quarta-feira, 29 de julho de 2020

O padre não pode tudo em todo o lado

Arquidiocese se alegra com a ordenação de sete sacerdotes | Arquidiocese de  Olinda e Recife
Até hoje ainda não conseguimos encontrar uma maneira de superar o “clerocentrismo” na vida das nossas paróquias, onde o padre é a referência de tudo. Uma espécie de funil que arrisca estrangular não só o arejamento missionário de uma comunidade paroquial, mas também a vivência do ministério, que muitas vezes se encontra a realizar funções que não lhe são próprias e para as quais não está devidamente preparado. Também o envolvimento ativo dos leigos nestes âmbitos permanece substancialmente subsidiário – no máximo aligeira as tarefas a desempenhar, sem, no entanto, conseguir inverter o estado de necessária omnipresença do padre.
Para este, o pêndulo entre o insano sentido de omnipotência e uma depressão provinda do desorientamento parece ser, muitas vezes, a consequência inevitável. Em detrimento de todos. Preencher a agenda de compromissos é só o outro lado da moeda de uma relação patológica com o tempo e com a vida quotidiana.
Mas mesmo se olharmos para os aspetos mais próprios do exercício do ministério, damo-nos conta de um excesso que atravessa de alto a baixo a vida do padre: liturgia, pregação, catequese, oração, caridade, e assim por diante… Dando a impressão que o padre pode fazer tudo, em prejuízo da qualidade e da preparação com que as faz, em virtude da sua ordenação. Hoje, também sem tempo de aprendizagem das práticas de vida de uma comunidade paroquial. Isto quer quando se é catapultado, no espaço de poucos anos, do seminário para se ser pároco; quer quando se multiplicam as paróquias de que um padre é responsável.
Passar tempo a aprender da comunidade cristã a que se é destinado seria precisamente aquilo que ajudaria a padre a compreender o traço próprio da sua vocação genérica (tudo, em todo o lado, sempre). Um exercício de discernimento na configuração pessoal do ministério que o padre deve à vivência crente das pessoas da sua comunidade paroquial.
Uma aprendizagem da fé quotidiana que o conduz a compreender que não pode tudo do próprio mistério; que alguns aspetos não são a sua área; quem noutros não é capaz; até poder delimitar um território do ministério em relação ao qual não só está sacramentalmente habilitado, como também é pastoralmente e humanamente competente.
Um território precioso não só para a sua paróquia, mas também para toda uma Igreja local. A salvaguardar com cuidado e a ter em devida atenção quando um bispo provê a uma mudança de paróquia. A urgência de tapar os buracos de um clero diocesano em diminuição constante é geralmente fatal em relação a esta boa limitação das possibilidades de competência do ministério ordenado. Nem todos os padres estão bem em todas as paróquias; e, talvez, fosse melhor não ter padre do que deitar mão a um destino paroquial que não considere a fecunda limitação do ministério aprendida na comunidade que se deixa.
Um padre não pode fazer tudo aquilo que diz respeito ao ministério (melhor, talvez, uma certa ideia de ministério) numa paróquia e em toda uma Igreja local. Quando, ao contrário, se pede sub-repticiamente isto, então dever-se-ia opor resistência: quer o padre, quer a comunidade paroquial – induzindo um sério discernimento partilhado no interior da Igreja local a que se pertence. 
Marcello Neri, aqui

domingo, 26 de julho de 2020

“Síndrome de Noé”

