quinta-feira, 1 de junho de 2023

O roteiro do Vaticano para o uso das redes sociais

O Dicastério para a Comunicação do Vaticano expôs suas ideias sobre o uso cristão das redes sociais em um documento intitulado "Rumo à presença plena", publicado em 29 de maio de 2023. Afirmando que "todo cristão é um microinfluenciador", o texto convida todos - inclusive os bispos - a se absterem de escrever ou compartilhar conteúdo que possa provocar mal-entendidos ou exacerbar divisões.

Resultado de uma reflexão coletiva envolvendo especialistas, professores, leigos, padres e religiosos, esse documento de 20 páginas, traduzido em 5 idiomas, tem como objetivo dar sentido à presença dos cristãos nas redes sociais. "Muitos cristãos estão pedindo inspiração e conselhos", diz o texto, assinado por Paolo Ruffini, Prefeito do Dicastério para a Comunicação, e Dom Lucio Ruiz, Secretário do mesmo Dicastério.

Os autores começam fazendo uma retrospectiva da desilusão gerada pela era digital, que "deveria ser uma 'terra prometida' onde as pessoas poderiam confiar em informações compartilhadas com base na transparência, na confiança e na experiência". Em vez disso, os ideais deram lugar às leis do mercado, e os usuários da Internet foram transformados em "consumidores" e "mercadorias", com seus perfis e dados sendo vendidos.

Outra armadilha identificada pelo departamento é que, no mundo digital, um grande número de pessoas continua marginalizado devido à "exclusão digital". As redes que deveriam unir as pessoas, em vez disso, "aprofundaram várias formas de divisão". Paolo Ruffini e Monsenhor Ruiz apontam para a criação de "bolhas de filtro" por algoritmos que impedem que os usuários "encontrem o 'outro' que é diferente", mas incentivam pessoas semelhantes a se encontrarem. No final, "as redes sociais estão se tornando um caminho que leva muitas pessoas à indiferença, à polarização e ao extremismo".

Mas o documento não é fatalista. "A rede social não é imutável. Nós podemos mudá-la", dizem os autores, que esperam que os cristãos possam se tornar "impulsionadores da mudança" e "incentivar as empresas de mídia a reconsiderar seu papel e permitir que a Internet se torne um espaço público genuíno".

Em uma escala diferente, o usuário cristão da Internet também deve ser capaz de realizar um "exame de consciência", para mostrar "discernimento" e "prudência". Nas redes, trata-se de garantir que "transmitamos informações verdadeiras, não apenas quando criamos conteúdo, mas também quando o compartilhamos", insiste o documento, que nos convida a fazer a nós mesmos a pergunta "Quem é meu próximo?" na Internet.

"Todos nós devemos levar a sério nossa 'influência'", adverte o dicastério, assegurando-nos de que "todo cristão é um microinfluenciador". Quanto maior o número de seguidores, maior a responsabilidade. Eles alertam contra a publicação ou o compartilhamento de "conteúdo que possa provocar mal-entendidos, exacerbar divisões, incitar conflitos e aprofundar preconceitos".

Os autores não hesitam em expressar sua tristeza pelo fato de que "bispos eminentes, pastores e líderes leigos" às vezes também se entregam a uma comunicação "polêmica e superficial". Diante disso, "o melhor curso de ação é, muitas vezes, não reagir ou reagir com o silêncio para não dar peso a essa falsa dinâmica", apontam.

Sobre o tema do silêncio, o texto reconhece que a cultura digital, "com a sobrecarga de estímulos e dados que recebemos", está desafiando os ambientes educacionais e de trabalho, bem como as famílias e as comunidades. O "silêncio" pode, portanto, ser comparado a uma "desintoxicação digital", que não é simplesmente "abstinência, mas sim um meio de estabelecer um contato mais profundo com Deus e com os outros".

Outros conselhos incluem não fazer "proselitismo" na internet, mas sim ouvir e dar testemunho. A comunicação não deve ser simplesmente uma "estratégia", diz o documento, e a busca por um público não deve ser um fim em si mesma. O texto lembra a atitude de Jesus, que não hesitou em se retirar e fugir das multidões para descansar e orar. "Seu objetivo […] não era aumentar sua audiência, mas revelar o amor do Pai", analisa o dicastério.

E quanto à liturgia digital?

"Não se pode compartilhar uma refeição através de uma tela". Reconhecendo que as redes sociais desempenharam um papel essencial e reconfortante na divulgação das celebrações litúrgicas durante a pandemia, o Dicastério para a Comunicação acredita que "ainda é necessária muita reflexão […] sobre como aproveitar o ambiente digital de uma forma que complemente a vida sacramental". De fato, "questões teológicas e pastorais foram levantadas", particularmente em relação à "exploração comercial da retransmissão da Santa Missa".

A era digital não deve apagar a atenção à "Igreja doméstica", insiste-se, a "Igreja que se reúne em casa e ao redor da mesa". Em outras palavras: a Internet pode complementar, mas não substituir, porque "a Eucaristia não é algo que podemos simplesmente 'assistir', é algo que realmente nos nutre".

In Aleteia

sábado, 27 de maio de 2023

Um justo vencedor

Eu sei que estou a ser "politicamente incorreto" em relação ao que pensa a maioria dos apaniguados do meu clube, o Futebol Clube do Porto. Para muitos  as arbitragens empurraram definitivamente o Benfica para o título. Não penso assim.  Seja quem for o clube que enraíze o seu insucesso nas arbitragens, está apenas "a enterrar a cabeça na areia."

O Porto perdeu este campeonato por culpa ou por debilidades próprias.  Especialmente pela dificuldade em ganhar aos chamados "mais fracos", já que quanto aos quatro primeiros classificados foi quem mais pontos ganhou. De maneira nenhuma esta situação se pode manter para a próxima época. É "crime" perder tantos pontos contra "os mais pequenos..."

O treinador Sérgio Conceição tem sido um gigante, como treinador e como portista, já que, não "tendo cão, tem caçado com gato".

