
Depois de várias voltas por aquele espaço comercial e depois de comparar preços e qualidade, decidi-me.
Enquanto a menina que nos atendia cuidava de embrulhos e quejandos, e uma vez que estava à espera da intervenção de um colega seu, necessária para o processamento, deu para uma conversa interessante.
Acrescento que a funcionária em causa, além de competente, era simpatiquíssima. Qualidade nem sempre verificável em estabelecimentos comerciais ou em repartições públicas...
Não me lembro do motivo, mas o que é certo é que a conversa fui parar aos gatos. Fui dizendo que não gosto de gatos, embora não lhes faça mal. É que a jovem falava com encanto das duas gatas que tinha em casa, pormenorizando gestos, reacções e posturas dos animais.
Contou-nos que o seu namorado lhe havia garantido que sairia de casa se ela teimasse em trazer um desses bichos para casa. Contra tudo, trouxe mesmo. E qual não foi o seu espanto quando verificou que o namorado, não só não saiu, como até começou a gostar de acarinhar e de tratar das gatitas.
A história em si é vulgaríssima como vêem. Só que me fez pensar durante a viagem e pela noite fora.
A sociedade está a mudar a um velocidade louca. A naturalidade com que aquela simpática jovem falava do facto de viver com o namorado na mesma casa! E teve o cuidado de referir várias vezes: "meu namorado". Há trinta anos atrás nenhuma rapariga, por estas zonas, se atrevia a falar claramente. A sociedade não permitia facilmente que duas pessoas vivessem juntas sem estarem casadas. A própria formação e convicções pessoais não favoreciam esta opção, hoje corriqueira.
Ainda no Verão passado, um casal de fortes convicções de fé, me contava com a mesma naturalidade que haviam ido acampar com o filho e filha, solteiros, ambos na casa dos vinte anos. Que levaram três tendas, uma para eles, outra para o filho e sua namorada, outra para a filha e seu namorado.
Eu digo para os meus botões: "Os meus jovens têm razão como me chamam 'kota', porque me custam a engolir estas situações". Mas serei eu que estou totalmente errado? Será que a moral católica é assim tão obsoleta? Ou será que no sexo vale tudo hoje? E não será exactamente "porque no sexo vale tudo" que os casamentos se fazem e desfazem quase à velocidade da luz?
Onde estão os valores? Onde estão a continência e o auto-domínio? Será que o sexto e nono mandamentos já foram arrancados ao decálogo sem eu me aperceber? Será que palavras como "pureza" e "castidade" existem só para as pessoas se rirem e gozarem com elas? E não será que se riem e gozam com estas duas palavras como forma inferior de as encararem? É que já a raposa caçoava das uvas penduradas na ramada a que não chegava: "Estão verdes, não prestam!"