terça-feira, 20 de julho de 2010

As mudanças de Párocos

Andou pela comunicação social, jornais, TV e blogues. Alguns paroquianos em duas paróquias da Arquidiocese de Braga não acolheram com bons olhos as saídas dos seus Párocos e manifestaram-se.
O que sei é pela comunicação social. Não estou por dentro do assunto nem nada tenho que me meter. Contudo esta situação sugere-me algumas reflexões breves de ordem eclesial e pastoral.

1. Nenhum padre se ordena para determinada paróquia, mas para o serviço da Igreja.
2. Todo o padre, no acto da sua ordenação, promete obediência ao seu Bispo.
3. Em muitas paróquias portugueses vive-se um certo "quintalismo". Só que a Paróquia é uma célula viva do corpo que é a Igreja Local (Diocese) a que preside o Bispo.
4. O Bispo tem muitas vezes motivos para a mudança de um pároco que não pode dar a conhecer por caridade e até por confidencialidade.
5. Porque responsável por toda a Igreja Local, o Bispo tem uma visão abrangente das necessidades pastorais que os paroquianos certamente não possuem.
6. Nenhum Bispo, penso eu, nas actuais circunstâncias, age por mania ou despotismo. Cada situação é pormonorizadamente analisada, conversada, rezada.O Bispo houve muita gente, a começar, naturalmente, pelos seus conselheiros mais próximos.
7. Claro que os leigos têm o direito de manifestar o que pensam. São Igreja. Só que muitas vezes perdem a razão pelo modo como se manifestam. Quando há o insulto suez, quando a manifestação cheira a sindicalismo, quando há violência de palavras e actos, os paroquianos perdem toda a razão.
8. Dá a impressão que o "deus" de muitos é aquele padre. Não são cristãos por causa de Cristo, há até quem diga que "vou à Missa por causa daquele sacerdote". E isto é o pior testemunho da passagem de um pároco por uma paróquia, uma vez que, em vez de ajudar as pessoas a caminhar para Cristo, as fixou nele mesmo...
É fantasticamente cristão quando as pessoas sentem saudades de quem parte, até vertem uma lágrima, manifestam sentimentos de amizade e gratidão, mas sabem abrir portas de esperança a quem parte e a quem chega. "Seja bem-vindo" quem vem em nome do Senhor."
9. Alguns párocos também não ajudam nada. Agarrados ao lugar, tem palavras e atitudes que espicaçam as paixões de momento. É preciso saber entrar, mas é igualmente precisa a disponibilidade para partir. Em Igreja, ninguém se anuncia a si mesmo, todos anunciamos Cristo.
10. Ao Bispo cabe naturalmente saber ouvir, estar atento ao modo de proceder, ser capaz de vir até às comunidades, auscultar seus anseios, sentimentos e razões, explicar-se. As decisões tomadas só nas paredes do gabinete, por mais pensadas que sejam, não são o caminho actual. Também aqui é preciso tornar a Igreja "Casa de Comunhão". Os leigos também são Igreja.
11. Claro que uma decisão, uma vez tomada, é para manter, mesmo que isso acarrete para quem a toma desertos de sofrimento. Recuar por causa da cruz é indigno de cristãos. Há assim que decidir bem, ver aquilo que "o Espírito diz às Igrejas".
12. É minha opinião que nenhum sacerdote se deveria fixar na mesma paróquia ou serviço diocesano por tempos indeterminados. Pode haver razões válidas para um prolongar do exercício sacerdotal num determinado serviço, mas eternizá-lo não me parece sadio. O povo tem razão quando afirma: "Quem se muda, Deus ajuda."

7 comentários:

  1. Há quanto tempo está nessa paróquia. Se calhar tb está na altura de ir embora!!!

    O povo tb diz: Em equipa que joga não se mexe. Qd se salta muito é mau sinal, quer seja no emprego, no casamento e na Igreja. Sou pela estabilidade, por se criarem raízes necessárias para que a confiança possa existir e os frutos virem ao de cima. Mas não sou do Norte mas gosto de ver a cumplicidade daquela gente pelo seu pastor. Tomaram os Bispos td que isso acontecesse em todas as paróquias porque podiam dormir mais descansados. Ao que parece essa situação vem de tricas entre sacerdotes e os mais próximos do poder vencem e ponto.

    ResponderEliminar
  2. Caro anónimo, antes de mais obrigado pela visita e pelo comentário.
    Estou há quase 2 décadas nesta paróquia. Isso não me impede de propor as ideis em que acredito. Sou, sim, pela rotatividade. E posso afirmar-lhe que, numa linha de coerência, há algum tempo pus o meu lugar à disposição, explicando ao meu Bispo as razões pelas quais o fazia. Não tenho nada conta a comunidade que sirvo e de que gosto muito, com todos os aspectos positivos e menos positivos que tem.
    Estou aqui porque o Bispo assim o entendeu. E estarei todo até ao dia em que ele ache que devo mudar.

