Quando há anos senti necessidade de o criar na paróquia, pedi e procurei vários exemplares de estatuto do Conselho Pastoral. Depois, de acordo com esta realidade, foi estrurando o estatuto do Conselho Paroquial desta paróquia. Consultei pessoas entendidas, auscultei paroquianos, refecti, rezei. Uma vez feito, enviei-o para a diocese.
Depois foi todo um paciente e demorado trabalho de o explicar à comunidade através dos diferentes meios à minha disposição.
Havia um problema: como se havia de proceder para a eleição dos representanes dos povos e dos grupos? Quanto aos grupos, era mais fácil. Cada um escolhei o seu representante. Mas os povos? É que são muitos. A minha ideia era que existisse mesmo uma verdadeira participação. Depois de muito matutar, acabei por arriscar. Houve mesmo eleições. Vai de voltar a explicar à comunidade o sentido específico desta eleição, sem propagandas. Pedi e insisti que cada pessoa escolhesse em consciência, tendo em consta a especificidade do órgão a eleger.
No dia marcado, ao fim das Eucaristias dominicais, foi entregue um boletim a cada pessoa, onde apenas escrevia o nome do seu povo e a pessoa que elegia. Quem não sabia ler, acolhia-se àquele (a) em que confiasse. Todos tinham trazido caneta, embora houvesse algumas disponóveis para os mais esquecidos. Muita gente a apoiar: distribuir e a recolher boletins, com canetas, a prestar algum esclarecimento. Em 5 minutos tudo se realizou. Com imensa paz, com enorme organização, com participação muito boa. Os votos em branco foram praticamente insigmificantes. Brincalhões, dois ou três nas primeiras eleições. Porque nas segundas, nenhum! Fantástico!
A comissão responsável pela contagem dos votos realizou o seu trabalho. E no domingo seguinte cada povo pôde analisar o processo e conhecer os resultados. Mas nas duas Eucaristias nos povos, porque eram menos pessoas, estas quiseram saber o resultado logo ali. Toda a gente assistiu. E no fim uma salva de palmas deu as boas-vindas ao eleito (a).
Tem sido uma experiência maravilhosa de comunhão. Jamais a esquecerei. É por isso que o Conselho Pastoral tem "autoridade". Ela vem-lhe do voto dos seus irmãos na fé.
Claro que, além dos eleitos pelos povos e pelos grupos, há os "inatos": pároco, diácono, representante das religiosas. E existe ainda o grupo dos nomeados em representação da família e da sociedade civil.
São reuniões sempre longas as do Conselho Pastoral e que me acarretam - não o nego - algum stress. Mas gosto. Mesmo. Os grupos partilham suas dores e angústias, mas também suas alegrias e sucessos; os povos fazem chegar as suas achegas e as suas propostas; a paróquia é reflectida; o plano pastoral é elaborado e analisado; quando necessário, faz-se uma comunicação ao povo de Deus, como acontece sempre pela Páscoa.
Há muitos anos, era ainda um jovem sacerdote, uma colega de escola, católica consciente, dizia-me que faltava nas comunidades um órgão onde as pessoas se pudessem exprimir institucionalmente, que o discurso na Igreja era sempre vertical, de cima para baixo, que as pessoas nunca tinham vez de se exprimir ... E acrescentava que isso talvez explicasse um certo "corte e costura" contra os padres e a hierarquia. Ficou-me. E como sou um apaixonado pela participação dos leigos na vida da Igreja, compreendem a minha enorme satisfação pela existência deste órgão de participação e comunhão.
Claro que é preciso ter humildade para saber ouvir, até muitas críticas injustas, muitas sugestões utópicas, muitos desafios. Mas também é espaço privilegiado para aprender a ouvir, propor, explicar, movimentar, aprender, unir.
Mas gostava mesmo que todas as paróquias e todas as dioceses tivessem mesmo um Conselho pastoral a funcionar. Todos lucrávamos, acreditem.
Bom Amigo:
ResponderEliminarUma vez mais, parabéns. Está no caminho certo. Mostra que é possível pôr em prática aquilo em que acreditamos.
Parabéns.
Abraço em Cristo deste seu admirador
Padre João António