sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
Você sabe o que é a doutrina social da Igreja?
A Igreja Católica tem uma visão muito clara do mundo e de suas necessidades; e por isso oferece a solução cristã para os graves problemas da humanidade segundo a Luz do Evangelho de Jesus Cristo. Mas, infelizmente muitos católicos desconhecem esta Doutrina.
A Igreja ensina que: “uma teoria que faz do lucro a regra exclusiva e o fim último da atividade económica é moralmente inaceitável. O apetite desordenado pelo dinheiro não deixa de produzir seus efeitos perversos. Ele é uma das causas dos numerosos conflitos que perturbam a ordem social” (GS 63,3; LE 7; CA 35).
O “Catecismo da Igreja” afirma que “um sistema que “sacrifica os direitos fundamentais das pessoas e dos grupos à organização coletiva da produção” é contrário à dignidade do homem (GS 65). Toda prática que reduz as pessoas a não serem mais que meros meios que têm em vista o lucro escraviza o homem, conduz à idolatria do dinheiro e contribui para difundir o ateísmo. ” (CIC, §2424)
A Igreja ensina que os responsáveis pelas empresas têm perante a sociedade a responsabilidade econômica e ecológica pelas suas operações (CA 37). Eles “têm o dever de considerar o bem das pessoas e não apenas o aumento dos lucros. Entretanto, estes são necessários, pois permitem realizar os investimentos que garantem o futuro das empresas, garantindo o emprego”. (CIC ,§2432)
“Levando-se em consideração as funções e a produtividade, a situação da empresa e o bem comum, remuneração do trabalho deve garantir ao homem e aos seus familiares os recursos necessários a uma vida digna no plano material, social, cultural e espiritual” (GS 67,2).
A Igreja valoriza sobretudo o trabalho. Ensina que o valor primordial do trabalho depende do próprio homem, que é seu autor e destinatário. Por meio de seu trabalho, o homem participa da obra da Criação. Unido a Jesus Cristo, o trabalho pode ser redentor.
Vale a pena ler o artigo todo. AQUI
quinta-feira, 30 de janeiro de 2014
La portada envenenada de 'Rolling Stone' al Papa Francisco
El Papa, en la portada de Rolling Stone
El portavoz del Vaticano, Federico Lombardi, lamentó hoy que en el artículo de la revista "Rolling Stone" sobre el papa Francisco se haya descrito de manera negativa el pontificado su predecesor, Benedicto XVI.
Lombardi lamenta las críticas de la revista a Benedicto XVI
La portada envenenada de 'Rolling Stone' al Papa Francisco
El portavoz del vaticano acusa a la publicación de hacer
"periodismo superficial"
Veja aqui
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
As praxes são uma praxis perigosa
Estamos em clima de profundo debate sobre as praxes. Também tenho o meu pensamento sobre este assunto. Parece que a pergunta mais frequente é esta, o problema são as praxes ou são os abusos que as praxes implicam? – Parece bem e a pergunta desde logo suscita a reflexão.
Sempre considerei as praxes um pouco extravagantes. Os que as aplicam sobre os pobres caloiros aproveitam para mostrarem um certo exibicionismo, a sua prepotência e o complexo de superioridade, porque são os mais velhos no percurso académico. Estes que chegam são vítimas, que devem ser humilhados, com o pretexto da integração.
Tudo o que vou presenciando está claramente dentro do abuso e da humilhação. Os defensores das praxes dizem-nos que servem para integrar na comunidade académica e na sociedade. Não posso estar mais de acordo com esta ideia.
Vejamos então. Se considerarmos que vivemos numa sociedade onde dominam alguns fortes sobre uma maioria de fracos, que os humilha e explora quanto podem, obviamente, que as praxes servem precisamente para isso, vejam como é a comunidade escolar académica e depois a sociedade que vos espera, os dominadores somos nós, humilhamos-vos agora para que vocês amanhã sejam dominadores e humilhem também os outros. Detesto esta mentalidade, mas é a predominante na nossa sociedade.
Por isso, os abusos nas praxes não se fazem esperar, até ao ponto de já terem feito sofrer muitos jovens e alguns já passaram pelo crivo da morte. Uma coisa que pretende ser uma brincadeira, um convívio ou uma confraternização, chegar ao ponto de fazer sofrer e matar, não pode mais ser considerado de brincadeira. Há sim humilhações graves nas praxes, há crimes que devem ser punidos. Por exemplo, pessoas a rastejar no chão e chamar-lhes de burros; colocar-lhes orelhas de burro sobre a cabeça; fazer as pessoas se lançar sobre poças de lama; utilizar urina ou excrementos nas pseudo brincadeiras; entre tantos outros elementos que não lembra ao diabo para fazer parte desta coisa terrível que chamam de praxe. Se isto não humilha, então, não sei o que é humilhar…
Tudo com uma lógica terrível que não ensina para o saudável convívio, para a igualdade entre os cidadãos, mas sempre com o pior princípio que rege esta nossa sociedade, quem humilha já foi humilhado, agora contribui para que no futuro estes humilhados encontrem razões para humilhar. Ora, esta rede de má educação resulta da forma como a sociedade convive entre si. A educação está toda voltada para aí, para os dominadores que podem humilhar os mais fracos. E assim parece não ter um fim. Mais grave ainda é que, parecemos legitimar esta mentalidade e se não nos falarem em sofrimento e morte, convivemos bem com isso.
Não sei que medidas devem ser tomadas, mas que face aos abusos, algo terá que ser feito. Não basta a mediatização de seis mortes na Praia do Meco, sabe-se lá em que circunstâncias aconteceram, sabemos isso sim que no contexto das praxes, para que passado algum tempo tudo volte ao normal e só se volte a falar de praxes quando acontecerem mais mortes.
Os argumentos para defender as praxes por vezes redundam em patéticos. Um membro da Associação de Estudantes da Universidade da Madeira considerava que as praxes servem para aferir quais são os alunos que tem mais necessidades económicas. Um lindo argumento. Como será feita esta aferição? Será que lhes aplicam um balde de uma porcaria qualquer sobre a cabeça e logo aferem pelo teor ou intensidade da reacção do humilhado? Será pela intensidade dos berros? Ou ainda pela genica com que rastejam num chão coberto de lama ou excrementos? – Poupem-nos de mais barbaridades…
Perante tudo isto o que parece não haver dúvidas é que as praxes tornaram-se uma praxis perigosa. Muito mal andarão os pais que têm filhos à beira de entrar nas universidades. Vivem com o coração nas mãos com aquela incerteza se não estão a enviar os seus filhos para as garras de outros jovens que não têm mãos a medir nem escrúpulos nenhuns face ao prazer que lhes dá humilhar quem é iniciado numa caminhada. E tais ditas brincadeiras podem levar à morte. Porque resultam em terrorismo que amedronta e com certeza que marca as pessoas para toda a vida.
Será então preciso criar medidas que evitem os abusos e que se responsabilize criminalmente quem enveredar pelo caminho da humilhação. Deve haver coragem firme para que a humilhação deixe de ser uma realidade nos lugares da educação. O futuro de todos nós o exige e precisamos de uma sociedade onde deixa de existir dominadores que humilham até à saciedade os mais fracos. Todos iguais entre iguais, é o que devem ensinar as nossas escolas e as universidades essencialmente.
Fonte: aqui
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
Algumas verdades duras sobre divórcio e comunhão
A Igreja não pode mudar o que Jesus ensinou.
Mas pode ser mais sensível pastoralmente?
Pululam boatos, imprensa afora, de que o papa Francisco vai relaxar em breve o tratamento dado pela Igreja católica às pessoas que se divorciaram e voltaram a se casar. Um artigo da Reuters sugere um racha entre o arcebispo Gerhard Müller, presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, e o cardeal hondurenho Óscar Maradiaga, cabeça do "G8" do papa, o conselho consultivo de cardeais.
Em primeiro lugar, devemos lembrar qual é a doutrina da Igreja sobre o divórcio e o posterior casamento. A Igreja católica ensina que o sacramento do matrimônio é indissolúvel, com base nos ensinamentos do próprio Cristo: “o que Deus uniu, o homem não pode separar”.
No entanto, a Igreja reconhece também que, por causa da fraqueza humana, há casamentos que se rompem. Às vezes, a única solução é a separação, inclusive com o divórcio civil. Se o casamento foi válido, porém, o casal continuará casado mesmo depois de se divorciar perante o tribunal civil; assim, se os indivíduos se casarem novamente com outros cônjuges, cometerão adultério e seu novo casamento que não pode existir aos olhos da Igreja. Surge daí a questão de saber se o primeiro casamento foi realmente válido. A diocese deve ter canonistas qualificados que analisarão o casamento e decidirão se ele era válido ou não. Se o casamento não fosse válido, significa que ele nunca existiu de verdade: neste caso, é possível conceder o decreto de nulidade.
Todo casamento é considerado válido a não ser que se prove o contrário. E, até que a invalidade do casamento seja comprovada e o decreto de nulidade seja concedido, os divorciados que se casaram com outros cônjuges não podem ser admitidos à comunhão, por estarem vivendo em adultério. Muitos padres acham que essa abordagem é excessivamente legalista e dura. Em resposta aos bispos alemães que defendem uma abordagem mais leniente, o arcebispo Müller já afirmou que não haverá mudança. O cardeal Maradiaga contestou a afirmação de Müller dizendo: "Irmão, a vida não é assim".
O problema, de fato, é complexo, mas as soluções podem ser ainda mais difíceis. Quem adota uma postura mais leniente argumenta que a misericórdia do Senhor é eterna e questiona se Jesus, que acolheu a todos, afastaria as pessoas da sua mesa simplesmente por causa de uma situação matrimonial irregular. Para a mulher que foi pega em adultério, argumentam eles, Jesus disse: “Nem eu te condeno”. Quem defende uma abordagem mais rigorosa, por sua vez, enfatiza o comentário final do Senhor a essa mesma mulher flagrada em adultério: "Vai e não peques mais". A misericórdia é oferecida, mas espera-se também o arrependimento e a mudança de vida.
De alguma forma, temos de acolher a todos com a compaixão e com a misericórdia de Cristo, conservando, ao mesmo tempo, a indissolubilidade do casamento e o compromisso do matrimônio para toda a vida. O cardeal Maradiaga adota uma abordagem pastoral prática ao dizer que "a vida não é assim". Acontece que a doutrina moral católica não é determinada apenas pelas circunstâncias. A moralidade é estabelecida através de certos critérios objetivos revelados. O cardeal de Honduras diz que as coisas não são tão pretas ou brancas, mas deve-se salientar que não haveria tons de cinza se não existissem, nitidamente, o preto e o branco. Em outras palavras: sem um padrão objetivo, não pode haver outros padrões; e, por definição, um padrão objetivo é imutável e aparentemente “duro”.
O que fazer então diante desse dilema pastoral? Se cada padre interpreta a lei do seu jeito e, na tentativa sincera de ser misericordioso, permite que os seus fiéis em casamentos irregulares comunguem, ele pode, na sua bondade, estar fazendo mais mal do que bem. Os efeitos negativos de cada padre adotar uma postura mais branda são muitos. Em primeiro lugar, é preciso levar em consideração o parceiro que “sofreu” o divórcio: se um casamento termina por causa de adultério e um dos parceiros é deixado sozinho pelo outro, o que estaremos dizendo a essa pessoa quando readmitirmos o cônjuge adúltero à comunhão sem nenhuma consequência?
Em segundo lugar, o que estaremos dizendo aos filhos e netos de casais divorciados? Ao relaxarmos a disciplina da Igreja, damos a entender que os casamentos podem ser rompidos e que casamentos posteriores podem ser feitos à vontade. Mesmo sem ter essa intenção, uma abordagem branda é tacitamente indulgente com o divórcio e com o novo casamento, prejudicando o senso de compromisso matrimonial das gerações futuras. Quando somos indulgentes com o “recasamento” de alguém, ensinamos aos seus filhos que o “recasamento” depois do divórcio é aceitável.
Em primeiro lugar, devemos lembrar qual é a doutrina da Igreja sobre o divórcio e o posterior casamento. A Igreja católica ensina que o sacramento do matrimônio é indissolúvel, com base nos ensinamentos do próprio Cristo: “o que Deus uniu, o homem não pode separar”.
