quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Euromilhões recria história do sapateiro

Dois namorados de Barcelos são a prova de que o muito dinheiro pode desunir as pessoas e infernizar-lhes a vida. Em causa estão 15 milhões de euros que agora um e outro reclamam como propriedade sua e o caso até já está em tribunal.
A verba, que daria para viver faustosamente, está bloqueada numa conta comum, por ordem do Tribunal de Lisboa, depois de os namorados, ambos na casa dos 22 anos, terem terminado a relação, movidos por desentendimentos quanto à propriedade legítima do dinheiro.
Há dias compareceram no tribunal mas não chegaram a acordo. Ficou marcada uma nova reunião dos ex-namorados para 31 de Março, na tentativa de encontrar um entendimento.
O Euromilhões saiu-lhes no dia 19 de Janeiro de 2007, através de um boletim preenchido no Café Brandão, em Alvelos, mesmo a meio do percurso que separa as casas dele, em Courel, e dela, em Remelhe.
Mas quem registou o boletim? Testemunhas da rapariga dizem que foi ela, testemunhas do rapaz dizem que foi ele. O certo é que os dois costumavam jogar todas as semanas.
Este caso recria a conhecida história do sapateiro pobre. Tudo corria bem naquela casa antes de um vizinho rico se lembrar de ajudar aquela família de muitos filhos.
Recebido o dinheiro, toda a noite se ralhou naquela casa. Os pais com os filhos que não se calavam, enquanto os pais discutiam o que fazer com aquela pequena fortuna. Arranjar a casa, comprar campos ou adquirir roupas novas para todos? O marido achava que o dinheiro devia ser posto a render num banco ou pelo menos comprar terras. Gastá-lo era continuar a ter um futuro negro. A esposa era de opinião de arranjar a casa e de comprar roupas novas para todos.
Discutiram, zangaram-se, bateram nos filhos e no outro dia toda a gente andava triste naquela casa. Até que tomam a resolução de entregar o dinheiro ao ricaço. E de novo a viola e as canções alegraram aquela família.
In O Amigo do Povo

1 comentário:

  1. Já Camões, com sua pena afinada, em pleno século XVI, denunciava os sarilhos em que o dinheiro metia as pessoas e os bens. Quem dera cá o poeta para bradar ao vento sobre os fumos da ambição, ganância e corrupção!

    Nas naus estar se deixa, vagaroso,
    Até ver o que o tempo lhe descobre;
    Que não se fia já do cobiçoso
    Regedor, corrompido e pouco nobre.
    Veja agora o juízo curioso
    Quanto no rico, assi como no pobre,
    Pode o vil interesse e sede imiga
    Do dinheiro, que a tudo nos obriga.

    A Polidoro mata o Rei Treício,
    Só por ficar senhor do grão tesouro;
    Entra, pelo fortíssimo edifício,
    Com a filha de Acriso a chuva d' ouro;
    Pode tanto em Tarpeia avaro vício
    Que, a troco do metal luzente e louro,
    Entrega aos inimigos a alta torre,
    Do qual quási afogada em pago morre.

    Este rende munidas fortalezas;
    Faz trédoros e falsos os amigos;
    Este a mais nobres faz fazer vilezas,
    E entrega Capitães aos inimigos;
    Este corrompe virginais purezas,
    Sem temer de honra ou fama alguns perigos;
    Este deprava às vezes as ciências,
    Os juízos cegando e as consciências.

    Este interpreta mais que sutilmente
    Os textos; este faz e desfaz leis;
    Este causa os perjúrios entre a gente
    E mil vezes tiranos torna os Reis.
    Até os que só a Deus omnipotente
    Se dedicam, mil vezes ouvireis
    Que corrompe este encantador, e ilude;
    Mas não sem cor, contudo, de virtude!

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.