Quem tem estado mal, muito mal é a estrutura dirigente do Clube e da SAD que ganhando loucuras, tem o Clube pelas ruas da amargura no especto económico e na falta de reforços condignos e à altura dos pergaminhos do Clube.

O Porto precisa de se reforçar muito em todos os sectores da equipa. Como não tem dinheiro, tem que ser muito cirúrgico.

Este ano desportivo, o Benfica mostrou melhor plantel, foi mais regular e praticou melhor futebol. Por isso, é justo vencedor.

    Podia não ter chegado? Podia. Bastava que o Porto cumprisse o seu dever e tivesse ganho ao Gil Vicente no Dragão...

sexta-feira, 26 de maio de 2023

P. Joaquim Dionísio nomeado bispo auxiliar do Porto

Papa nomeou D. Joaquim Dionísio como bispo auxiliar para a Diocese do Porto.
O bispo auxiliar foi nomeado com o título simbólico de Parténia, diocese histórica na atual Argélia.
A ordenação episcopal de D. Joaquim Dionísio vai ser celebrada no dia 16 de julho, na Catedral de Lamego, às 16h00.
***
O cónego Joaquim Proença Dionísio nasceu em São Martinho de Cimbres, concelho de Armamar, na diocese de Lamego, a 11 de setembro de 1968, e frequentou o Seminário Maior de Lamego e foi ordenado sacerdote na Catedral de Lamego em 31 de julho de 1993.
Enquanto sacerdote, desempenhou várias missões como pároco, foi capelão das comunidades de língua portuguesa em Frankfurt, na Diocese de Limburgo, e acompanhou as comunidades de língua portuguesa presentes na Diocese de Evry-Corbeil-Essones, em França.
Foi professor no Seminário Maior de Lamego e no Instituto Superior de Teologia em Viseu, diretor do semanário diocesano “Voz de Lamego”, diretor da Comissão Diocesana para as Vocações e Ministérios, diretor pedagógico e diretor da Escola Profissional de Lamego e diretor do Centro de Estudos Fé e Cultura (CEFECULT) para a formação de agentes da pastoral.
O novo bispo estudou Teologia Sistemática na Faculdade de Teologia e Ciências Religiosas do Institut Catholique de Paris, onde obteve, em 1 de julho de 2002, o grau de mestre em Teologia.
De 2013 a 2020, foi reitor do Seminário Maior de Lamego e de 2020 até ao presente é reitor do Santuário de Nossa Senhora da Lapa e pároco de São João Baptista, em Quintela da Lapa, no município de Sernancelhe.
Em 2021, foi também nomeado pároco de Nossa Senhora das Neves, em Granjal, e de Nossa Senhora da Conceição, em Lamosa, ainda em Sernancelhe.
***
O P. Joaquim foi meu aluno na Escola Secundária de Moimenta da Beira e foi igualmente meu paroquiano no tempo em que, juntamente com os padres Matias e Ramos, fui pároco da sua terra natal - Cimbres.
Mais tarde, nos seus dois primeiros anos de sacerdócio, trabalhámos em equipa nas paróquias que então nos estavam confiadas: Gouviães, S. João de Tarouca e Tarouca.
Homem de forte personalidade, intelectualmente brilhante, fé sólida, brincalhão e próximo das pessoas sem ser populista, comprometido com as tarefas que lhe eram pedidas, pessoa de trabalho, sabendo estar disponível, mas sabendo igualmente o momento de partir, demonstrando desapego e liberdade.
Parabéns, Joaquim!
Desejo e rezo para venhas a ser um Bispo feliz. Irradiando a graça, a alegria e a profecia do Evangelho.
Abraço de parabéns, amigo!

quinta-feira, 18 de maio de 2023

SELEM, POR FAVOR, AS ALBARDAS

 Cada cavadela sua minhoca”: Tudo o que envolva a Igreja tem de dar polémica. Não adianta a boa-fé ou a presunção de inocência. A trupe dos zeladores e delatores não dorme em serviço. Agora o cavalo de batalha é o selo da JMJ 23. Assim, os bentos paladinos da ética e moral da “res publica” – sem qualquer respeito pela liberdade criativa – disparam em todas as direções.

Talvez eu seja retrógrado, insensível, desinformado ou malformado, mas continuo a pensar que anda por aí, à solta, muito jerico sem albarda. Numa sociedade plural, onde a massa encefálica não servisse apenas para preencher o espaço físico do crânio, a leitura/interpretação do dito selo (sem malvadez ou freios ideológicos) poderia ser um belo exercício de pasmo estético.

Pelos vistos, veio despertar em virgens puritanas os seus traumas e fantasmas hibernados do antanho. Por certo, nada que um bom divã ou uma estadia em clínica de psiquiatria não resolva... Uma leitura ideologicamente despoluída da “informação/explicação oficial” poderia ser um belo começo, um sinal de esperança, augúrio de melhorias mentais.

«O selo comemorativo do Vaticano é inspirado no "Padrão dos Descobrimentos", o monumento que retrata a expansão além-mar de Portugal que fica às margens do rio Tejo, no bairro de Belém, em Lisboa. A estilizada caravela tem na proa o Infante D. Henrique, impulsionador da expansão marítima do país e outros protagonistas do império marítimo português. O monumento - de 56 metros de altura e 46 metros de comprimento - foi construído em 1960, 500 anos após a morte do Infante, para celebrar a Era dos Descobrimentos portugueses, como por exemplo, a chegada ao território brasileiro em 22 de abril de 1500, considerado um dos momentos mais marcantes das grandes navegações realizadas por eles durante todo o século XV.

Da mesma forma como o timoneiro D. Henrique lidera a tripulação na descoberta do novo mundo, assim também no selo do Vaticano o Papa Francisco conduz os jovens e a Igreja, representada pela barca de Pedro, na descoberta desta “mudança de época” - como afirmou o Pontífice por ocasião da Conferência Eclesial de Florença, sem se resignar a navegar apenas em águas rasas a ponto de ignorar a realidade do porto que os aguarda.

