terça-feira, 3 de setembro de 2024

Marcas das férias

 

Divinizar os animais, desumanizar as pessoas

A praia é um microcosmos. Por ali passam marcas evidentes do mundo que somos.

Gosto de caminhar na praia, sozinho no meio da multidão. Gosto de observar, não por cusquice, mas para perceber o mundo de hoje.

Numa tarde, passava pela praia um carrinho de mão. Gente ainda nova acompanhava-o. O homem puxava o carrinho, duas senhoras acompanham o veículo com indisfarçáveis cuidados e esmeros. Quem ia dentro do carrinho? Exatamente, um cão, daqueles de raça pequenina.

Na mesma tarde e na mesma praia, uma família numerosa estendia-se debaixo de alguns guarda-sóis abertos. Pais, filhos e netos. Com eles estava uma pessoa deficiente que  se encontrava ao Sol. A família convivia, falava, ria-se, bebia em alta festa cúmplice. Mas a deficiente não era tida nem achada. Só. Abandonada. Desprezada.

No fim do dia, a pergunta vulcanizava a alma: Que sociedade é esta que diviniza os animais e desumaniza as pessoas? 

Vai lá colocar a bola!

Era um troço de praia com pouca gente. Uma família passeava à minha frente.  Nisto uma das crianças, que caminhava ainda mais à frente, volta atrás para mostrar aos pais uma bolinha de Ténis que encontrava à beira da água.   

- Olha o que encontrei! - exclamou o petiz. 

- Filho, essa bola não nos pertence. Vais  colocá-la onde a encontraste.

- Mas não vejo aqui mais ninguém à nossa frente! O dono de certeza que a perdeu...

- Filho, não é nossa. Pode ser que o dono dê pela falta dela e venha procurá-la - sentenciava afavelmente o pai perante o acenar de cabeça confirmativo da mãe. 

O que o berço dá, a tumba o leva, diz o povo. A educação pertence à família. Educar não é dizer ámen a tudo, é saber contrariar no tempo certo e com modos certos.

A idade não perdoa!

Costumo participar na Eucaristia dominical com a família. Em férias não presido, participo  no meio da assembleia.

Há vários anos que o sacerdote que paroquia aquela comunidade é o mesmo. Embora não o demonstre, caminha para os oitenta! E de ano para ano, os sinais são evidentes. Por exemplo, este ano, na 1ª Eucaristia em que participei e a que ele presidiu, não percebi nada da homilia. Cá fora, os que me acompanhavam disseram o mesmo.

É preciso saber sair! Padres e Bispos tenham  isto muito em conta. Lembremo-nos que até aos setenta, somos nós que mandamos; a partir dos setenta é a idade que manda em nós! Vale muito mais ser um bom colaborante do que um mau líder.

Obrigado, família!

Aos meus irmãos, cunhados e sobrinhos a minha gratidão. Pela atenção, carinho, gratuitidade, amizade.

Gosto muito de vós!

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

O esvaziamento do Sínodo

 
Muito provavelmente, o Sínodo vai ser mais uma oportunidade perdida pela Igreja Católica. A atual decisão de afastar do Sínodo as questões candentes da moral sexual e dos ministérios ordenados das mulheres poderá representar o esvaziamento do conteúdo sinodal. Mais uma vez, as mulheres, fustigadas por centenas de anos de ocultamento e subserviência, serão sacrificadas no altar de uma doutrina cautelosamente construída sobre preconceitos, mas ideologicamente mascarada de lei divina.

Se há coisa que me perturba é ouvir os membros da hierarquia eclesial declararem como vontade de Deus doutrinas mais do que dúbias. Em vez disso, a Igreja hierárquica nada perderia (e muito ganharia) em ser bem mais humilde quando se trata de declarações fechadas e doutrinas contundentes que colocam Deus num espartilho a que nunca se acomodará. Deus é bem mais do que as nossas limitadas perspetivas. E ainda que o queiramos açaimar, Ele será sempre o Outro, inteiramente livre para dinamitar os nossos míopes pontos de vista. É por isso que a ideia de uma lista de dogmas irreformável é, em si mesma, um ato idolátrico. Com a afirmação dogmática daquilo que consideramos ser a vontade de Deus, afirmamos provir dele o que corresponde apenas aos nossos balbucios imperfeitos, passageiros e, muitas vezes, insensatos.

Regressemos à questão das mulheres. Durante séculos foram afastadas dos lugares de chefia, sem qualquer justificação racionalmente plausível. Foi a cultura de dominação dos machos a introduzir-se insidiosamente nas estruturas da Igreja. E aquilo que havia sido o cristianismo inicial foi rapidamente substituído pela lógica da cultura dominante, eminentemente patriarcal.

Concílio Vaticano Segundo não veio trazer alterações significativas a este respeito. E percebe-se porquê: as questões a reformar eram tantas que não era possível resolver todas elas em simultâneo, nem havia abertura para chegar tão longe. Além disso, a Cúria era dominada por um grupo reacionário que tudo fez para diminuir o alcance dos documentos conciliares. Encerrado o Concílio, essa mesma trupe de “funcionários de Deus” manteve o domínio sobre o aparelho eclesial. E assim inicia, logo que pode, uma reinterpretação tradicionalista do Concílio, apagando a sua vertente claramente reformista. A eleição do papa João Paulo II é o corolário e a consolidação desta política de apagamento conciliar e das suas linhas de força. As mulheres, apesar dos elogios que lhe são tecidos, continuam a ser relegadas para o campo subalterno que sempre lhes foi atribuído e para as funções secundárias que sempre exerceram.

A eleição de Francisco trouxe uma nova esperança à continuidade da reforma, sobretudo à questão do papel das mulheres, à “desmasculinização” da Igreja e, consequentemente, à sua “desclericalização”, como tem referido insistentemente o Papa. Há quem não entenda qual o alcance da palavra clericalismo. Na verdade, quem viveu a vida sob o manto sombrio da floresta raramente consegue equacionar a possibilidade de um mundo com acesso direto à beleza luminosa dos céus. Toda a Igreja está orientada e se comporta como uma comunidade clericalizada. Um Papa todo-poderoso comanda inequivocamente a Igreja. Um bispo comanda inequivocamente a comunidade diocesana. Um padre comanda inequivocamente a comunidade paroquial. Todos homens, exercem a título individual um poder “divino”. É isto o clericalismo!

