quarta-feira, 14 de julho de 2010
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Impressões da Festa
Durante a novena- sem referir os tempos normais - houve três espaços especiais:
- Um momento de forte intimidade com Jesus, estando exposto o Santíssimo sacramento;
-Testemunhos vocacionais na Tertúlia sobre as Vocações;
- Um espaço musical, em ambiente informal, pelo P.e Marcos Alvim.
Se o P. Marcos a todos agradou e encantou, também ouvi muita gente marcada pelos vários testemunhos vocacionais. E ainda ontem alguém me dizia: "Tudo foi interessante, mas aquele encontro, sereno e íntimo, com Jesus exposto foi demais. Marcou-me profundamente."
2. Marcou-me a fé simples e profunda de tanta e tanta gente. A postura, a delicadeza dos gestos, a concentração, a atenção à palavra comunicada, a participação...
Ainda ontem, a quantidade de gente que se abeirou do Sacramento da Confissão! Enquanto alguns momentos habituais da celebração do Sacramento da Confissão nas paróquias vêm tendo cada vez menos penitentes, nos santuários, grandes ou pequenos, a procura aumenta. Por que razão!?
3. A beleza do serviço e da interajuda marcaram estes dias. Na Serra não há nada e só sabemos estimar a importância de alguma coisa quando ela nos falta. Daqui que as pessoas se sintam mais solidárias, mais próximas, mais disponíveis, mais atentas, mais abertas ao outro, mais acolhedoras, mais generosas, mais alegres. Abandonar o ram-ram diário e mudar para um espaço diferente, ajuda as pessoas a serem diferentes. Para melhor.
4. Por mais que se tenha insistido, a gente mais nova (casais novos, jovens e crianças) continua a falhar demais. E isto preocupa-me. Se Santa Helena só a compreende quem a sente, que amor sentirão amanhã estes pessoas se não se habituam a sentir Santa Helena???
5. Não percebo isto: há quem encha a boca com Santa Helena, mas da Serra só conheça o parque das merendas, o calhau e a feira( para não falar de outros usos indevidos daquele espaço...). Gentes que não compreendem que o coração da Serra é o santuário. Serra sem Santa Helena é como corpo sem coração. Esta alergia moderna aos templos por parte de tanta gente é estranha! Doentia.
6. Chocam-me sempre ambientes de intriga, incompreensão, dor-de-cotovelo, má língua, menos escrúpulo por aquilo que a todos pertence, manias e convencimentos. Estas pequenas guerrazinhas que, como traça, vão corroendo o tecido social e eclesial, embora compreensíveis à luz da fragilidade humana, não deixam de ser um indicativo de que a Palavra entra a cem e sai a duzentos!...
sábado, 10 de julho de 2010
11 de Julho - Festa de Santa Helena da Cruz
11.30h - Eucaristia, no altar campal, presidida pelo senhor Bispo. Segue-se a procissão.
17h - Bênção dos Campos e Procissão do Adeus.
Durante a manhã, haverá na Capela, serviço de Confissões.
Neste dia, encerar-se-ao as Jornadas de Promoção Vocacional que, ao longo do ano pastoral, tiveram lugar nas paróquias do arciprestado. Por isso, estará um representação do Seminário Maior e do Seminário Menor.
Venha a Santa Helena! Será bem-vindo quem vier por bem.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
Centro Paroquial SANTA HELENA DA CRUZ
Só entende quem vive...
Retenho uma frase de uma pessoa que penso que resume o sentir de todos os outros meus interlocutores: "Santa Helena é uma emoção. Nem sei explicar tudo o que sinto. É mesmo caso para dizer 'só entende Santa Helena quem a vive."
Aquele lugar, aquele panorama imenso, aquele silêncio que fala, aquela proximidade entre as pessoas que ali estacionam ou ali vão à novena... Tudo é algo de fantástico!
Recordo ainda o email que me enviou uma pessoa impossibilitada pela doença de marcar presença na novena: "Faz-me falta a magia de Santa Helena."
Daquele lugar, das vivências humano-cristãs que ele proporciona, diz-se sempre muito pouco por palavras. O que se sente extravasa a limitação vocabular.
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Amigo visitante, que pensa da Igreja?
Sim, a Igreja não é o templo de pedras onde os cristãos se reúnem.
Igreja são todos os que acreditam em Jesus Cristo e n'Ele foram baptizados.
Aquele edifício chama-se Igreja porque é dentro dele que se reúne a verdadeira Igreja para louvar e acolher o seu Senhor.
Igreja é a nossa família.
Igreja abriu-nos as portas e acolheu-nos pelo Baptismo.
Igreja está ao serviço de Cristo que a mantém e sustenta.
Igreja é um povo que caminha para a Casa do Pai.
Igreja é o povo de Deus em comunhão.
Igreja é santa e pecadora. Santa em Cristo que a sustém e conduz; pecadora nos humanos que são seu membros.
Igreja é o Papa, os Bispos, os religiosos e os leigos.