Desenhado pelo artista Stefano Morri, o selo retrata, assim, o Papa na proa de um barco, inspirado na caravela do Padrão dos Descobrimentos, que conduz os jovens para o futuro. No canto superior esquerdo encontra-se o logotipo do encontro feito pela jovem designer portuguesa Beatriz Roque Antunez. Este delineia, sobre o fundo de uma grande cruz, o dinamismo de Maria ao visitar Isabel, segundo o tema escolhido para o evento: “Maria levantou-se e partiu apressadamente”.

Numa mensagem em vídeo dirigida aos jovens em preparação para a JMJ de Lisboa, o Papa exortou: “neste encontro, nesta Jornada, aprendam sempre a olhar para o horizonte, a olhar sempre para além. Não levantem uma parede diante da vida de vocês. As paredes te fecham, o horizonte te faz crescer. Olhem sempre para o horizonte com os olhos, mas olhem sobretudo com o coração. Abram o coração a outras culturas, a outros rapazes, a outras moças que vêm também a esta Jornada.”»


(P. António Magalhães Sousa), aqui

sexta-feira, 12 de maio de 2023

Dois casos que me tocaram nos últimos dias...

O P.e Georgino Rocha, da Diocese de Aveiro, morreu nesta terça-feira, 9 de Maio, aos 82 anos, na Casa Sacerdotal onde residia.
Conheci o P.e Georgino quando eu era seminarista e ele um jovem padre. Recordo especialmente um encontro de Verão no âmbito do Movimento por um Mundo Melhor.
Apreciava imenso a sua fé comprometida, a proximidade natural, a competência e bagagem intelectual, o Aggiornamento, a aragem e clareza das ideias e proposta, a sintonia com a Igreja (costumava dizer-lhe que ele citava documentos dos papas como quem bebe água...). Ontem como hoje, a minha admiração para quem puxa a Igreja para a frente. Permitam-me a franqueza. Entendo que o grande flagelo da Igreja atual são os movimentos ultraconservadores e fundamentalistas que teimam em trazer para os nossos dias o farisaísmo que empurrou Jesus para a morte... São porventura grupos minoritários a quem as novas tecnologias permitem super ampliar a gritaria.

Escreve António Marujo em "7Margens":
" A 12 de Março, numa das últimas publicações na sua página do Facebook, Georgino Rocha foi buscar uma citação do padre Vítor Gonçalves, de Lisboa: “Não é a cruz que salva, mas o amor que nela foi e é crucificado. Não nos especializemos em fazer cruzes, mas em viver do amor até ao fim, que é o de Jesus. Nas coisas simples e profundas de cada dia, na atenção ao essencial, no esforço e no trabalho que elevam, na dedicação e não na burocracia. Onde existem cruzes que merecem receber o amor que atrai!”
No livro Ao Serviço da Fé na Sociedade Plural (ed. Princípia, 2007), Georgino Rocha escreveu: “É indispensável atender à dimensão popular da salvação e ‘inventar’ caminhos de evangelização acessíveis. Há experiências bem alicerçadas e cheias de interesse pastoral. Deus quer salvar-nos como povo. (…) A opção por grupos e pequenas comunidades tem a função de fermento, a fim de levedar toda a massa. Embora em minoria, a Igreja jamais pode renunciar à missão universal, ao horizonte do para todos e com todos.” Movia-o a paixão pela renovação da Igreja feita a partir da base e capaz de entender os anseios da sociedade. Uma renovação que, como disse no ano passado num dos artigos que decidiu escrever para o 7MARGENS, estava a “necessitar de novos impulsos”.

Descansa em paz, P.e Georgino! Tenho a certeza que vais bater muitas vezes ao Coração de Deus para que envie o Espírito Santo a fim de empurrar e arejar a Igreja, despoluindo-a e embebendo-a na Pessoa e Mensagem de Jesus Cristo!
Uma vez  Igreja pelo Batismo, Igreja para sempre. Seja neste mundo, seja na Vida Eterna.

Ele dá  a comida à esposa
O senhor Bispo esteve na Santa Casa da Misericórdia, no âmbito da Visita Pastoral a esta Paróquia.
Tudo correra muito bem e estávamos a partilhar uma refeição com os idosos. Nisto olho para o lado e vi um homem a dar de comer a uma senhora. Com um carinho e delicadeza tocantes. Informei-me e soube que eram marido e mulher. Ela com uma das doenças mentais da moda.
Este gesto marcou-me e encharcou-me o dia de satisfação. Não resisti e fui ao encontro do casal. "Faço sempre isto" - disse convictamente o senhor. 
No tempo do casa e separa, separa e casa, é bom sentir, viver  o testemunho da alegria de um amor que não foge, mas que se torna  beleza do serviço até ao fim. Afinal "as mais belas rosas têm espinhos"... Então não acrescentemos espinhos às rosas, mas aumentemos o perfume e encanto das rosas para que notemos menos os espinhos.

sexta-feira, 5 de maio de 2023

Minha Mãe, Minha Mãe!

Minha mãe, minha mãe! ai que saudade imensa,
Do tempo em que ajoelhava, orando, ao pé de ti.
Caía mansa a noite; e andorinhas aos pares
Cruzavam-se voando em torno dos seus lares,
Suspensos do beiral da casa onde eu nasci.
Era a hora em que já sobre o feno das eiras
Dormia quieto e manso o impávido lebréu.
Vinham-nos da montanha as canções das ceifeiras,
E a Lua branca, além, por entre as oliveiras,
Como a alma dum justo, ia em triunfo ao Céu!...
E, mãos postas, ao pé do altar do teu regaço,
Vendo a Lua subir, muda, alumiando o espaço,
Eu balbuciava a minha infantil oração,
Pedindo ao Deus que está no azul do firmamento
Que mandasse um alívio a cada sofrimento,
Que mandasse uma estrela a cada escuridão.
Por todos eu orava e por todos pedia.
Pelos mortos no horror da terra negra e fria,
Por todas as paixões e por todas as mágoas...
Pelos míseros que entre os uivos das procelas
Vão em noite sem Lua e num barco sem velas
Errantes através do turbilhão das águas.
O meu coração puro, imaculado e santo
Ia ao trono de Deus pedir, como inda vai,
Para toda a nudez um pano do seu manto,
Para toda a miséria o orvalho do seu pranto
E para todo o crime a seu perdão de Pai!...