Como combatê-lo? Obviamente, dando poder de decisão aos leigos, retirando o poder absoluto das mãos de um indivíduo apenas e repartindo-o por toda a comunidade de pessoas que se reconhecem como irmãos e concedendo às mulheres o acesso direto e incontestável aos mesmos papéis que os homens representam. Só assim teremos realmente uma comunidade de irmãos onde todos serão efetivamente iguais: “Quanto a vós, não vos deixeis tratar por ‘mestres’, pois um só é o vosso Mestre, e vós sois todos irmãos. E, na terra, a ninguém chameis ‘Pai’, porque um só é o vosso ‘Pai’: aquele que está no Céu. Nem permitais que vos tratem por ‘doutores’, porque um só é o vosso ‘Doutor’: Cristo. O maior de entre vós será o vosso servo. Quem se exaltar será humilhado e quem se humilhar será exaltado” (Mt 23, 8-12).

Sínodo foi uma nova brisa soprando contra o sufoco enfadonho e triste do passado. No entanto, receio que nenhum resultado realmente significativo saia da sua segunda e derradeira sessão. Fiquei deveras apreensivo quando verifiquei que as questões candentes, sobretudo as que se referem à questão feminina, tinham sido estrategicamente afastadas de qualquer discussão sinodal. A razão é deveras incompreensível.

Já é o segundo grupo de trabalho que reúne para preparar um documento de caráter histórico-teológico sobre o diaconado feminino. O primeiro, segundo se diz, foi inconclusivo. Não se vê por que razão o segundo tirará melhores conclusões que o primeiro. Por motivos ideológicos, haverá sempre quem considere ser vontade de Deus a discriminação a que as mulheres têm sido sistematicamente sujeitas (que Deus é este em que acreditamos?). Jamais haverá consenso sobre o assunto. Por isso, esperarmos um consenso que nunca vai ocorrer conduz-nos a um beco sem saída e à manutenção de uma injustiça milenar.

Se observarmos como as mentalidades se vão modificando, verificamos que o processo passa em boa medida por alterações estruturais com implicações nos comportamentos e na formação das mentalidades. Estar à espera que as mentalidades mudem por si mesmas, sem nenhum empurrão institucional, seja ele interno ou externo à Igreja, é mais ou menos o mesmo que esperar o Reino de Deus sem nada fazer para que ele se torne efetivamente presente na vida de toda a gente. Os estudos estão feitos, os problemas estão detetados, urge passar à ação. Qual seria a melhor circunstância para tomar decisões concretas sobre estes assuntos senão a que nos oferece um Sínodo? Em vez disso, as cúpulas eclesiais, ao arrepio daquilo que pregam (uma Igreja efetivamente sinodal), recusam ao Sínodo a possibilidade de tomar posição sobre estas questões, entregando-as ao organismo que tem provocado, ao longo dos séculos, maiores engulhos à vida da Igreja, o Dicastério para a Doutrina da Fé. Tudo vai, portanto, permanecer em banho-maria por tempo indeterminado, sem qualquer atenção ao grito de justiça que os confins da história não param de nos fazer chegar.

Esta estratégia não é nova. Também no Concílio se procedeu ao mesmo expediente. O objetivo é sempre o mesmo: retirar o poder de decisão efetiva ao conjunto da Igreja para o entregar, inteiro e inapelável, ao “Papa”, ou melhor, a um conjunto reservado de tradicionalistas que dominam o aparelho eclesial. Relembremos o que sucedeu e os estragos que provocou a avaliação moral do uso de anticoncecionais. Arredada da discussão conciliar, foi entregue a uma comissão que surpreendeu pela rutura com a perspetiva tradicionalista. Apesar disso, o “Papa”, ou melhor, esse conjunto seleto de dignitários da Cúria romana que “se sentaram na cátedra de Moisés” (Mt 23,2), toma a decisão exatamente contrária, iniciando aí um novo processo de rutura com o tempo em que vivemos e afundando a doutrina católica numa moral da negação e da proibição.

Fico triste que os sinais sejam pouco animadores. Infelizmente, cada vez tenho menos esperança de que a realidade da vida eclesial mude significativamente em tempo útil. Não tenho obviamente qualquer dúvida de que vai mudar. As mulheres hão de ser ordenadas, os padres hão de poder casar-se, se assim o entenderem, os membros do grupo LGBT hão de ser resgatados à exclusão moral a que foram e são sujeitos, os anticoncecionais hão de ser resgatados à proibição vergonhosa em que foram enclausurados, etc. Mas temo que o tempo em que tais mudanças venham a ocorrer as tornem efetivamente pouco significativas pelo facto de a Igreja se ter tornado, entretanto, um pequeno grupo sem relevância social. É o que acontece amiúde quando nos recusamos obstinadamente a ouvir o Espírito que nos fala através do tempo em que a vida nos foi concedida, por meio dos movimentos sociais, culturais, políticos e filosóficos que nela se configuram. 

Jorge Paulo é católico e professor do ensino básico e secundário.

Fonte do texto: aqui

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Começa amanhã a Primeira Liga


A seguir à Supertaça, que o Futebol Clube do Porto ganhou, vencendo o Sporting por 4-3, depois de ter estado a perder 0-3. Jogo épico com todos os condimentos que o início da época proporciona. Muitos erros defensivos de parte a parte, muita entrega dos atletas, falta de frescura física à medida que o jogo caminhava para o fim, perspicácia dos treinadores - na minha opinião o técnico do Porto esteve melhor....
Houve factos novos e oxalá se mantenham e aprofundem. Cito o caso do almoço entre presidentes dos dois clubes. Depois de uma época com tantos problemas de arbitragem, penso que o árbitro esteve bem. Houve desportivismo e fair-play entre os atletas em campo, tanto durante o jogo como depois na receção dos prémios.
Também aconteceram situações evitáveis e a evitar. Cito o caso do presidente do Sporting que não quis cumprimentar o presidente do Porto no fim do jogo e, muito grave, aquele atleta leonino que provocou a fratura de um vidro, vindo a magoar uma adepta desse clube. Mais cortesia e serenidade por parte dos atletas e dirigentes.

***


Normalmente não acerto muito nas previsões da bola. Mas acho que:

- O Benfica, pela equipa que tem, pelo investimento realizado e pela estabilidade diretiva e técnica parece-me ser o principal candidato ao título.

- O Sporting, campeão em título, tem recebido alguns reforços e mantem igualmente a estabilidade técnica e diretiva. É por isso um forte candidato ao título.

- O Futebol Clube do Porto tem nova direção e nova equipa técnica. A sua situação económica é muito grave. Não há dinheiro para grandes reforços e vão ter que apostar na prata da casa. Por mais que me custe, tenho que admitir que parte em desvantagem em relação aos da 2ª Circular.

Mas Porto é Porto. É raça, acreditar, suor, união, entrega. Épocas houve em que não era nada favorito e ganhou. Vamos, Porto!

