Domingo da Sagrada Família - 28 - 12 - 08“Filho, ampara a velhice do teu pai e não o desgostes durante a sua vida.”- diz-nos a 1ª leitura, tirada do Livro de Ben-Sirá
Apesar da preocupação moderna com os direitos humanos e o respeito pela dignidade das pessoas, a nossa civilização cria, com frequência, situações de abandono e de marginalização, cujas vítimas são, muitas vezes, aqueles que já não têm uma vida considerada produtiva, ou aqueles a quem a idade ou a doença trouxeram limitações. Que motivos justificam o desprezo e abandono daqueles a quem devemos “honrar”?
É verdade que a vida de hoje é muito exigente a nível profissional e que nem sempre é possível a um filho estar presente ao lado de um pai que precisa de cuidados ou de acompanhamento especializado. No entanto, a situação é muito menos compreensível se o afastamento de um pai do convívio familiar resulta do egoísmo do filho, que não está para “aturar o velho”…
“Filho és, pai serás; conforme fizeres, assim acharás”. Ao desprezarmos, tantas vezes, os pais velhos ou doentes, não estaremos a preparar para nós uma velhice de abandono?
Os mais velhos são um capital único de sabedoria aprendida na universidade da vida. Ao abandoná-los, não estaremos a ficar mais pobres, menos seguros, mais frágeis?
Onde está a gratidão dos filhos, o seu amor filial, quando abandonam os pais exactamente quando estes mais precisam? Não se esqueceram tantas vezes de si próprios os pais para criarem os filhos que hoje os abandonam?
Além disso, está hoje provada cientificamente a enorme importância para os netos da convivência com seus avós…
E vós, caros avós, como viveis a vossa velhice? Sois serenos, fonte de paz e harmonia para com as famílias dos vossos filhos? Acolheis com amizade os vossos filhos e netos? Sabeis comunicar-lhes uma palavra sã, oportuna e amiga? Falais-lhes de Deus e dos valores que orientam uma pessoa de bem? Interessais-vos pela educação humana e cristã dos vossos netos? Sois pessoas queixinhas ou sabeis suportar as limitações da vida com serenidade e calma?
“Habite em vós com abundância a palavra de Cristo, para vos instruirdes e aconselhardes uns aos outros com toda a sabedoria” – diz-nos a 2ª leitura, tirada Epístola do Apóstolo São Paulo aos Colossenses
Viver como “homem novo” implica cultivar um conjunto de virtudes que resultam da união do cristão com Cristo: misericórdia, bondade, humildade, paciência, mansidão. Lugar especial ocupa o perdão das ofensas do próximo, a exemplo do que Cristo sempre fez. Estas virtudes são exigências e manifestações da caridade, que é o mais fundamental dos mandamentos cristãos.
“Maridos, amai as vossas esposas”, diz o apóstolo. Na vida conjugal, o amor é chave de uma família feliz. Por isso, o namoro há-de marcar as diferentes etapas da vida de um casal, pois é o segredo do sucesso. O matrimónio nunca poderá ser um egoísmo a dois, mas um amor partilhado, oferente, gratuito, generoso, persistente. Um amor compreensivo, estimulante e que perdoa.
Não há nada mais lindo que um casal sorrindo pela vida que tem// É o amor a dois// São os filhos depois// O melhor que a gente tem.
“Filhos, obedece em tudo a vossos pais”. É importante, caros jovens, adolescentes e crianças cultivar na vossa vida a obediência a vossos pais. Ela vos ajuda a estruturardes a vossa personalidade, a crescer por dentro, a criar referências. E lembrai-vos do provérbio que diz: “Nunca saberá mandar quem não soube obedecer.” Tende presente o 4º mandamento da Lei de Deus, que manda honrar pai e mãe e os outros legítimos superiores. Jesus também era obediente a seus pais. E Jesus é o grande modelo, o grande “ídolo” que nunca nos decepciona.
“Pais, não exaspereis os vossos filhos, para que não caiam em desânimo.” Educar é preciso, é urgente. Hoje mais do que nunca! Os pais não podem ser só os amigos de seus filhos, mas os pais-amigos. Amigos têm muitos na vida; pais-amigos só têm dois! Vós, caros pais, sois os grandes amigos adultos dos vossos filhos!!!
Educar para quê? Para os grandes valores que tecem a personalidade livre e responsável dos filhos.
Que valores?
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A criatividade. O mundo de hoje não se compadece com o ram-ram de antigamente. Hoje já não há empregos seguros para ninguém. Os jovens de hoje e muito mais os de amanhã terão de criar o seu próprio emprego. Essa criatividade deve ser incentivada, estimulada em casa sobretudo.
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O respeito pela maneira de ser de cada um. “Ninguém é dono de ninguém” – diz a cantiga. Os filhos não terão que ser aquilo que os pais queriam que eles fossem, mas aquilo que a sua vocação lhes indicar.
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O respeito para com todos e ainda de modo mais especial para com os mais velhos: pais, avós, catequistas, professores e outros adultos. Notamos hoje que a educação familiar falha neste aspecto. Crianças e jovens não sabem ter uma postura de respeito para com os seus educadores e são muitas vezes insolente, mal-educados, irreverentes. E quantas vezes, perante este comportamento dos filhos, os pais os apoiam, lhes dão os “amens”. Estão a ser inimigos dos filhos, mesmo que pensem o contrário!
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O amor ao trabalho. Se uma criança e um jovem precisam necessariamente de tempo para brincar, para se socializarem pelo convívio e pela brincadeira, também precisam de aprender o valor indispensável do trabalho, sem o qual nunca serão nada na vida.
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A verdade, a lealdade, a franqueza, a fidelidade são valores importantíssimos que hão-de sempre nortear a educação familiar. Num mundo frágil, hipócrita, superficial e inconstante, há-de ser a célula viva da sociedade que é a família, a contribuir para a purificação do mundo!
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O Amor de Deus. Para o fim ficou o primeiro valor. Educar para a abertura a Deus. Educar para Deus no coração de pais e de filhos. Deus é o maior bem. E mais: Ele não tira nada e dá tudo.
Neste episódio do “Evangelho da Infância”, Lucas apresenta-nos uma família – a Sagrada Família – que vive atenta aos apelos de Deus e que se empenha em cumprir cuidadosamente os preceitos do Senhor. Por quatro vezes (vers. 22.23.24.27), Lucas refere, a propósito da família de Jesus, o cumprimento da Lei de Moisés, da Lei do Senhor ou da Palavra do Senhor – o que sugere a importância que a Palavra de Deus assume na vida da família de Nazaré. Trata-se, na perspectiva de Lucas, de uma família que escuta a Palavra de Deus e que constrói a sua existência ao ritmo da Palavra de Deus e dos desafios de Deus. Maria e José perceberam provavelmente que uma família que escuta a Palavra de Deus e que procura responder aos desafios postos por essa Palavra é uma família feliz, que encontra na Palavra indicações seguras acerca do caminho que deve percorrer e que se constrói sobre a rocha firme dos valores eternos. Que importância é que a Palavra de Deus assume na vida das nossas famílias? Procuramos que cada membro das nossas famílias cresça numa progressiva sensibilidade à Palavra de Deus e aos desafios de Deus? Encontramos tempo para reunir a família à volta da Palavra de Deus e para partilhar, em família, a Palavra de Deus?