No entanto, a Igreja reconhece também que, por causa da fraqueza humana, há casamentos que se rompem. Às vezes, a única solução é a separação, inclusive com o divórcio civil. Se o casamento foi válido, porém, o casal continuará casado mesmo depois de se divorciar perante o tribunal civil; assim, se os indivíduos se casarem novamente com outros cônjuges, cometerão adultério e seu novo casamento que não pode existir aos olhos da Igreja. Surge daí a questão de saber se o primeiro casamento foi realmente válido. A diocese deve ter canonistas qualificados que analisarão o casamento e decidirão se ele era válido ou não. Se o casamento não fosse válido, significa que ele nunca existiu de verdade: neste caso, é possível conceder o decreto de nulidade.
Todo casamento é considerado válido a não ser que se prove o contrário. E, até que a invalidade do casamento seja comprovada e o decreto de nulidade seja concedido, os divorciados que se casaram com outros cônjuges não podem ser admitidos à comunhão, por estarem vivendo em adultério. Muitos padres acham que essa abordagem é excessivamente legalista e dura. Em resposta aos bispos alemães que defendem uma abordagem mais leniente, o arcebispo Müller já afirmou que não haverá mudança. O cardeal Maradiaga contestou a afirmação de Müller dizendo: "Irmão, a vida não é assim".
O problema, de fato, é complexo, mas as soluções podem ser ainda mais difíceis. Quem adota uma postura mais leniente argumenta que a misericórdia do Senhor é eterna e questiona se Jesus, que acolheu a todos, afastaria as pessoas da sua mesa simplesmente por causa de uma situação matrimonial irregular. Para a mulher que foi pega em adultério, argumentam eles, Jesus disse: “Nem eu te condeno”. Quem defende uma abordagem mais rigorosa, por sua vez, enfatiza o comentário final do Senhor a essa mesma mulher flagrada em adultério: "Vai e não peques mais". A misericórdia é oferecida, mas espera-se também o arrependimento e a mudança de vida.
De alguma forma, temos de acolher a todos com a compaixão e com a misericórdia de Cristo, conservando, ao mesmo tempo, a indissolubilidade do casamento e o compromisso do matrimônio para toda a vida. O cardeal Maradiaga adota uma abordagem pastoral prática ao dizer que "a vida não é assim". Acontece que a doutrina moral católica não é determinada apenas pelas circunstâncias. A moralidade é estabelecida através de certos critérios objetivos revelados. O cardeal de Honduras diz que as coisas não são tão pretas ou brancas, mas deve-se salientar que não haveria tons de cinza se não existissem, nitidamente, o preto e o branco. Em outras palavras: sem um padrão objetivo, não pode haver outros padrões; e, por definição, um padrão objetivo é imutável e aparentemente “duro”.
O que fazer então diante desse dilema pastoral? Se cada padre interpreta a lei do seu jeito e, na tentativa sincera de ser misericordioso, permite que os seus fiéis em casamentos irregulares comunguem, ele pode, na sua bondade, estar fazendo mais mal do que bem. Os efeitos negativos de cada padre adotar uma postura mais branda são muitos. Em primeiro lugar, é preciso levar em consideração o parceiro que “sofreu” o divórcio: se um casamento termina por causa de adultério e um dos parceiros é deixado sozinho pelo outro, o que estaremos dizendo a essa pessoa quando readmitirmos o cônjuge adúltero à comunhão sem nenhuma consequência?
Em segundo lugar, o que estaremos dizendo aos filhos e netos de casais divorciados? Ao relaxarmos a disciplina da Igreja, damos a entender que os casamentos podem ser rompidos e que casamentos posteriores podem ser feitos à vontade. Mesmo sem ter essa intenção, uma abordagem branda é tacitamente indulgente com o divórcio e com o novo casamento, prejudicando o senso de compromisso matrimonial das gerações futuras. Quando somos indulgentes com o “recasamento” de alguém, ensinamos aos seus filhos que o “recasamento” depois do divórcio é aceitável.
O terceiro problema de se abordar com indulgência o divórcio e um posterior casamento é o fato de que não necessariamente conseguimos o desejado efeito dessa compaixão. O padre quer trazer as pessoas à plena comunhão com a Igreja e oferecer a elas o acolhimento de Cristo. Mas o que eu pude ver, mais de uma vez, é que tanto os potenciais conversos à Igreja quanto as pessoas afastadas da fé não ficam impressionados com o comportamento leniente de um padre no tocante à disciplina da própria Igreja. Uma ex-batista que queria vir para a Igreja acabou se afastando da paróquia em que um padre católico se mostrava relapso com o seu casamento: "Por que eu me tornaria católica", questionou ela, "se o padre passa por cima das regras da própria Igreja e trata a situação séria do meu casamento de uma forma tão superficial?".
A abordagem leniente ensina aos divorciados recasados que os seus compromissos matrimoniais não importavam de verdade. Quando um padre ignora o processo de nulidade, ele diz ao casal divorciado e recasado: "O casamento de vocês e as decisões de vida de vocês não são importantes o suficiente para que eu as leve a sério". Esta postura trata o casamento com a mesma leviandade com que o mundo o trata: as pessoas podem se casar sem pensar muito no assunto, porque, no fim das contas, ele não tem tanta importância.
Mas a dificuldade pastoral continua. O que fazer, afinal, com tantos católicos afastados da Igreja por causa do casamento desfeito? E mais importante ainda: o que fazer com as vítimas inocentes dos casamentos desfeitos? É justo que o cônjuge abandonado seja condenado a uma vida de solidão, e, caso ele próprio se case de novo, é justo cortá-lo da Igreja?
Um caminho a ser seguido pode ser o de focar o trabalho dos tribunais matrimoniais no âmbito local. Os pedidos de decreto de nulidade seriam administrados de modo mais descentralizado, tornando o processo mais acessível. Podem-se criar fundos para cobrir os custos dos processos de nulidade e para prestar uma formação pré-matrimonial mais profunda, que ajude as pessoas a entender a seriedade do compromisso e a assumir casamentos válidos, em primeiro lugar.
A resposta para o problema, certamente, não é deixar a questão aberta ao total “faça-se como cada um quiser”. As modificações no sistema atual, a fim de torná-lo mais sensível pastoralmente, devem auxiliar a Igreja a defender a santidade do casamento, ajudando a reconciliar os católicos afastados e a curar as almas e os corações machucados.
A abordagem leniente ensina aos divorciados recasados que os seus compromissos matrimoniais não importavam de verdade. Quando um padre ignora o processo de nulidade, ele diz ao casal divorciado e recasado: "O casamento de vocês e as decisões de vida de vocês não são importantes o suficiente para que eu as leve a sério". Esta postura trata o casamento com a mesma leviandade com que o mundo o trata: as pessoas podem se casar sem pensar muito no assunto, porque, no fim das contas, ele não tem tanta importância.
Mas a dificuldade pastoral continua. O que fazer, afinal, com tantos católicos afastados da Igreja por causa do casamento desfeito? E mais importante ainda: o que fazer com as vítimas inocentes dos casamentos desfeitos? É justo que o cônjuge abandonado seja condenado a uma vida de solidão, e, caso ele próprio se case de novo, é justo cortá-lo da Igreja?
Um caminho a ser seguido pode ser o de focar o trabalho dos tribunais matrimoniais no âmbito local. Os pedidos de decreto de nulidade seriam administrados de modo mais descentralizado, tornando o processo mais acessível. Podem-se criar fundos para cobrir os custos dos processos de nulidade e para prestar uma formação pré-matrimonial mais profunda, que ajude as pessoas a entender a seriedade do compromisso e a assumir casamentos válidos, em primeiro lugar.
A resposta para o problema, certamente, não é deixar a questão aberta ao total “faça-se como cada um quiser”. As modificações no sistema atual, a fim de torná-lo mais sensível pastoralmente, devem auxiliar a Igreja a defender a santidade do casamento, ajudando a reconciliar os católicos afastados e a curar as almas e os corações machucados.
Fonte: aqui
domingo, 26 de janeiro de 2014
Os meus filhos no parlamento
Eles sabem que apesar da política, no dia a seguir vão à escola, têm trabalhos de casa e no fim-de-semana levantam-se tarde e podem jogar playstation
As crianças não querem saber nem sabem o que é política. É um tema que obviamente acham entediante. A actualidade política, a composição do governo ou os debates quinzenais são coisas que interessam tanto aos nossos filhos quanto física quântica. Política e física quântica são mais ou menos a mesma coisa: uma enorme e incompreensível seca. Eles não percebem o que é um orçamento rectificativo, qual a questão subjacente aos estaleiros de Viana do Castelo ou qual o sentido da moção de Passos Coelho no que diz respeito à candidatura de Marcelo às eleições presidenciais. No entender deles, não há questões, mas apenas complicações. Complicações incompreensíveis que não fazem qualquer sentido para a sua vida diária. Eles sabem que apesar da política e da polémica do Professor Marcelo, no dia a seguir vão à escola, têm trabalhos de casa e no fim-de-semana levantam-se tarde e podem jogar playstation.
Mas se eles percebem pouco os conteúdos, ainda menos entendem as discussões. Agora imaginem o que é assistir a um debate político travado em chinês. É chinês, por isso só damos atenção aos gestos e ao tom das intervenções, nada mais, o que torna o espectáculo no mínimo cómico. Foi assim que os meus filhos se sentiram no parlamento.
Há uns dias levei-os ao parlamento tal como os professores levam os seus alunos em visitas de estudo. Eles não queriam, é certo, a curiosidade era nula. Mas não tiveram alternativa. Recomendei que tinham de se portar bem, que não podiam correr, gritar nem fazer birras ou ficavam dois anos sem acesso ao computador. E lá foram eles, em filinha, rumo à casa da Democracia. Sentei-os, então, nas galerias a assistirem a um debate sobre a reabertura do troço Covilhã-Guarda na Linha da Beira Baixa. Era o que havia no dia. A criançada não se mexeu. De boca aberta observaram todo o plenário sem emitirem um único som. Expliquei que cada um dos deputados só podia falar três minutos e expliquei onde estavam sentados os diversos partidos, a presidência, quem eram as senhoras sentadas no meio do salão a escrever e quem era o Fernandes Tomás retratado na parede a discursar nos primórdios na Monarquia Liberal. Eles nada.
Meia hora de debate e chegaram as dúvidas: porque é que ninguém está a ouvir quando os senhores estão a falar? Porque é que nós temos de estar calados se está toda a gente a gritar e a falar? Onde é que estão o primeiro-ministro e o Presidente da República? Porque é que toda a gente ultrapassa os três minutos? Onde é casa de banho? Sobre o troço Covilhã-Guarda nem uma questão.
Expliquei tudo. Fui obviamente em defesa dos deputados que não fazem parte da comissão competente do troço Covilhã-Guarda e que por isso não prestavam muita atenção ao debate sobre o tema mas que, certamente, estavam a tratar de outros assuntos respeitantes às suas comissões. "Mas, se não ouviram, porque é que batem palmas?" Pois, é assim.... Também não explorei muito o tema do "ruído na sala" ou os "à partes". Apenas que fazem parte da "dinâmica parlamentar" assim como uma bola de futebol faz parte de um recreio da escola.
Dali fomos almoçar e nunca mais voltámos a falar desta visita ao parlamento. Quanto à política, eles ainda não entenderam bem o conceito, sabem que é qualquer coisa que está entre as discussões técnicas, os "à partes" e o processo que irá levar o Professor Marcelo a candidatar-se a Belém. Qualquer coisa que está entre uma brincadeira de gente grande e a física quântica. O pior é que desta vez não sei se isto passa com a idade.
Inês Teotónio Pereira
As crianças não querem saber nem sabem o que é política. É um tema que obviamente acham entediante. A actualidade política, a composição do governo ou os debates quinzenais são coisas que interessam tanto aos nossos filhos quanto física quântica. Política e física quântica são mais ou menos a mesma coisa: uma enorme e incompreensível seca. Eles não percebem o que é um orçamento rectificativo, qual a questão subjacente aos estaleiros de Viana do Castelo ou qual o sentido da moção de Passos Coelho no que diz respeito à candidatura de Marcelo às eleições presidenciais. No entender deles, não há questões, mas apenas complicações. Complicações incompreensíveis que não fazem qualquer sentido para a sua vida diária. Eles sabem que apesar da política e da polémica do Professor Marcelo, no dia a seguir vão à escola, têm trabalhos de casa e no fim-de-semana levantam-se tarde e podem jogar playstation.