Muita força aos nossos rapazes da formação! Espero ver brilhar na equipa Porto e como equipa Porto, o Mora, o Vasco , o Martim, o Gonçalo , o Iván e outros. Espero ver aquela defesa a funcionar como um pêndulo e que os mais velhos ajudem e entusiasmem os mais novos. Espero um treinador que seja um caso de urbanismo, sem deixar de ser apaixonado e interventivo. Um treinador sem medo e que mantenha o clube e equipa unidos. Um treinador ao mesmo tempo prudente e ousado, que não tem medo de fazer substituições quando estas são necessárias, sem as guardar para os últimos instantes do jogo.

Eu acredito em Vítor Bruno.

No fundo, no fundo sonho com belas e agradáveis surpresas. Força, Porto! Força, portistas!

***


Não gosto de zangas por causa do futebol. Gosto de brincar com com pessoas que têm gostos clubísticos diferentes e aceito de bom grado que brinquem com os meus gostos clubistas.

Quando uma pessoa não sabe brincar e passa logo ao insulto ou ao ataque desesperado ao clube do outro, dou-lhe o silêncio por resposta, pois só essa é a resposta que tal pessoa merece!

Uma pessoa chatear-se por causa do futebol? Por favor. Deve mas é elevar mais  os níveis de inteligência e de bom senso.

Compreendo a paixão do futebol e alguns excessos durante o jogo. Mas transportar isto tudo para as conversas semanais com os amigos será de baixo nível.

Quem não sabe brincar aos futebóis nem sequer é desportista.

Que também neste aspeto a nova época seja nova! Em desportivismo e em saber brincar sem achincalhar, sem se armar em esperto.

domingo, 4 de agosto de 2024

4 de agosto - S. João Maria Vianney, o Santo Cura d'Ars, Patrono dos párocos

Após ter-se dedicado totalmente a Deus e aos seus paroquianos, João Maria Vianney faleceu no dia 4 de agosto de 1859, com 73 anos de idade. Seus restos mortais descansam em Ars, no Santuário a ele consagrado, que recebe a visita de cerca de 450 mil peregrinos por ano.

Ensinamentos do Santo Cura d'Ars que continuam com uma atualidade flagrante!

ENSINAMENTOS DE SÃO JOÃO MARIA VIANNEY
[padroeiro dos párocos]
1- Porque fala tão alto quando prega?
«Por que o Senhor fala tão alto quando prega, e tão baixo quando reza? É que quando prego, falo a surdos, e quando rezo falo a Deus, que não o é.»
2- Ir para a taberna ou para o café em vez de ir à Missa
Aos domingos uma boa parte dos homens, em vez de ir à Missa, ia para uma taberna. O santo cura os exprobrava do alto do púlpito, servindo-se dos termos de São João Clímaco: «A taberna é a tenda do demónio, a escola onde o inferno prega e ensina a sua doutrina, e o lugar onde se vendem as almas, onde as fortunas se arruínam, onde a saúde se perde, onde começam as rixas, e onde se cometem os assassinatos.»
3- Contra os que trabalhavam ao Domingo
«Vós trabalhais, mas o que ganhais é a ruína para a vossa alma e para o vosso corpo. Se perguntássemos aos que trabalham nos domingos: ‘Que acabais de fazer?’, bem poderiam responder: ‘Acabamos de vender a nossa alma ao demónio e de crucificar Nosso Senhor. Estamos no caminho do inferno’.
O domingo é um dom de Deus, é o seu dia. É o dia do Senhor. Ele fez todos os dias da semana. Bem poderia tê-los reservado todos para si, mas deu-nos seis e ficou apenas com um. Com que direito vos apoderais do que não vos pertence? Sabeis que os bens roubados não trazem proveito. O dia que roubais ao Senhor tampouco vos aproveitará. Conheço dois meios bem seguros para alguém empobrecer e chegar à miséria: trabalhar no domingo e tirar o alheio. Ide pelos campos dos que trabalham durante os dias santos: sempre têm terras para vender».
4- A Missa vale mais que todas as boas obras
«Todas as boas obras reunidas não igualam o valor do Sacrifício da Missa, porque aquelas são obras de homens, enquanto a Santa Missa é obra de Deus».
Fonte: Sopro e Vida (Facebook)

quarta-feira, 31 de julho de 2024

Por este pedaço da Diocese, bem podem os leitores concluir que as coisas não andam fáceis por essa Diocese fora...

 Há 10 anos, trabalhavam neste espaço pastoral estes sacerdotes: Matias, Manuel Ramos, Carlos, Armindo, Vítor, José Ramos e Adriano. Entretanto o P.e Manuel Ramos partiu para o Pai, os P.es Matias e Armindo adoeceram . Três sacerdotes que deixaram a vida paroquial e  apenas um vai chegar. O P.e José Miguel, até agora Pároco de Penedono.  

Outros, por motivos de saúde e cansaço, bem mostraram desejo de deixar a vida ativa, mas não foi possível este ano, pois não há nenhuma ordenação sacerdotal.

Por este pedaço da Diocese, bem podem os leitores concluir que as coisas não andam fáceis por essa Diocese fora...

Precisamos, como Igreja sinodal, de acolher caminhos novos, escutando o que o Espírito diz à Igreja. Uma Igreja menos, muito menos clerical, e muito, muito mais povo de Deus.

Uma Igreja onde os leigos despertem finalmente e assumam a sua vocação batismal e onde os ministros ordenados (Bispos, padres e diáconos) estimulem constantemente os leigos assumir o seu batismo no dia a dia da Igreja e do mundo.

Uma Igreja onde os padres sejam mais acarinhados, correspondidos e defendidos pelos crentes. Menos farpas, menos má língua e mais oração e amizade.

Uma Igreja centrada em Cristo e na exigência do Evangelho. Não, não e não ao porreirismo mundano para agradar e criar simpatia. O porreirismo na Igreja é puro mundanismo. 

Cristão que se preze não procura o facilitismo. Nem  na catequese, nem na celebração dos Sacramentos, nem noutras circunstâncias. Porque sabe que ao procurar o facilitismo está a ser mundano e a conspurcar o rosto de Cristo. O Evangelho da liberdade é o Evangelho da exigência! Por isso o padre e o bispo não podem fazer do porreirismo facilitista o caminho!

É PRECISO MUDAR!  QUE CADA UM MUDE! "Convertei-vos e acreditai no Evangelho." - Jesus

Mudar para uma Igreja inclusiva que seja para todos. Mas uma Igreja que rechaça liminarmente que ela seja tudo!!!

A Igreja é para todos, mas não é para tudo!

A Igreja não pode ser um supermercado de sacramentos onde só se vai quando apetece e para as coisas que apetece e exigindo que tudo seja feito conforme apetece!  Isso é andar a brincar com o que é Santo!

