segunda-feira, 4 de maio de 2009

«Quem semeia entre lágrimas colherá com alegria»

D. António Cardoso Cunha, natural desta diocese, foi Bispo de Vila Real num período difícil, sobretudo devido a um considerável número de padres que abandonou o exercício.
Nem por isso, o ilustre Prelado deixou de investir na qualificação do seu clero. Mandou estudar muitos sacerdotes, dando-lhes o tempo necessário para levarem em frente as suas especializações.
Resultado: desse investimento seu, temos hoje três Bispos ( Leiria, Setúbal e Coadjutor de Vila Real) e fala-se já noutros... Além disso, aquela diocese tem hoje um quadro de sacerdotes bem preparados capazes de entender e de responder aos actuais desafios. Quantas dioceses têm Conselhos de Presbíteros com igual coragem e ousadia?
Isto é o que se chama um pastor com visão. Não se limitou a administrar as carências, mas olhou em frente, projectou e colheu. Ele? Não. A Igreja.
Enfrentou certamente no "seu presente" muitas dificuldades, incompreensões e contestações. Muitas paróquias, por hábito, lhe pediram um novo pároco. Mas D. António não se ficou pelo xadrez - sai peça, põe peça . O presentismo pode evitar problemas a quem só vive o presente, mas pode muito bem tolher o futuro. E que direito temos nós de hipotecar o futuro em nome do presente?

1 comentário:

  1. Dom António Cardoso Cunha era natural do lugar de A-de-Barros, da paróquia de Penso, concelho de Sernancelhe. Dotado de uma grande simplicidade de discurso e de trato, marcou a diocese pela amizade que nutria pelos padres, sobretudo quando eram criticados ou assumiam atitudes tidas como controversas, pela promoção da formação especializada de muitos padres e leigos, pela liberdade de actuação que promovia ou tolerava e pelo desenvolvimento de uma pastoral com base na religiosidade popular, reinterpretada à luz da Escritura, da tradição eclesial e da Psicossociologia (foram meritórios os seus textos sobre esta matéria!).
    Como bispo auxiliar de Beja, tanto se empemhava em tarefas específicas do bispo, como as visitas pastorais, quanto nas de um comum sacerdote de vila ou aldeia, acorrendo sempre que necessário a um funeral, a um baptismo, a uma celebração eucarística, a uma catequese, a uma pregação - quase à bombeiro, quando mais ninguém podia comparecer.
    Repescou, em 1978, com a sua bonomia activa quatro seminaristas da diocese de Lamego, que se ordenaram para a diocese de Vila Real, prestando-lhe um serviço altamente qualificado, ao invés de uma atitude desproporcionada, ao tempo, tomada na diocese de Lamego
    Achei-lhe muita piada, quando ele, em homilias, iniciava com as seguintes palavras: "Meus queridos padre e pessoas que me ouvis"!
    Ainda me recordo da formosa alocução que de improviso dirigiu aos milhares de sernancelhenses reunidos em 29 de Agosto de 1982, em Frente do monumento ao Senhor do Castelo, na celebração dos padroeiros e do 25.º aniversário da consagração do Concelho ao Coração de Maria.
    Enquanto bispo residencial e, depois, emérito de Vila Real, sem qualquer complexo de superioridade, entregava-se a alguns actos de colaboração e mesmo de substituição do paroco da sua paróquia natal, quando por ali permanecia algum tempo.
    Enfim, um exemplo de conjugação da pompa que o culto a Deus episodicamente merece com a simplicidade que o Evangelho dos pobres postula.

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