Mas se eles percebem pouco os conteúdos, ainda menos entendem as discussões. Agora imaginem o que é assistir a um debate político travado em chinês. É chinês, por isso só damos atenção aos gestos e ao tom das intervenções, nada mais, o que torna o espectáculo no mínimo cómico. Foi assim que os meus filhos se sentiram no parlamento.
Há uns dias levei-os ao parlamento tal como os professores levam os seus alunos em visitas de estudo. Eles não queriam, é certo, a curiosidade era nula. Mas não tiveram alternativa. Recomendei que tinham de se portar bem, que não podiam correr, gritar nem fazer birras ou ficavam dois anos sem acesso ao computador. E lá foram eles, em filinha, rumo à casa da Democracia. Sentei-os, então, nas galerias a assistirem a um debate sobre a reabertura do troço Covilhã-Guarda na Linha da Beira Baixa. Era o que havia no dia. A criançada não se mexeu. De boca aberta observaram todo o plenário sem emitirem um único som. Expliquei que cada um dos deputados só podia falar três minutos e expliquei onde estavam sentados os diversos partidos, a presidência, quem eram as senhoras sentadas no meio do salão a escrever e quem era o Fernandes Tomás retratado na parede a discursar nos primórdios na Monarquia Liberal. Eles nada.
Meia hora de debate e chegaram as dúvidas: porque é que ninguém está a ouvir quando os senhores estão a falar? Porque é que nós temos de estar calados se está toda a gente a gritar e a falar? Onde é que estão o primeiro-ministro e o Presidente da República? Porque é que toda a gente ultrapassa os três minutos? Onde é casa de banho? Sobre o troço Covilhã-Guarda nem uma questão.
Expliquei tudo. Fui obviamente em defesa dos deputados que não fazem parte da comissão competente do troço Covilhã-Guarda e que por isso não prestavam muita atenção ao debate sobre o tema mas que, certamente, estavam a tratar de outros assuntos respeitantes às suas comissões. "Mas, se não ouviram, porque é que batem palmas?" Pois, é assim.... Também não explorei muito o tema do "ruído na sala" ou os "à partes". Apenas que fazem parte da "dinâmica parlamentar" assim como uma bola de futebol faz parte de um recreio da escola.
Dali fomos almoçar e nunca mais voltámos a falar desta visita ao parlamento. Quanto à política, eles ainda não entenderam bem o conceito, sabem que é qualquer coisa que está entre as discussões técnicas, os "à partes" e o processo que irá levar o Professor Marcelo a candidatar-se a Belém. Qualquer coisa que está entre uma brincadeira de gente grande e a física quântica. O pior é que desta vez não sei se isto passa com a idade.
Inês Teotónio Pereira
Ionline, 2014-01-25
sábado, 25 de janeiro de 2014
AMIGO
Amigo é aquele que deixa o outro livre.
Amigo não aprisiona. Amigo não força. Respeita.
Homero,
em plena antiguidade, ilustrou a situação: «Peca igualmente quem apressa
o hóspede que não quer partir e quem o detém quando este já está
partindo. O hóspede deve ser bem tratado se fica, e não deve ser
impedido de partir se assim o deseja».
Amigo não exige. Por isso, agradece sempre. Porque tudo o que recebe é dádiva. Não pagamento!
Fonte: aqui
sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
quinta-feira, 23 de janeiro de 2014
A jovem que tinha um problema de consciência
Tem 16 anos e estuda numa escola pública. Há dias, a caminho da escola na companhia de uma amiga, encontram na chão 60 euros. Olharam em volta e viram que ali pertinho existia um café. Dirigiram-se lá e procuraram saber se alguém havia perdido dinheiro. Perante a resposta negativa, as jovens perguntaram uma à outra o que fariam com dinheiro encontrado. Finalmente decidiram-se. Dividiram ao meio.
A meio da tarde, o telefone da mãe da pequena de 16 anos tocou. Era a filha que disse: "Mãe, estou com um problema de consciência". E contou a história do dinheiro encontrado. Após uma palavra de apoio e de compreensão, aquela mãe solicitou à filha que fosse pensando e que à noite refletiriam as duas no assunto, mas que estivesse calma.
A noite, como combinado, as duas sentaram-se para conversar. "Sabes, mãe, com este dinheiro poderia jantar com os meus amigos ou comprar uma peça de roupa. Mas não é isto que eu quero. Não me saberia bem..."
Como mãe e filha fazem voluntariado semanal numa instituição que recolhe crianças abandonadas, a mãe propôs que o referido dinheiro fosse encaminhado para o menino institucionalizado a quem a jovem dava explicações. Depois de deixar assentar a ideia, a pequena soltou: "Ah! Acho uma boa ideia. Faremos isso na próxima ida à instituição."
Consultada a psicóloga que apoia mais de perto a referida criança, logo o dinheiro reverteu a seu favor. A alegria da jovem foi intensa, vinda mesmo do centro do coração, contagiante.
Ao contar-me esta cena pelo telefone, a mãe disse-me: "Mais uma ocasião para dar graças a Deus pelos meus filhos. Não imagina como este facto me encheu a alma e a vida. A minha filha, em plena reguilice adolescente, revela estes sentimentos, esta nobreza de alma, esta sensibilidade! Vale a pena ser persistente e educar para os valores! Seja Deus louvado!"
A meio da tarde, o telefone da mãe da pequena de 16 anos tocou. Era a filha que disse: "Mãe, estou com um problema de consciência". E contou a história do dinheiro encontrado. Após uma palavra de apoio e de compreensão, aquela mãe solicitou à filha que fosse pensando e que à noite refletiriam as duas no assunto, mas que estivesse calma.
A noite, como combinado, as duas sentaram-se para conversar. "Sabes, mãe, com este dinheiro poderia jantar com os meus amigos ou comprar uma peça de roupa. Mas não é isto que eu quero. Não me saberia bem..."
Como mãe e filha fazem voluntariado semanal numa instituição que recolhe crianças abandonadas, a mãe propôs que o referido dinheiro fosse encaminhado para o menino institucionalizado a quem a jovem dava explicações. Depois de deixar assentar a ideia, a pequena soltou: "Ah! Acho uma boa ideia. Faremos isso na próxima ida à instituição."
Consultada a psicóloga que apoia mais de perto a referida criança, logo o dinheiro reverteu a seu favor. A alegria da jovem foi intensa, vinda mesmo do centro do coração, contagiante.
Ao contar-me esta cena pelo telefone, a mãe disse-me: "Mais uma ocasião para dar graças a Deus pelos meus filhos. Não imagina como este facto me encheu a alma e a vida. A minha filha, em plena reguilice adolescente, revela estes sentimentos, esta nobreza de alma, esta sensibilidade! Vale a pena ser persistente e educar para os valores! Seja Deus louvado!"
Como ser feliz? Não tendo filhos?
Recente estudo sobre a relação entre felicidade e filhos apresenta notáveis lacunas
O segredo de um casamento feliz é não ter filhos?
Esta foi, pelo menos, uma das principais conclusões de um estudo finalizado em novembro de 2013 pela Open University, do Reino Unido, e apresentado na semana passada na Biblioteca Britânica. Intitulado "Relações de casal no século 21", o estudo comparou pais casados e solteiros com casais sem filhos e concluiu que os casais sem filhos estavam mais satisfeitos com o relacionamento e mais propensos a se sentir valorizados na relação.
Coordenado pelo Dr. Jacqui Gabb e financiado pelo Conselho de Pesquisa Econômica e Social, o estudo pediu que 4.500 entrevistados descrevessem a sua satisfação geral no atual relacionamento. Homens e mulheres sem filhos tenderam a avaliar a sua relação como "muito positiva" e disseram sentir-se mais valorizados pelo respectivo parceiro em comparação com os casais com filhos. Mas o estudo também descobriu que as mulheres sem filhos estavam menos satisfeitas com a vida em geral, e que as mães eram mais felizes do que os outros entrevistados, fossem homens ou mulheres, mesmo nos casos em que a relação delas com o parceiro não fosse bem sucedida.
As mulheres se mostraram duas vezes mais propensas do que os homens a dizer que os filhos são o que há de mais importante na sua vida; já os homens, inclusive os pais, tenderam a classificar a parceira como o mais importante. Os pais foram duas vezes mais propensos do que as mães a listar a "intimidade sexual" como fator muito importante e citaram a falta de intimidade como o maior problema no relacionamento.
Sem surpresas, o estudo constatou que as exigências da criação dos filhos deixaram os pais com menos tempo para o próprio relacionamento.
Um dos aspectos do relacionamento que os pesquisadores não abordaram, porém, foi o efeito dos compromissos espirituais na vida dos indivíduos. Os entrevistados na pesquisa online foram divididos por idade, sexo, estado civil e orientação sexual: não houve nenhuma pergunta sobre a sua fé. Será que a crença em Deus e o apreço pelo significado mais profundo da vida não teriam tido um efeito profundo na satisfação pessoal, mesmo durante os períodos de estresse? Será que o privilégio de compartilhar da criação de Deus através da concepção e da criação de um filho não traz uma alegria sem igual para ambos os pais, mesmo imersos em responsabilidades superiores a qualquer outra que eles tenham experimentado antes da vinda dos filhos?
Em segundo lugar, o estudo deixou de considerar um fato que pode ser óbvio para os casais há muito tempo juntos: que os relacionamentos passam por fases e que, embora haja menos tempo para si mesmos durante os anos agitados da criação dos filhos, os parceiros que assumiram um compromisso de vida um com o outro como casal podem voltar a encontrar profunda intimidade quando os filhos já estão crescidos.
Mas o maior defeito da pesquisa do Dr. Gabb e da sua equipe parece estar na sua definição de "felicidade".
O Dr. Peter Kreeft, do Boston College, menciona três tipos de realização pessoal: o primeiro tipo, o "prazer", envolve o corpo. O segundo tipo, a "alegria", que é mais do que prazer, está na mente e nos sentimentos. E, mais intenso do que a alegria, o terceiro tipo é a "felicidade”, a satisfação que brota do fundo do coração, do espírito, do centro de si mesmo. O estudo da Open University parece focar apenas no prazer da intimidade sexual do casal e na “alegria” entendida como a percepção de cada parceiro sobre o quanto o outro o valoriza.
Fonte: aqui
O segredo de um casamento feliz é não ter filhos?
Esta foi, pelo menos, uma das principais conclusões de um estudo finalizado em novembro de 2013 pela Open University, do Reino Unido, e apresentado na semana passada na Biblioteca Britânica. Intitulado "Relações de casal no século 21", o estudo comparou pais casados e solteiros com casais sem filhos e concluiu que os casais sem filhos estavam mais satisfeitos com o relacionamento e mais propensos a se sentir valorizados na relação.
Coordenado pelo Dr. Jacqui Gabb e financiado pelo Conselho de Pesquisa Econômica e Social, o estudo pediu que 4.500 entrevistados descrevessem a sua satisfação geral no atual relacionamento. Homens e mulheres sem filhos tenderam a avaliar a sua relação como "muito positiva" e disseram sentir-se mais valorizados pelo respectivo parceiro em comparação com os casais com filhos. Mas o estudo também descobriu que as mulheres sem filhos estavam menos satisfeitas com a vida em geral, e que as mães eram mais felizes do que os outros entrevistados, fossem homens ou mulheres, mesmo nos casos em que a relação delas com o parceiro não fosse bem sucedida.
As mulheres se mostraram duas vezes mais propensas do que os homens a dizer que os filhos são o que há de mais importante na sua vida; já os homens, inclusive os pais, tenderam a classificar a parceira como o mais importante. Os pais foram duas vezes mais propensos do que as mães a listar a "intimidade sexual" como fator muito importante e citaram a falta de intimidade como o maior problema no relacionamento.
Sem surpresas, o estudo constatou que as exigências da criação dos filhos deixaram os pais com menos tempo para o próprio relacionamento.
Um dos aspectos do relacionamento que os pesquisadores não abordaram, porém, foi o efeito dos compromissos espirituais na vida dos indivíduos. Os entrevistados na pesquisa online foram divididos por idade, sexo, estado civil e orientação sexual: não houve nenhuma pergunta sobre a sua fé. Será que a crença em Deus e o apreço pelo significado mais profundo da vida não teriam tido um efeito profundo na satisfação pessoal, mesmo durante os períodos de estresse? Será que o privilégio de compartilhar da criação de Deus através da concepção e da criação de um filho não traz uma alegria sem igual para ambos os pais, mesmo imersos em responsabilidades superiores a qualquer outra que eles tenham experimentado antes da vinda dos filhos?
