1. Jesus Cristo
A
pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular;
tudo isto veio do Senhor
e é admirável aos nossos olhos
Foi com estas palavras que Jesus, na Eucaristia de um dos primeiros
domingos do ano pastoral e letivo em curso, se nos apresentou. Ou melhor, foi
Deus quem assim o apresentou. Jesus cita a sua Palavra na Escritura. Fá-lo para
explicar a parábola dos vinhateiros (Mt 21, 33-44), aos quais um proprietário
arrendou a sua vinha, mas que, chegada a vindima, recusam entregar-lhe a devida
parte dos frutos colhidos. Pior: maltratam-lhe os servos, alguns até à morte. O
dono da vinha tenta outra vez, mas com o mesmo resultado. Até que se decide
pelo impensável. Envia-lhes o próprio filho, pensando: respeitarão o meu filho.
Enganou-se: agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e mataram-no.
Este filho é Jesus, enviado por Deus – o Pai que amou tanto o mundo
que (nos) deu o seu Filho Unigénito, para que todo o que n’Ele crê não
pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3, 16). E Jesus, por sua vez, realizou
o que disse sobre a sua morte: Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a
vida pelos amigos (15, 13). Foi este amor extremo, d’Ele e do Pai, que fez
da terrível crucifixão o triunfo definitivo sobre a morte; e fez da pedra que
os construtores rejeitaram a pedra angular, sobre a qual Deus
edifica o seu povo, a nossa Igreja. Tal o poder e a eficácia deste amor, que veio
do Senhor e é admirável aos nossos olhos!
Sim, quem se não deixa fascinar e atrair por alguém que deu a vida por
todos nós?! Alguém que, desse modo, nos abre o caminho para a mesma vitória,
numa vida sem fim! Diz-nos S. Paulo, como palavra digna de fé: Se com
Ele morremos, também com Ele viveremos (2 Tim 2, 5). Com Ele…
2. Jesus
Cristo vem ao nosso encontro
A iniciativa parte sempre d’Ele. Foi Ele, o Ressuscitado, que apareceu
a Maria Madalena, tão inesperadamente que ela nem se apercebia que já estava a
falar com Ele (Jo 20, 11-18); ou se apresentou no meio dos discípulos,
entrincheirados por medo dos judeus (20, 19-23); ou se aproximou dos dois que
iam para Emaús e se pôs com eles a caminho (Lc 24, 13-35); ou subitamente
envolveu Paulo numa luz intensa, quando ia para Damasco a perseguir os cristãos
(At 9, 1-22).
O amor, já assim expresso, tornou-se ainda mais vivo e vivificante no
modo como se deu a reconhecer. A Paulo e a Maria Madalena, tratou-os pelo nome,
identificativo da pessoa, entrando com eles numa comunhão íntima. Aos
discípulos de Emaús (re)partiu o pão do seu Corpo, entregue por eles. Aos onze,
mostrou-lhes, no primeiro dia da semana, as mãos e o lado com as marcas dos
cravos e da lança do soldado. Repetiu-o oito dias depois a Tomé, que por isso
exclamou: Meu Senhor e meu Deus!
O que então iniciou, continua a fazê-lo. Continua a chamar-nos pelo
nome, quando, pelo Batismo, nos acolhe na sua Igreja, e, pelo Crisma, nos
confirma com seu Espírito. Continua a alimentar-nos e a unir-nos em comunhão
com a oferta do seu Corpo e Sangue, na Eucaristia. Continua a privilegiar para
isso o primeiro dia da semana, a que desde os primórdios da Igreja se chama
domingo ou dia do Senhor. Mas não só.
Ele vem ainda ao nosso encontro na Sagrada Escritura, que d’Ele e em
que Ele nos fala, sobretudo se escutada em ambiente de oração, como nas
celebrações litúrgicas ou nos encontros de catequese. Vem ao nosso encontro
pelos sacramentos, não só da iniciação cristã, mas também da cura, para nos
perdoar e confortar, e do serviço, para nos unir em comunhão. Vem ao nosso
encontro na vivência do amor que nos une em Igreja e nos leva a dar-nos
sobretudo aos mais carenciados, de quem se fez irmão: O que fizestes a um
dos meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes (Mt 25, 40).
Enfim, Ele próprio realiza o que nos transmite no domingo em que abre
a semana da Educação Cristã: que a essência da lei, o segredo da vida, está no
total e incondicional amor a Deus, como condição e medida para o igualmente
indispensável amor ao próximo. Amemos assim, e veremos o que será de nós. Uma
coisa é certa: Sabemos que passámos da morte para a vida, porque amamos os
irmãos (1 Jo 3, 13).
3. A
alegria do encontro
É, antes de mais, a alegria de nos sentirmos amados, de modo pleno e
incondicional. Mesmo no pecado? Então ainda mais!... já que a carência é maior.
Foi assim com o filho, regressado à casa paterna, depois de desbaratar todos os
seus bens: Comamos e festejemos! – Ordenou o pai, cuja alegria não era
menor que a do filho (Lc 15, 24). E Deus prova assim o seu amor para
connosco: Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores (Rm
5, 8).
É também a alegria pelo “novo horizonte” e o “rumo novo” que esse amor
dá à nossa vida (Bento XVI, Deus é Amor, n. 1). O amor de Cristo
impele os que n’Ele creem a viver não mais para si próprios, mas
para aquele que por eles morreu e ressuscitou (2 Cor 5, 14-15). E a viverem
com Ele, não há revês ou tribulação de que não saiam vencedores, graças
àquele que nos amou (Rm 8, 17) – fazendo da morte fonte inesgotável de
vida.
É, enfim, a alegria de vermos a nossa vida a prolongar-se nas vidas
daqueles a quem a damos: os pais nas dos filhos; os catequistas nas dos
catequizandos; os professores nas dos alunos; todo o educador nas dos educandos
(cf. CEP “Catequese: A alegria do encontro com Jesus Cristo”, IV). Uma alegria
que cresce, quando também eles se dão – a partir do encontro com Cristo,
mediado por cada um de nós, que então pode, por isso, dizer: É Cristo que
vive em mim (Gl 2, 20).
Acolhamos, por tudo isso, o convite do Papa Francisco a “todo o
cristão, em qualquer lugar que se encontre, a renovar (…) o seu encontro pessoal
com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por
Ele, de o procurar no dia-a-dia sem cessar” (A Alegria do Evangelho, n.
3). Ele que, na celebração conclusiva da Semana da Educação, nos ensina: Aquele
que for o maior entre vós será o vosso servo (Mt 23, 11) – como Ele, o
Mestre por excelência que não veio para ser servido, mas para servir e dar a
vida pela redenção de todos (20, 28).
Que Maria, Mãe e Serva do Senhor, na conclusão do centésimo
aniversário das suas aparições em Fátima, nos ajude a saborear a alegria deste
encontro!
Festa de S. Lucas, 18 de outubro de 2017
Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé