1. O relatório ontem divulgado por Vítor Gaspar sobre a situação financeira da Madeira é elucidativo: a região tem 6328 milhões de dívida, o que representa 123% do produto interno bruto, e vai precisar de assumir sacrifícios que irão "muito para além" do final do ano de 2012.
Do ponto de vista político, esta caracterização é obviamente suficiente.
Não é realista, com o pouco tempo disponível até às eleições regionais, pedir uma auditoria profunda e muito menos exigir a materialização de um plano de assistência específico. Esse programa, essencial, vai ter de ser moldado no momento seguinte e com a participação do governo eleito. Demagogia à parte, não podia ser de outra forma.
Para os madeirenses esclarecidos, e verdadeiramente interessados em pesar as implicações desta realidade, a informação basta. Todos os outros terão tempo para perceberem, no futuro, como nunca há almoços grátis, e muitos menos os da campanha de Alberto João Jardim e do seu "staff" de interesses.
O problema está em que no País não há muita autoridade moral para condenar o histórico líder madeirense. Se exceptuarmos a forma inaceitável como o governo regional escondeu intencionalmente os seus gastos acrescidos, a verdade é que a situação nacional (8,3% de défice nos primeiros seis meses do ano) não permite, do ponto de vista geral, grandes moralismos.
2. O discurso de Durão Barroso no Estado da União é uma peça de qualidade, de novidade (a proposta de taxação dos grande fluxos financeiros) e, até, de revolta em relação à forma como Merkel e Sarkozy têm pretendido impor a vontade do eixo bem acima de qualquer pretensão de autono- mia da Comissão Europeia na condução do destino de um projecto que devia ser comum e tem instâncias próprias.
Durão é presidente num momento muito sensível do projecto europeu. Durante uns anos, ao cargo bastava um bom administrador, hábil político, homem inteligente - como Romano Prodi, por exemplo. Agora não basta. Seria preciso, de novo, um visionário, mas também tudo seria mais fácil se Alemanha e França não estivessem apostadas em gerir os mecanismos de ultrapassagem desta crise à margem das estruturas europeias.
Merkel parece Georgw W. Bush antes da Guerra do Golfo e Durão Barroso assemelha-se muito a um pobre presidente das Nações Unidas, sem poder efectivo nem capacidade de mobilização. Ver-se-á muito rapidamente se este discurso de um grande político europeu, tão maltratado por uma parte "inteligente" dos seus compatriotas, é o ponto de partida para um maior protagonismo da comissão - o que seria desejável - ou se foi apenas um gesto de revolta mitigada além de um magnífico desempenho oratório.
A entrevista de Cavaco Silva, até pelo dia escolhido, visou associar-se às comemorações dos 100 dias de Governo. O PR não disse nada de novo. Apenas deixou claro que ratifica todos os esforços de consolidação das finanças públicas e tudo o que aí vier para tornar mais atraente o investimento estrangeiro (a reforma do Código do Trabalho e consequente flexibilização do mercado laboral). Perdão, houve uma notícia: brevemente irá aconselhar-se com Alberto João Jardim, e todos os outros notáveis com assento no Conselho de Estado, sobre o grave problema económico-financeiro do País. Faz bem. Naquele restrito fórum estão (e por lá passaram...) todos os homens que sabem as razões de termos chegado até aqui...
JOÃO MARCELINO, in Diário de Notícias
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