terça-feira, 11 de agosto de 2009

"Não me toques que me desafinas"!

"VIDRINHOS DE CHEIRO"
Pais que vivem sob o fantasma do "traumatismo". Ai do professor que levante a voz na escola. Está a traumatizar o menino (a). Logo o paizinho/mãezinha aparece para barafustar. Em casa, também não se corrige, não se chama a atenção, não se aplica um justo castigo. Ai, credo! O pequeno (a) pode ficar revoltado (a) e depois ... Sabe-se lá o que poder fazer!...
Na associação, ai do dirigente que seja mais frontal, mais directo, que ouse chamar a atenção! É logo uma partida a grande velocidade para o "corte e costura", concomitante com a costumada ameaça: "Vou-me embora, não estou para aturar isto."
Na empresa, se o patrão é correctamente exigente, é um "ai Jesus"! Despótico, pensa que se está no ante-25 de Abril, não respeita os direitos dos trabalhadores...
Na sociedade, se o guarda, o funcionário, o comerciante ... não são "falinhas mansas", estão "tramados". Chovem acusações e denúncias, abandona-se o estabelecimento, fazem-se acusações...
Na Igreja, então, nem se fala! Ficamos num Cristo que não é o do Evangelho: um Cristo fofinho, tudo meiguras, que faz as vontadinhas a todos, que diz amém a tudo... É uma grande tentação do nosso tempo. Qualquer atitude mais determinada, mais frontal, é logo lida como antipatia, vinagrismo, espanta-cristãos! Para muitos, o conta é uma pseudo-caridade. A verdade não interessa. Só que caridade sem verdade não existe. "Sou muito amigo do meu amigo, mas sou mais amigo da verdade", por "só a verdade vos tornará livres", como disse o Mestre.
Parece que estamos numa sociedade de "vidrinhos de cheiro", cheia de "não-me toques..."
Uma sociedade sem estofo interior, com a sensibilidade à flor da pele, orgulhosa e sem liberdade que é também capacidade de encaixe.
Claro que ser cortês, correcto, educado é fundamental. Claro que o autoritarismo e o vinagrismo não são métodos nem modos. Claro que a delicadeza e a serenidade são formas ricas de humanizar a sociedade. Mas não confundamos as coisas. Quem vive só para agradar, acaba por desagradar a si mesmo e aos outros. O porreirismo é como um belo embrulho que esconde uma bomba.

6 comentários:

  1. A ideia vertida no texto, de que vivemos numa "sociedade (...) orgulhosa e sem liberdade", corresponde exactamente ao sentir geral de todos nós.
    Mas como poderá haver liberdade sem independência, seja económica, das hierarquias, da sobrevivência...
    Poderíamos era, efectivamente, deixar de ser orgulhosos, se para tal não fossemos empurrados pelas tendências, às quais não somos imunes.
    Ainda que, provavelmente, pudéssemos ser!
    E, talvez, possa haver quem o seja…
    Talvez.
    NPL

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  2. Vai-me desculpar, Sr Padre mas volto a discordar. Não é para ser do contra não senhor. É uma questão de filosofia de vida. Faz parte de mim resolver os problemas com serenidade. E sempre que por falta de habilidade ou cansaço, não sou capaz e me altero os resultados nunca me satisfazem... A tranquilidade só volta depois de ter pedido desculpa.

    A história que resumo aqui ilustra o que acabo de dizer. Tratava-se de um rapaz com problemas de comportamento. O Pai (tb podia ter sido o Professor ou o Padre...) a determinada altura aconselhara-o a pregar um prego numa tábua por cada vez que magoasse alguém. O rapaz assim fez. Quando a mesma ficou totalmente revestida, pediu-lhe que os arrancasse todos, um a um. Depois chamou a atenção para o estado em que a mesma tinha ficado. Os pregos tinham sido retirados mas as marcas tinham ficado... Não pense que há aqui demagogia porque não há.

    Também não quero que fique com a ideia de que sou permissiva ou "mole". Não é verdade. Sou exigente comigo e com os outros. Quando é preciso corrigir não me demito mas faço-o com calma, em privado e sem me fechar sobre as minhas "verdadezinhas". Continuo convencida de que para educar é necessário haver regras mas que para as fazer cumprir não é necessário usar de agressividade.

    Um abraço

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  3. Tá no seu direito, FÁ. Ninguém é dono da verdade. Em cada um de nós raia um pedacinho da imensa verdade de Deus. Para nos enriquecermos, basta a humildade de aceitarmos a verdade que há no outro.
    Revejo-me no texto que eu publiquei (todo o texto: início, meio e fim). É assim que penso. Estes 30 anos de serviço sacerdotal ajudaram-me a pensar assim.
    Sou absolutamente contra o porreirismo. Não me agrada a deturpação de Cristo do evangelho (um Cristo porreiraço, melaço, bota de elástico. "Que as vossas palavras sejam sim, sim; não, não".
    Não gosto de me calar perante a asneira. Não será o silêncio, por vezes, uma forma de cumplicidade?
    "Raça de víboras, sepulcros caidas, guias de cegos", assim se referiu Jesus aos fariseus. Acha que a frontalidade do Mestre Lhe retitou humanidade, presença, carinho, solicitude?
    Enfim, somos diferentes. Nisto está certamente a riqueza do mundo.
    Não eram tão diferentes os apóstolos Pedro, Paulo e João? A Igreja perdeu alguima coisa com isso? Pelo contrário, só ganhou.

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  4. As sociedades de hoje trabalham para garantir uma segurança que os mantenha em cima do barco! Não é uma segurança de mão dada com a liberdade, é uma segurança com espírito burguês,que se evidencia nos bens materiais e num individualismo fatal. Caso não se tenha um carro, uma casa, dinheiro,algum estatuto social e profissional parece que a sorte, na figura dos nossos semelhantes, nos encosta à valeta...é verdade!!! E é mesmo " não me toques que me desafinas", porque se formos a ver bem, nalguns casos nem sequer há desafinação, há por aí muita gente espiritual e interiormente amusical! Já viram se isso se descobre? Não pode ser...Portanto, é melhor não deixar tocar a pretexto de desafinar!!!

    Abraço

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  5. O Evangelho é só um mas são bem diferentes as sensibilidades de que o lê.

    "Ficamos num Cristo que não é o do Evangelho: um Cristo fofinho, tudo meiguras, que faz as vontadinhas a todos, que diz amém a tudo..."

    O que é isto? Entendem? Eu não. Se Cristo viesse hoje à Terra Sr Padre falaria a linguagem dos nossos dias.

    Há padres que espantam as pessoas e não contentes dificultam a vida daqueles que se esforçam e tentam a aproximação. Aqui em Portugal é demais.


    (A propósito é Amen ou Amem?)

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  6. Caro anónimo:
    1. Em primeiro lugar, emendo a palavra. É Amen. Accionei a correcção automática e deu a palavra que apareceu no texto. Mas realmente nos textos litúrgicos aparece sempre "Amen".

    2. Quanto aos seu comentário, peço-lhe que leia aquele que acima coloquei em resposta à Fá.

    3. Por último, permita que lembre duas coisas.
    - Que Igreja somos todos nós, os baptizados. Todos baptizados, todos enviados. Baptizados em Cristo para sermos testemunhas de Cristo (Cristo todo) no mundo.
    - Que o anonimato nunca favorece quem critica...

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