(...)

A minha mãe faltou-me era eu pequenino,
Mas da sua piedade o fulgor diamantino
Ficou sempre abençoando a minha vida inteira,
Como junto dum leão um sorriso divino,
Como sobre uma forca um ramo de oliveira!
Guerra Junqueiro
(Excerto do Poema «Aos Simples»)

quinta-feira, 4 de maio de 2023

Nomeações de bispos: «Este processo que temos não está a funcionar» – Presidente da CEP

D. José Ornelas afirma que «não é aceitável» ter dioceses há mais de um ano sem bispo e que o Sínodo vai indicar alterações no Direito Canónico em «questões novas»

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 30 abr 2023 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) afirmou que o processo de nomeação de bispos “não está a funcionar” e considerou “inaceitável” ter dioceses sem bispo há mais de um ano, sugerindo que o Sínodo vai alterar normas atuais.

“Nós termos neste momento duas dioceses que já há um ano e tal estão sem bispo, uma já quase há um ano e meio, isto não é aceitável a meu ver”, afirmou D. José Ornelas, acrescentando que não tem elementos para afirmar se o atraso na nomeação decorre da “recusa” por parte de quem é escolhido.

Em entrevista conjunta à Agência Ecclesia e à Agência Lusa, após ter sido reeleito presidente da CEP para o triénio 2023-2026, o bispo de Leiria-Fátima sustentou que é necessário “rever” processo de nomeação dos bispos “para agilizá-lo e para o tornar mais participativo”.

D. José Ornelas considera o papel do Papa na nomeação dos bispos de todo o mundo “muito importante”, assim como a participação alargada “em termos de consulta de pessoas”, nomeadamente “leigos, padres, bispos”, mas defende uma organização “de outra forma, agilizando melhor, tornando mais rápido e eficiente o processo de escolha”.

O presidente da CEP valorizou o “caminho de sinodalidade” que está a acontecer “em toda a Igreja”, lembrando que há “questões novas” que “precisam ser repensadas e ajustadas”.

“Hoje temos questões novas que o Papa Francisco diz ‘não busquem simplesmente soluções do passado para os problemas de hoje’, não vai dar certo”.

A respeito de casais em segunda união ou uniões homossexuais, o presidente da CEP sublinhou que a Igreja não pode “simplesmente ignorar” a situação de “grande parte dos casais” que “acabam em separação” e disse que, no seguimento dos “caminhos que o próprio Papa Francisco foi abrindo sobre as questões de matrimónio”, é preciso ajudar as pessoas “a fazer um caminho de verdade e discernimento sobre a sua própria vida”, lembrando que “Jesus nunca recusou ninguém”.

Foto Diocese do Porto/JLC

“A Igreja não é só gente perfeita! É de gente que, às vezes, vive situações onde uma solução normal não chega!”, referiu.

D. José Ornelas referiu-se também a temas que “estão em franca discussão”, nomeadamente a ordenação de padres casados, lembrando que “é uma questão disciplinar, não é dogmática, que deve ser discutida, aceite e implementada pela Igreja no seu todo e não simplesmente porque cada um”.

O bispo de Leiria-Fátima considera que, pessoalmente, o sacerdócio das mulheres “é um tema que está em cima da mesa”, mas “não se põe ao mesmo nível dos outros” por razões “culturais”, sendo necessário não olhar apenas para a Igreja na Europa, mas “para a Igreja que está em todo o mundo, em diferentes culturas”.

“Não é simplesmente uma questão de moda, mas de ir ao encontro de uma sociedade que mudou e de uma cultura que está a mudar e encontrar a linguagem e caminhos novos para ir ao encontro dessa cultura. Foi sempre assim na Igreja”.

Questionado sobre a abordagem destes e de outros temas na síntese nacional do Sínodo, enviada para Roma em agosto de 2022, D. José Ornelas lembra que as mudanças suscitam “opiniões diversas” e que o “contraditório é muito importante”.

“Quando nós pensamos em Igreja, temos de aceitar esta discussão e depois temos de ter a coragem profética de dizer: agora é preciso ir para a frente!”

D. José Ornelas referiu-se a um “grupo de canonistas que está a seguir o Sínodo” para indicar “alterações que se devem fazer no próprio Direito” a partir das sugestões que vão sendo feitas e tornem possível o que já acontece só após ser pedido à Santa Sé.

“O Direito também tem de acompanhar isto, promover o que já está a acontecer e dar-lhe normas de direito de funcionamento”, afirmou.

Na entrevista conjunta à Agência Ecclesia e à Agência Lusa, D. José Ornelas referiu-se à sua reeleição para presidente da CEP e disse que chegou a pensar não aceitar um segundo mandato porque tem “uma diocese para cuidar e a diocese também se ressente se o bispo está muito tempo fora”.

O presidente da CEP diz que o último ano foi “desafiador e que exigiu tempo e muitos contactos”, considerando que “vale a pena”.

A respeito do trabalho da Conferência Episcopal Portuguesa, D. José Ornelas disse que é necessário um “secretariado mais organizado” e promover um “trabalho mais assertivo do ponto de vista comunicativo”, lembrando que “estão a dados passos nesse sentido, com a participação de leigos e de leigas competentes”, possível também no cargo de secretário da CEP.

PR, aqui

quarta-feira, 26 de abril de 2023

Valorize para que não acabe...