Sejamos cristãos sérios e sérios cristãos! Chega de andar a criticar quem pratica, talvez para esquecer a má consciência de não praticar! 

terça-feira, 30 de julho de 2024

FEZADAS E FESTINHAS NA(S) IGREJA(S)

 “Não sabia” (não quiseste saber). “Nunca me disseram” (nunca quiseste ouvir). “Cá tenho a minha fé” (então não precisas da Igreja). “Falo diretamente com Deus” (e regista o que Ele te diz). “Gosto de rezar sozinho” (sabes lá o que é comunidade!). “Vou a Fátima todos os anos” (e à bruxa ou aos arraiais?). “A religião não é sempre a mesma?” (talvez, o dever de ir à Missa aos Domingos já tem dois mil anos). “Sempre me ensinaram assim” (há sempre quem rejeite a teoria da evolução). E outras demagogias e lugares-comuns que justificam as diferentes fezinhas, fezadas e festinhas.

A Fé não é uma teoria, um sistema religioso ou ideológico, um ritualismo vazio e desencarnado nem uma simples filosofia (teosofia?), uma boa vontade inócua. Tão pouco há de ser apresentada e defendida a olhar para os “registos” passados (o cemitério e as cadeias estão sobrelotados) ou adiada para o futuro das boas intenções, que cevam o Inferno. A fé cristã (dos que seguem Cristo) é presente ( = hoje e dom): vivida (vivenciada) nas escolhas, valores/princípios e prioridades. A fé diz-se com a vida.

Dizer-se cristão (ser?) é conhecer (amar) Cristo: Pessoa e Mensagem (Evangelho). É encontro de pessoas (Ele, Eu, Nós = comunidade) que se amam, conhecem, (con)vivem e se empenham em dar continuidade ao Reino por Ele inaugurado. É saborear o Pão e Palavra dos filhos de Deus em cada banquete dominical que Jesus nos oferece. Que privilégio!
É a “hora” de matar de vez a hipocrisia (má-fé, artimanha) e mentira da “fé à la carte”, onde cada um sabe tudo, escolhe o que quer, rejeita o que não lhe dá jeito, define os próprios valores e doutrina, dissemina gostos e oculta princípios ao arrepio do Evangelho. Piedosos e oportunistas. Devotos e usurpadores. Gente que faz da igreja um salão de festas, do padre um fantoche e dos outros cristãos uns pategos, dos quais se riem e criticam ferozmente. Sem esquecer que “tão ladrão é o que vai à horta como o que fica à porta”.
Quem muito conhece, muito ama. Quem muito ama, quer encontrar-se. Quem O encontra, mais O há de dar a conhecer. E quem O diz razão da sua vida, mais razões tem para O levar à vida aos outros. Porque a identidade do cristão é Cristo: “É que, para mim, viver é Cristo e morrer, um lucro.” (Fil 1,21)
O Papa Francisco sugere, mas muitos insistem em não entender (padres e bispos incluídos): «A pastoral em chave missionária exige o abandono deste cómodo critério pastoral: «fez-se sempre assim». Convido todos a serem ousados e criativos nesta tarefa de repensar os objetivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das respetivas comunidades. Uma identificação dos fins, sem uma condigna busca comunitária dos meios para os alcançar, está condenada a traduzir-se em mera fantasia.» ("Evangelho da Alegria" 33)
(P. António Magalhães Sousa)

quarta-feira, 5 de junho de 2024

O Senhor Deus chamou à Sua presença, na eternidade, o Padre José Guedes.

Monsenhor Cónego José Guedes nasceu a 4 de dezembro de 1946, na paróquia de Fontelo, concelho de Armamar. Entrou para o Seminário de Resende em 1958. Frequentou o Seminário de Lamego, vindo a ser ordenado presbítero a 8 de dezembro de 1972, na Sé de Lamego, pela imposição das mãos do então Bispo de Lamego, D. António de Castro Xavier Monteiro.
Nos inícios de 2023, em equipa sacerdotal com dois dos seus condiscípulos, toma posse das paróquia de Mondim da Beira, Dalvares, Salzedas, Cimbres e Vila Chão. Algum tempo depois, estabeleceu-se em Salzadas até ser nomeado para Almacave, em 1988.
Faleceu a 4 de junho de 2024, aos 77 anos, tendo lidado nos últimos tempos com bastantes problemas de saúde, encontrando-se ultimamente no Lar de Penude.

No Facebook da Paróquia de Almacave, está este texto que me parece definir na perfeição a pessoa e ação do P.e Guedes:
" Caminharei para sempre na Casa do Senhor!"
No silêncio da noite
caminhei pelas vossas ruas
e o meu espírito entrou nas vossas casas.
O bater dos vossos corações
esteve no meu coração,
a vossa respiração bateu no meu rosto,
e a todos conheci.
Sim. Conheci as vossas alegrias
e as vossas tristezas,
enquanto dormíeis
os vossos sonhos foram os meus sonhos.

Havia uma amizade enorme, uma boa cooperação pastoral e um belo companheirismo entre ele e a equipa sacerdotal de Mondim da Beira (Padres Ramos, Matias e eu próprio).
Sempre nutri por ele saudável admiração. A sua humanidade profunda, a paixão pelo ser humano, a vontade e a habilidade de criar bons momentos entre as pessoas, a disponibilidade para servir... foram marcas profundas.
Descansa em paz, amigo!
Obrigado por tanto!

terça-feira, 28 de maio de 2024

 


quinta-feira, 23 de maio de 2024

Por um tempo sem homilias. Artigo de Sergio Di Benedetto

 Depois de Pentecostes, recomeça o Tempo Comum: poderia ser útil suspender as homilias dominicais por um período, para voltarmos a nos concentrar na Palavra, no silêncio, na oração, na profundidade espiritual.

O comentário é de Sergio Di Benedetto, professor de Literatura Italiana na Universidade da Suíça Italiana, em Lugano. O artigo foi publicado por Vino Nuovo, 12-05-2024. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

homilia, como se sabe, é um dos assuntos preferidos da polêmica eclesial: porque é longa, prolixa, retórica, óbvia, superficial, abstrata, copiada etc... São muitos os motivos, muitas vezes válidos, pelos quais o momento da homilia é mais sofrido do que vivido: escutamo-la com esforço (se tudo correr bem) obtendo algumas intuições para a própria vida... E, se tudo correr mal, ouvem-se palavras que vagam pelo ar, esperando que o pregador se apresse ou pensando em outra coisa. E os próprios pregadores estão cientes disso, porque qualquer pessoa que fala em público se dá conta se o público está realmente ouvindo ou navegando em outros mares do pensamento (e do tédio).

