domingo, 9 de novembro de 2008

Semear com generoridade para colher com abundância

A mãe falava-lhe com imenso carinho da vocação sacerdotal. A catequista abordava a vocação sacerdotal com tal enlevo e encanto que lhe fazia despertar no coração a magia de ser padre.
Criança pouco expansiva, ia guardando para si este profundo anseio. Só que uma vez, a professora pediu-lhes para fazerem uma composição sobre o tema: "Quando for crescido, quero ser..."
Pronto, partilhou com o papel tudo o que sentia, o seu desejo secreto. Ao regressar a casa, caiu em si e arrependeu-se do que escreveu. Quis voltar atrás, mas a mestra já tinha desandado. Naquela cabeça de criança, a angústia cresceu. "E amanhã quando os outros souberem? Vão rir-se de mim! E a senhora professora vai gozar comigo..."
Mal dormiu. Levantou-se nervoso, comeu algo à pressa e foi para a escola. Parecia-lhe até que as pedras do caminho troçavam dele.
A professora apresentou as redacções e fez comentários em ordem a incentivar e a ultrapassar problemas de escrita. Ele foi o último. E quando se levantou para ir buscar a composição, olhou a medo para a mestra e descobriu uma sorriso feliz de orelha a orelha. "Um beijinho. Foste fantástico! Gostei demais da tua sinceridade, espontaneidade. Fico feliz pela tua decisão." Sentiu uma enorme paz. Olhou para os coleguitas e todos abanavam a cabeça em sinal de acolhimento.
Acabou o medo. Chegou a casa disse aos pais que queria ir para o seminário. Se o pai encolheu os ombros, a mãe abraçou-o e fez descer sobre a sua face um quente beijo de amor.
O avô, quando soube, não cessava de lhe moer a cabeça: "Ouviste? Vai para padre! Vida boa, ganham bem, não têm mulher nem filhos para aturar... Não sejas burro! E olha que pequenas são aos montes!"
Se nas primeiras vezes até se riu, depois as palavras do avô suavam-lhe a infâmia, a baixeza, a grosseria. E torcia a cara.
Lá foi para o seminário. Tanta dificuldade tiveram os pais para lhe arranjar o enxoval e pagar a 1ª anuidade! Para os pobres, tudo é difícil.
Só que, dois dias após ter entrado, fugiu do seminário e do telefone público disse aos pais para o irem buscar, chorando baba e ranho. Não aguentava as saudades.
- Só nos faltava esta! - comentava o pai. -Tanto dinheiro gasto e aquele malandro quer voltar!

Voltou. Seguiu os estudos. Fez o 12º ano e arranjou um empreguito. Mais tarde ingressa na faculdade. Esteve sempre ligado à Igreja e à comunidade. Foi catequista, membro do grupo de jovens, mordomo, pertenceu a vários movimentos eclesiais...
Na faculdade, amadurece a ideia, porque sente que Deus o chama. A seu tempo, inscreveu-se no seminário, estando agora em pré-seminário. À espera de acabar o curso na faculdade para ingressar de vez no seminário. Anda feliz, o rapaz!

Semear generosamente, compete-nos a todos. Colher, só a Deus. E Deus entra, no tempo certo. Só Ele tem o relógio da verdade e nunca faz entradas fora de tempo no jogo da vida.

1 comentário:

  1. Andei uma semana inteira com essa ideia na cabeça " colher, só a Deus compete"... Aos tombos e a braços (ainda) com a minha exigência, cheguei a uma conclusão ou desejo: Deus permita que eu nunca colha nada do que eventualmente semear! Por poucos, mas fortes motivos...

    Beijinho sereno***

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.