Fonte: aqui
O mal das pessoas é acharem que nada acaba. Que paciência não acaba, que o sentimento não acaba, que a saúde não acaba, que o dinheiro não acaba, que a beleza não acaba, que a fama não acaba, que a fé não acaba...
Se não valorizar, tudo acaba...

terça-feira, 25 de abril de 2023

25.Abril.23 - 49 ANOS DE DEMOCRACIA EM PORTUGAL

 Estamos a ouvir, mais uma vez, os discursos que já ouvimos muitas vezes, evocadores da democracia e da liberdade, e bem, mas muito desligados da realidade e dos problemas reais e verdadeiros dos portugueses.

Agradeço aos militares de Abril e aos que serviram o país. desde então até hoje, as muitas melhorias que foram acontecendo na vida do povo.
Em contraponto, lamento:
a escandalosa corrupção que tem sido uma constante, os muitos e exagerados privilégios dos políticos, a morosidade da justiça e a sua complacência com os poderosos e endinheirados, a desmoralizacao da juventude e da sociedade em geral, e as dificuldades económicas de uma grande parte dos nossos cidadãos.
Gostaria de ainda poder ver o seguinte:
-QUE A VIDA DO SER HUMANO FOSSE RESPEITADA POR TODOS, EM TODOS OS SEUS ESTÁDIOS DE DESENVOLVIMENTO, DESDE A GERAÇÃO ATÉ À MORTE NATURAL.
-QUE TODOS OS PORTUGUESES PUDESSEM TER MÉDICO DE FAMÍLIA QUANDO ESTÃO DOENTES E NÃO QUANDO O MÉDICO ENTENDE E QUER. QUANDO ACABARÃO AS FILAS DE ESPERA À PORTA DOS CENTROS DE SAÚDE, À CHUVA E AO FRIO, À ESPERA DE UMA CONSULTA QUE SÓ CHEGARÁ POR GRANDE SORTE?
-QUE AS NOSSAS CRIANÇAS E OS. NOSSOS JOVENS, EM VEZ DE SEREM FORMATADOS NUMA MORAL PERMISSIVA E NUMA SEXUALIDADE LIBERTINA, FOSSEM EDUCADOS NUMA LIBERDADE RESPONSÁVEL, NO RESPEITO PELOS OUTROS E POR SI PRÓPRIOS.
-QUE A JUSTIÇA FOSSE IGUAL PARA TODOS E SE ACABASSE COM ESTAS HABILIDADES E POSSIBILIDADES DE FUGIREM A JUSTIÇA OS PODEROSOS E OS ENDINHEIRADOS.
-QUE TODOS OS PORTUGUESES TIVESSEM POSSIBILIDADE E CONDIÇÕES PARA ADQUIRIREM OU ARRENDAREM UMA CASA DE HABITAÇÃO E, CONCRETAMENTE, QUE OS JOVENS PUDESSEM CONSTITUIR FAMÍLIA QUANDO O DESEJAM, SEM ESTAREM IMPEDIDOS DE O FAZER POR NÃO CONSEGUIREM CASA PARA VIVER.
-QUE DEIXÁSSEMOS DE VER PORTUGUESES A DORMIR E A MENDIGAR NA RUA.
-QUE NÃO FOSSEM PRIVILEGIADOS OS QUE GRITAM E FAZEM GREVES, E DESPREZADOS. ESQUECIDOS E ABANDONADOS OS QUE NÃO TÊM VOZ NEM CONSEGUEM SER OUVIDOS, E CARREGAM A SUA POBREZA NA MISÉRIA E NO SILÊNCIO.
-QUE TODOS OS IDOSOS E IDOSAS TIVESSEM UMA PENSÃO SUFICIENTE PARA SOBREVIVEREM COM UM MÍNIMO DE DIGNIDADE E ALGUÉM QUE CUIDASSE DELES COM CARINHO E COM AMOR. ENQUANTO SE DISTRIBUEM SUBSIDIOS E SUBSIDIOS A QUEM PODIA E DEVIA TRABALHAR, ATRIBUEM-SE PENSÕES DE MISÉRIA A QUEM TANTO E SEMPRE TRABALHOU, PENSÕES QUE NÃO DAO PARA COMPRAR ALIMENTOS E PARA ADQUIRIR MEDICAMENTOS.
-QUE TODAS AS MULHERES PUDESSEM TER A LIBERDADE E A POSSIBILIDADE DE TER FILHOS E DE CUIDAREM DELES EM CASA ENQUANTO ELES DELAS NECESSITAM, SEM CONSTRANGIMENTOS DAS SUAS ENTIDADES PATRONAIS, PUBLICAS OU PRI VADAS.
-QUE FOSSE RESPEITADO O DOMINGO PARA QUE TODOS OS CIDADÃOS - CRIANÇAS, JOVENS E ADULTOS - PUDESSEM ESTAR COM A SUA FAMÍLIA E CUMPRIR OS SEUS DEVERES RELIGIOSOS, SE ASSIM O DESEJAREM.
-QUE SE REDUZISSE ESTA ESCANDALOSA DESIGUALDADE. ENTRE OS RICOS DE MUITOS E MUITOS MILHÕES, E OS POBRES DE POUCOS E POUCOS TOSTÕES.
-QUE SE GASTASSE MENOS DINHEIRO EM FESTAS E EM FOGUETES, EM PARCERES E COMISSÕES, E SE CUIDASSE MAIS DOS PROBLEMAS E DAS CARÊNCIAS DOS PORTUGUESES, QUE AINDA SÃO TANTOS.
AS PROMESSAS DA REVOLUÇÃO ESTÃO MUITO LONGE DE SER CUMPRIDAS, O QUE É PENOSO E TRISTE.
Joaquim Correia Duarte, aqui

segunda-feira, 24 de abril de 2023

Para quando a ordenação de mulheres?


