terça-feira, 28 de maio de 2024

 


quinta-feira, 23 de maio de 2024

Por um tempo sem homilias. Artigo de Sergio Di Benedetto

 Depois de Pentecostes, recomeça o Tempo Comum: poderia ser útil suspender as homilias dominicais por um período, para voltarmos a nos concentrar na Palavra, no silêncio, na oração, na profundidade espiritual.

O comentário é de Sergio Di Benedetto, professor de Literatura Italiana na Universidade da Suíça Italiana, em Lugano. O artigo foi publicado por Vino Nuovo, 12-05-2024. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

homilia, como se sabe, é um dos assuntos preferidos da polêmica eclesial: porque é longa, prolixa, retórica, óbvia, superficial, abstrata, copiada etc... São muitos os motivos, muitas vezes válidos, pelos quais o momento da homilia é mais sofrido do que vivido: escutamo-la com esforço (se tudo correr bem) obtendo algumas intuições para a própria vida... E, se tudo correr mal, ouvem-se palavras que vagam pelo ar, esperando que o pregador se apresse ou pensando em outra coisa. E os próprios pregadores estão cientes disso, porque qualquer pessoa que fala em público se dá conta se o público está realmente ouvindo ou navegando em outros mares do pensamento (e do tédio).

Fala-se de homilia há já algum tempo: Francisco dedicou ao tema um núcleo da Evangelii gaudium (a partir do parágrafo 135), dando repetidamente recomendações sobre tempos, modos, temas... mas muitas vezes todas essas exortações caíram no vazio.

Esperamos – para quem ainda permanece fiel às celebrações dominicais – encontrar o padre “certo” que faça a missa durar o tempo necessário, passando ilesos pelo momento da homilia.

Além disso, pode acontecer que, por outro lado, escute-se uma pregação verdadeiramente inspirada na Palavra de Deus e “aproveitável” na relação com Deus e com a humanidade de hoje: mas é uma mercadoria rara, uma mercadoria procurada: uma espécie de panda eclesial, a ser protegido e cuidado.

Talvez tenha chegado o momento de nos darmos um tempo de “suspensão” das homilias dominicais: algumas semanas, alguns meses – talvez aproveitando o Tempo Comum que começa na próxima semana – para dar uma folga à assembleia e também aos pregadores, os quais, todos os domingos, têm de encontrar algo significativo para dizer sobre a Palavra e a vida, pregadores que, às vezes, recorrem ao atalho de baixar da internet palavras alheias (não se lembrando de que basta colocar uma breve frase na rede para entender a fonte de suas palavras e também de seus escritos – lembro-me de um padre que lia lindamente as homilias alheias na igreja ou de outro que, no boletim paroquial, fazia passar como se fossem seus os artigos alheios, confiando que ninguém se daria conta disso).

Um tempo de suspensão, que substitua a homilia por alguns instantes de silêncio, talvez guiados por algumas perguntas; e que desperte, assim, no povo de Deus o desejo de escutar alguma boa voz sobre a Palavra e que suscite no clero uma reflexão séria sobre a qualidade da própria pregação.

Um tempo de silêncio e de oração, que devolva, assim, as celebrações aos cânones do equilíbrio e da razoabilidade, até mesmo cronológica.

Um tempo sem homilias, que seja de purificação do dizer e do escutar, em uma sociedade hiperverborrágica, em uma Igreja que custa para encontrar as palavras para hoje.

Um tempo de pausa e de debate, que possa, assim, reiterar que o centro da missa é formado pela Palavra e pela Eucaristia, e não por outras coisas (muito menos o narcisismo retórico do pregador).

Um tempo sem pregação, que alimente e abra, talvez com alguns simples auxílios, ao retorno meditado e cotidiano à Palavra dominical.

Um tempo de trégua, também, para fortalecer novamente a paciência do povo de Deus, não raramente posto a dura prova pelos pregadores.

Um tempo de pausa, para ajudar os pregadores a regenerarem uma tarefa preciosa de seu ministério.

Se quisermos ser formais, o Código de Direito Canônico diz que a homilia dominical pode ser suspensa por “causa grave” (cânone 767). O desgaste da escuta da Palavra de Deus entre os fiéis talvez poderia ser uma “causa grave” nesta virada de século.

E quem sabe alguém volte à missa...

Fonte: aqui