Fala-se de homilia há já algum tempo: Francisco dedicou ao tema um núcleo da Evangelii gaudium (a partir do parágrafo 135), dando repetidamente recomendações sobre tempos, modos, temas... mas muitas vezes todas essas exortações caíram no vazio.

Esperamos – para quem ainda permanece fiel às celebrações dominicais – encontrar o padre “certo” que faça a missa durar o tempo necessário, passando ilesos pelo momento da homilia.

Além disso, pode acontecer que, por outro lado, escute-se uma pregação verdadeiramente inspirada na Palavra de Deus e “aproveitável” na relação com Deus e com a humanidade de hoje: mas é uma mercadoria rara, uma mercadoria procurada: uma espécie de panda eclesial, a ser protegido e cuidado.

Talvez tenha chegado o momento de nos darmos um tempo de “suspensão” das homilias dominicais: algumas semanas, alguns meses – talvez aproveitando o Tempo Comum que começa na próxima semana – para dar uma folga à assembleia e também aos pregadores, os quais, todos os domingos, têm de encontrar algo significativo para dizer sobre a Palavra e a vida, pregadores que, às vezes, recorrem ao atalho de baixar da internet palavras alheias (não se lembrando de que basta colocar uma breve frase na rede para entender a fonte de suas palavras e também de seus escritos – lembro-me de um padre que lia lindamente as homilias alheias na igreja ou de outro que, no boletim paroquial, fazia passar como se fossem seus os artigos alheios, confiando que ninguém se daria conta disso).

Um tempo de suspensão, que substitua a homilia por alguns instantes de silêncio, talvez guiados por algumas perguntas; e que desperte, assim, no povo de Deus o desejo de escutar alguma boa voz sobre a Palavra e que suscite no clero uma reflexão séria sobre a qualidade da própria pregação.

Um tempo de silêncio e de oração, que devolva, assim, as celebrações aos cânones do equilíbrio e da razoabilidade, até mesmo cronológica.

Um tempo sem homilias, que seja de purificação do dizer e do escutar, em uma sociedade hiperverborrágica, em uma Igreja que custa para encontrar as palavras para hoje.

Um tempo de pausa e de debate, que possa, assim, reiterar que o centro da missa é formado pela Palavra e pela Eucaristia, e não por outras coisas (muito menos o narcisismo retórico do pregador).

Um tempo sem pregação, que alimente e abra, talvez com alguns simples auxílios, ao retorno meditado e cotidiano à Palavra dominical.

Um tempo de trégua, também, para fortalecer novamente a paciência do povo de Deus, não raramente posto a dura prova pelos pregadores.

Um tempo de pausa, para ajudar os pregadores a regenerarem uma tarefa preciosa de seu ministério.

Se quisermos ser formais, o Código de Direito Canônico diz que a homilia dominical pode ser suspensa por “causa grave” (cânone 767). O desgaste da escuta da Palavra de Deus entre os fiéis talvez poderia ser uma “causa grave” nesta virada de século.

E quem sabe alguém volte à missa...

Fonte: aqui

domingo, 28 de abril de 2024

Nem sempre a razão está do lado de quem mais grita...

 Quem tem responsabilidades tende a olhar o mundo através daqueles que mais gritam, que mais barulho fazem... Estar atento à realidade não é ficar-se só, nem sobretudo, naqueles que mais barafustam, que mais se fazem notar.

Ora se os grupos barulhentos são favoráveis a quem está no poder, pior ainda. Então quem manda convence-se de que tudo está bem,  que o caminho a percorrer tem o apoio geral, que quem se opõe não sabe o que faz e não merece crédito. Depois, quando a vontade do povo se faz sentir através das eleições, esses dirigentes caem na real, só que já é tarde.

As eleições últimas no FCPorto  são a concretização do que acabo de dizer.

O barulho da claque Super Dragões, o seu estrebuchar por todos os lados no apoio e defesa de Pinto da Costa, não indicava de modo nenhum que a maioria dos associados estava com o presidente. Se juntarmos à claque  aquele grupo que vivia endeusando o dirigente máximo - maioria  dos comentadores portistas nas televisões, treinadores e ex-treinadores, grupo de apoio à candidatura, e mais alguns - não será difícil concluir como se criou na cabeça de Pinto da Costa a ideia de apoio popular, que se veio a revelar não ter.

Foi esta separação abismal  entre a direção e os associados que Pinto da  Costa não entendeu. Estou convicto que nos anos noventa do século passado se teria facilmente apercebido. 

Quando não sabemos sair a tempo, é o que pode acontecer a qualquer um.  Pinto da Costa sai com uma derrota humilhante nas urnas. Nem ao 20% chegou, 

Não havia necessidade.

Que a lição serva para todos os que exercem algum tipo de autoridade: políticos, dirigentes de associações,  autoridades religiosas, dirigentes desportivos ... Todos, todos, todos...

Nota: Há muito tempo que, neste espaço,  opino que Pinto da Costa se deveria ter retirado. Algumas vezes concretizando uma data: 2011. Basta consultar este Blog. 

sábado, 27 de abril de 2024

Parabéns, André Villas-Boas! Cheira a Primavera no Estádio do Dragão!

Upa! Haja festa no mundo portista! Chegou com 13 anos de atraso, mas chegou! E importa que chegou.
Parabéns, André Villas-Boas! Obrigado, senhor novo Presidente do Futebol Clube do Porto, sobretudo porque ousou não desistir deste nosso nobre Clube! Em si os sócios interromperam a queda para o abismo para onde caminhava a passos largos sob a direção de Pinto da Costa.
Gratidão a quem tanto fez pelo Futebol Clube do Porto, durante décadas. Obrigado, senhor Pinta da Costa! O único defeito seu e de quem o rodeia foi este: não ter saído a tempo...
E já agora, senhor Pinto da Costa, leve consigo  Fernando Gomes (ex-autarca), Adelino Caldeira, Vítor Baía, António Oliveira, não todos, mas a maioria dos comentadores afetos ao FCPorto nas televisões, Fernando Madureira e outros que tais, os promotores das suas sucessivas candidaturas....
E já agora, porque sete anos já chegam, leve também o Sérgio Conceição.  
Precisamos de ar fresco, chega de ar bafiento. Novos desafios, respostas modernas para problemas modernos, mais vida para os sócios e simpatizantes, mais transparência, menos casos, mais convicção, mais verdade. Queremos um Porto que  aja mais do que reaja. Um Porto que vai muito à frente, que antecipa soluções para problemas, mantém a chama da garra portista em alta. Um Porto que valoriza os nossos ativos.
Que a partir de agora, o Futebol Clube do Porto seja o Clube de todos nós. Que Villa-Boas seja o Presidente de todos nós e que ninguém esteja acima deste Nobre Clube.