Síndrome de Noé”
É o nome que os psiquiatras lhe dão.
É a pandemia do século XXI.
Desconhece latitudes.
Dormem com eles na cama,
beijam-nos na boca e comem do mesmo prato...
A imagem pode conter: uma ou mais pessoas
O amor incondicional aos animais domésticos, quase exclusivamente dirigido aos cães e aos gatos, está a alterar os comportamentos de uma forma, que já levou o Papa Francisco a censurá-los com palavras ásperas...
As multinacionais do “bem estar animal”, sejam as que produzem as rações ou as que vendem os champôs e a parafernália toda, esfregam as mãos de contentes, com o tilintar das caixas registadoras.
Perdeu-se completamente a noção das prioridades.
Um velho caído no chão deixa-os completamente indiferentes...
Um gato que subiu a uma árvore, mobiliza uma multidão para o salvar...
Num bairro de barracas onde sobrevivem crianças, com esgotos a céu aberto, voltam a cara para lado…
Um canil com más condições, provoca manifestações de protesto com ameaças e agressões…
Um lar de idosos onde os velhos morrem de CoVid, é notícia de rodapé nas TVs e breves comentários nas redes sociais…
Um cão perigoso que matou uma criança, desperta no Facebook campanhas lancinantes e histéricas de solidariedade para o salvar do abate...
Em cada aldeia, vila ou cidade “nascem” associações de proteção de gatinhos e cãezinhos, na mesma proporção em que fecham lares de idosos, por não haver interessados para tratar dos avós...
Repetem até à exaustão as frases mais estúpidas:
“quanto mais conheço os homens mais gosto dos animais”...
“choro a morte do meu cão como não chorei a da minha família”
“Os velhos podem ir pedir ajuda à Segurança Social, os cães não…”
Ainda ontem as tvs mostraram os protestos e a recolha de “bens” em todo o país..
As multinacionais da alimentação animal, “criam” e financiam partidos e associações, promovem campanhas, fazem publicidades milionárias, obtêm milhões de lucro, aproveitando-se da ingenuidade, da candura, da boa fé das pessoas e desta cultura animalista doentia...
O Facebook está inundado de “pedidos de ajuda” para cães e gatos, canis e gatis, que enchem os cofres das multinacionais, aproveitando-se da tontice destes incautos “amiguinhos dos animais”, mas muito distraídos em ajudar os humanos que lhes deram vida...
Grupos violentos com nomes como “Ira”, propõem-se invadir propriedades e atacar pessoas, se os canis dos animais - que já não podem ser abatidos pela lei estúpida aprovada na AR em 2016 - não tiverem ar condicionado e paredes almofadadas…
Síndrome de Noé, lhe chamam...
Autor: Varela de Matosaqui
Notas da nossa parte:  
1. Gosto de animais e sempre gostei. Não tenho nenhum, mas os cães dos meus amigos gostam de mim. Os animais têm como que um sexto sentido que os levam a intuir quem realmente os estima...
2. Alinho pela maneira de estar, de pensar e de sentir de São Francisco de Assis: ele amava as pessoas e gostava das demais criaturas.
3. Concordo em absoluto com o Papa Francisco:  “Quantas vezes vemos gente que cuida de gatos e de cachorros e depois deixa sem ajuda o vizinho ou vizinha que passa fome?”
“Não se pode entender a compaixão com os animais, enquanto se fica indiferente perante o sofrimento do próximo”.
4. Não alinho é nesta "cultura animalista doentia" que venera animais, mas é insensível ao sofrimento humano... Se ao menos pugnasse tanto pela dignidade humana como pugna pelo bem-estar animal...

sexta-feira, 24 de julho de 2020

PELOURINHO DE TAROUCA VAI VOLTAR AO CENTRO HISTÓRICO

Tarouca, 23 de julho de 2020.
“Hoje é um dia histórico para a Cidade de Tarouca. Cumpre-me agradecer publicamente à Família Lobo, em nome de todo o executivo, pela compreensão e inteira disponibilidade demonstrada.” – afirmou o Presidente da Câmara Municipal de Tarouca, Valdemar Pereira.
O Pelourinho de Tarouca foi hoje retirado do local onde se encontrava e já está nas instalações da autarquia, apresentando bom estado de conservação.
Depois de várias diligências por parte do Presidente da Câmara junto da Família Lobo foi possível chegar a um acordo, que teve como objetivo devolver o Pelourinho de Tarouca ao domínio público, sem em algum momento colocar em causa a estrutura da casa onde se encontrava.
Este elemento histórico é carregado de enorme simbolismo e importância para todos os tarouquenses, e durante muitos anos tentou-se a sua deslocalização, sendo grande o desejo de ver este monumento no seu local originário.
O pelourinho é um símbolo do poder local, este provavelmente erguido na vigência do 1º Conde de Tarouca, D. João de Menezes, que foi Mordomo-Mor de El Rei D. Manuel I no século XV.
Brevemente iniciarão as obras para a reposição do Pelourinho de Tarouca na sua praça, hoje Praça 25 de Abril, no Centro Histórico da Cidade de Tarouca.
Cátia Rocha

terça-feira, 21 de julho de 2020

Confesso que essa falha me perseguiu pela tarde inteira

Encontrava-me num dos guichets do Hospital para tratar de assuntos burocráticos. Reparei que a outro guichet ao lado acedeu um homem apoiado em duas bengalas. O esforço do senhor era patente.

A senhora que atendia nesse guichet disse-lhe para ir tirar a senha. Apercebi-me da aflição do senhor. Além da dificuldade em mover-se, acrescia a dificuldade em ultrapassar a burocracia. Parecia não saber como proceder.

Eis que a senhora se levantou e apercebeu-se melhor das limitações do cliente. Então disse-lhe que se deixasse estar, pois ela iria tratar da senha de acesso. No rosto do homem a aflição cedeu lugar ao contentamento.

Naquele momento, admirei o serviço daquela funcionária.

Só que me comecei a sentir mal comigo mesmo. "Então eu ali ao lado e nada fiz?”

 Tinha-me apercebido da situação antes da funcionária. E do íntimo de mim, vinha contundente e interpelante a pergunta: “Por que motivo não foste buscar a senha para aquele homem? Falhaste.”

Não o fiz por mal. Estava tão imerso nas minhas preocupações que não tomei consciência das dificuldades do senhor.

Confesso que essa falha me perseguiu pela tarde inteira.

A solidariedade nas pequenas coisas pode ser uma riqueza para quem é ajudado. O heroísmo do dia a dia. Que interessa ser herói uma vez na vida, se depois somos anti-heróis nas pequenas coisas?