Em Igreja há uma igualdade fundamental e uma diferença funcional. Todos somos filhos muito queridos de Deus, salvos em Cristo. Cada um exerce um serviço diferente para o bem comum.
Igreja não tem motor e carroçaria. Porque todos somos chamados a ser motores.
Os leigos têm um papel fundamental e imprescindível em Igreja. É próprio dos leigos a secularidade, isto é, viver no meio do mundo e aí ser voz e vez de Cristo. Na família, na política, no associativismo, no desporto, no café, no trabalho... os leigos são aí o coração, as mãos e a boca de Cristo...
É próprio dos leigos o exercício de serviços vários dentro da comunidade (desde o arranjo, limpeza e conservação dos templos, passando pelos vários movimentos apostólicos e serviços litúrgicos - canto, leitores, acólitos, etc; e terminando nas actividades apostólicas e sócio-caritativas (catequese, formação, associações e irmandades, obras, apoio na caridade aos que precisam...).
A Igreja precisa de quem a ame e sirva. Sempre que denegrimos a Igreja estamos a denegrirmo-nos a nós.
A Igreja não está ao serviços de caprichos e de manias. Está ao serviço de Cristo e da dignidade da pessoa humana.
A Igreja deve saber estar de joelhos diante de Deus para poder estar de pé diante das pessoas e das coisas.
O caminho da Igreja é o mundo. Por isso é sempre urgente levar a Igreja para fora das igrejas.
A Igreja é para todos, mas não é para tudo.
Veja também aqui a TERTÚLIA sobre as vocações que teve lugar em Santa Helena.
terça-feira, 6 de julho de 2010
Wesley Sneijder, capitão da selecção da Holanda, converteu-se ao Catolicismo
Pois há um mês Sneijder foi baptizado na cidade de Milão, exactamente antes de partir para a África do Sul onde a sua Holanda disputava o Campeonato do Mundo.
Sabem quem foi fundamental para o ajudar a caminhar para a fé? Exactamente. A sua noiva, Yolanthe Cabau van Kasbergen, actriz, apresentadora e modelo holandesa.
As mulheres têm uma força fantástica! Quantos casos eu conheço de namoradas e esposas que ajudaram os seus companheiros a caminhar rumo à Fé!!!
É pena que hoje muitas metam essa sua força na gaveta e deixam de pôr a render esse dom que Deus lhe concedeu.
Mulheres, Deus e o mundo precisam de vós. Cultivando em altíssimo grau a vossa feminilidade, sereis sempre a força e a esperança do mundo.
Veja aqui toda a informação.
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Conversas à refeição
domingo, 4 de julho de 2010
Será que a "malta nova" quer ficar sem dedos, sem pele e sem olhos?
A caminho da Igreja onde iam decorrer as exéquias fúnebres da mãe de um colega e amigo sacerdote, um senhor desta comunidade dizia-me bastante chocado:
- O senhor já viu? A Profissão de Fé foi na quinta-feira do Corpo de Deus. No domingo seguinte, quantos pais e filhos viu na Eucaristia? Bem, eu nem culpo os putos, porque os verdadeiros culpados são os pais que parece só ligarem ao espectáculo... mas quando se trata de assumir a fé, veja o que mostram..."
Pois foi esse o desafio que hoje lancei às pessoas na novena em Santa Helena e nas outros Eucaristia a que presidi.
- Ajudem a gente nova! Motivem, incentivem, mostrem como é belo celebrar e partilhar a fé!
E acrescentei, a brincar:
- Já viram? os mais novos estão de férias. Qualquer dia os vossos filhos, netos e afilhados ficam num estado miserável! Ficam sem pele, de tanto a roçarem nas águas da piscina; ficam sem dedos, de tanta mensagem escreverem; ficam sem olhos de tanto os gastarem no ecrã do computador... Se é que não vos aparece algum deles com a cabeça enfiada no plasma!...
E depois a sugestão:
. Amigos adultos, sejam pais, avós ou padrinhos, convidem com alegria e persistência os mais novos a subirem a Serra para participar com a comunidade. Arejam, ginasticulam e, sobretudo, oxigenam a alma!
Um dos factos que ultimamente me tem merecido alguma atenção é o Facebook onde recentemente me inscrevi. Confesso a minha decepção. Ali aparece a superficialidade total da sociedade actual. Para já não falar na alienação de jogos como "a quinta - farmville". Há gente que se levanta a qualquer hora da madrugada para dar de comer ao cãozinho virtual, regar a horta virtual, etc... Como é possível??? A que ponto chegam a superficialidade e a alienação virtual!!! Ah! E não pensem que são só os novos a andar pela tal quinta virtual... Há gente que já tem idade para ter juízo que navega por lá...
Com tanta terra abandonada por aí! Se gostam, então caiam na real e façam algo de útil!
Mas não é só na "quinta" que vem à tona a superficialidade. Os comentários, a linguagem utilizada, a ausência de ideias... Nem brincadeira chega a ser. Talvez o ridículo...