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Crise da paróquia,

 

Veja aqui

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Igreja/25 de Abril: Falta de escuta entre progressistas e conservadores continuar a impedir «aplicação» do Concílio Vaticano II

 Jornalista recorda movimentos juvenis como «o espaço de liberdade» que juntavam todos «os homens de boa vontade», a «autenticidade» como marca dos assistentes espirituais e o papel «não submisso» de D. António Ribeiro perante o regime

Lisboa, 17 abr 2024 (Ecclesia) – O jornalista José António Santos disse à Agência ECCLESIA faltar hoje a capacidade de escuta, lacuna que conduz à rutura e impede que “progressistas e conservadores” se juntem para “aplicar os documentos do Concílio Vaticano II”.

“O ‘nós’ que se sentia na rua no 1.º de Maio, em que o Evangelho estava na rua, ficou refém de quem não tem a capacidade de escuta. Sem a capacidade de nos escutarmos entramos em rutura”, lamenta.

José António Santos, hoje aposentado, fez grande parte do seu percurso no Diário de Notícias e, a 25 de abril de 1974, estava no jornal, na secção dos correspondentes, tendo ficado ali retido até ao dia 1 de maio.

Jovem, juntamente com a esposa, participou no grupo ‘Circulo Juvenil’, um grupo de jovens que se reuniam na igreja paroquial do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa, tendo como assistente o padre Albino Cleto, que viria a ser bispo auxiliar no patriarcado de Lisboa e em Coimbra.

Nós bebemos sofregamente os documentos do Conselho Vaticano II. Quando estudamos os documentos, queríamos pô-los em prática. Nós éramos contestatários porque o próprio movimento do Concílio Vaticano II foi um movimento contestatário da Igreja do seu tempo. E foi tão contestatário que a própria Igreja depois não aplicou o Concílio, a Igreja não estava preparada para acolher os ensinamentos do Vaticano II”.

Uma entrevista por ocasião dos 25 anos no patriarcado de Lisboa, D. António Ribeiro afirmava aos jornalistas José António Santos e Ricardo de Saavedra, que o Concílio Vaticano II não tinha sido posto em prática porque “progressistas e conservadores jogavam os documentos, uns contra os outros e não souberam ler e aplicar os documentos”.

O jornalista lamenta que hoje a situação persista.

Quando o Papa João XXIII convoca o Concilio Vaticano II e se dirige aos homens de ‘boa vontade’, os jovens sentem que a Igreja quer “abrir os braços ao mundo”.

“Estamos aqui dispostos a falar com todos. E a mensagem que temos para dar é para fazer caminho com todos desde que tenham boa vontade e queiram vir connosco. Não têm que pensar como nós. Temos que nos encontrar e conversar. E conversando podemos caminhar juntos”, sublinha.

José António Santos recorda que não esperavam apoio “explícito” da hierarquia – “Não estávamos à espera que o bispo fosse um porta-estandarte das nossas lutas”, recorda, porque o apoio dos assistentes dos movimentos juvenis ajudavam a fazer perceber que a exigência da fé que professavam se impunha na luta pela liberdade.

“Autenticidade é uma palavra que era muito própria da minha juventude e que agora se vê pouco. Autenticidade, revelada no pensar e no agir, que esteve na origem do gesto que levou a 106 subscritores escreverem ao Núncio apostólico a pedir que fosse D. Manuel Falcão a substituir o cardeal Cerejeira à frente do patriarcado de Lisboa”, recorda.

Os movimentos eram o “lugar de liberdade”, recorda o jornalista, um espaço plural de questionamento e procura.

Muitas pessoas aderiram aos movimentos da Igreja porque encontravam aí um espaço de liberdade. É verdade. O espaço onde eu me exprimi com muitos amigos e jovens da minha geração, aliás, essas pessoas não seriam o que foram se não tivessem esse espaço, se não fossem moldadas nesse ambiente. Er um ambiente de questionamento, um ambiente de procura, um ambiente de busca, um ambiente de grande ansiedade pela verdade. O interesse era comum, o objetivo era comum. Portanto, católicos, comunistas, agnósticos, extremistas, atuavam cada um ao seu jeito, mas com o objetivo comum que era, no fundo, libertação dos povos coloniais, fim à guerra colonial, democracia, liberdade”.

Apesar da carta dos 106 signatários, foi D. António Ribeiro que em 1971 substituiu o cardeal Cerejeira como patriarca de Lisboa, num pontificado que José António Santos indica “falar por si”, pois evidenciou em mais de 25 anos uma capacidade intelectual de leitura dos tempos e de fazer pontes.

O jornalista recorda o episódio em que o então cardeal patriarca de Lisboa se encontrou com Marcelo Caetano, pedindo-lhe que se retratasse quanto à existência do Massacre de Wiriyamu, em dezembro de 1972, que vitimou cerca de 400 pessoas, em Moçambique, e que o presidente do Conselho havia negado.

“D. António Ribeiro pediu uma audiência e perante as palavras de Marcelo que dizia que o Presidente do Conselho não se desmente, afirmou que os bispos portugueses poderiam escrever uma carta, para ser lida pelos párocos nas paróquias numa missa no domingo seguinte. Marcelo Caetano ficou enfurecido, disse que mandaria prender quem lesse as cartas e acabou abruptamente a reunião. Às vezes diz-se que a Igreja foi submissa e que andou de braço dado com o poder, mas com D. António Ribeiro não foi assim”, recorda.

José António Santos conta ainda que o patriarca de Lisboa foi redator de uma carta pastoral, por ocasião do 10.º aniversário da encíclica ‘Pacem in Terris’ do Papa João XXIII, em 1973, onde fala da “missão e competência da Igreja, dos direitos humanos fundamentais, da participação política e social, da participação e pluralismo na vida política”.

“Os documentos da Igreja não iam à censura; se a carta tivesse sido à censura muitos parágrafos do texto teriam sido proibidos mas os bispos tinham liberdade e os documentos da Conferência Episcopal não eram sujeitos a exame prévio”, acrescenta.

A conversa com José António Santos pode ser acompanhada esta noite na Antena 1, pouco depois da meia-noite, ficando disponível no portal de informação e no podcast «Alarga a tua tenda».

In agência ecclesia

25 de abril: “Falta cumprir a Fraternidade”, “falta olhar para o outro como meu irmão”.

 O bispo de Setúbal participou nesta terça-feira, na 9ª edição do Colóquio Pensamento sobre a Revolução dos Cravos, em Linda-a-Velha (Lisboa).

Sublinhamos da sua participação:

“É perigoso que uma fatia significativa da população não esteja nem aí para os 50 anos do 25 de abril, pois não estamos livres de um pesadelo e de acordarmos para um mundo diferente” um destes dias.

