Luís, Pedro e Andreia são irmãos. O Luís terminou a sua licenciatura; O Pedro, está no 2º ano da Faculdade; a Andreia, concluiu o 12º ano e acaba de fazer a sua candidatura à Universidade.
Os pais, gente simples e boa, não têm grandes recursos económicos. Nunca esconderam aos filhos a falta de recursos e sempre dialogaram com eles sobre a realidade. Não podiam ter os telemóveis de marca nem as roupas que outros possuem. Sempre os ensinaram que podiam chegar onde os outros chegam desde que usassem o melhor recurso que Deus lhes deu: a inteligência e a força de vontade.
Os jovens não se sentem inferiores a ninguém, não são revoltados, aceitam a situação com naturalidade. Por isso, sabem com que podem e não podem contar.
Terminados há pouco os exames, ei-los de férias. Fechados em casa, hipnotizados pelo computador? Caminhando para as piscinas e rebolando na água ou na toalha? Saltitando de concerto em concerto de música?
Não.
O mais velho inscreveu-se no voluntariado que tem a ver com a protecção da floresta, área da sua formação. Rapidamente se impôs e foi chamado para estudar os dados recolhidos, fazer relatórios, apresentar estudos…
O Pedro acompanha os pais nas feiras. Quando existe algum produto agrícola para venda nas territas que os pais cultivam, nada se perde, toca para a feira. É um rapaz bem-disposto, disponível brincalhão. Quando aparece na banca algum velhote, logo se oferece para levar ao carro ou a casa o produto comprado. Resultado: gorjeta garantida e mais gente a procurar a banca dos pais, pois já diz o povo: "Não me deem nada, mas mostrem-me graça."
A Andreia, terminados os exames, meteu-se logo a trabalhar na agricultura numa empresa agrícola. Arralentando maçãs nos pomares e fazendo recolha de produtos agrícolas da época. Levanta-se diariamente às 5h!
Como família normal, também têm as suas discussões, amuos, enervamentos… Mas tudo muito passageiro. Gostam imenso uns dos outros. Brincam, são bons piadéticos, apreciam uma boa partida. Sobretudo são solidários. A miúda ajuda a mãe na confecção das refeições; os rapazes põem e levantam a mesa e lavam a louça. O pai trata das bebidas, traz para a cozinho os produtos precisos, procede a consertos necessários.
São jovens deste tempo. Sexta-feira e sábado costumam sair à noite. Um barzinho de que gostam, um concerto nas redondezas, uma festa de amigos, a disco, etc... A mãe não põe olho enquanto não regressam a casa. "Sou uma tonta - diz. - Bem conheço os filhos que tenho. Graças a Deus, são jovens super-responsáveis. Mas que quer? Coisas de mãe…
Ao domingo, os pais gostam de participar na Missa, bem cedo. Mas quando os filhos estão em casa, tudo muda. Como vão para a night de sábado para domingo, se os chamarem muito cedo, eles irão contrariados e Deus é festa. Por isso, vão todos mais tarde, mesmo quando isso obrigue a procurar uma Igreja mais longe… A vida familiar tem muito de diálogo, cedências e compromisso. Diria: TUDO! É preciso saber "negociar"...
Os dois irmãos mais velhos têm as suas namoraditas. Como trabalham durante o dia, resta-lhes o fim-de-tarde e a noite para namorar. Ao telemóvel, pois estão ambas bem longe. Como nestes assuntos, o tempo de conversa é sempre pouco, às vezes espalham-se e lá aparece a mãe a chamar a atenção para a comida que está na mesa a arrefecer… para o outro dia em que é preciso levantar cedo… para a oração da família. "Ó mãe, que chatinha! Parece que nunca foste jovem!… Nada que não termine logo com uma festinha, uma boa piada, um gesto carinhoso.
Sim, aquela família reza todos os dias. Como família. O terço, às vezes; leitura de um texto do Evangelho; partilha com Deus de situações da vida. Depende da disponibilidade interior. Mas Deus é uma presença querida, sentida, vivida, partilhante.
Esta família faz-me acreditar que todas as famílias podem ser felizes, mesmo sem riquezas materiais, desde que capitalistas de amor e de abertura a Deus.