Em segundo lugar, o estudo deixou de considerar um fato que pode ser óbvio para os casais há muito tempo juntos: que os relacionamentos passam por fases e que, embora haja menos tempo para si mesmos durante os anos agitados da criação dos filhos, os parceiros que assumiram um compromisso de vida um com o outro como casal podem voltar a encontrar profunda intimidade quando os filhos já estão crescidos.
Mas o maior defeito da pesquisa do Dr. Gabb e da sua equipe parece estar na sua definição de "felicidade".
O Dr. Peter Kreeft, do Boston College, menciona três tipos de realização pessoal: o primeiro tipo, o "prazer", envolve o corpo. O segundo tipo, a "alegria", que é mais do que prazer, está na mente e nos sentimentos. E, mais intenso do que a alegria, o terceiro tipo é a "felicidade”, a satisfação que brota do fundo do coração, do espírito, do centro de si mesmo. O estudo da Open University parece focar apenas no prazer da intimidade sexual do casal e na “alegria” entendida como a percepção de cada parceiro sobre o quanto o outro o valoriza.
Fonte: aqui
quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
Um estudo sobre o casamento
Os parceiros não casados
raramente conseguem garantir
um lar sólido e estável para os filhos
Um estudo da Fundação Inglesa do Casamento (England’s Marriage Foundation) observa uma diferença substancial entre os parceiros casados e os que apenas coabitam.
Em "O Mito das Relações Estáveis de Longo Prazo Fora do Casamento", estudo de Harry Benson publicado em 22 de maio, a fundação britânica demonstra que os parceiros não casados raramente conseguem garantir um lar sólido e estável para os filhos.
O relatório afirma que 45% dos adolescentes entre 13 e 15 anos não vivem com ambos os pais. Dos adolescentes que ainda vivem numa família unida, 93% têm os pais casados.
"De acordo com o que é mostrado pelo relatório, o governo tem ignorado a forte correlação entre o estado marital e a ruptura familiar. A desagregação da família custa mais que o orçamento de Defesa inteiro, além de causar um dano social incomensurável. Deveria ser claramente do interesse do governo e de quem paga impostos fazer um esforço para reduzir esta tendência devastadora", ressalta o autor do estudo, Harry Benson. "Um grande número de factores mostra que os pais casados tendem a ser mais estáveis que os pais solteiros", prossegue o estudo.A Bíblia recomenda por várias vezes o casamento. Outras culturas e religiões estão de acordo na valorização do casamento. "A credibilidade deste sábio e amoroso plano – escreve o Papa Francisco – está se tornando cada vez mais evidente, à medida que são documentadas as consequências do enfraquecimento do matrimónio."
"Prometer um amor que dure para sempre só é possível quando se descobre um desígnio maior dos próprios projectos, que nos sustenta e nos permite doar todo o futuro à pessoa amada", diz a encíclica "A luz da fé", ressaltando claramente que o compromisso do casamento faz mesmo diferença.
Fonte: aqui
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
Casais em crise
Nenhum casamento termina
“de repente”;
“de repente”;
normalmente,
o caminho da desintegração
tem quatro etapas,
profundamente interligadas
© ChameleonsEye/SHUTTERSTOCK
“Acabou!” Com essa breve observação, muitas pessoas descrevem o final de seu casamento. Por trás desse verbo há crises, sofrimentos, desabafos e, não poucas vezes, brigas infindas. Em que lugar foram enterrados os sorrisos do dia do casamento e as promessas de fidelidade “até que a morte nos separe”? Em que fase da vida se desvaneceu a certeza de que “ninguém será mais feliz do que nós dois”? Como entender a amargura que tomou conta de um relacionamento que parecia tão feliz?...
Nenhum casamento termina “de repente”. Especialistas matrimoniais constatam que, normalmente, o caminho da desintegração tem quatro etapas, profundamente interligadas – isto é, cada etapa prepara e praticamente condiciona a seguinte.
Na primeira, começam a surgir comentários negativos, um a respeito do outro. Mais do que se queixar do esposo ou da esposa (a queixa refere-se a um comportamento específico), multiplicam-se críticas que são sempre abertas, indeterminadas, gerais: “Você é um chato!”; “Você está cada vez mais insuportável!”. Há aqueles (ou aquelas) que sofrem calados: não aceitam o comportamento do companheiro, mas não verbalizam isso. O problema é que vão acumulando raiva em seu coração. Quando resolvem falar, não medem as palavras. As agressões – verbais ou de fato – parecem ser de inimigos mortais. Agora, o importante é humilhar o outro, para ficar claro que não há mesmo possibilidade alguma de reconciliação.
Para não se chegar a esse ponto, é preciso cultivar o diálogo. Mais do que escutar o outro, é importante ter a capacidade de se colocar no lugar dele, para ver o problema “do outro lado”. Um casal me confidenciou que, ao se casarem, tomaram uma decisão que marcou suas vidas: prometeram um ao outro que jamais dormiriam sem, antes, solucionar os problemas que pudessem ter surgido entre eles durante o dia. “Solucionar”, no caso, significava cultivar o perdão como atitude habitual. O perdão será menos difícil se cada um, em vez de atacar o outro de forma generalizada, chamar a atenção para erros concretos e para comportamentos que precisam ser corrigidos.
Na segunda etapa, cresce o desprezo pelo outro. Desprezar é uma forma de ignorar, de insultar, de ferir. O desprezo vem sempre acompanhado da implicância, dos insultos, da ridicularização. O objetivo a alcançar é a destruição do outro. O importante é sair vencedor.
Só se supera essa etapa quando ao menos um dos dois aceita não ver o outro como um inimigo, e passa a acreditar que não precisa provar que é o mais forte. “Quando estou fraco, então é que sou forte” (2Cor 12,10), diria o apóstolo Paulo.
Na terceira etapa, quem foi vítima de desprezo começa a se defender. Impõe-se a ideia de que a melhor defesa é o ataque. Ninguém mais escuta ninguém. Acabou-se a comunicação.
Consegue-se cortar essa situação somente com a disposição de escutar o outro, de prestar atenção nele, demonstrando que ele é importante.
Na quarta etapa, domina o mutismo. Um dos dois passa a ficar em silêncio, talvez até com o desejo de não piorar a situação. Mas, nessa hora, não é por aí que se soluciona o problema. É preciso, sim, deixar claro que se está escutando o outro. Ninguém consegue ficar indiferente diante de uma pessoa que lhe dá atenção. Escutar e prestar atenção com um coração pronto a acolher é uma maneira de criar pontes – pontes de diálogo e de perdão, pontes de comunhão.
Por fim, o que poderia ter sido escrito no começo: nos meus mais de quarenta anos a serviço da Igreja, atendendo a inúmeros casais, nunca encontrei um casal que rezasse diariamente, que colocasse Deus no centro de suas vidas e que tenha passado por crises matrimoniais insuperáveis. Para dizer isso de forma positiva, lembro a resposta que uma jovem me deu, quando lhe perguntei como estava a sua vida, já que havia se casado dois anos antes: “Meu marido sabe que eu amo a Deus mais do que a ele. Eu sei que meu marido ama a Deus mais do que a mim. A partir daí, tudo fica mais fácil e tudo se resolve sem grandes dificuldades...”
Nenhum casamento termina “de repente”. Especialistas matrimoniais constatam que, normalmente, o caminho da desintegração tem quatro etapas, profundamente interligadas – isto é, cada etapa prepara e praticamente condiciona a seguinte.
Na primeira, começam a surgir comentários negativos, um a respeito do outro. Mais do que se queixar do esposo ou da esposa (a queixa refere-se a um comportamento específico), multiplicam-se críticas que são sempre abertas, indeterminadas, gerais: “Você é um chato!”; “Você está cada vez mais insuportável!”. Há aqueles (ou aquelas) que sofrem calados: não aceitam o comportamento do companheiro, mas não verbalizam isso. O problema é que vão acumulando raiva em seu coração. Quando resolvem falar, não medem as palavras. As agressões – verbais ou de fato – parecem ser de inimigos mortais. Agora, o importante é humilhar o outro, para ficar claro que não há mesmo possibilidade alguma de reconciliação.
Para não se chegar a esse ponto, é preciso cultivar o diálogo. Mais do que escutar o outro, é importante ter a capacidade de se colocar no lugar dele, para ver o problema “do outro lado”. Um casal me confidenciou que, ao se casarem, tomaram uma decisão que marcou suas vidas: prometeram um ao outro que jamais dormiriam sem, antes, solucionar os problemas que pudessem ter surgido entre eles durante o dia. “Solucionar”, no caso, significava cultivar o perdão como atitude habitual. O perdão será menos difícil se cada um, em vez de atacar o outro de forma generalizada, chamar a atenção para erros concretos e para comportamentos que precisam ser corrigidos.
Na segunda etapa, cresce o desprezo pelo outro. Desprezar é uma forma de ignorar, de insultar, de ferir. O desprezo vem sempre acompanhado da implicância, dos insultos, da ridicularização. O objetivo a alcançar é a destruição do outro. O importante é sair vencedor.
Só se supera essa etapa quando ao menos um dos dois aceita não ver o outro como um inimigo, e passa a acreditar que não precisa provar que é o mais forte. “Quando estou fraco, então é que sou forte” (2Cor 12,10), diria o apóstolo Paulo.
Na terceira etapa, quem foi vítima de desprezo começa a se defender. Impõe-se a ideia de que a melhor defesa é o ataque. Ninguém mais escuta ninguém. Acabou-se a comunicação.
Consegue-se cortar essa situação somente com a disposição de escutar o outro, de prestar atenção nele, demonstrando que ele é importante.
Na quarta etapa, domina o mutismo. Um dos dois passa a ficar em silêncio, talvez até com o desejo de não piorar a situação. Mas, nessa hora, não é por aí que se soluciona o problema. É preciso, sim, deixar claro que se está escutando o outro. Ninguém consegue ficar indiferente diante de uma pessoa que lhe dá atenção. Escutar e prestar atenção com um coração pronto a acolher é uma maneira de criar pontes – pontes de diálogo e de perdão, pontes de comunhão.
Por fim, o que poderia ter sido escrito no começo: nos meus mais de quarenta anos a serviço da Igreja, atendendo a inúmeros casais, nunca encontrei um casal que rezasse diariamente, que colocasse Deus no centro de suas vidas e que tenha passado por crises matrimoniais insuperáveis. Para dizer isso de forma positiva, lembro a resposta que uma jovem me deu, quando lhe perguntei como estava a sua vida, já que havia se casado dois anos antes: “Meu marido sabe que eu amo a Deus mais do que a ele. Eu sei que meu marido ama a Deus mais do que a mim. A partir daí, tudo fica mais fácil e tudo se resolve sem grandes dificuldades...”
Fonte: aqui
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
Convidados a pensar o papel do Papa
Decorreu, na cidade francesa de Estrasburgo, entre os passados dias 28
de dezembro e 1 de janeiro, o 36.º Encontro Europeu de Jovens promovido pela Comunidade
Ecuménica de Taizé, que congregou cerca de 30 mil jovens de diversos países do
velho continente.
Na mensagem que o papa Francisco enviou a 19 de dezembro à comunidade,
recorda “com alegria” a passagem de encontro similar, em finais de 2012, pela
Praça São Pedro, com a participação de milhares de jovens e de Bento XVI, “em
particular, da bela oração” que os congregou. Mas Francisco vai mais longe ao
assegurar que “o Papa conta convosco para que, através da vossa fé e do vosso
testemunho, o espírito de paz e de reconciliação do Evangelho irradie entre os
vossos contemporâneos”.
Para além da mensagem papal, outras vieram a manifestar a unanimidade
de sentimento em apoio da iniciativa, de que se destacam as do Patriarca
Ecuménico Bartolomeu, do Patriarca de Moscovo, do Arcebispo de Cantuária, do
Secretário-geral da Aliança Mundial das Igrejas Reformadas, do Secretário-geral
do Conselho Ecuménico das Igrejas, do Secretário-geral da Federação Mundial
Luterana, do Secretário-geral das Nações Unidas e do Presidente do Conselho
Europeu.