 É interessante ler nos Evangelhos o protagonismo que têm as mulheres na ressurreição de Jesus. São elas que dão a cara, ainda banhadas em lágrimas, e vão prestar todo o cuidado e zelo ao corpo do seu mestre e Senhor, carregadas de uma pura afetividade, e eis que se confrontam com um acontecimento inédito e original: Jesus dava sinais de que estava vivo. Coube-lhes a elas dar a grande notícia que iria fundar o Cristianismo e mudar a história da humanidade, sendo Maria Madalena denominada apóstola dos apóstolos, como sabemos. Já na paixão as mulheres marcam presença, uma limpa-lhe o rosto e outras choram a violência e a injustiça que cai sobre um inocente, um homem bom e santo. Onde estão os homens? Fico sempre a pensar como é que a Igreja cometeu a proeza de afastar as mulheres de Cristo, quando elas revelaram sempre por Jesus uma bondade e uma afetividade desmedidas.

Refiro-me, certamente, ao acesso ao sacerdócio pelas mulheres, que ainda hoje, por mais justificações que ouça, muitas sem qualquer consistência e razoabilidade, me deixam sempre tomado pela perplexidade. Infelizmente a Igreja transportou para dentro de si a mentalidade e a configuração cultural e social que se impôs na história, esse sim um autêntico pecado “original”: o predomínio do homem e a subalternização da mulher. Que mal terão feito as mulheres ao mundo e aos homens para serem, de longe, o género humano mais enxovalhado, explorado, violentado, discriminado e desvalorizado na história da humanidade! Jostein Gaarder escreve assim no seu livro O Mundo de Sofia: “Aristóteles pensava que algo faltava à mulher. Ela é um “homem incompleto”. Na reprodução, a mulher é passiva e recetora, enquanto o homem é ativo e dador. Por isso, segundo Aristóteles, a criança herdava apenas as características do homem. Todas as características da criança estavam contidas no sémen do homem. A mulher é como o terreno que recebe e conserva a semente, enquanto o homem é o próprio “semeador”. Ou, dito de uma forma verdadeiramente aristotélica: o homem dá a forma, a mulher dá a matéria. É surpreendente e lamentável que um homem tão perspicaz como Aristóteles se pudesse enganar de tal forma no que diz respeito à relação entre os sexos. A conceção aristotélica da mulher é particularmente grave porque se tornou predominante durante a Idade Média, e não a de Platão. Deste modo, também a Igreja herdou uma conceção da mulher para a qual não há justificação nenhuma na Bíblia. Jesus não era de modo algum inimigo das mulheres!”. Já agora vale a pena lembrar o que pensava Platão: “Segundo Platão, as mulheres tinham tanta racionalidade como os homens, se recebessem a mesma formação, e se fossem ainda libertadas do cuidado das crianças e das tarefas domésticas. Um estado que não educa e forma mulheres é como um homem que apenas exercita o seu braço direito.”.

Não sei se o autor está a ser rigoroso com o pensamento dos dois proeminentes filósofos, mas as suas visões são facilmente detetáveis na Igreja e na sociedade. Chegou o tempo de a Igreja remover esta pedra e acabar com a injustiça histórica que foi cometida contra as mulheres. E não lhe falta substrato evangélico para o fazer. Aliás, perdura a sensação de que a Igreja interrompeu o progresso do Evangelho. Jesus Cristo, no seu tempo, contribuiu para a promoção da mulher. Falava com elas abertamente na praça pública, teve discípulas e partilhava refeições em casa de amigas, o que para o seu tempo era subversivo. Não vejo que dom a menos tenham do que os homens para não poderem ter um papel mais interveniente e decisivo na vida da Igreja. São, atualmente, a força da Igreja: dão catequese na sua maioria, são zeladoras, integram em grande número os coros paroquiais, presidem ao terço, fazem parte das comissões, entre tantos outros serviços. É do mais elementar respeito pela dignidade da mulher que se promova o seu acesso ao sacerdócio, como afirma Phyllis Zagano: «Não preciso tornar o mundo todo cristão, mas gostaria de mostrar ao mundo que as mulheres são valiosas. Em particular para os crentes em Deus, que as mulheres são valiosas, são preciosas, não são um bem para possuir, não servem apenas para cozinhar e limpar. É muito importante fazer estas coisas, mas as mulheres têm um cérebro. E as mulheres são pessoas, humanas, totalmente humanas».

A Igreja tem de deixar de ser uma instituição que alimenta e favorece a inferioridade, a desvalorização e a discriminação da mulher. Ultimamente, já foram dados alguns passos importantes, como o acesso ao acolitado e leitorado, mais presença da mulher em setores nevrálgicos da vida da Igreja, mas ainda é preciso deixar as ligaduras e o sudário com que envolvemos a mulher e não a deixamos caminhar com a dignidade que Deus lhe deu. Um manto de desconfiança permanece sobre a condição da mulher, que hoje não tem qualquer sentido. Quando se trata de subir à capela-mor, alto lá que aqui é para homens. Sei que não é fácil mexer em dois mil anos de história, mas a história não é sagrada. Também é preciso corrigi-la. Quantas injustiças, abusos, violências e incorreções já não se corrigiram, apesar da força da história. É uma pena ver a Igreja a desperdiçar o talento intelectual, o valor humano e afetivo de tantas mulheres, que dariam um contributo decisivo para o enriquecimento da vida da Igreja, na liturgia e na obra da evangelização, e contribuiriam para uma melhor e mais equilibrada presença da Igreja no mundo, no cumprimento da sua missão. Para uma Igreja que se considera conduzida pelo Espírito Santo (em hebraico, Ruah – espírito, sopro – é uma palavra feminina), esperemos a coragem de se romper com a história e de se dar à mulher a devida promoção, que nunca lhe deveria ter sido negada.

Mas não foi esta a vontade de Jesus? Não vejo nenhum gesto ou dito significativo de Jesus que nos permita epilogar que o sacerdócio é um privilégio dos homens. Mas então Jesus não escolheu só homens? Pudera, num tempo de total irrelevância social e descrédito da mulher, seria um suicídio deixar uma missão nas mãos das mulheres. Hoje sabemos fazer uma releitura mais correta das opções de Jesus. E pergunto também: como sustentar que Deus só chama homens para o sacerdócio? Por que é que Deus embirra com as mulheres? O problema não está em Deus, está na Igreja.  Será consensual afirmar que Jesus deixou o sacerdócio à Igreja, não aos homens. Estes é que se apropriaram do sacerdócio, por algumas razões que já invoquei.