(...) criticou ainda que, “no Parlamento, não seja normal a sã convivência de pessoas que pensam de maneira diferente” e questionou: “Há limite em o outro defender aquilo que pensa? Temos de ter um pacto social de linhas vermelhas?”.

É preciso parar para pensar e refletir sobre que forma podemos melhorar a nossa democracia, e não ter medo disso”, defendeu, justificando que “a ideia generalizada de que todos os políticos são ladrões ou corruptos a certa altura cria uma generalização que é perigosa”. “Hoje em dia, quando alguém aceita ser deputado, governante ou autarca, eu rezo por eles porque ou é loucura ou martírio”.

Sobre o porquê de a Igreja não ter sido tão afetada após a revolução como o foi no tempo da I República, D. Américo Aguiar recordou a figura de D. António Ferreira Gomes, antigo bispo do Porto, exilado pelo regime, e “os diferentes movimentos que falavam e refletiam sobre a liberdade”, assinalando como parte da razão que levou a que a transição fosse mais pacífica.
O cardeal elogiou também a posição da Igreja Católica em Portugal ao ter decidido ““não abençoar um partido católico, mas incentivar a presença dos católicos em todos os partidos com que se identificassem”.
“Isso eventualmente tirou alguma visibilidade à Igreja, mas foi uma opção com a qual concordo”, assumiu.

(...) uma nova geração de leigos menos ativa na praça pública e reconheceu que a Igreja “tem défice de salvar as costas aos leigos que dão a cara”. “Isso aconteceu e foi desgastando o laicado que, com a «vacina» do Concílio Vaticano II, era muito ativo.”

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Para onde vais, Europa?

 Eurodeputados aprovam decisão histórica de incluir aborto nos direitos fundamentais da UE

Resolução foi aprovada com 336 votos a favor, 163 contra e 39 abstenções. O Parlamento Europeu (PE) aprovou esta quinta-feira a decisão histórica de incluir todos os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, incluindo o direito ao aborto, na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia (UE).

A resolução foi aprovada com 336 votos a favor, 163 contra e 39 abstenções e no documento os eurodeputados exigem que seja consagrado o direito ao aborto na Carta de Direitos Fundamentais da UE, uma exigência que é feita há muito tempo.

O PE condenou o retrocesso nos direitos das mulheres em vários países, incluindo nos 27, nomeadamente a imposição de restrições ao aborto e cuidados de saúde sexuais e reprodutivos.

Fonte: aqui

Que mais irá acontecer?

Onde ficam os direitos das crianças no ventre materno?

É assim que tratamos os mais frágeis?

Nesta Europa, podre de materialismo e hedonismo, vale tudo?

Que gente andamos a eleger para nos representar  nos Parlamentos (Nacional e Europeu)?

domingo, 31 de março de 2024

“Ele ressuscitou! ”

“Ele ressuscitou! Não está aqui!”


 
Comemoramos mais uma vez a Ressurreição de Jesus,                       nesta Missa soleníssima da Vigília Pascal.

Ele ressuscitou! Não está aqui!

Eis a afirmação que os dois homens fizeram às 3 Marias e que, nós cristãos, repetimos, como verdade fundamental de nossa fé.
Ele ressuscitou! Com ele, vamos ressuscitar também.

Ressuscite você, PADRE, que um dia abraçou a missão de anunciar sua boa-nova e celebrar seus augustos mistérios.
Ressuscite!
A Igreja Católica não pode ficar sem suas mãos que abençoam, que ungem e que batizam.
A Igreja precisa de seu ministério para absolver os que erram, unir os que desgarram e alimentar seu povo com o pão da vida que você torna diariamente partido, na mesa da Eucaristia.
Ressuscite você, padre!
A certeza do imenso amor, que Deus lhe devota, - o ajude a fazer, de seu celibato, um instrumento revolucionário de serviço, - o ajude a ser perseverante nos seus bons propósitos, incondicionalmente doado às coisas do Reino, alegre nos seus inúmeros gestos de renúncia,
- o ajude a ser pastor ao qual não falte a coragem do profeta e ser profeta, a quem não falte a bondade do pastor.
Jesus ressuscitou! Com ele, vamos ressuscitar também!

Ressuscite você, RELIGIOSA, você irmã.
Na sua congregação, você escolheu a pobreza, a obediência e a castidade, como seu tríplice caminho para chegar a Deus; você que teve a coragem de abraçar o Evangelho, na mais radical de suas formas que é a dos três conselhos evangélicos.
Jesus ressuscitou. Com ele ressuscitaremos também.

Ressuscite você, MARIDO! Ressuscite você, ESPOSA!
Vocês não se casaram para viver distanciados, para cobrar amor, mas para oferecê-lo, na certeza de que amor cobrado não é amor.
Vocês não se casaram para se cansar um do outro, mas para fazerem com que a pessoa de um 
sempre se apoie na pessoa do outro.
Vocês não se casaram para morar juntos, sem viver juntos, já que uma coisa é ser amigo declarado e outra coisa é ser inimigo íntimo.
Ressuscite você, marido! Ressuscite você, esposa!
Vivam a páscoa do casamento, morrendo para tudo que mata o amor e cultivando tudo aquilo que o leva à plenitude.
Jesus ressuscitou. Com ele aprendamos a ressuscitar também.

Ressuscite você, mulher VIUVA! Ressuscite você, homem, a viver a derradeira etapa do casamento, que é a viuvez.
Você possui todo o direito de ter saudade.
Você tem todo direito de banhar o rosto de pranto.
Você tem todo direito de falar mil vezes o nome do amado ou da amada que perdeu.
Só um direito você não tem.
É cultivar revolta. É viver na amargura.
É o de fugir de tudo e de todos. É o perder o sentido de viver.
É o abandonar a própria religião católica,  se prender a seitas, que se servem de sua angústia existencial para iludir a sua fé...
Respeite a crença dos outros, mas permaneça firme na prática da sua.
Ressuscite.
É ressuscitando que você caminha para ver sua pessoa amada, resplandecendo nas núpcias eternas do céu.
Jesus ressuscitou! Com ele ressuscitaremos também.

Ressuscite você, JOVEM!
E nada de vida fácil.
Não é suficiente participar em alguma procissão de sexta feira santa ou de alguma encenação da Paixão,
e nada de compromisso com Cristo.
Só digam que vocês pertencem a ele, se possuírem garra suficiente para que, na eterna alvorada da vida,
vocês sempre despertem, felizes, dispostos a caminhar com Ele.
A Igreja será dos jovens, na hora em que a juventude se tornar Igreja. Não tenho pena de exigir sempre mais de vocês.
Tenho pena do jovem, de quem nada se exige, porque ninguém confia nele.
Ressuscite, jovem.
É sobretudo, com sua luz que nós queremos iluminar o caminho para Jesus ressuscitado passar.
Não macule e não destrua seu corpo, nem com o uso de drogas, nem com tudo aquilo que o torna sem asas para voar.
Jesus ressuscitou! Com ele ressuscitaremos também.