A propósito das quatro propostas para 2014 – juntar-se à comunidade
local que reza, alargar a amizade para lá das fronteiras, partilhar e rezar
regularmente com outras pessoas e tornar mais visível a comunhão de todos os
que acreditam em Cristo – publicadas no site da Comunidade Ecuménica
de Taizé no dia 26 de dezembro, o irmão Alois, prior da comunidade e principal
responsável pelo encontro, esclarecia: “Por toda a terra os que amam Cristo
formam uma grande comunidade de amizade. A isso chama-se comunhão. Têm assim um
contributo a dar para curar as feridas da humanidade: sem quererem impor-se,
podem contribuir para uma mundialização da solidariedade, que não exclui nenhum
povo nem nenhuma pessoa”.
No espírito das quatro propostas enunciadas, durante as manhãs do
encontro, os jovens reuniram-se em “mais de 200 paróquias de acolhimento”, na
França e na Alemanha, para momentos de oração e partilha. Para as tardes de 29
e 30 de dezembro, o programa propunha vinte temas para reflexão como: crise,
desemprego, precariedade… necessidade de inventar um novo modelo económico;
justiça e direitos do homem; reflexões pessoais sobre o desafio de ser cristão;
diálogo ecuménico para coexistirmos tranquilamente ou para nos deixarmos
transformar pelo encontro com outros; Europa, terra de migrações: como podemos
viver melhor juntos. As orações comunitárias, à tarde e à noite, ocorreram
simultaneamente em três pavilhões do Wacken, o parque de exposições de
Estrasburgo, na catedral católica e na igreja protestante de São Paulo.
Para o prior de Taizé, apesar da paz “sem precedentes” na História da
Europa, permanece o “muro das consciências”. Entretanto, “os jovens que vieram
a Estrasburgo gostariam de uma Europa aberta e solidária: solidária entre todos
os países europeus e solidária com os povos mais pobres dos outros
continentes”. E acrescenta que os jovens “aspiram a uma outra organização
económica”, propondo que “à mundialização da economia esteja associada uma
mundialização da solidariedade”.
No atinente ao aspeto ecuménico e na sequência do celebrado encontro de
jovens, o irmão Alois, sucessor do irmão Roger Schutz, que fundou a comunidade
em 1940 e foi assassinado durante a oração da tarde numa cerimónia ecuménica em
16 de agosto de 2005, num artigo preparado para a Semana de Oração Pela
Unidade dos Cristãos, desafiou todos os cristãos a considerar que o bispo
de Roma pode “apoiar a comunhão entre todos”. Inspirado na verificação de que o
Papa Francisco “indica” a direção certa “ao apresentar como prioridade para
todos o anúncio da misericórdia de Deus” questiona: “Não poderiam todos os
cristãos considerar que o bispo de Roma é chamado a apoiar a comunhão entre
todos, uma comunhão em Cristo, onde podem permanecer algumas expressões
teológicas que comportam diferenças”?
Para tanto, é preciso atender ao apelo/compromisso assim expresso pelo
religioso ecuménico:
“Não falhemos neste momento providencial. Estou consciente de estar a
tocar um assunto muito quente e de o fazer de forma talvez deficiente. Contudo,
para avançar, parece-me inevitável que procuremos modos de entrar neste caminho
de uma diversidade reconciliada”, entendendo que as diversas confissões cristãs
devem encontrar formas de se colocarem todas “sob o mesmo teto” sem ficarem à
espera de “que todas as formulações teológicas estejam completamente
harmonizadas”.
Opina o prior de Taizé que “haverá sempre diferenças”, que devem ser
avaliadas em “conversas francas”, na certeza de que “muitas vezes podem também
conduzir a um enriquecimento”. E, ao referir a experiência de ecumenismo vivida
em Taizé, onde os jovens de diferentes confissões cristãs se sentem
“profundamente unidos”, sem com isso rebaixarem a sua fé a um mínimo
denominador comum, nem procederem a um nivelamento dos seus valores”, lança o
repto:
“Se é possível em Taizé, por que não será isso possível noutros
lugares?
O repto responde vivencialmente à demanda dos últimos pontífices
romanos, como, a seguir, se explana.
João XXIII, desejando que o envolvimento da Igreja Católica no
movimento ecuménico contemporâneo fosse um dos principais objetivos do Vaticano
II, criou a 5 de junho de 1960 um Secretariado para a promoção da unidade
dos cristãos como uma das comissões preparatórias para o concílio. Tal
organismo convidou as diversas confissões a enviar representantes seus às
sessões conciliares como observadores, apresentou à aula conciliar os projetos
de documentos sobre o ecumenismo, a liberdade religiosa e a relação com as
outras religiões, e colaborou com a comissão doutrinal na elaboração do projeto
de constituição dogmática sobre a divina revelação.
Paulo VI, que se desligou de adereços pontifícios como a tiara, o anel
precioso e a sede gestatória, publicou a célebre encíclica Ecclesiam Suam
sobre o diálogo e iniciou um programa de viagens apostólicas fora de Itália, em
que se tornaram usuais os encontros ecuménicos, confirmou o mesmo secretariado
como órgão permanente da Santa Sé.
A seguir a João Paulo I, que mal teve tempo de esboçar um sorriso de
simpatia ecuménica, surge o indizível João Paulo II, que transformou o
secretariado em Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos, em março de 1989. Mas
o papa polaco, que multiplicou as viagens pastorais quase por todo o mundo,
empenha-se esmeradamente pela problemática do ecumenismo.
A ela corresponde o ato de publicação da encíclica Ut unum sint,
em 1995, dedicada ao «empenho ecuménico» dos católicos nas suas relações com os
outros cristãos que se acham em comunhão verdadeira, mas imperfeita, com a
Igreja católica. No seu n. 95, o papa fazia-se eco «da solicitação que me é
dirigida – dizia – para encontrar uma forma de exercício do primado que, sem
renunciar de modo algum ao que é essencial da sua missão, se abra a uma
situação nova». Mais do que a doutrina da encíclica, deve registar-se a atitude
que redundou na tomada de uma decisão verdadeiramente histórica, ao convidar
«todos os pastores e os teólogos das nossas Igrejas para que procuremos,
naturalmente juntos, as formas mediante as quais este ministério possa realizar
um serviço de fé e de amor reconhecido por uns e por outros».
Bento XVI, que já tinha deixado cair o título de “Patriarca do
Ocidente”, com o seu gesto de renúncia ao exercício do múnus petrino, no
reconhecimento das limitações pessoais e para dar lugar a outrem, pareceu
também apontar para a redefinição da prática do exercício da função pontifical
de, numa atitude de amor (cf Jo 21,15) e solicitude, “confirmar os irmãos na
fé” (Lc 22,32) ou de pô-los a conviver sob o mesmo teto, não obstante as
diferenças, que sempre as “tereis convosco”.
Será que Francisco, o despojado de todos os empecilhos bispo de Roma,
que apela a que não “haja medo da ternura de Deus”, que propõe o pastoreio “com
o odor das ovelhas” e insiste na atitude inclusiva da promoção da fé, em vez da
sua fiscalização, vai liderar a chegada a bom porto da nau ecuménica em diálogo
efetivo e afetivo com os outros líderes? Conseguirá ele promover a crença dos
católicos, mormente os hierarcas, na colegialidade e na descentralização, de
modo que se garanta a augustiniana unidade no essencial e liberdade no
acessório ou seja, a valorização das diferenças porventura incómodas, mas
enriquecedoras?
2014.01.20
Louro de Carvalho
sábado, 18 de janeiro de 2014
Uma edificante lição de democracia
As diversas Igrejas cristãs iniciam hoje, 18 de janeiro, com términus a 25 do corrente mês, a denominada Semana de Oração para a Unidade dos Cristãos, para o que o Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos assumiu e divulgou um conjunto de materiais preparados em conjunto por aquele departamento da Cúria Romana e pela Comissão “Fé e Constituição”, do Conselho Mundial de Igrejas. Porém, o trabalho inicial foi levado a cabo por um grupo de representantes de várias partes do Canadá, reunido a convite do Centro Canadense para o Ecumenismo e do Centro para o Ecumenismo “La Prairie”.
O material, cujo tema gira em torno da questão Paulina “Estará Cristo dividido” (1 Cor 1,13), foi elaborado para o predito evento, é utilizável também em todo este ano civil e é suscetível de adaptação, preferivelmente mediante uma colaboração ecuménica, conforme as circunstâncias temporais, locais e humanas da celebração e/ou reflexão a promover. Os grandes promotores, que desejam que a preocupação orante e reflexiva pela unidade se tornem prática diária em todo o ano para que se alcance a unidade querida por Cristo, reconhecem a existência, em muitos lugares, de estruturas capazes de proceder à conveniente adaptação e acham razoável que a necessidade sentida de adaptação dos materiais oferecidos urja a utilidade da criação de tais estruturas ecuménicas onde elas ainda não existam. Por outro lado, fornecem indicações sobre a utilização dos textos durante a semana de oração, nestes termos: as igrejas e comunidades cristãs que celebram juntas num só ato a semana de unidade dispõem de um modelo de celebração ecuménica; aquelas que celebram conjuntamente atos ecuménicos em cada um dos dias (ou em alguns deles) dispõem de textos próprios para cada dia, para oração e reflexão, ao nível de sugestão e proposta; as que celebram a semana da unidade por si, sem visível ligação celebrativa a outras confissões, podem incorporar os textos sugeridos nas suas celebrações e reflexões; quem desejar proceder a estudos bíblicos sobre o tema da semana de oração encontrará nos materiais apresentados o apoio que lhe aprouver, podendo cada sessão de reflexão terminar com um momento final de oração de intercessão; e os orantes em privado podem dispor dos textos sugeridos para se sentirem em comunhão com todos aqueles que em todo o mundo rezam por uma unidade maior e mais visível da Igreja de Cristo.
Os conteúdos constantes do documento são: a transcrição de um texto bíblico (1 Coríntios 1, 1-17); uma introdução ao tema, em que a reflexão articula o teor do excerto da carta de São Paulo referenciada com o panorama canadense; um guião-tipo de celebração ecuménica, com uma introdução reflexiva e metodológica, o desenvolvimento da celebração (com leituras bíblicas, cânticos, alocuções e oração); um conjunto de reflexões bíblicas e orações para cada um dos dias do oitavário, com um subtema diário, citações bíblicas adrede selecionadas; três pontos para reflexão e oração de síntese própria do dia; uma resenha sobre o panorama ecuménico no Canadá; uma súmula dos temas do ano de 1968 a 2014, elaborados conjuntamente pela Comissão “Fé e Constituição” e pelo Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos, da Igreja Católica; e, finalmente, o elenco das datas mais significativas das ações desenvolvidas no âmbito da Semana de Oração para a Unidade dos Cristãos, que remonta ao ano de 1740, ano da criação do movimento pentecostal escocês, com ligações à América do Norte, a convidar à oração com e por todas as Igrejas.
Ora, por entre este arrazoado, onde se descortina a edificante lição de democracia?
Primeiro que tudo, na capacidade da criação conjunta, para lá das diferenças – territoriais, linguísticas, culturais e, sobretudo, religiosas – de materiais, com base numa ideia profundamente assumida de que “é muito mais o que nos une do que aquilo que nos separa”; a informação clara de quem iniciou o trabalho de produção dos materiais; a largueza da indicação de que, ao invés da reivindicação de quaisquer direitos autorais, os materiais podem ser adaptados conforme a oportunidade celebrativa e/ou reflexiva; a memoração dos diversos temas anuais desde que se evidenciou a iniciativa da sua elaboração conjunta, em pé de igualdade; o registo dos principais dados históricos do movimento ecuménico; e a vez e a voz dadas a uma considerável região de promoção ecuménica.
Apesar de os considerandos ora expostos já constituírem um valioso exemplo de atitude democrática, ao nível da participação, reconhecimento, respeito e informação, detenhamo-nos um pouco na reflexão concretizada pelas entidades canadenses referenciadas.
Reconhecendo que vivem num país marcado pela diversidade linguística, étnica, cultural e climática, de que resultam divisões sociais e políticas, também encarnam a diversidade das suas expressões da fé cristã. Porém, ao mesmo tempo, desejam permanecer fiéis ao desejo de Cristo de unidade de todos os seus discípulos, convictos de que, à maneira dos Coríntios, podem receber e valorizar os dons dos outros e, em meio de suas divisões, trabalhar para a efetiva unidade. Tentam, neste sentido, olhar para a natureza espetacular e diversificada do seu país – montanhas, bosques, lagos e rios – e para a sua considerável extensão, do Atlântico ao Pacífico e dos Estados Unidos ao polo Norte, fértil em termos agrícolas e rica em recurso naturais. Por outro lado, entendem que a carta paulina a apelar à unidade dos Coríntios em Cristo, o único móbil da fé cristã, apesar das divisões cavadas pela História dos homens, também se dirige aos hoje dos canadenses e de todos os cristãos. E aí eles se interrogam em que medida, para lá das atividades em comum, souberam respeitar, receber e valorizar os dons fornecidos por outras vivências do cristianismo, assente em outras culturas e origens étnicas e civilizacionais. E ainda questionam o que cada comunidade cristã pode fazer em prol de maior respeito, aprendizagem e caminho para a unidade essencial, sem anular a diferença enriquecedora de realizações no acessório.