Mas é a tradição, dirão muitos. Como muito bem já disse o Papa Francisco, a tradição não é repetição perpetuada no tempo. A tradição também deve adaptar-se e evoluir. A Igreja reclama para si que gosta de ser pedagógica, então faça, quanto antes, por promover como deve ser a dignidade da mulher. O batismo concede o mesmo Espírito e a mesma dignidade de filhos de Deus a homens e a mulheres, mas depois os homens têm acesso a sete sacramentos e as mulheres apenas a seis. Os sete sacramentos representam a plenitude da vida cristã. Qual o fundamento divino, doutrinal, humano e religioso para esta diferenciação? O que é que uma mulher tem a menos como ser humano, ou como cristã filha de Deus?

Diz-nos o Evangelho de Marcos, que depois do sábado, as mulheres compraram aromas para irem ungir o corpo de Jesus. Pelo caminho perguntaram: quem nos irá rolar a pedra da entrada do sepulcro? Eis a pergunta que perdura: para quando faremos rolar a pedra que impede as mulheres de acederem, por chamamento de Deus e da Igreja, ao sacerdócio?

Padre Vítor Pereira, Diocese de Vila Real, aqui

quinta-feira, 20 de abril de 2023

Bragança e Setúbal: mais de um ano à espera - Cinco padres recusaram convite para serem bispos – mas há quem culpe o núncio

Ordenação episcopal de Delfim Gomes, padre de Bragança, 
para auxiliar de Braga: 
várias vozes lamentam que a nomeação tenha ocorrido 
antes de haver um novo bispo para Bragança. Foto © Agência Ecclesia/OC
 

A responsabilidade é do núncio do Vaticano em Lisboa, dizem algumas vozes. O problema está nos cinco padres (ou seis, segundo outras fontes) que já recusaram o convite, acrescentam outras. As dioceses de Bragança-Miranda e de Setúbal estão sem bispo há mais de um ano (Bragança passou agora os 500 dias) e não há maneira de haver nomeação de um novo bispo. O 7MARGENS perguntou ao núncio (embaixador) da Santa Sé em Lisboa, antes da Páscoa, se haveria novidades em breve, mas o bispo Ivo Scapolo deu instruções para que a carta enviada por correio electrónico não tivesse qualquer resposta.

Tudo isto ocorre num quadro em que mais cinco dioceses estão à beira de ficar sem bispo: Manuel Felício (Guarda), por limite de idade, e João Marcos (Beja), por razões de saúde, já pediram para sair. O cardeal Manuel Clemente (Lisboa), Antonino Dias (Portalegre) e Manuel Quintas (Algarve) atingirão os 75 anos ainda este ano e no início do próximo.

No caso de Bragança-Miranda, a primeira a ficar sem bispo, a diocese conta já mais de 500 dias (502 nesta quarta-feira, 19 de Abril) sem titular, desde que José Cordeiro foi nomeado arcebispo de Braga, em 3 de Dezembro de 2021 – há 16 meses.

O padre José Ribeiro, 61 anos, que trabalhou onze anos na Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, em Roma (entre 2010-2021), diz que o não haver bispo nomeado significa que “alguém não faz o trabalho de casa – e quem não o faz é a nunciatura”.

Vários clérigos de Bragança atestam, no entanto, que seis padres já recusaram o convite para o cargo de bispo de Bragança. Esta semana, o 7MARGENS soube que um padre da diocese de Lamego recusou essa possibilidade. E, nas dioceses a norte de Leiria e Santarém, há mais dois nomes identificados que enjeitaram a possibilidade de nomeação para bispo. Outros dois, cujo nome não nos foi referido, terão dado a mesma resposta.

O próprio cardeal Marc Ouellet, que até há dias era o prefeito do Dicastério para os Bispos, do Vaticano, confidenciou há meses que, em todo o mundo, há cerca de 30 por cento de padres que recusam o convite para bispo.

Confrontado com estes dados, o padre José Ribeiro insiste em que “a nunciatura tem toda a responsabilidade”. No seu trabalho no Vaticano contactava com bispos de todo o mundo e compara: o Brasil tem 278 dioceses e a nomeação de bispos “funciona como um relógio: não sai um sem se nomear outro”, só muitos poucos casos são excepção.

 

Perguntas para não responder

Ivo Scapolo, núncio em Portugal, não acusa a recepção do correio. Foto: Direitos reservados

Nas perguntas dirigidas ao núncio apostólico, o 7MARGENS questionou o bispo Scapolo com este “longo atraso” na nomeação dos novos bispos, “sobretudo agora, quando se avizinha a JMJ e no momento de preocupação que a Igreja está a viver em Portugal, com a divulgação do relatório sobre os abusos sexuais”. Ao mesmo tempo, sobre este último tema, perguntava-se também se o Papa tomou conhecimento do referido relatório, através da Nunciatura. E se, “comparando a situação de Portugal com o que se passou no Chile, a solução para o momento difícil que a Conferência Episcopal atravessa poderia passar pela colocação dos lugares de bispo à disposição do Santo Padre, para que ele possa decidir o futuro de cada diocese”. O núncio, no entanto, prefere não acusar sequer a recepção do correio de jornalistas, como já antes tinha feito, conforme informou uma funcionária da Nunciatura.

Alberto Pais, 40 anos, professor do ensino secundário e teólogo em Bragança, diz sentir que as pessoas que conhecem estes processos ficam “incomodadas por estarem há tanto tempo sem bispo” e ainda “por terem ido dois membros do presbitério diocesano para Braga”.

