Num país onde o Estado é o maior caloteiro, não admira que muitos cidadãos também o sejam.
Desde os grandes aos mais pequenos, todos acham que os empreiteiros, os mestre-de-obras, os serralheiros, os pedreiros têm obrigação de fazer os seus trabalhos e esperarem uma infinidade pelo seu dinheiro.
No Portugal do antigamente ainda havia vergonha, sobretudo na classe trabalhadra e nos mais humildes cidadãos. Ser-se caloteiro era algo que parecia muito mal à sociedade e o próprio Estado cumpria as suas obrigaçes. Obra feita como se tinha combinado, obra paga tal e qual se contratara. O caloteiro era quase considerado um ladrão porque roubava ou não pagava, o que é o mesmo, o dinheiro que o trabalhador contratara. E hoje?
Desde o mais pequeno artífice ou técnico todos têm histórias de calotes que, por vezes, levam anos a pagar. No geral, os caloteiros não são pessoas da mesma classe social do trabalhador, mas sim os chamados grandes que por o serem, julgam que os outros têm de trabalhar para eles de graça. Casos concretos há muitos desde um médico bastante rico que demorou muito tempo a pagar ao pedreiro que lhe refez uma cozinha, até ao dirigente bancário que, ainda hoje, deve ao empreiteiro a sua vivenda. O pedreiro além do seu trabalho pagou os azulejos, a tinta, o cimento e aos ajudantes. O empreiteiro pagou aos seus trabalhadores e ficou a ver navios, como vulgarmente se diz.
Se o Estado pagasse a tempo e horas aos fornecedores, a economia beneficiava e os bancos recebiam o seu dinheiro. Se o médico ou o dirigente bancário pagassem, todos beneficiavam, desde os fornecedores de materiais até às famílias dos trabalhadores.
Pode argumentar-se: metam-nos em tribunal! Para quê? Primeiro gasta-se o dinheiro que não se recebeu e ainda temos de gastar mais porque os processos demoram tempos sem fim e alguns nunca se resolvem. Por isso os prejudicados nem sequer assomam às portas dos tribunais porque sabem de antemão que não só vão receber tarde e más horas como vão gastar mais dinheiro. E entretanto os caloteiros ficam-se a rir.
E agora nestes tempos de crise? Mas os grandes, os bancos e as empresas financeiras não estão com meias medidas assim como o Estado. Não pagas a casa? Ficas sem ela e vais para a rua. Não pagas os impostos? O teu ordenado é imediatamente penhorado. Tantas e tantas injustiças...
Dizem-me que os tribunais estão a abarrotar com processos a pessoas que não pagaram as chamadas de telefone ou de telemóvel e dívidas de outro género. Nunca mais resolveremos o problema. Os que estão no topo têm que dar o exemplo e os senhores ditos grandes têm de ter vergonha na cara porque Deus condena aqueles que ficam com o salário dos outros. Se todos pagassem o que devem, não estaríamos no sufoco em que estamos e no teríamos necessidade de pedir lá fora o que gastamos cá dentro.
Carlos A.Borges Simão
Desde os grandes aos mais pequenos, todos acham que os empreiteiros, os mestre-de-obras, os serralheiros, os pedreiros têm obrigação de fazer os seus trabalhos e esperarem uma infinidade pelo seu dinheiro.
No Portugal do antigamente ainda havia vergonha, sobretudo na classe trabalhadra e nos mais humildes cidadãos. Ser-se caloteiro era algo que parecia muito mal à sociedade e o próprio Estado cumpria as suas obrigaçes. Obra feita como se tinha combinado, obra paga tal e qual se contratara. O caloteiro era quase considerado um ladrão porque roubava ou não pagava, o que é o mesmo, o dinheiro que o trabalhador contratara. E hoje?
Desde o mais pequeno artífice ou técnico todos têm histórias de calotes que, por vezes, levam anos a pagar. No geral, os caloteiros não são pessoas da mesma classe social do trabalhador, mas sim os chamados grandes que por o serem, julgam que os outros têm de trabalhar para eles de graça. Casos concretos há muitos desde um médico bastante rico que demorou muito tempo a pagar ao pedreiro que lhe refez uma cozinha, até ao dirigente bancário que, ainda hoje, deve ao empreiteiro a sua vivenda. O pedreiro além do seu trabalho pagou os azulejos, a tinta, o cimento e aos ajudantes. O empreiteiro pagou aos seus trabalhadores e ficou a ver navios, como vulgarmente se diz.
Se o Estado pagasse a tempo e horas aos fornecedores, a economia beneficiava e os bancos recebiam o seu dinheiro. Se o médico ou o dirigente bancário pagassem, todos beneficiavam, desde os fornecedores de materiais até às famílias dos trabalhadores.
Pode argumentar-se: metam-nos em tribunal! Para quê? Primeiro gasta-se o dinheiro que não se recebeu e ainda temos de gastar mais porque os processos demoram tempos sem fim e alguns nunca se resolvem. Por isso os prejudicados nem sequer assomam às portas dos tribunais porque sabem de antemão que não só vão receber tarde e más horas como vão gastar mais dinheiro. E entretanto os caloteiros ficam-se a rir.
E agora nestes tempos de crise? Mas os grandes, os bancos e as empresas financeiras não estão com meias medidas assim como o Estado. Não pagas a casa? Ficas sem ela e vais para a rua. Não pagas os impostos? O teu ordenado é imediatamente penhorado. Tantas e tantas injustiças...
Dizem-me que os tribunais estão a abarrotar com processos a pessoas que não pagaram as chamadas de telefone ou de telemóvel e dívidas de outro género. Nunca mais resolveremos o problema. Os que estão no topo têm que dar o exemplo e os senhores ditos grandes têm de ter vergonha na cara porque Deus condena aqueles que ficam com o salário dos outros. Se todos pagassem o que devem, não estaríamos no sufoco em que estamos e no teríamos necessidade de pedir lá fora o que gastamos cá dentro.
Carlos A.Borges Simão