Será, pois, o cruzamento destes dados vivenciais e problematizantes que preparam o perfil do novo homem democrático, que saberá servir com vista ao bem comum, no respeito pelas vontades legítimas e na consideração das diferenças, que tanto dividem como enriquecem, consoante o modo como forem encaradas, assumidas e sublimadas.
2014.01.18
Louro de Carvalho
BRUTAL! Portugal visto por Lobo Antunes
Nação valente e imortal
Agora sol na rua a fim de me melhorar a disposição, me reconciliar com a vida. Passa uma senhora de saco de compras: não estamos assim tão mal, ainda compramos coisas, que injusto tanta queixa, tanto lamento. Isto é internacional, meu caro, internacional e nós, estúpidos, culpamos logo os governos. Quem nos dá este solzinho, quem é? E de graça. Eles a trabalharem para nós, a trabalharem, a trabalharem e a gente, mal agradecidos, protestamos. Deixam de ser ministros e a sua vida um horror, suportado em estóico silêncio. Veja-se, por exemplo, o senhor Mexia, o senhor Dias Loureiro, o senhor Jorge Coelho, coitados. Não há um único que não esteja na franja da miséria. Um único. Mais aqueles rapazes generosos, que, não sendo ministros, deram o litro pelo País e só por orgulho não estendem a mão à caridade.
O senhor Rui Pedro Soares, os senhores Penedos pai e filho, que isto da bondade às vezes é hereditário, dúzias deles.
Tenham o sentido da realidade, portugueses, sejam gratos, sejam honestos, reconheçam o que eles sofreram, o que sofrem. Uns sacrificados, uns Cristos, que pecado feio, a ingratidão. O senhor Vale e Azevedo, outro santo, bem o exprimiu em Londres. O senhor Carlos Cruz, outro santo, bem o explicou em livros. E nós, por pura maldade, teimamos em não entender. Claro que há povos ainda piores do que o nosso: os islandeses, por exemplo, que se atrevem a meter os beneméritos em tribunal. Pelo menos nesse ponto, vá lá, sobra-nos um resto de humanidade, de respeito.
Um pozinho de consideração por almas eleitas, que Deus acolherá decerto, com especial ternura, na amplidão imensa do Seu seio. Já o estou a ver Senta-te aqui ao meu lado ó Loureiro Senta-te aqui ao meu lado ó Duarte Lima Senta-te aqui ao meu lado ó Azevedo que é o mínimo que se pode fazer por esses Padres Américos, pela nossa interminável lista de bem-aventurados, banqueiros, coitadinhos, gestores que o céu lhes dê saúde e boa sorte e demais penitentes de coração puro, espíritos de eleição, seguidores escrupulosos do Evangelho. E com a bandeirinha nacional na lapela, os patriotas, e com a arraia miúda no coração. E melhoram-nos obrigando-nos a sacrifícios purificadores, aproximando-nos dos banquetes de bem-aventuranças da Eternidade. As empresas fecham, os desempregados aumentam, os impostos crescem, penhoram casas, automóveis, o ar que respiramos e a maltosa incapaz de enxergar a capacidade purificadora destas medidas. Reformas ridículas, ordenados mínimos irrisórios, subsídios de cacaracá? Talvez. Mas passaremos sem dificuldade o buraco da agulha enquanto os Loureiros todos abdicam, por amor ao próximo, de uma Eternidade feliz. A transcendência deste acto dá-me vontade de ajoelhar à sua frente.
Dá-me vontade? Ajoelho à sua frente, indigno de lhes desapertar as correias dos sapatos. Vale e Azevedo para os Jerónimos, já! Loureiro para o Panteão, já! Jorge Coelho para o Mosteiro de Alcobaça, já! Sócrates para a Torre de Belém, já! A Torre de Belém não, que é tão feia. Para a Batalha. Fora com o Soldado Desconhecido, o Gama, o Herculano, as criaturas de pacotilha com que os livros de História nos enganaram.
Que o Dia de Camões passe a chamar-se Dia de Armando Vara. Haja sentido das proporções, haja espírito de medida, haja respeito. Estátuas equestres para todos, veneração nacional. Esta mania tacanha de perseguir o senhor Oliveira e Costa: libertem-no. Esta pouca vergonha contra os poucos que estão presos, os quase nenhuns que estão presos por, como provou o senhor Vale e Azevedo, como provou o senhor Carlos Cruz, hedionda perseguição pessoal com fins inconfessáveis. Admitam-no. E voltem a pôr o senhor Dias Loureiro no Conselho de Estado, de onde o obrigaram, por maldade e inveja, a sair. Quero o senhor Mexia no Terreiro do Paço, no lugar de D. José que, aliás, era um pateta. Quero outro mártir qualquer, tanto faz, no lugar do Marquês de Pombal, esse tirano.
Acabem com a pouca vergonha dos Sindicatos.
Acabem com as manifestações, as greves, os protestos, por favor deixem de pecar. Como pedia o doutor João das Regras, olhai, olhai bem, mas vêde. E tereis mais fominha e, em consequência, mais Paraíso. Agradeçam este solzinho.
Agradeçam a Linha Branca. Agradeçam a sopa e a peçazita de fruta do jantar.
Abaixo o Bem-Estar. Vocês falam em crise mas as actrizes das telenovelas continuam a aumentar o peito: onde é que está a crise, então? Não gostam de olhar aquelas generosas abundâncias que uns violadores de sepulturas, com a alcunha de cirurgiões plásticos, vos oferecem ao olhinho guloso? Não comem carne mas podem comer lábios da grossura de bifes do lombo e transformar as caras das mulheres em tenebrosas máscaras de Carnaval. Para isso já há dinheiro, não é? E vocês a queixarem-se sem vergonha, e vocês cartazes, cortejos, berros.
Proíbam-se os lamentos injustos. Não se vendem livros? Mentira. O senhor Rodrigo dos Santos vende e, enquanto vender, o nível da nossa cultura ultrapassa, sem dificuldade, a Academia Francesa. Que queremos? Temos peitos, lábios, literatura e os ministros e os ex-ministros a tomarem conta disto.
Sinceramente, sejamos justos, a que mais se pode aspirar? O resto são coisas insignificantes: desemprego, preços a dispararem, não haver com que pagar ao médico e à farmácia, ninharias. Como é que ainda sobram criaturas com a desfaçatez de protestarem? Da mesma forma que os processos importantes em tribunal a indignação há-de, fatalmente, de prescrever. E, magrinhos, magrinhos mas com peitos de litro e beijando-nos um aos outros com os bifes das bocas seremos, como é nossa obrigação, felizes.
Agora sol na rua a fim de me melhorar a disposição, me reconciliar com a vida. Passa uma senhora de saco de compras: não estamos assim tão mal, ainda compramos coisas, que injusto tanta queixa, tanto lamento. Isto é internacional, meu caro, internacional e nós, estúpidos, culpamos logo os governos. Quem nos dá este solzinho, quem é? E de graça. Eles a trabalharem para nós, a trabalharem, a trabalharem e a gente, mal agradecidos, protestamos. Deixam de ser ministros e a sua vida um horror, suportado em estóico silêncio. Veja-se, por exemplo, o senhor Mexia, o senhor Dias Loureiro, o senhor Jorge Coelho, coitados. Não há um único que não esteja na franja da miséria. Um único. Mais aqueles rapazes generosos, que, não sendo ministros, deram o litro pelo País e só por orgulho não estendem a mão à caridade.
O senhor Rui Pedro Soares, os senhores Penedos pai e filho, que isto da bondade às vezes é hereditário, dúzias deles.
Tenham o sentido da realidade, portugueses, sejam gratos, sejam honestos, reconheçam o que eles sofreram, o que sofrem. Uns sacrificados, uns Cristos, que pecado feio, a ingratidão. O senhor Vale e Azevedo, outro santo, bem o exprimiu em Londres. O senhor Carlos Cruz, outro santo, bem o explicou em livros. E nós, por pura maldade, teimamos em não entender. Claro que há povos ainda piores do que o nosso: os islandeses, por exemplo, que se atrevem a meter os beneméritos em tribunal. Pelo menos nesse ponto, vá lá, sobra-nos um resto de humanidade, de respeito.
Um pozinho de consideração por almas eleitas, que Deus acolherá decerto, com especial ternura, na amplidão imensa do Seu seio. Já o estou a ver Senta-te aqui ao meu lado ó Loureiro Senta-te aqui ao meu lado ó Duarte Lima Senta-te aqui ao meu lado ó Azevedo que é o mínimo que se pode fazer por esses Padres Américos, pela nossa interminável lista de bem-aventurados, banqueiros, coitadinhos, gestores que o céu lhes dê saúde e boa sorte e demais penitentes de coração puro, espíritos de eleição, seguidores escrupulosos do Evangelho. E com a bandeirinha nacional na lapela, os patriotas, e com a arraia miúda no coração. E melhoram-nos obrigando-nos a sacrifícios purificadores, aproximando-nos dos banquetes de bem-aventuranças da Eternidade. As empresas fecham, os desempregados aumentam, os impostos crescem, penhoram casas, automóveis, o ar que respiramos e a maltosa incapaz de enxergar a capacidade purificadora destas medidas. Reformas ridículas, ordenados mínimos irrisórios, subsídios de cacaracá? Talvez. Mas passaremos sem dificuldade o buraco da agulha enquanto os Loureiros todos abdicam, por amor ao próximo, de uma Eternidade feliz. A transcendência deste acto dá-me vontade de ajoelhar à sua frente.
Dá-me vontade? Ajoelho à sua frente, indigno de lhes desapertar as correias dos sapatos. Vale e Azevedo para os Jerónimos, já! Loureiro para o Panteão, já! Jorge Coelho para o Mosteiro de Alcobaça, já! Sócrates para a Torre de Belém, já! A Torre de Belém não, que é tão feia. Para a Batalha. Fora com o Soldado Desconhecido, o Gama, o Herculano, as criaturas de pacotilha com que os livros de História nos enganaram.
Que o Dia de Camões passe a chamar-se Dia de Armando Vara. Haja sentido das proporções, haja espírito de medida, haja respeito. Estátuas equestres para todos, veneração nacional. Esta mania tacanha de perseguir o senhor Oliveira e Costa: libertem-no. Esta pouca vergonha contra os poucos que estão presos, os quase nenhuns que estão presos por, como provou o senhor Vale e Azevedo, como provou o senhor Carlos Cruz, hedionda perseguição pessoal com fins inconfessáveis. Admitam-no. E voltem a pôr o senhor Dias Loureiro no Conselho de Estado, de onde o obrigaram, por maldade e inveja, a sair. Quero o senhor Mexia no Terreiro do Paço, no lugar de D. José que, aliás, era um pateta. Quero outro mártir qualquer, tanto faz, no lugar do Marquês de Pombal, esse tirano.
Acabem com a pouca vergonha dos Sindicatos.
Acabem com as manifestações, as greves, os protestos, por favor deixem de pecar. Como pedia o doutor João das Regras, olhai, olhai bem, mas vêde. E tereis mais fominha e, em consequência, mais Paraíso. Agradeçam este solzinho.
Agradeçam a Linha Branca. Agradeçam a sopa e a peçazita de fruta do jantar.
Abaixo o Bem-Estar. Vocês falam em crise mas as actrizes das telenovelas continuam a aumentar o peito: onde é que está a crise, então? Não gostam de olhar aquelas generosas abundâncias que uns violadores de sepulturas, com a alcunha de cirurgiões plásticos, vos oferecem ao olhinho guloso? Não comem carne mas podem comer lábios da grossura de bifes do lombo e transformar as caras das mulheres em tenebrosas máscaras de Carnaval. Para isso já há dinheiro, não é? E vocês a queixarem-se sem vergonha, e vocês cartazes, cortejos, berros.
