Tinha escrito a sua intenção para a Eucaristia. Em honra de Nossa Senhora da Lapa. E foi assim que eu anunciei no início da celebração. Ouço então uma voz saída da assembleia:
- Ai, senhor padre, enganei-me a escrever. É à Senhora de Fátima.
Sorri e corrigi.
No fim da Eucaristia, pedi-lhe se me podia dispensar um minutinho. Então disse-lhe que Nossa Senhora é só uma, Maria de Nazaré, Mãe de Deus e nossa Mãe. Que os títulos com que a invocamos, têm a ver com prerrogativas especiais com Deus a ornou (Mãe de Deus, Senhora da Graça, Imaculada Conceição, etc), com os locais onde apareceu (Senhora de Lurdes, Senhora de Fátima, Senhora da Lapa, etc), ou com momentos especiais de sofrimento em que os crentes invocam a sua intercessão ( Senhora das Necessidades, Senhora da Saúde, Senhora dos Remédios, etc).
- Ai, senhor padre, está a mangar comigo? Só há uma Nossa Senhora!? Como pode ser isso? Elas são tão diferentes... (Referia-se às várias imagens de Nossa Senhora).
- Diga-me uma coisa. É para não falarmos em mais ninguém. Como é que a senhora me trata? - perguntei.
Ela respondeu prontamente:
- Senhor padre.
- E a sua neta que anda na escola, quando se refere à minha pessoa, como o faz?
- Senhor professor.
- Muito bem. Já agora, recorda-se como me trata o seu irmão que está em em Lisboa, quando cá vem nas férias?
Aqui teve que pensar um bocadinho. Mas depois lá saiu:
- Senhor Prior.
- Então a Senhora não acha que, apesar dos diferentes nomes com que me tratam, não sou a mesma e única pessoa?
- Claro que é!
- Então está a ver. É o que se passa com Nossa Senhora. Invoquemo-la com o título com que a invocarmos, é sempre a mesma: Maria de Nazaré, Mãe de Deus e Nossa Mãe.
Estava agora mais calma, menos escandalizada. Por isso insisti:
- A senhora tem lá em casa fotos suas?
- Sim, muitas. E desde nova.
-E são todas iguais?
- Oh! Quem me dera! Era sinal que permanecia nova... Mudei muito, sabe? Às vezes até me custa a crer que sou a mesma. Em nova, era muito bonita, todos o diziam. Olhe, agora estou para aqui um velha rugosa... Mas é a vida!
- Pois, agora compreende. No tempo de Nossa Senhora não havia fotografias. Com base no Evangelho, na Tradição e na impressão dos videntes, os artistas elaboraram imagens de Nossa Senhora, dando certamente asas à sua imaginação, retratando-a dentro do conceito de mulher próprio da sua cultura e ambiente.
- Olha qu'isto! Salomão a morrer, Salomão a aprender. Agora percebi.
- Então não se esqueça de esclarecer a sua família e os seus amigos. Pode ser?
- Pois. O senhor está sempre a dizer-nos na Igreja que todo o baptizado é um enviado...
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