Uma referência ao facto de Bragança ter “perdido” dois clérigos para Braga: quer o agora arcebispo da cidade minhota quer o padre Delfim Gomes, que foi pouco depois nomeado para seu bispo auxiliar, são oriundos do clero brigantino. Em Outubro, na altura desta nomeação, vários padres de Bragança, Setúbal e Angra (que também esteve 14 meses sem bispo, como já tinha acontecido com Viana do Castelo) manifestaram estranheza e incredulidade.

José Cordeiro, o agora arcebispo de Braga, admite que “gostaria que em breve fosse anunciado um novo nome” como seu sucessor. Mas em relação ao facto de ter visto o seu pedido de um auxiliar para Braga satisfeito quase imediatamente diz apenas que não ousava esperar” essa brevidade “e também pensava que fosse mais rápida a sucessão” em Bragança.

 

E mais perguntas

“O trabalho fundamental de um núncio” é preparar os dossiês, diz o padre José Ribeiro. “E o pior é o que se passou com a nomeação” do novo bispo auxiliar de Braga, acrescenta, com o núncio a aceitar nomear primeiro o auxiliar em vez do sucessor para Bragança.

O padre José Carlos Martins, capelão da Misericórdia de Bragança e responsável de nove paróquias, critica também a nomeação de um bispo auxiliar para Braga antes de haver um para Bragança. “Como se tem essa ousadia?”, pergunta. “Cada dia que passa a situação degrada-se”, diz, apesar do papel positivo do administrador apostólico, padre Adelino Paes. “No terreno é que se sente.”

Adelino Paes, no cargo desde a saída de José Cordeiro para Braga, desconhece as razões de tanta demora. “Presumo que o processo está a decorrer com normalidade, ainda que não com brevidade. Estamos a aguardar ansiosamente”, afirma, acrescentando que não tem “conhecimento de recusas”.

Na Missa Crismal de Quinta-Feira Santa, que presidiu na presença de todo o clero da diocese, o bispo emérito de Bragança, António Montes Moreira, começou a sua homilia por afirmar que continua a rezar com a diocese para que Deus “remova as dúvidas e hesitações dos homens e em breve conceda” um novo bispo a Bragança-Miranda.

Vários membros do clero leram estas palavras como uma referência ao papel do núncio e às recusas de vários padres em aceitarem os convites que lhes são dirigidos.

Alberto Pais, o único não-clérigo ouvido pelo 7MARGENS, admite que não sabe “a quem compete acelerar o processo”, mas faz várias perguntas a propósito das recusas: “O episcopado é visto como uma carreira? Será por ser esta diocese? Ou pelos desafios a enfrentar de um território vasto e população reduzida? Espantam-me as recusas, os padres têm de ter um espírito de missão.” E conclui, com uma nota lateral: “Os leigos deveriam ter mais participação nestes processos.”

 

Setúbal: núncio sorri e pede para esperar

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Sé de Setúbal: 446 dias à espera de quem ocupe a cátedra do bispo. Foto © Diocese de Setúbal. 

 

Em Setúbal, a diocese está vaga desde 28 de Janeiro do ano passado – há quase 15 meses –, quando o bispo José Ornelas foi nomeado para Leiria-Fátima. São 446 dias, completados nessa quarta, 19.

“O núncio sorri e vai dizendo para esperar”, diz o padre José João Lobato, administrador apostólico desde então. “Há duas possibilidades para explicar o facto: ou Setúbal não é uma diocese fácil; ou os convidados não aceitam porque são livres de o fazer ou não.”

A maior parte do clero da diocese está ansioso, diz ainda o responsável interino. Setúbal iniciou um sínodo diocesano para assinalar os 50 anos da diocese em 2025, mas agora há muita coisa “parada, ninguém pode decidir nada”. Sobre a atitude dos católicos, diz que “as pessoas se vão habituando”, o que “também é problemático”. E acresce a este quadro “a dificuldade da situação presente”, com vários padres a serem “atacados, a viver situações difíceis” por causa dos abusos sexuais.

Um outro clérigo da diocese diz que se tem falado, nos últimos tempos, de um padre da diocese de Beja mas que trabalha na zona litoral, e do bispo auxiliar de Braga, Nuno Almeida, como hipóteses para a nomeação. “É uma grande nebulosa e uma situação complicada para o novo bispo”, até pela relevância que tem em Setúbal um grupo de padres ligados ao movimento Comunhão e Libertação, olhado como mais “conservador”.

“É quase um não assunto, as pessoas já se acostumaram”, refere um terceiro clérigo ouvido pelo 7MARGENS. A mesma ideia é referida pelo padre Daniel Nascimento que, sendo parte do clero da diocese, está actualmente a fazer doutoramento em Jerusalém, na área da Bíblia. “Tenho uma perspectiva muito limitada: dou aulas, não tenho paróquia, não tenho contacto contínuo com comunidades concretas. Mas, mais do que queixas, sinto estranheza: as pessoas não percebem esta demora, mas já pouco falam disso.”

A situação tem “um efeito negativo entre o clero e as comunidades, pela falta do bispo que reúna e trace uma linha unificadora”. O padre Daniel ouve comentários de quem tem a ideia “de que está cada um para seu lado” e que, com a Jornada Mundial da Juventude à porta, a situação não se devia ter arrastado. “O padre Lobato tem feito o que pode, mas um administrador não pode fazer tudo.”

De qualquer modo, Daniel Nascimento também não responsabiliza o núncio: “Não sei dizer. Culpar o núncio é muito fácil, mas a pressão recente por causa dos abusos exigirá muito mais cuidado na escolha e também torna compreensível que haja mais recusas.” E conclui: “Um processo pouco ágil, com as recusas e o momento que estamos a viver, dá nisto.”

Voltando a Bragança, mas olhando para o mundo que também ficou a conhecer nos 11 anos em que trabalhou no Vaticano, o padre José Ribeiro nota: “Há tempos, cruzei-me com um político português que me disse que o nível dos bispos está a baixar consideravelmente. Não admira que, quando são solicitadas pessoas, algumas sejam sensatas suficientemente para recusar.”

 | 19 Abr 2023, aqui

quinta-feira, 13 de abril de 2023