Proíbam-se os lamentos injustos. Não se vendem livros? Mentira. O senhor Rodrigo dos Santos vende e, enquanto vender, o nível da nossa cultura ultrapassa, sem dificuldade, a Academia Francesa. Que queremos? Temos peitos, lábios, literatura e os ministros e os ex-ministros a tomarem conta disto.
Sinceramente, sejamos justos, a que mais se pode aspirar? O resto são coisas insignificantes: desemprego, preços a dispararem, não haver com que pagar ao médico e à farmácia, ninharias. Como é que ainda sobram criaturas com a desfaçatez de protestarem? Da mesma forma que os processos importantes em tribunal a indignação há-de, fatalmente, de prescrever. E, magrinhos, magrinhos mas com peitos de litro e beijando-nos um aos outros com os bifes das bocas seremos, como é nossa obrigação, felizes.
Revista Visão
Li aqui
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
Os que estão foram são os bons, os que estão dentro são péssimos
Os que estão dentro, os que perseveram, os que não desistem, os que se expõem, os que dão o corpo ao manifesto, esses são criticados, expostos, os fariseus, os corruptos, os escandalosos.
Os que estão fora porque não querem entrar, os que se limitam a ver "passar a procissão", os que ficam na berma a criticar quem passa, os que não se expõem mas gostam de expor os outros, os que, por comodidade, arranjam sempre desculpas para não entrar, esses são as vítimas, os melhores, os mais genuínos, os escandalizados, os que têm razão.
Não concordo minimamente com isto. Acho esta divisão injusta, desumana e vesga.
Os que estão e permanecem merecem-me absoluto respeito. Ao menos estão, expõem-se, dão "o corpo ao manifesto". Têm fragilidades, limitações, falhas, pecados? E quem os não tem? "Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores", disse Jesus.
O que é hoje politicamente correto é estar fora, ficar na margem. Assim podem sacudir a água do capote, não se expor e dar-se ao luxo de expor os outros e acusá-los pela sua não entrada.
E os que estão e caminham não têm que melhorar, emendar-se, caminhar com um coração em renovação, atentos à Palavra que lhe dá e indica a luz? Claro que sim. Ecclesia semper reformanda.
Agora estar sempre a "bater no ceguinho" e fazer dos católicos praticantes os culpados de tudo, isso não concordo e acho injusto.
Acho muito mais farisaica a atitude dos que estão fora e se desculpam de não entrar com as faltas e defeitos dos que estão e caminham. Daqueles que não querem ver a trave que têm nos olhos do coração, porque estão só fixados no cisco que existe nos olhos dos outros.
E o menos agradável nisto tudo é que há gente da Igreja a bater também no ceguinho...E gente com enorme responsabilidade.
Apesar do crime que cometeu, Pedro não foi expulso por Jesus do grupo dos seus seguidores; apesar da ânsia de poder de João e Tiago, não foram expulsos da comunidade dos seguidores de Jesus. O Mestre propôs a eles e a outros o caminho da conversão, não da acusação ou da expulsão.
Jesus não escolheu anjos, mas pessoas, frágeis como todos os outros, para colaborar no serviço do Evangelho. Mãos de barro que transportam a beleza da Boa notícia.
E sempre, ontem, hoje e amanhã, o importante é Cristo. Só Ele. Cristão vem de Cristo.
Um cano enterrado, sujo, talvez ferrugento, leva a água a nossas casas. O importante é a água boa que esse cano conduz.
O bispo é um pastor chamado a ouvir a todos, e não apenas alguns sempre prontos a lisonjeá-lo
Em sua exortação apostólica “Evangelii gaudium”, o Papa Francisco exorta cada igreja particular, porção da Igreja Católica sob a guia do seu bispo, à conversão missionária, que supõe uma saída constante às periferias do seu próprio território ou rumo aos novos âmbitos socioculturais.
Em outras palavras, que cada diocese tenha um impulso missionário cada vez mais intenso, generoso e fecundo, entrando em um processo decidido de discernimento, purificação e reforma.
E, como capitão de um barco, o primeiro em fazer seu este impulso é o bispo, quem, segundo o Papa, sempre deve incentivar a comunhão missionária em sua igreja diocesana, seguindo o ideal as primeiras comunidades cristãs, nas quais os crentes tinham um só coração e uma só alma.
Para isso, o Papa recorre a uma imagem que já utilizava quando era bispo de Buenos Aires e que, quando eu a comentei em um programa de rádio, um ouvinte me disse que isso não era magistério papal.
Pois bem, isso é sim magistério ordinário do Sucessor de Pedro, que diz sem hesitar que todo bispo “às vezes pôr-se-á à frente para indicar a estrada e sustentar a esperança do povo, outras vezes manter-se-á simplesmente no meio de todos com a sua proximidade simples e misericordiosa e, em certas circunstâncias, deverá caminhar atrás do povo, para ajudar aqueles que se atrasaram e sobretudo porque o próprio rebanho possui o olfato para encontrar novas estradas”.
Ou seja, hoje os bispos, além de docentes, são discentes do povo de Deus. E, para isso, destaca o Papa, cada bispo deve começar por “estimular e procurar o amadurecimento dos organismos de participação (...), com o desejo de ouvir a todos, e não apenas alguns sempre prontos a lisonjeá-lo”.
Os bispos não são imunes a esta típica tentação – talvez a menos grave, mas nem por isso a menos prejudicial – daqueles que têm certo poder no mundo: a de cercar-se de um grupo de protetores cuja única assessoria é bajulá-los, e que só servem para afastá-los da realidade, ou seja, do seu povo.
Manuel Bru, aqui
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
Francisco e o batismo de duas criancinhas especiais
O Papa Francisco, no passado dia 13 de janeiro, festa litúrgica do Batismo do Senhor, último dia do tempo litúrgico do Natal, presidiu à Celebração da Eucaristia, na Capela Sistina, em que se integrou a ministração do sacramento do batismo a 32 crianças. Desse grupo de crianças fazem parte duas crianças, das quais uma é filha de mãe solteira e outra de pais casados apenas civilmente.
A exceção surpreendeu pela positiva a opinião pública, que não se cansa de elogiar este gesto tido como inovador. Confesso que não me revejo nesse coro encomiástico pelo simples facto de que o anormal face à legislação canónica era a negação do sacramento do batismo a filhos de mães solteiras ou de pais casados apenas pelo civil. Creio ter-se confundido as exigências legais estatuídas para padrinho ou madrinha com as condições de vida dos pais, que não se escolhem, mas a quem se deve obediência na menoridade e respeito para sempre. É certo que a ação pastoral, sobretudo após o Concílio Vaticano II e a promulgação do Código de Direito Canónico por João Paulo II, em 1983, aconselhou vivamente a promoção da consciencialização e responsabilização de pais e padrinhos frente a este sacramento da iniciação cristã, de que resultou a organização dos CPB (Cursos de Preparação para o Batismo), os quais, tornando-se quase obrigatórios nunca constituíram condição sine qua non. Desde miúdo e nos ambientes que me foi dado conhecer e em que tive de intervir, sempre vi e pratiquei a prática inclusiva, no por muitos declarado pressuposto de que os filhos não podem ser responsabilizados pelos atos dos pais. Claro que sempre foi de respeitar os poucos casos em que os pais se opunham. O mesmo não se entendia em relação aos padrinhos, que tinham obrigatoriamente de haver recebido o batismo e, em situações normais, deviam ter uma vida em consonância com a fé cristã, ter a intenção de servir como verdadeiros padrinhos. E, enquanto o velho código, promulgado em 1917 por Bento XV, exigia que o padrinho e a madrinha tivessem atingido o uso da razão, o código de 1983 exige a idade de 16 anos e a receção do sacramento da confirmação ou crisma.
Mas vejamos o que reza a legislação canónica nos dois aludidos documentos, no atinente sujeito do batismo, se se tratar de criança, e aos pais. Não me deterei nos pressupostos filosóficos que enformam qualquer um dos referidos instrumentos legislativos nem a orientação teológica à luz da qual foram plasmados. Todavia, importa assegurar que entre o concílio ecuménico que precedeu cada um deles a promulgação do conveniente instrumento canónico mediou tempo suficiente para a formulação teológica pós-conciliar.
O Código de 1917 dedica ao assunto, no Livro III, sob a epígrafe “de rebus” e sob os designativos “de sacramentis” e “de baptismo”, os cânones 745 a 751. Define como sujeito do batismo todo o ser humano (e só ele) que peregrina no mundo (“viator”), ainda não batizado (C.745), e define como criança o ser humano que tenha atingido a idade de sete anos, a quem equipara os seres humanos que sejam destituídos do uso da razão. Nas restantes situações vale a disciplina vigente para os adultos. É óbvio que aquele código pressupõe como normal o ambiente de cristandade. Mesmo assim, fornece indicações minuciosas sobre o batismo sob condição ou em absoluto de crianças em fase de nascimento, crianças deformadas (CC.746, 747 e 748). Por sua vez, o cânone 749 determina que os expostos e os encontrados (“infantes expositi et inventi”) sejam batizados condicionalmente, a não ser que haja certeza segura de que já tenham sido batizados; o cânone 750, para as crianças que sejam filhas de pais infiéis (ou seja, aqueles que não têm fé), e o cânone 751, para crianças filhas de pais não católicos (ou em que um deles o não seja) ou que tenham incorrido em heresia, cisma ou apostasia, estabelece: que são licitamente (não diz obrigatoriamente) batizadas mesmo que os pais se oponham, desde que se preveja que venham a morrer antes de atingido uso da razão; e, fora do perigo de morte, são licitamente batizadas desde que seja acautelada a sua educação católica nos seguintes termos: se os pais ou tutores (ou, pelo menos, um deles) consentirem no batismo; ou se a criança se encontrar na situação de falta, abandono ou perda de vínculo por parte de familiares ou tutores. Como se vê, a legislação vigente até 1983 não impedia a ministração do batismo a filhos de mães solteiras (e eles não foram inventados a partir do último quartel do século XX) nem a filhos de pais casados apenas pelo civil (e em 1917 já pululavam as repúblicas com as leis do divórcio, do registo civil e da separação entre as Igrejas e os Estados).
Quanto ao código de João Paulo II, pontífice que não foi menos missionário que Bento XV, temos a matéria inserta no Livro IV (“do múnus santificador da Igreja”), na sua parte I (“dos sacramentos”) e no título I (“do batismo”) O cânones respeitantes ao nosso tema têm os números 864 (que também considera com sujeito do batismo todo e só o homem ainda não batizado) e de 867 a 871. O cânone 867 preceitua que, fora do perigo de morte, caso em que a criança deve ser batizada sem demora, os pais procurem, logo nas primeiras semanas, tratar do batismo do filho, pedindo o batismo ao pároco respetivo e preparando-se devidamente. O cânone 868 requer para a licitude do batismo o consentimento dos pais ou de quem as suas vezes fizer e a esperança de educação católica. Caso esta esperança falte totalmente, o batismo deve ser diferido no tempo indicando-se aos pais o motivo. Ora quantos não são serão os atos de batismo em que os pais tudo prometem cumprir, para que haja festa e beneplácito dos “arquiparentes”, e no dia seguinte dizem adeus à Igreja! O mesmo cânone refere que em perigo de morte filhos de pais católicos e até de não católicos são licitamente batizados mesmo contra a vontade dos pais. Por seu turno, o cânone 869 dispõe que, na dúvida sobre a existência do ato de batismo ou sua validade, o batismo deve ser ministrado sob condição. O cânone 870 manda que se batize a criança exposta ou encontrada (“infans expositus aut inventus”), a não ser que séria investigação conduza à certeza segura de já ter sido batizada. E o cânone 871 manda, quanto possível, batizar os fetos abortivos, se estiverem vivos.
Pelo exposto, tem de concluir-se como abusiva a prática excludente que foi alastrando por diversas parcelas territoriais da vetusta Igreja Católica, quiçá a coberto da procura de maior responsabilização, a par de ostensivo facilitismo noutras situações, sobretudo de apadrinhamento. Por isso, dificilmente se pode alinhar na declaração do porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa que se atém à generalizada “interpretação restritiva” da legislação eclesiástica e que ninguém deve ser “mais papista que o papa”.
