A Liturgia Cristã apresenta-nos, amanhã, dia 24, a solenidade do nascimento de S. João Baptista, que toma o lugar do XII domingo comum. Normalmente, a Igreja celebra o dia da morte dos santos e não o do seu nascimento. Com S. João Baptista procede-se de outro modo – celebra-se primeiro o dia do seu nascimento e depois o da sua morte. Deve-se isto ao facto de S. João Baptista ter sido consagrado a Deus e cheio do Espírito Santo, ainda no seio materno de Isabel, sua mãe, quando esta recebeu a visita de Maria, que trazia Jesus em gestação dentro do seu seio.
O evangelho anuncia-nos que João Baptista é o profeta sem igual, que prepara os caminhos do Senhor, de que é precursor e testemunha. O nome de João, que lhe foi dado pelos seus pais, significa que ele é “dom de Deus”, não apenas a seus pais, mas, e sobretudo, ao seu povo, Israel.
A primeira leitura coloca nos lábios de João Baptista as próprias palavras do profeta Isaías. “O Senhor chamou-me desde o seio de minha mãe. Fez da minha boca uma espada afiada. Tornou-me semelhante a uma seta aguda”.
O profeta não se faz a si mesmo, nem é eleito pelo povo. É alguém que recebe de Deus a vocação que o constitui profeta. Deve manter-se como a “boca” de Deus, isto é, anunciar no momento certo a palavra certa, portadora da boa nova de salvação. Isto exige muita fidelidade a Deus e aos tempos, uma energia constante.
Na segunda leitura, apercebemo-nos de que o verdadeiro profeta não conhece fácil acomodação; o seu dever é peremptório, porque vive estimulado pela vertigem da presença e da seriedade divina. Assim, João Baptista, enviado a preparar os caminhos do Salvador, usa sempre de sinceridade e lealdade a toda a prova. Na sua missão evita equívocos e confusões. Diz: “Eu não sou quem julgais; mas, depois de mim, vai chegar Alguém, a quem eu não sou digno de desatar as sandálias dos pés”. E, como todos os profetas, a sua vida acaba no martírio, porque continuou sempre a ser a “voz” ou a “boca” de Deus, mesmo nos momentos mais difíceis.
Todo o cristão participa na vocação profética de Jesus Cristo. Por isso, é seu dever anunciar a boa nova da salvação e denunciar, pela palavra e pelo testemunho de vida, tudo o que a ela se opõe, mesmo à custa da sua própria vida, prestígio, fama.
S. João Baptista interpela-nos, hoje, fortemente, a repensarmos a nossa vocação cristã na linha da profecia. Não podemos calar o que é anti-evangélico, seja no terreno eclesial, seja no secular. Estou eu disponível para isso? Estou suficientemente liberto para poder exercer, responsável e destemidamente, esta minha vocação?
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