Ressuscite você, CRIANÇA!
Ressuscite você menino! ressuscite você menina!
Aproxime-se ainda mais de Jesus.
Se alguém, se alguma coisas tentar impedir sua aproximação com Cristo, ele próprio dirá: “Deixem que os meninos venham a mim.”
Infelizmente a maldade do mundo em que vivemos não está lhes dando o direito de conservar a pureza ,
de que vocês são símbolo.
Na sociedade de hoje é difícil ser criança.
Ela abafa o seu sorriso, ela a leva a amadurecer muito cedo e lhe tira o direito de sonhar.
Ressuscite, menino. Ressuscite, menina!
As cidades podem ficar sem jardins. Os jardins podem ficar sem flores.
Mas nós outros não podemos ficar sem a inocência, sem a candura e sem a simplicidade de vocês.
Jesus ressuscitou! Anuncie isto a todo mundo.
E, quando alguém afirmar que esta conversa é invenção de menino, você então diga: Não. Não é conversa de menino.
Conversa de menino dura, quando muito, uma hora, e esta notícia já dura vinte séculos.
Jesus ressuscitou! Com ele ressuscitaremos também.

Ressuscite você, mulher ou homem da TERCEIRA IDADE.
Velhice não é oposto da existência. É uma de suas fases.
Como o ocidente, é uma etapa da vida cotidiana do sol.
Nunca se julgue inútil. E faça o que puder fazer: Raciocine e veja.
Se a você fosse dado continuar realizando tudo, o que os moços iriam realizar?
Logo, ser idoso não é viver lamentando a vida, mas dar à sua própria pessoa oportunidade de brilhar,
como o astro rei no arrebol, e deixar que outros brilhem como o astro rei no poente.
Jesus ressuscitou. Com ele ressuscitemos também.

Pe Antônio - 30.05.2024

segunda-feira, 11 de março de 2024

O Chega vai ter 48 deputados na Assembleia da República

 

O Chega elegeu 48 deputados. A CDU, Bloco, Pan, Livre, todos juntos,  elegeram 14 deputadosQue diferença! O Chega elegeu deputados em todos os círculos eleitorais, menos Bragança.
Vejam o crescimento do Chega! Penúltima eleição, 1 deputado; última eleição, 12 deputados; atual eleição 48 deputados. 
Só não vê quem não quer. E não leva a lado nenhum bater na estafada tecla do "protesto".  Como não tem levado a lado nenhum a colagem de rótulos taxativos: fascismo, xenofobia, homofobia, mentira (estilo, diz tudo e o seu contrário), vazio ideológico e programático, populismo, agitador popular e vendedor da banha da cobra, etc. Enquanto políticos, jornalistas, comentadores ficarem só por aí, não duvidem, o Chega continuará a expandir-se.
Reparem, quando Passos Coelho apareceu no Algarve, num comício da AD, a alertar para alguns perigos relacionados com e imigração, caiu o Carmo e a Trindade" nos cadeirões dos bem instalados comentadores! Que não, que Portugal era um país seguro, que não havia problemas relacionados com os emigrantes, que era xenofobismo de chinelo, que os país precisa de emigrantes. Sabem quem ganhou no Algarve, sabem? O Chega. O problema existe, não se resolve, penso eu, com os métodos do Chega, mas é preciso encará-lo de frente. Coisa que políticos em geral, comentadores e jornalistas não têm tido a coragem de fazer.
Sabe-se que muita gente mais adulta votou no Chega para protestar contra certa realidade na qual os políticos não têm a coragem de mexer para não perderem votos. Tem a ver com aqueles cidadãos que, podendo trabalhar, não o fazem, preferindo viver de subsídios estatais.  Vivem de costas direitas, enquanto outros trabalham e pagam impostos à grande e à francesa. 
Muita gente nova, dizem, votou no Chega. É natural e compreensível o espírito rebelde e contestatário da gente moça. Ainda mais quando o desemprego atinge em força e especialmente os mais novos,  faltam professores nas escolas, as perspetivas de futuro são escuras, os empregos e ordenados estão longe do perspetivado e a emigração se impõe como saída.
Num país onde a corrupção e o compadrio também têm arraiais entre o mundo da política, que admira o protesto dos jovens e menos jovens?
Não vejo ninguém falar do assunto, mas é a minha convicção. Posso estar enganado. Seria bom, entretanto que o caso fosse analisado. Penso que o Chega é filho legítimo da extrema esquerda. Já diz o povo "quem semeia ventos, colhe tempestades".  Quando, como vendaval imparável, a extrema esquerda se atira a tudo o que são valores queridos à sociedade portuguesa, a alma popular aguarda apenas a ocasião para manifestar a sua discordância.  Casos como o aborto, a eutanásia, o casamento homossexual, a ideologia do género  são "impostos" pelo poder legislativo, com a bênção da comunicação social onde a tal extrema esquerda tem um apoio incomparavelmente maior do que a sua realidade sociológica, que admira que os cidadãos manifestem, através do voto no Chega, a sua indignação e revolta?
O aspeto  securitário não é assunto politicamente correto para vir à tona nas campanhas eleitorais. Mas é um problema que deixa marcas em quem sente a insegurança. E que marcas! Depois... lá estão os votos. 
Mais uma vez, certas tendências políticas  esquerdistas e seus aliados na comunicação social têm aqui um papel tremendo. Isto de estar sempre a atacar as entidades policiais e a  a calar e/ou defender os criminosos leva certamente ao voto no Chega.
Isto de estar sempre a meter "grãos de areia" no funcionamento das famílias conduz a uma sociedade menos solidária, mais egoísta, menos correta e mais agressiva, onde os valores vão rareando. Com fuga para o Chega...
E depois, olhemos: a justiça funciona mal e tardiamente, tornando-se injustiça. O falado e refalado Serviço Nacional de Saúde funciona ao relenti - quando funciona, - obrigando quem pode a ter um seguro  de saúde para não ser chamado para uma operação pelo serviço público depois de ter falecido...
O Chega é solução para os problemas que nos afligem como povo? Na minha opinião, não e não. Nem pensar nisso. 
Mas é preciso que forças políticas, jornais e comentadores não fiquem na superficialidade e na rotulagem. Que motivos levam mais de um milhão de portugueses a votar no Chega?  Encontrem-se as razões e atalhem-se os motivos antes que chegue a hora do Chega chegar ao governo. 
Se tal momento chegasse, acreditem que não seria nada bom para todos nós.