Finalmente, quanto à atitude de Francisco, embora visualmente corajosa frente a algumas práticas indevidamente excludentes, a meu ver, e simpática aos olhos dos bem-intencionados e da opinião pública, que preza o achamento de diferenças substanciais nestes gestos pontificais, não passa de apelar ao mínimo de bom senso e de repor as coisas nos seus devidos termos – o valor e a importância do batismo (e mesmo da sua necessidade eclesial) acima das condições de quem o solicita “razoavelmente”, como ensinava a generalidade dos professores de Teologia Moral, mesmo antes do Vaticano II (Lembram-se os lamecenses do velhinho Morais e Costa ou dos lidos e relidos Eduardo Regatillo e Piñero Carrion?).
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
Portugueses ricos são egoístas e pouco solidários, conclui estudo
- "Há uma correlação negativa entre pessoas com elevados rendimentos e a preocupação para com a solidariedade"
- "O sistema educativo esqueceu-se de que o indivíduo não é só trabalho, é a relação com os outros, com a família. Não podemos educar apenas bons técnicos. Arriscamo-nos a ter ladrões competentes"
- "Menos de 60 por cento dos portugueses com estudos superiores considera importante lutar por uma causa justa"
- "Os mais infelizes, segundo o inquérito, são os que ganham menos de 500 euros e os que ganham mais de 4500"
Leia aqui o estudo. Vale a pena.
O anticlericalismo do Papa Francisco
O papa eleito a 13 de março de 2013 está a operar uma revolução do visual
do topo da Igreja Católica. De um modo geral, a sua atuação é encarada com
simpatia, embora necessariamente corra alguns riscos, que eventualmente podem
redundar em resultados desagradáveis. São, no entanto, de destacar duas
posições contraditórias: a de quem se diz agnóstico e até ateu e adere ao
franciscanismo de Bergoglio e anota tudo quanto ele diz ou faz de positivo em
termos antropológicos; e a dos ultraconservadores em cristianíssima vida, que o
acusam de marxista e anticlerical, irmanados na reação daqueles que, na
alegação de que era de esperar mais, já se mostram desiludidos porque não
avança com determinadas opções contrárias aos costumes defendidos
tradicionalmente pela hierarquia católica, como: a abolição do celibato
eclesiástico obrigatório, a ordenação sacerdotal de mulheres, o casamento de
pessoas do mesmo sexo, a contraceção, o relacionamento desempoeirado com os
divorciados recasados, a despenalização da interrupção voluntária da gravidez
(eufemismo para designar o aborto) e a eutanásia.
Simpatizando com o acolhimento dado à palavra e aos gestos papais por
parte de quem se sente do lado de fora, só gostaria de que tal acolhimento
progredisse em aprofundamento do pensamento em bases verdadeiramente
antropológicas com todas as consequências e não configurasse uma simples adesão
à atitude de uma imprensa alargada que desde cedo se tornou amiga do atual
bispo de Roma. Por outro lado, dou de barato o labéu com que lhe queiram atirar
de marxismo ou coisa parecida. Perante o panorama em que a crise pandémica
lançou o mundo, quero lá saber qual a ideologia dos críticos. Haja, sim, quem
denuncie as causas da crise, trave os resultados e proponha soluções
sustentáveis para o bem-estar de todos, mormente dos que não têm (ou deixaram
de ter) vez e voz. Também não creio que Francisco, na sua vis
reformista, desdiga uma vírgula da doutrina católica e costumes que ela inspira
nem mexa profundamente nas questões disciplinares meio fraturantes, como são o
celibato eclesiástico obrigatório na Igreja Latina, que não na oriental, e a
não ordenação sacerdotal de mulheres, embora as queira colocar em importantes
centros de decisão.
E que dizer do propalado anticlericalismo?
Na Igreja Católica distinguem-se duas condições: a laical e a clerical.
Uns são os leigos, membros do povo de Deus, em razão do batismo; e outros, que,
sem deixarem de ser povo de Deus assumem um serviço específico e constituem o
clero. Até à promulgação, em 15 de agosto de 1972, da Carta Apostólica
“Ministeria Quaedam” por Paulo VI, entrava-se na clerezia com a cerimónia da
Prima Tonsura, em que o bispo cortava umas repas de cabelo na cabeça do
candidato e o dava como pertencente ao clero, após o que ele deveria ostentar
no alto da cabeça uma rapadela de cabelo em círculo que se denominava de coroa.
Seguiam-se as ordens menores – ostiário, exorcista, leitor e acólito – tidas
como verdadeiros ministérios. Depois, vinham as ordens maiores – subdiaconado,
diaconado, presbiterado (os sacerdotes padres) e, em casos específicos, o
episcopado (os sacerdotes bispos). Com o subdiaconado assumia-se a obrigação de
rezar diariamente o ofício divino, conhecido como o breviário. Sacerdotes
(exerciam o sacerdócio ministerial, porque o sacerdócio comum era e é o de
todos os que são batizados) eram os padres e os bispos. Clérigos eram todos os
acima referidos que não fossem leigos. Depois da exaração e publicação daquela
carta apostólica, em consonância com as determinações do Concílio Vaticano II,
a Prima Tonsura e as Ordens Menores ficaram suprimidas e a entrada no clero
passa a suceder aquando da ordenação de diácono. Os candidatos ao sacerdócio
ministerial devem ser instituídos nos ministérios de leitor e de acólito
(podendo este continuar a ser chamado de subdiácono), a conferir pelo bispo ou
pelo superior maior de instituto religioso. A seguir, vem o diaconado, que pode
ser transitório rumo ao presbiterado ou permanente, caso em que pode ser
conferido também a homens casados, devidamente formados e amadurecidos na vida,
que não voltarão a casar em caso de viuvez.
Ora da condição de clérigo facilmente se passa ao clericalismo, que consiste,
entre outros fatores, no caráter quase sacral do traje próprio, nas imunidades,
na pretensa supremacia frente aos leigos, na impossibilidade psicossocial de
execução de determinadas atividades, na procura e manutenção de múltiplos
privilégios, na contraindicação de frequentar certos espaços e assim por
diante. Mais: ao clero – que devia ser dispensado do serviço militar, não devia
exercer a advocacia, a medicina e a atividade comercial – competia ensinar a
doutrina (era a expressão da Igreja docente); ao leigo cabia somente aprendê-la
(era a expressão da Igreja discente).
Porque a condição clerical se tornou excessiva na atitude, posição
social, vivência como casta à parte, acessível a quem não o deveria ter sido,
com base em prebendas, e porque se criou a confusão por muita gente aceite de
que frades e freiras também pertenciam ao clero – começou a desenhar-se, a
crescer e a agigantar-se a onda anticlerical. Mas a causa não vem somente do
clero. O racionalismo, num determinado momento, o liberalismo, o marxismo e o
positivismo, com o republicanismo exacerbado potenciaram exponencialmente o
combate já não somente ao clero, mas à Igreja e à própria religião.
Inclusivamente, decisões legislativas em si mesmas boas, por mais consentâneas
com o avanço civilizacional – como a declaração dos direitos do cidadão, a
separação da Igreja do Estado, o Registo Civil, a divisão dos poderes políticos
– foram produzidas em contexto ferozmente anticlerical, a ponto de se criar a
ideia da incompatibilidade entre catolicismo e república e se confundir clero e
religião, traje eclesiástico e estado clerical.
Nestes dias, apesar de se ter acertado na igualdade fundamental de todos
enquanto povo de Deus e embora se tenha esbatido a diferença entre as ditas
igreja docente e igreja discente, passando todos a ensinar e a aprender de
acordo com o seu grau de formação, mantém-se um certo clericalismo. Assim,
querem alguns que os padres vivam somente do altar, mas tornam-se mesquinhos no
contributo para o sustento do clero; querem outros que os padres se pronunciem
sobre quase tudo, mas acusam-nos de se meterem aonde não devem. Por outro lado,
parece haver a tentativa de fazer dos leigos uma espécie de padres de segunda
para obviar à falta de clero. E lá vêm as orientações de topo: a evangelização
é tarefa de todos, mas compete aos leigos envolver-se a fundo na vida económica
social e política e imbuí-la do espírito evangélico – com todas as suas
consequências de palavra, oração e ação – cabendo aos pastores (bispos e
padres) a palavra de estímulo, impulso e moderação, sem se perderem nas
querelas partidárias, a presidência às funções litúrgicas e o zelo pela pureza
da doutrina e dos costumes.
E o papa, que posição tem assumido neste contexto?
Todos o sabem: com o povo de Deus é cristão (pede que rezem, mistura-se
como as pessoas, vai um pouco ao encontro de todos os que lhe escrevem, falam
ou acenam, beija, abraça, coça a cabeça…); para o povo de Deus, é o bispo de
Roma, pelo que abençoa, prega, desloca-se, mostra-se em gestos pouco usuais;
para o mundo, tenta ser uma voz incómoda e de esperança e ser testemunha do
acolhimento de Cristo.
Mas mais do que “anticlerical” – contra imunidades indevidas, manutenção
de privilégios, combate ao carreirismo eclesiástico, repreensão a padres e bispos
por abusos, por gastos excessivos, por viagens demasiado frequentes – ele é
sobretudo “aclerical”.
Em que consiste o seu aclericalismo? Que os pastores se envolvam nos
ambientes e não fiquem permanentemente em casa ou no templo (fica na memória o
lava-pés a duas mulheres, sendo uma delas não cristã); vão aonde não é fácil
(ser pastores, mas com o odor das ovelhas) e não amoleçam nos ambientes
costumeiros; ajam sobre a base sustentante da oração (não rezar sem agir, não
agir sem rezar); sejam promotores da fé e não seus fiscais; e sejam fautores da
responsabilização, mas não recusam os bens da salvação a quem os solicite (fica
registado o batismo a filho de mãe solteira e a filha de pais casados
civilmente – parece ter-se confundido nos últimos tempos as condições de
apadrinhamento com as da paternidade / maternidade). Prefere viver em Santa
Marta com as pessoas e não isolado no apartamento do Palácio Apostólico, que
será desconforme, mas não luxuoso. Renuncia à limusine e ao papamóvel blindado
– corre risco que não teme. Quis viajar no Rio de Janeiro em automóvel normal e
ficou engarrafado no trânsito. É a vida!
E são estes alguns dos factos que emolduram aquilo que no Papa Francisco
parece compaginar uma certa rutura, um aclericalismo e, certamente, um desconforto
para quem estava demasiado formatado num quase imobilista dinamismo eclesial.
Porém, não fica vacinado contra algumas ambiguidades. Por exemplo, criticar os
bispos que viajam pode, ao salientar a responsabilidade pela própria diocese,
fazer obnubilar a paulina solicitude por todas as Igrejas ou envolver uma
crítica à designação de bispos só com título de diocese já não existente, só
para garantir o exercício de cargo. A residência em Santa Marta implicará a
inacessibilidade da unidade hoteleira a outros clientes; e a censura ao bispo
alemão gastador terá sido feita atendendo a um manifesto de populares e pode
não ter implicado a distinção entre o erário da diocese e o da casa episcopal,
habitualmente colocados em campos e responsabilidades diferentes.
Resta saber porque é que palavras bem eloquentes e gestos similares dos
predecessores foram tão ingloriamente esquecidos. Mas oxalá que se vá a tempo!
2014.01.13
Louro de Carvalhosegunda-feira, 13 de janeiro de 2014
Cristiano Ronaldo recebeu a Bola de Ouro 2013, a segunda na sua carreira
O internacional português recebeu a Bola de Ouro 2013, a segunda na sua carreira, derrotando Lionel Messi e Frank Ribéry.
Subiu as escadas, respirou fundo, e fez um discurso por entre soluços.
«Não há palavras para descrever este momento. Obrigado a todos os meus companheiros do Real Madrid, da seleção e à minha família que está aqui presente. É um orgulho enorme. Quero agradecer a todos, ao meu empresário, ao meu presidente e a todos as pessoas que estão aqui. Mencionar ainda o nome de Eusébio, e de Nélson Mandela. As pessoas que me são importantes: a minha namorada, o meu filho que me vê a ganhar a Bola de Ouro pela primeira vez. Se me esqueci de alguém peço desculpa porque estou emocionado e não me consigo lembrar de todos», declarou, tendo o filho a seu lado no palco.
Cristiano Ronaldo interrompeu, assim, a hegemonia de quatro Bolas de Ouro de Lionel Messi, e venceu, esta noite, o grande troféu que distingue o melhor jogador do mundo do ano de 2013.
O português distinguiu-se neste ano de 2013 ao marcar 69 golos, contra os 45 de Lionel Messi. CR7 já havia ganho este prémio em 2008, quando conquistou a Liga dos Campeões pelo Manchester United.
Fonte: aqui
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