    ResponderEliminar
  3. Reverendo colega.
    Apreciei o enquadramento que faz sobre as mudanças de párocos. Obviamente que as comunidades, gostando do seu pároco, e no caso presente são 25 anos de ligação, é natural que se sintam pela mudança. Mas esta pode enquadrar outras perspectivas que não necessariamente desfavoráveis à comunidade. Ninguém pense que o Sr. Arcebispo o faz apenas por capricho, porque acordou de manhã a pensar nisso e à tarde fez a mudança. Certamente que ponderou vários factores que desconhecemos, uma dos quais até pode ter sido os problemas de saúde do pároco em questão...
    Abraço em Cristo Jesus.

    ResponderEliminar
  4. caro P.e Manuel:

    Obrigado pela tua visita e pelo comentário.
    Quotidianamente visito com satisfação o "Caritas in Veritate" onde sempre encontro pontos de interesse.
    Quanto às mudanças de párocos, nos tempos que correm, ou o assunto é tratado com verdade e humildade por todos os envolvidos ou então podem aparecer cenas como aquelas que a comunicação social mostrou referentes a Braga.
    Acredita que estas situações me suscitam reflexões que vão muito para além de um simples post, onde me limitei a ficar pelo que entendi de essencial.
    Conheci em tempos um pároco muito querido pela sua comunidade. Depois de vários diálogos com o Bispo, o sacerdote compreendeu que era importante deixar a paróquia e partir para outra missão. Não lhe foi nada fácil.
    Temendo a reacção exasperada da comunidade, o Bispo mostrou alguma preocupação. Foi então que veio ao de cima a estirpe deste colega:
    - Não se preocupe, senhor Bispo! Dou-lhe a minha palavra de honra que nada acontecerá de desagradável. Eu sei como estar nesta hora.
    O colega partiu, deixou lágrimas, mas também muita abertura para quem veio a seguir.
    Na hora da chegada do novo pároco, havia sorrisos e lágrimas no rosto de muita gente. Era a saudade que escorria por quem havia partido e o sorriso da esperança a acolher quem chegava.
    Quando centrasmos as pessoas no CENTRO (Cristo), tudo é menos difícil. Quando procuramos ser o centro, aí estragamos tudo...

    Abraço amigo em Cristo Sacerdote

    ResponderEliminar
  5. Cristo deverá ser o rosto da Igreja sim senhor mas há padres que o mostram às pessoas e outros que o escondem. As pessoas gostam mais de uns do que de outros. O Padre de Fafe pelo que me disseram fez MUITO E BEM!!! Já viu se os rebanhos andassem a mudar de pastor? Havia de ser bonito. Muitas ovelhas se perderiam.

    Nota: Tb tenho que ser franco se o pároco da minha paróquia fosse substituído não havia problema de certeza. Era cá um alívio. Mas esse está lá de pedra e cal até ao fim dos dias dele. O que faz é afugentar as pessoas e os jovens nunca lá põem os pés. A dedicação é pouca ou nenhuma. Mas isso os bispos não vêm. Pela maneira como fala o pe Carlos parece-me muito conservador e autoritário. Vê as coisas só por um lado. Este assunto é melindroso demais para ser aqui discutido. Estão em causa pessoas que podem estar a ser vítimas de injustiças muito grandes.

    António

    ResponderEliminar
  6. Caro António:

    "Pela maneira como fala o pe Carlos parece-me muito conservador e autoritário. Vê as coisas só por um lado."

    Eu não me atrevo a pronunciar-me sobre a pessoa do António pela maneira como fala...
    Sabe porquê? Para mim são importantes as pessoas e estas não julgo. Bato-me por ideias.

    ResponderEliminar
  7. É verdade que este tema dá pano para mangas.
    Em relação ao assunto "mobilidade dos padres" tenho a opinião de que se estes estão contentes com a comunidade e a comunidade está satisfeita com ele talvez não haja grande motivos para mudar. Somo um povo resistente á mudança. Está no nosso ADN. Independentemente deste caso especifico, esperava ver aqui mais opiniões e argumentos que favorecessem ou impedissem a mobilidade deste apóstolos.
    Acabamos por debater o caso do Pe. A ou B ou C. O importante é trocar opiniões que reforcem a vitalidade da fé.
    Custa-me a perceber o motivo pelo qual vem á tona o nome do Pe. Carlos quando ele apenas escreveu sobre um tema do seu interesse e certamente quis que os leitores criticassem esta situação. Note-se, criticar implica a construção argumentativa de uma ideia ou visão sobre algo. Assim, vê-se um apedrejamento com "conservador e autoritário" sem nexo de alguém que expõe e argumenta. Antes de julgar alguém... devemos expor os dados que nos levam a ajuizar essa pessoa.
    Quem não concorda tem hipótese aqui para contra-argumentar.

    RED DEVIL

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.