Todos podemos ser capitalistas de pequenos gestos de amor e serviço solidário.

“O que vos mando é que vos ameis uns aos outros”, disse o maior Mestre.

sábado, 18 de julho de 2020

Santa Sofia novamente mesquita


Façam o que fizerem, Ele permanece o seu Senhor

Está decidido: Erdogan decidiu reconverter Santa Sofia em mesquita, revertendo a decisão de 1934 que a tinha secularizado e transformado em museu. Foi mandada construir em 537, pelo imperador Justiniano, um exímio reorganizador do Império Romano, empreendedor do célebre Corpus Iuris Civilis, para ser a catedral de Constantinopla. Após a conquista da cidade pelos otomanos, em 1453, a catedral foi transformada em mesquita. Permaneceu como lugar de culto islâmico até 1934.

De uma grandiosidade imparável, nela se encontram, ou encontravam, inúmeras relíquias, alguns mosaicos restantes, dos quais se destaca o Pantocrator. Apesar da natureza an-icónica do islão, algumas destas imagens ainda persistem. É emocionante notar como no exterior, relegado a um canto, está o púlpito onde terá pregado São João Crisóstomo. Quantos padres, quantas comunidades cristãs rezaram e entoaram hinos ao Senhor, dentro daquelas grandiosas paredes. Hagia Sophia (Santa Sabedoria) é dedicada ao Logos, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, com festa de dedicação a 25 de Dezembro.

A história da Igreja antiga não pode ser olvidada. Grande parte dos lugares pujantes do cristianismo primitivo foram subjugadas ao islão, um dos fenómenos mais tristes da história da Igreja. Não podemos reverter os fatos. No entanto, podemos encontrar semelhanças em relação à perda do património espiritual, eclesial da velha Europa cristã, agora subjugada ao materialismo e à indiferença da pós-verdade.

O momento presente pode ser uma oportunidade fecunda de oração e conhecimento, de encontro autêntico com o Senhor. Roland Barthes (1915-1980) definiu a sabedoria “como nenhum poder, um pouco de sabor, um pouco de inteligência e quanto mais sabor possível”. E, continua, “existe uma idade em que se ensina aquilo que se sabe, mas depois vem outra em que se ensina aquilo que não se sabe: a isto se chama procurar”.

Ao cristianismo hodierno falta-lhe profundidade. Muitos cristãos instalaram-se na modernidade. Há necessidade de procurar novos desertos, como fizeram os monges durante a instalação do cristianismo na política do Império Romano (380). Por isso, muitos procuram outros caminhos que, no entanto, não encontram na Igreja-instituição.

E ainda mais, como muito bem descreve Tomás Halík, “há seres humanos cuja parte consciente, visível e audível da personalidade está de todo saturada, mais ainda, empanturrada de religião… mas quando se conhecem mais de perto não conseguimos defender-nos da impressão de que a sua religião está apenas ali, à superfície. No seu coração estão fechadas, são frias, egoístas, incrédulas.” (Tomás Halík, O Abandono de Deus, p. 52, ed. Paulinas). Segundo a psicologia da profundidade, têm religião, mas não Cristo.

Não será este o maior desafio da nossa pastoral? Se continuarmos na superficialidade, na ausência de Cristo, muitas mais igrejas se tornarão mesquitas, museus ou bibliotecas. Uma das tragédias da Europa é o esquecimento da sua memória, da sua identidade. Não é mais um acontecimento, é um sinal, um alerta. Mas ainda nos resta a esperança de que Ele será sempre o Senhor das comunidades nascidas e alimentadas dentro daquelas paredes.

aqui

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Santa Helena

sábado, 4 de julho de 2020

Em 29 anos de Tarouca, nunca me aconteceu tal...

A imagem pode conter: pessoas sentadas e interiores

Nestas cerca de três décadas, está a ser a segunda vez que oriento a a novena de Santa Helena. A primeira foi em 1994.
O clima é humanamente desolador. Meia dúzia de pessoas a participar presencialmente, dadas as regras de afastamento. Casa vazia, ausência das tendas e de automóveis. sem presença, sem calor humano, sem a familiaridade a que a novena me habituou.
Sem a capela cheia, sem as vozes que, em uníssono, cantavam responderiam, estavam e faziam daquele espaço um pedacito do Céu.
Meu Deus! Que vazio interior! Que insatisfação humana!
Resta a fé. O fundamental. Mais de duas mil pessoas estiveram connosco através do Facebook do Centro Paroquial de Tarouca. Afastados fisicamente, mas unidos na mesma fé, no mesmo carinho para com Santa Helena e Nossa Senhora das Dores, na mesma esperança. Com a ajuda e a força do Alto, para o ano voltaremos a encontrarmo-nos, a fazer festa, a abraçarmo-nos, a viver família.
Não triunfarás, invisível e medonho inimigo! A Senhora das Dores e Santa Helena esmagar-te-ao a cabeça, vírus infernal!

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sexta-feira, 3 de julho de 2020


quinta-feira, 2 de julho de 2020